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Tag: Comunismo

  • IDAS E VINDAS, MAS SEMPRE AVANTE

    IDAS E VINDAS, MAS SEMPRE AVANTE

    Por Alexandre Santini e Tiago Alves

    O trajeto das caravelas entre os mares lusitanos e brasileiros já foi travessia dolorosa, marcada pela chaga da escravidão e pelo processo colonial. Já foi trânsito de ouro, café, borracha. Trouxe os primeiros livros do velho mundo e levou as primeiras notícias do novo. Uma ida e volta diversa, ao longo dos séculos, que neste final da década de 2010, é marcada também pelas trocas solidárias de resistência e da luta popular internacionalista. Com esse espírito, a caravana brasileira, vindo de um país que hoje enfrenta a extrema-direita no poder, foi mais uma vez recebida na Festa do Avante 2019 em Portugal, país que vem avançando no desenvolvimento social, com um governo acompanhado por uma coalização de forças que inclui a esquerda e o Partido Comunista Português (PCP).

    O Avante foi um bálsamo de acolhimento, entre os dias 6 e 8 de setembro, na região do Seixal, ao sul de Lisboa, com centenas de atrações políticas e culturais entre debates, atos públicos, shows, exposições, atividades para crianças, feiras de produtos típicos, gastronomia, eventos esportivos e interação entre militantes de partidos comunistas de todos os continentes do mundo. Quase todos os portugueses e representantes de outros países que visitavam a barraca do Brasil, entre uma caipirinha ou uma feijoada em clima de festa, mostravam o seu apoio às lutas dos camaradas brasileiros na resistência a Bolsonaro e ao desmonte nacional que se opera no país. O conhecimento sobre a situação brasileira é crescente e mobiliza, atualmente, a rede internacional dos movimentos populares e partidos do campo progressista.

    Pela primeira vez, inclusive, a barraca do Brasil levou à festa material completo de divulgação das lutas das esquerdas no país. Um pequeno jornal do PCdoB, em dois idiomas, levou informações sobre temas como a questão ambiental e as queimadas da Amazônia, a censura imprensa e o escândalo das mensagens vazadas da Lava Jato, a Reforma da Previdência e o desmonte da educação, ciência e tecnologia. Camisetas e bottons, levados pela caravana brasileira, coloriram a multidão do Avante com as imagens de heróis e heroínas como Lula, o principal preso político do planeta, Marielle Franco, símbolo da luta pelos direitos humanos e pelas populações das periferias, Osvaldão, líder histórico – e ainda pouco conhecido – da guerrilha do Araguaia e Manuela D’Ávila, a comunista mais conhecida do país atualmente e representante da luta das mulheres no país.

    As lições que nos traz a Festa do Avante são muitas. Em 46 anos de existência, o festival organizado por um dos mais importantes partidos de esquerda da Europa projeta e atualiza para as futuras gerações os Valores de Abril, que inspiraram a revolução dos cravos em 1974: solidariedade, paz, convivência, afeto, humanismo, liberdade. Do tradicional ao contemporâneo, estão presentes na festa as diversas dimensões da cultura: a simbólica/estética, a cidadã e a econômica, já que a Festa do Avante é também uma imensa Feira de Economia Social e Solidária, construída com trabalho voluntário e militante, o que é uma das chaves do sucesso, longevidade e sustentabilidade do evento.

    Ao colocar a cultura no centro, o PCP constrói dentro deste festival multifacetado e diverso um ambiente de debates políticos de alta voltagem e relevância. Estão presentes a todo momento as bandeiras de luta do povo português, a solidariedade internacional aos povos do mundo. As eleições legislativas em Portugal acontecem neste mês de setembro. Portanto, as bandeiras e propostas da CDU (Coligação Democrática e Unitária, aliança que reúne o PCP e o Partido Ecológico Os Verdes) deram o tom da intervenção política nesta edição da Festa.

    O Partido Comunista do Brasil caminha para a comemoração dos seus 100 anos de existência, que serão completados em 2020. A luta dos comunistas brasileiros, marcada por uma trajetória extraordinária de sonhos e ações, têm muito a trocar e aprender com a experiência do Avante e do PCP neste festival incomparável. Certamente haverá de ser bonita a festa do centenário dos comunistas no país, e é possível extrair do Avante exemplos, modelos, propostas e formatos possíveis e adequados à nossa realidade, nos inspirem a construir também um grande evento daqui a três anos, com pinceladas rubras de cravo e aromas verdes e doces de alecrim.

    O retorno da terra de Camões, desta vez veio com muito mais ideias e sonhos a bordo, no rumo da América. Cruzando o Atlântico, continuaremos nos fortalecendo e superando, com a fraternidade dos comunistas portugueses, os desafios da nossa jovem democracia. Precisamos, como nunca desse aprendizado diante do que vivemos no nosso país. A tristeza e as dificuldades com o que vem acontecendo são peso difícil de carregar sobre os ombros sozinhos. Mas seguiremos irmanados. Que os ventos sejam bons, que as caravelas de 2019 continuem levando Brasil, Portugal e o mundo sempre avante.

  • Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano

    Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano

    Milhões de cubanos reuniram-se ao longo deste sábado (3) nas ruas de Santiago de Cuba para dar o ultimo adeus ao líder da revolução de 1959. A carreata com os restos mortais de Fidel Castro chegaram pela carretara central, a principal rodovia do País, por volta das 12h30. Ao todo foram 900 kms percorridos desde Havana até Santiago, cidade onde descansarão as cinzas ao lado do seu mentor, José Martí.
    A comitiva responsável pela segurança era formada por dois carros da policia, um furgão, duas motocicletas, um caminhão do exército e dois jipes, sendo que o último carregava o ataúde com as cinzas de Fidel. A primeira parada em Santiago foi o Parque Céspedes, local em que no dia 24 de novembro de 1958 Fidel chegou acompanhado de seu irmão Raúl, Ramiro Valdez, Armando Acosta e outros guerrilheiros em sua campanha pela liberação do País.


    Um pouco antes da comitiva chegar ao parque uma leve chuva caiu por aproximadamente cinco minutos. Não era difícil ouvir o povo falando que tratava-se do céu chorando a morte do seu comandante.
    “Fidel não estará sozinho, sempre terá alguém com ele. Pode anotar o que eu estou dizendo, as pessoas farão visitas ao seu túmulo a partir do momento em que o cemitério Santa Ifigênia abrir e então nunca ficará só”, afirmou Maria Tavaréz, de 52 anos, moradora de Santiago.
    Ela era apenas uma das milhares de pessoas que acompanhavam emocionadas o “último tributo ao comandante”. Assim como o músico Hélio Torres, de 64 anos, que veio prestar sua homenagem a Fidel. “Para mim sempre foi um exemplo com um objetivo infinito de ajudar os cubanos a evoluírem. Não é coincidência que depois de tanto tempo várias gerações pensem o mesmo”, disse embaixo de um sol de mais de 30 graus.
    Questionado sobre a quantidade de pessoas presentes no Parque Céspedes neste dia histórico, Torres disse que, neste caso, trata-se de uma visita de Fidel como outra qualquer. “Igual como sempre esteve quando entrava na Praça. Hoje não há mais nem menos pessoas que vieram para vê-lo quando estava vivo. Era sempre uma energia muito positiva”, comentou.

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    Mas Fidel não foi a única referência cubana a ser saudada neste sábado no Parque. O que convencionou-se a chamar de “Os cinco”, um grupo preso pelos Estados Unidos acusados de espionagem estavam no prédio onde funciona a prefeitura da cidade. Eles foram saudados, tiraram fotos e distribuíram autógrafos para a população. “Eles foram condenados a prisão perpétua, poderiam estar lá ainda”, avaliou Rider López, de 37 anos. Mas o que eles significam exatamente para Cuba? “São líderes, heróis e exemplos de Cuba. Foram presos injustamente pelo império e o povo lutou junto ao seu comandate até que os liberaram. Mas não foi só isso, foram vários países que lutaram pela sua liberdade, somando a nossa luta de Cuba, até que conseguimos. Por isso representam tanto. Cuba, no final, sempre vence”, disse com sorriso na boca e também no olhar.
    Após deixar o Parque Céspedes a comitiva seguiu até Moncada, onde os restos mortais foram transladados até a ida para a Praça da Revolução, onde um grande ato teve início a partir das 19 horas, mas desta vez acompanhada de delegações de diversos países. Na comitiva brasileira, destacaram-se as presenças de Lula e Dilma, sempre lembrados pelos cubanos pelas parcerias estabelecidas entre ambos os países durante as gestões dos ex-presidentes.

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    Ao contrário da homenagem em Havana, onde os chefes de estado foram o destaque, em Santiago lideranças locais ligadas ao governo cubano e aos movimentos sociais precederam o discurso de Raul Castro. Na cerimônia, também mais curta do que na capital, o chefe de governo do País recordou a história da revolução, destacou as qualidades do irmão falecido e listou conquistas que a ilha alcançou nos últimos anos. “Ele nos mostrou que sim era possível derrotar os racistas sul africanos, salvando a integridade territorial de Angola e conquistando a independência de Namibia. Nos mostrou que era possível transformar Cuba uma potência médica reduzindo a mortalidade infantil com as taxas mais baixas do terceiro mundo e depois do mundo rico”, exemplificou.
    Castro reforçou que o legado de Fidel é mostrar ao povo cubano que tudo é possível para os moradores da ilha. “Ele nos mostra que sim é possível fazer e que é possível continuar fazendo, superando os obstáculos para construir o socialismo em Cuba e defender a soberania da pátria”, enfatizou em suas últimas palavras antes de encerrar o último evento aberto ao público.
    No dia seguinte, às sete horas da manhã, em um evento reservado para família e poucos convidados no cemitério Santa Ifigênia, onde os cubanos reuniram-se para a última homenagem ao seu líder. Pessoas discursavam enquanto jornalistas reuniam-se para gravar e tomar depoimentos. Entre choro e alegria ao lembrarem os que chamam de ensinamentos de Fidel, o último adeus deixou menos dúvidas do que se esperava. “Nada vai mudar” era a resposta mais ouvida quando questionava-se o que acontecia com Cuba após a morte de Fidel Castro.

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