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  • Secundaristas ocupam escola contra fechamento de cursos

    Secundaristas ocupam escola contra fechamento de cursos

    Estudantes do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Lênio Vieira de Moraes, em Barueri, ocuparam no final da tarde de hoje o prédio da escola em repúdio à decisão do Estado de transferir alunos sem qualquer diálogo. Os estudantes secundaristas tiveram a informação apenas quando as transferências começaram a ocorrer e as matrículas foram canceladas. Os funcionários da escola eram obrigados a dar a notícia aos que seriam remanejados. Alunos, pais e toda a comunidade escolar não foram ouvidos durante o processo.

    Por Cadu Bazilevski, Lucas Martins e Martha Raquel Rodrigues, dos Jornalistas Livres 

    A gestão atual da escola é compartilhada entre a prefeitura do município de Barueri, responsável pelas turmas do ensino fundamental, e pelo governo do Estado de São Paulo, que mantém as turmas de ensino médio e da Escola de Jovens e Adultos (EJA).

    Acontece que, a partir de 2020, o Estado deixará de compartilhar a gestão da escola com o município e alunos secundaristas do ensino médio e da EJA estão sendo transferidos para escolas de outros bairros, mais longes. A ocupação-protesto acontece com o intuito de lutar pela permanência destes alunos que, além de ter uma ligação com a escola, também terão muita dificuldade de locomoção para outros bairros para estudar.

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a PnadC, do IBGE, em 2018 quatro em cada dez brasileiros de 19 anos não haviam concluído o ensino médio ainda, uma realidade ignorada pelo governo estadual de São Paulo.

    Cem pessoas, entre professores, pais, alunos secundaristas e do EJA e funcionários, foram até a frente da escola declarar apoio aos estudantes.

    A Polícia Militar de João Doria foi chamada e um policial agrediu a professora e conselheira do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), Angela Soares. Neste vídeo é possível ver a ação descontrolada do policial:

    Em entrevista exclusiva aos Jornalistas Livres, Angela disse que veio até a escola em solidariedade aos alunos e decidiu intervir quando um policial tentava invadir o prédio.

    “Eu vi que o policial ia entrar e poderia fazer alguma coisa com os alunos. A gente sabe como os policiais agem nessas situações. Aí eu só falei para ele que ele não podia fazer daquela forma porque os alunos eram menores e eles precisavam que os pais estivessem presentes. Que ele tinha que conversar com eles [os alunos] na presença dos pais e aí ele já veio pra cima de mim perguntando quem eu era, dizendo que eu estava sendo abordada, que eu ia ser presa, que eu ia ser detida. Ele chegou a colocar a mão no meu braço”.

    Estudantes secundaristas e da EJA dizem que não conseguirão se manter estudando 

    Gabriel tem 21 anos e é aluno do EJA. Ele esteve em frente ao colégio em apoio à luta dos estudantes porque sabe da importância da escola para a comunidade. “Eu estudei nesse colégio desde a sexta série e ele foi muito importante pra mim porque eu parei de estudar e quando eu voltei, ele me acolheu. São muitos alunos, e fechando essas turmas, com certeza haverá superlotação em outras escolas. E com essa superlotação os alunos vão parar de estudar”.

    O jovem trabalha como estoquista e diz que, se transferido, não conseguirá se manter estudando. “Mesmo que eles disponibilizem vale-transporte, ainda assim não conseguirei estudar porque eu levaria uma hora até a outra escola e meu horário de trabalho combinado com o horário de entrada na escola não daria certo. Eu teria que pegar dois ônibus”.

    Mariana é secundarista, tem 16 anos e ano que vem cursará o segundo ano do ensino médio. “A gente ficou sabendo pelos funcionários. Teve aluno que foi transferido pra Cotia, outros pra Carapicuíba. Eu estudo aqui há uns 10 anos e essa escola faz parte da minha vida. Sair daqui seria perder um pedaço de mim. Aqui eu formei laços, fiz amizades, eu me criei aqui dentro. Ir pra outra escola, de repente, no penúltimo ano escolar seria como arrancar um pedaço de mim”.

    Márcia é mãe de Mariana e contou que a filha e os demais alunos secundaristas da sala dela enfrentam a dupla jornada de trabalho e estudo. Elas moram bem-próximas à escola e, se transferida, a menina teria que andar pelo menos 35 minutos até a nova unidade de ensino. “Essa ainda é a escola mais próxima, mas ainda não disseram pra onde ela vai. Tem escola que não tem nem quadra”, disse indignada. “Aqui fica naquele disse me disse, ninguém foi informado de nada. Eu apoio muito os estudantes secundaristas que ocuparam a escola e acho que eles só tem que sair de lá de dentro quando tiver um papel oficial com assinatura do governador dizendo que eles não serão transferidos. Caso contrário eles não tem que sair. Ela [a filha] só não tá aí dentro porque foi de última hora a assembleia. Se com ela aqui fora eu já veio declarar apoio, imagina lá dentro”, completou a mãe orgulhosa da luta da filha.

    Um ato de apoio aos alunos foi chamado para amanhã, 17 de dezembro, às 10h, em frente à Escola Estadual Lênio Vieira de Moraes. Para mais informações sobre o ato, CLIQUE AQUI.

    Veja outras reportagens sobre a luta dos estudantes por melhores condições de estudo:

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – sobre o movimento secundarista de ocupação no Paraná

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – Não tem conforto, só tem perrengue!

     

  • Em SP, polícia. No PR, MBL. Estudantes resistem.

    Em SP, polícia. No PR, MBL. Estudantes resistem.

    Por Lucas Martins e Martha Raquel no especial Minha Casa, Minha Vida

    O movimento dos estudantes que ocupam os colégios contra a PEC 241 (que congela investimentos por vinte anos – aprovada ontem na Câmara dos Deputados Federais) e a MP 746 (que reforma o currículo educacional) tem encontrado várias pedras em seus caminhos.

    No estado de São Paulo, que ano passado deu início as ocupações, apenas o Instituto Federal está ocupado. Todas as tentativas de ocupar colégios e diretorias de ensino foram rapidamente reprimidas pela Polícia Militar, que tem adotado uma prática sistemática para reprimir os estudantes. Após qualquer ocupação não há diálogo. A polícia chega ao prédio ocupado, invade e retira os estudantes pela força e sem mandado judicial – como aconteceu na Diretoria de Ensino do Centro-Oeste, na Escola Estadual Xavier Toledo e em uma Diretoria de Ensino de Guarulhos. Outra prática é a pressão externa com a Tropa do Choque ou algum grupo da PM esperando do lado de fora coloca duas opções aos estudantes: sair espontaneamente ou a entrada do pelotão.

    O estado não realiza diálogo, não pede ordem judicial, apenas manda a Polícia Militar. Os estudantes não são dignos do direito de falar.

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    Já no Paraná, o governador, Beto Richa, tem receio de usar a força da Polícia. Depois das cenas de massacre, no 29 de abril do ano passado, contra professores grevistas, o governador vêm buscando outras formas, que não a Polícia, de intimidar os alunos para que os colégios sejam desocupados. O caminho tem sido apelar para a criminalização do movimento, por meio de pronunciamentos e boatos. O MBL (Movimento Brasil Livre) tem se tornado uma forma de relações públicas para os governos de direita, como neste caso. Além de convocado pelo golpista Temer para defender a PEC 241, o MBL tem sido o principal aliado de Beto Richa na desmoralização do movimento secundarista. Com publicações diárias espalham boatos sobre as ocupações, sempre com frases de efeito, mas sem materialidade. Acusam os estudantes de serem controlados por agentes externos e com ligações à partidos de esquerda. Além disso, ainda convocam atos de intimidação em frente aos colégios ocupados, tentando assim aterrorizar os alunos que vêm mantendo as ocupações organizadas e com cronogramas a serem seguidos.

    Estudantes de ocupações chegaram a relatar que objetos (como cigarros, camisinhas e bebidas) têm sido jogados dentro das ocupações com o intuito de criminalizá-los por práticas que não cometeram. A reportagem verificou em ao menos quatro ocupações a proibição da entrada com esses objetos. Esse incentivo à violência tem surtido efeito. Um colégio já foi desocupado à força, onde membros de movimentos de extrema direita e pais contrários à luta pela educação entraram no colégio quebrando o portão e retiraram os ocupantes, deixando alguns ocupantes feridos .

    O jogo antidemocrático da direita se utiliza da repressão e difamação para acabar com seus opositores. Os estudantes, entre 15 e 17 anos, em contrapartida estão mostrando que entendem de política e cidadania. Cabe à sociedade se informar atentamente a tudo que vem ocorrendo e decidir se está ao lado dos que jogam sujo ou de quem luta, não apenas por sua educação e futuro, mas por todas as próximas gerações.