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  • Geisel e Figueiredo operaram pessoalmente na execução de inimigos do regime

    Geisel e Figueiredo operaram pessoalmente na execução de inimigos do regime

    O texto a seguir foi publicado nas redes sociais por Matias Spektor, professor da Fundação Getúlio Vargas:

    Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa.

    É um relato da CIA sobre reunião de março de 1974 entre o General Ernesto Geisel, presidente da República recém-empossado, e três assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo no comando e o General João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).

    O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo. Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, “apenas subversivos perigosos” deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso.

    De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?

    O relato da CIA foi endereçado a Henry Kissinger, então secretário de Estado. Kissinger montou uma política intensa de aproximação diplomática com Geisel.

    A transcrição online do documento está no link abaixo, mas o original está depositado em Central Intelligence Agency, Office of the Director of Central Intelligence, Job 80M01048A: Subject Files, Box 1, Folder 29: B–10: Brazil. Secret; [handling restriction not declassified].

    Você pode lê-lo aqui em inglês.

    Costuma-se dizer que Geisel foi uma espécie de “ditador esclarecido”, que conteve a “tigrada linha dura”, começou a “abertura política” e amenizou os rigores do regime militar brasileiro. Mas a descoberta do documento de 1974 desmonta essa  narrativa sobre Geisel, construída principalmente pelo jornalista Elio Gaspari, ao longo de seus livros “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Derrotada”, “A Ditadura Encurralada”, “A Ditadura Acabada”…

    A descoberta do documento de 1974 prova que Geisel não conteve a tigrada. Ele mesmo era o tigre, que comandou a execução sumária dos principais inimigos do regime.

     

    Segue a tradução do memorando da CIA a Kisinger sobre a execução sumária de presos no governo Geisel:

    “Relações Exteriores dos Estados Unidos, 1969–1976, Volume E – 11, Parte 2, Documentos sobre a América do Sul, 1973–1976

    1. Memorando do Diretor de Inteligência Central Colby ao Secretário de Estado Kissinger

    Washington, 11 de abril de 1974.

    Assunto

    Decisão do Presidente do Brasil, Ernesto Geisel, de continuar a execução sumária de subversivos perigosos sob certas condições

    1. [1 parágrafo (7 linhas) não desclassificado]

    2. Em 30 de março de 1974, o presidente brasileiro Ernesto Geisel reuniu-se com o general Milton Tavares de Souza (chamado General Milton) e com o general Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente o chefe do Centro de Inteligência do Exército (CIE) que estava deixando o cargo e aquele que estava assumindo. Também esteve presente o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI).

    3. O General Milton, quem mais falou, delineou o trabalho do CIE contra o alvo subversivo interno durante a administração do ex-presidente Emilio Garrastazu Médici. Ele enfatizou que o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e disse que métodos extra-legais devem continuar a ser empregados contra subversivos perigosos. A este respeito, o General Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pela CIE durante o último ano, aproximadamente. Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua continuidade.

    4. O Presidente, que comentou sobre os aspectos sérios e potencialmente prejudiciais desta política, disse que queria refletir sobre o assunto durante o fim de semana antes de chegar a qualquer decisão sobre sua continuidade. Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados. O presidente e o general Figueiredo concordaram que quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O Presidente e o General Figueiredo também concordaram que o CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral do CIE será coordenado pelo General Figueiredo.

    5. [1 parágrafo (12½ linhas) não desclassificado]

    6. Uma cópia deste memorando será disponibilizada ao Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos. [1½ linhas não desclassificadas] Nenhuma distribuição adicional está sendo feita.

    W. E. Colby”

     

     

  • Cubanos denunciam participação de assassino de Che Guevara em Cúpula das Américas

    Cubanos denunciam participação de assassino de Che Guevara em Cúpula das Américas

    Felíx Rodríguez Mendigutía à esquerda de Che Guevara. Foto: Reprodução
    Felíx Rodríguez Mendigutía à esquerda de Che Guevara. Foto: Reprodução

    A delegação cubana presente nos fóruns da 7ª Cúpula das Américas denunciou nesta quarta-feira (8) a presença de Felíx Rodríguez Mendigutía no Panamá. Segundo os cubanos, Rodríguez, um dos responsáveis pela morte de Che Guevara em 1967, se encontraria com parte dos opositores ao regime socialista e que se credenciaram para participar de um encontro de entidades da sociedade civil prévio à Cúpula. Félix foi chamado de “terrorista” e os opositores de “mercenários”.

    Ricardo Guardia Lugo, presidente da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), leu uma carta pública dirigida aos organizadores do Fórum da Sociedade Civil, solicitando às autoridades panamenhas a expulsão de Mendigutía.

    No dia anterior, a delegação cubana distribuiu uma publicação em que denunciava a presença de “mercenários fabricados pelos estrangeiros e pagos por nossos inimigos históricos, sem qualquer legitimidade” que participariam do Fórum em nome da sociedade civil cubana.

    História

    Félix Rodríguez Mendigutía, ex-agente da CIA nascido em Cuba, esteve envolvido em diversos episódios recentes da história da ilha. Também conhecido como “O Gato”, foi responsável pela coleta de informações que ajudariam, em 1961, na invasão da Praia Girón, tentativa de cubanos exilados apoiados pelos EUA para derrubar o regime socialista.

    Em 1967, foi escolhido pela agência de inteligência estadunidense para liderar a campanha contra Che Guevara na Bolivía. Mendigutía interrogou e deu as ordens para a execução de Guevara. Ele ainda se envolveu, na década de 1980, no esquema de tráfico de drogas e armas armado pela CIA para financiar os contra-revolucionários na Nicarágua. Até hoje, ele guarda e utiliza o relógio que Che utilizava quando foi capturado.

    “O que mais indigna e dói para nós é seu envolvimento direito, por indicação da CIA, na morte do Che Guevara”, disse Guardia Lugo. Ele mostrava uma foto em que Mendigutía posava com um dos opositores cubanos credenciados para participar do Fórum da Sociedade Civil.

    “Nos enoja que um sujeito como ele, com essa história, venha ao Panamá para se reunir com traidores que inexplicavelmente foram aceitos no Fórum da Sociedade Civil para opinar sobre o destino de nossa pátria”, afirmou Guardia.

    Antes da abertura do Fórum, um grupo de cubanos, apoiado por delegações de outros países, realizou um protesto em que pediam a saída de Mendigutía do encontro. Em repúdio à sua permanência, os manifestantes se retiraram do local afirmando “ser uma vergonha para a América Latina aceitar a presença de um assassino e terrorista”.


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