Jornalistas Livres

Tag: Cemig

  • O cotidiano de um apagão

    O cotidiano de um apagão

     

    Até parece que foi ontem que meu ex professor de faculdade entrou na sala de aula e fez uma provocação aos alunos.

    “Vocês já imaginaram o mundo sem alimentos e sem água? Acredito que sim, a mídia pauta isso o tempo todo. Agora imaginem se passarmos por uma crise de energia?”

    Todos começaram a questionar em silêncio e acharam que o professor estava maluco, pois essa situação jamais aconteceria, já que temos tecnologia o suficiente para suprir qualquer falta de energia. Será?!

    Ao perceber que nenhum aluno manifestou sua opinião, o professor disse “Você está no supermercado sem ar-condicionado, os alimentos descongelados e estragados causam mal cheiro por todo o estabelecimento. Ao chegar na enorme fila do caixa, a moça está somando todas as mercadorias, a calculadora, o ar-condicionado e ventiladores estão parados enquanto você está imerso no calor e no escuro. Isso foi apenas o começo.”

    Empolguei-me na imaginação e continuei a “estória” em meus pensamentos. Ao sair do mercado, provavelmente, precisaria de transporte para ir para casa. Mas como, se o metrô estaria sem carga de energia suficiente para rodar os trens? E ao chegar em casa, me depararia com as luzes apagadas, a geladeira desligada, fogão sem chance de ser usado e computador parado. Logo pensaria, por que não tomo um banho para refrescar a cabeça? Refrescar mesmo, já que o chuveiro só funcionaria no gelado. Ui. E por aí vai. Os sinaleiros da cidade estariam apagados, os elevadores travados, bancos trancados e sem sistema, hospitais sem geradores pra manter seus ambulatórios e aparelhos em funcionamento… Será assim para pior e sem previsão de volta.

    Esse foi apenas uma parte de meu cotidiano sem energia. E o seu, como seria? Já imaginou?!

    Tarefas simples e necessárias, presentes no dia a dia de milhões de pessoas, provavelmente serão exercidas com muita dificuldade.

    É incalculável o risco que o país correrá se empresas estatais como Eletrobras, CESP, as usinas da CEMIG, entre outras entidades que estão ameaçadas, forem vendidas. Vários apagões e quedas de energia acontecerão com frequência e por tempo indeterminado, e nós, pobres mortais, seremos os mais prejudicados. A conta de luz vai aumentar em 16%; a comida custará mais caro; pessoas que vivem nas periferias, interior e zona rural terão mais dificuldades para ter acesso à energia elétrica.

    A energia move o mundo e nos mantêm vivos. Ao abaixar a cabeça para a venda dessas corporações, colocaremos em risco um recurso estratégico e vital para o desenvolvimento social e econômico de Norte a Sul dessa nação. O Brasil precisa do apoio do povo. Lute contra as privatizações.

  • Privatização de hidrelétricas pode tornar a conta de luz mais cara em Minas Gerais

    Privatização de hidrelétricas pode tornar a conta de luz mais cara em Minas Gerais

    Em abril deste ano, o Governo Federal publicou um edital de licitação para vender quatro usinas: Miranda, Jaguara, São Simão e Volta Grande. Estas representam 50% da geração de energia da estatal mineira e, no tempo em que estiveram operando, cerca de 30 anos, o valor de construção das mesmas já foi pago nos boletos de conta de luz. Isso significa dizer que, caso elas sejam vendidas para o capital privado, o consumidor estaria pagando novamente por hidrelétricas já construídas e a energia seria ainda mais cara. Para lutar contra os retrocessos na área da energia, entidades, movimentos sociais e sindicais e membros da sociedade civil, criaram a Plataforma Operária e Camponesa de Energia.

    A licitação ainda está pendente por algumas questões judiciais e do TCU (Tribunal de Contas da União), porém a previsão é que ela ocorra em setembro. A justificativa dada pelo Governo Federal é a de que vender as usinas ajudaria a fechar as contas públicas deste ano. Porém, segundo a Plataforma Operária e Camponesa de Energia, os grandes empresários e banqueiros estão sendo isentos de impostos num processo de renúncia fiscal que ultrapassa os R$ 100 bilhões, e este dinheiro é que deveria ser usado para as pagar as contas da união em 2017.

    Construindo uma alternativa para manutenção da soberania da energia elétrica, a Plataforma se uniu em torno da causa para pensar uma forma de salvar a Cemig e garantir que o lucro das hidrelétricas retornasse ao povo. Caso ocorra a perda da soberania da energia no estado, é possível que a empresa estatal decrete falência, já que perderia a metade da sua potência geradora de energia.

    Tirando o valor de manutenção e de pagamento dos quadros de funcionários, as concessionárias de hidrelétrica tem um lucro de 2 bilhões por ano. A Plataforma reivindica que seja criado um fundo, junto à empresa estatal, em que a sociedade civil e o Estado possam escolher para onde irá esta verba, que seria reinvestida em saúde, educação, cultura, apoio aos atingidos por barragens, agricultura familiar e camponesa, entre outras áreas, conforme a necessidade da população mineira. Segundo a mesma, esta proposta é possível e viável, pois é muito semelhante à campanha feita em relação ao pré-sal, cujos lucros vão para um Fundo Social e são destinados à educação.

    Entenda de onde vem o debate

    O direito à exploração de usinas hidrelétricas para gerar energia é uma concessão pública, que deve ser renovada de tempos em tempos e afeta diretamente o bolso das pessoas. Para reduzir o valor da energia elétrica, em 2012 o Governo Federal, representado por Dilma Rousseff, fez uma Medida Provisória (MP) que renovava a concessão de diversas usinas cujos contratos venceriam entre 2013 e 2016 e visava diminuir o valor das contas de luz. Governo de Minas e a Cemig, não concordando com as condições de redução da tarifa, renovaram 18 outras usinas, mas optaram por não renovar três concessões, Miranda, Jaguara e Simão. Houve uma tentativa no mesmo ano de renovação das concessões por mais 20 anos via justiça, mas o pedido à época foi negado.

    A proposta de Dilma era de que as concessionárias fossem remuneradas somente pela operação e manutenção das usinas, visto que seu valor de construção inicial já teria sido pago. Como essa ideia na época não era de interesse do Governo do Estado, a Cemig recuou em aceitar a proposta. Além das usinas que deveriam ter sido renovadas em 2012, Temer pretende leiloar a hidrelétrica de Volta Grande, cuja concessão venceu em fevereiro de 2017.