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  • Arcos da Lapa e “Flores para a Democracia”

    Arcos da Lapa e “Flores para a Democracia”

    Mais uma vez no Rio de Janeiro, como nos anos de chumbo da ditadura militar, artistas que se recusam a ser obrigados a calar a voz, protagonizaram o Ato por Lula Livre. Fortes emoções e muita energia emergiram deste momento histórico tão significativo para a luta de resistência popular nos Arcos da Lapa.

    Como uma das representantes do “Flores pela Democracia por Lula Livre”, ação política que vem sendo desenvolvida sistematicamente desde abril deste ano, participei deste Ato carregado de sentimentos de indignação e simbologias.

    A inquietação de algumas pessoas amigas com afinidade ideológica, desencadeou esta ação de militância política através das Flores, movida pela vontade e determinação de contribuir para a mudança desta dura realidade pós golpe em 2016, que culminou com a prisão política de Lula.

     

    Começamos com 4 pessoas e hoje somos um coletivo, uma redinha,  que abrange cerca de 50 pessoas. Uns atuam diretamente, outros que podem parecer invisíveis contribuem com parte significativa no suporte de confecção de flores: cata de gravetos, doação de papel crepom ou cola, impressão de filipetas, elaboração de textos curtos e em linguagem acessível para que todos possam entender..

    Em cada ato realizado em praças públicas, descobrimos novas identidades, novos parceiros, novos grupos que se somam e se articulam pelo desafio de romper a bolha da passividade, do descrédito da política e da falta de informações, tão bem trabalhada pelas forças golpistas, pela rede Globo e pela grande mídia.

    Estamos juntos com grupos de resistência da saúde, da cultura, Linhas de Sampa e com pessoas cujo desafio é atingir novos corações e mentes. As flores possibilitam conversa e diálogo com pessoas diversas e, especialmente para aquelas de camadas mais simples, populares, as mais atingidas pelo golpe e sedentas de troca de informações e sentimentos sobre o momento que estamos vivendo.

    Nossas  armas “Flores pela Democracia – Lula Livre” são uma semente para luta e reflexão, que podem se espalhar por todo lugar.

     

     É um trabalho de formiguinha que tem despertado interesse. Conversamos sobre a farsa da prisão do Lula, a perda de direitos sociais, trabalhistas e do direito de defesa, o corte de investimentos nas políticas públicas, a venda do patrimônio e das riquezas naturais de nosso país, a importância da política, a força da união do povo na reversão do retrocesso de direitos, da soberania de nosso país e de nosso povo, de desmoralização de setores da política e do Judiciário.

     

    Com este espírito uma pessoa de Brasília e 5 de São Paulo do “Flores pela Democracia – Lula Livre”, fomos aos Arcos da Lapa. Confeccionamos, trocamos ideias e distribuímos flores. Assim marcamos nossa presença: dedicamos um tempo de prosa para quem se aproximava, entregamos flores para a maioria dos ambulantes que emocionados enfeitavam suas barracas e isopores, enviamos um ramo de flores para os artistas. Gestos simples e simbólicos para fazer frente a essa onda de ódio de classe, intolerância e de retrocessos.

    Segundo o depoimento de Duda, uma argentina que veio especialmente prestar solidariedade ao Ato por Lula Livre e à luta de resistência do povo brasileiro, “o Lula Livre é muito mais que a liberdade de Lula, é a liberdade política, de pensamento, de raça, de gênero. Esta luta é muito maior para todo o universo e é muito mais importante do que a gente pensa. Um movimento latino americano por democracia, saúde, educação, trabalho, casa para todos, dignidade da pessoa, afirmação da mulher…”

    Ao chegarmos ao Rio, mesmo antes do Ato nos tornamos maiores com o apoio de um grupo de mulheres da Praça do bairro do Peixoto. Sob os Arcos da Lapa nos enriquecemos com novos contatos e novos adeptos: Flores e Linhas de Bordado do Rio, alguns populares, estudantes, militantes.

    Movimentos e forças progressistas unidos e fortalecidos pelo Lula

    O clima que permeou todo o Ato nos Arcos da Lapa contagiou. A sede de justiça, a indignação contra tudo o que estamos  vivendo, a garra na luta pela liberdade de Lula fortaleceu aquela multidão/semente. O recado indignado dos artistas das mais diferentes áreas e gerações, a presença das pessoas comprometidas com a luta de resistência nos remeteu à força e à determinação de Lula. A todo momento a sensação muito forte de que Lula ia aparecer.

    A sinergia dos presentes reforçou ideias, valores e emoções.

    Que vida e país queremos construir?

    De lá saímos todos mais fortes,

    “Neste país está faltando ele, e a falta dele está doendo em nós…”

    Vamos à luta!

  • A Rede Globo de Televisão e o sequestro da nossa emoção

    A Rede Globo de Televisão e o sequestro da nossa emoção

    Domingo, 08 de julho de 2018.
    Uma notícia sacode o Brasil.

    O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde o dia 07 de abril por decisão do juiz de 1³ instância Sérgio Moro, teve seu pedido de habeas corpus, peça jurídica assinada pelos advogados Wadih Damous e Paulo Pimenta, também deputados, acatado e deferido, e sua soltura imediata determinada pelo desembargador Rogério Fraveto, que havia assumido naquela data o posto de plantonista do Tribunal Regional Federal da Quarta Região – TRF-4 com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

    Iniciou-se a partir daí uma operação de guerra protagonizada pelo Departamento de Jornalismo da Rede Globo de Televisão, que está presente em 97,2% das casas brasileiras, uma tentativa de sequestrar o emocional de seus telespectadores, imprimindo à narrativa das notícias relativas ao caso uma dinâmica falsa, cujo objetivo era fazer com que o telespectador aceitasse como legal uma ação ilegal.

    Dado o parecer do desembargador Fraveto em favor do ex-presidente Lula, o juiz de primeira instância Sérgio Mouro, então em férias, licenciado das atribuições que o cargo lhe incumbe, se recusou a acatar a decisão do magistrado de uma instância superior à sua e, não satisfeito, alegou a “incompetência” do desembargador para determinar a soltura do réu, num gesto raramente visto no espectro jurídico brasileiro, o descumprimento de uma ordem judicial de efeito imediato por um juiz de instância inferior.

    Diante da posição de Moro, a Rede Globo de Televisão e a Globo News, seu braço jornalístico na TV por assinatura, trataram de dar suporte factual à versão do juiz, trazendo diversos analistas jurídicos de aluguel, que não apenas endossavam, como também reforçavam a ideia que a ação de Sérgio Moro era legítima e legal.

    O canal Globo News, por exemplo, chegou a fazer uma chamada, que ficou no ar por bastante tempo, onde noticiava que o “PLANTONISTA do TRF-4 mantinha a soltura de Lula, APESAR DA DECISÃO DE MORO”.

    Imagem captada da internet

    “Plantonista”, não desembargador.
    Plantonista.
    Apesar da decisão de Moro.”
    Apesar da decisão de Moro.

    Notem que na chamada existe primeiro a tentativa de desqualificar a função de plantonista do tribunal, exercida pelo desembargador Rogério Fraveto, e depois passar para o telespectador a ideia de que uma decisão de Sérgio Moro é a última palavra da Justiça, inquestionável.

    Como se o juiz Sérgio Moro, um juiz de primeira instância, fosse um semideus, uma espécie de encarnação viva da própria Justiça brasileira.

    Ao tentar manipular dessa maneira a opinião pública, a Rede Globo de Televisão mostra mais uma vez a necessidade urgente que o país tem de pensar numa solução para redemocratizar seus Meios de Comunicação.

    Não é possível aceitar que a Rede Globo continue atuando como partido político, através de uma concessão pública, que em tese pertence ao povo brasileiro, agindo de uma maneira a enganá-lo, desinformando-o, manipulando-o e sequestrando suas emoções de acordo com seus interesses comerciais.

    Não é mais aceitável que a Rede Globo de Televisão continue a liderar e orquestrar uma campanha de criminalização contra o ex-presidente Lula, ao mesmo tempo que eleva a figura de um juiz de primeira instância ao status de herói nacional, numa narrativa que inocula o ódio contra o ex-presidente e macula o processo eleitoral que – esperamos, será realizado em outubro, processo que tem o ex-presidente como líder absoluto nas pesquisas de opinião em todos os cenários.

    Ao criminalizar o presidente Lula, a emissora interfere no processo eleitoral que se desenha no horizonte, e coloca água no moinho dos candidatos que têm como plataforma eleitoral o ódio, o antipetismo, a demagogia barata travestida de democracia, brindando-os com o bônus de uma campanha eleitoral indireta antecipada, o que contraria a legislação eleitoral em vigor no país.

    Ao tentar sequestrar o emocional das pessoas através da desinformação, a Rede Globo de Televisão demonstra que há uma enorme desproporção entre sua função de informar e sua vocação de confundir o telespectador.

    A grande quantidade de pessoas que, após assistirem aos noticiosos da Rede Globo saíram endossando nas redes sociais as ilegalidades cometidas pelo juiz Sérgio Moro, mostram o sucesso da estratégia da emissora, que joga com o inconsciente de seus telespectadores a fim de obter deles apoio às suas próprias convicções políticas e comerciais.

    A Rede Globo de Televisão faz com que seu telespectador acredite em um suposto altruísmo encampado pelo juiz Moro, vendido pela emissora como um super herói apartidário (mas que aparece em diversas fotos confraternizando com políticos do PSDB) numa cruzada quixotesca “contra a corrupção”.

    Tal prática cria um clima de ódio na população, demoniza a política como prática republicana e afasta o eleitor em geral, e o cidadão em particular, da discussão de temas que comprometem e são fundamentais no seu dia a dia.

    Sendo assim cada vez mais telespectadores da emissora revelam-se descontentes com a política de um modo geral, bombardeados que são, diariamente, por um jornalismo de guerra empenhado em mostrar que a política não funciona, e que a única saída para os problemas do país é através do autoritarismo antidemocrático na figura da judicialização da política.

    O dia 08 de julho de 2018 ficará para sempre marcado como mais um dia em que o Jornalismo da Rede Globo de Televisão prestou enorme desserviço à população, mais uma vez enganando-a, confundindo-a e, sobretudo, tentando sequestrar sua emoção.

  • Greve estudantil e ocupação na Universidade Federal de Mato Grosso

    Greve estudantil e ocupação na Universidade Federal de Mato Grosso

    Decisão de aumento de 500% de Restaurante Universitário é adiada para dezembro de 2018: o que ainda não foi dito!

    Por: Ocupados do Instituto de Linguagens e Faculdade de Comunicação e Artes

    “Diálogo e Ação” é o mote que sustentou a campanha da Professora Myrian Serra, atual reitora da Universidade Federal de Mato Grosso, no seu processo de eleição para o cargo. Fazendo uma breve e simples interpretação do texto, isso significa que, supostamente, a referida reitora proporcionaria um diálogo mais democrático com a comunidade acadêmica no intuito de direcionar suas ações. Mas o que aconteceu de fato com os alunos da UFMT, que, ironicamente, alegam diversos descuidos por parte da Reitoria no que diz respeito ao diálogo entre o mandato de Myrian e os estudantes?

    O fato é que desde o dia 9 de fevereiro deste ano, sem nenhuma consulta aos estudantes e toda a comunidade acadêmica, foi recebido um comunicado dizendo que a Universidade faria cortes de gastos e por isso aconteceriam algumas reformas nas políticas de assistência estudantil. Juntamente com essas reformas, o aumento de 500% no valor da refeição do Restaurante Universitário (de um real para cinco reais).

    No dia 08 de maio de 2018, através de Assembleia Geral promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) foram deflagradas greve estudantil e ocupação unificada com mais de mil votos a favor. Mais tarde, após muita luta e resistência, no dia 14 de maio de 2018, foi suspenso o Calendário Acadêmico, legitimando a greve dos estudantes, por meio da paralisação das aulas da graduação.

    Por que enfatizamos essas conquistas? Primeiramente, Fora Temer! Segundo, porque se levarmos em conta que o movimento de luta em defesa do Restaurante Universitário (RU) a R$1 e universal – a principal pauta dos estudantes – ocorre desde fevereiro de 2018, essas decisões são assaz tardias. Esse atraso se deve ao emparelhamento da Reitora com o DCE, causando impasses no diálogo com os demais estudantes. Independentemente do DCE, os alunos têm se mobilizado antes mesmo da deflagração oficial de greve estudantil, por meio de movimentos independentes que, primeiramente, promoveram ocupações nas guaritas de acesso ao Campus, e, mais tarde, estenderam-se para as demais dependências da Universidade.

    Nesse ínterim, foi emitida uma nota do DCE declarando isolada a ação de ocupações das guaritas, uma ação judicial de reintegração de posse (??????) contra os ocupantes, e realizada, de última hora, uma reunião entre a Reitora e o Diretório Central dos Estudantes, sem a convocação do Comando de Greve que já havia sido instituído durante o movimento de ocupação. Na reunião citada, foi encaminhada a “suspensão do reajuste no valor do Restaurante Universitário na Universidade Federal de Mato Grosso [apenas] até dezembro de 2018”, conforme a nota publicada no site da UFMT. Uma vez que essa é uma medida paliativa, tal suspensão busca a desmobilização do movimento iniciado nas ocupações.

    Apesar desse cenário, persistem as atividades como o estudo do Relatório Anual de Gestão (RAG), aulas públicas, oficinas, saraus e torneios, cujos objetivos são o de incentivo à participação política de todos os estudantes na luta por uma universidade pública e acessível e a integração da comunidade externa aos acontecimentos internos do Campus. Dessa forma, também, é possível que todos continuem a usufruir do espaço públicos e dialoguem mais conjuntamente, reforçando o movimento de luta a favor da manutenção do RU a um real e universal.

    Acompanhem as mobilizações dos estudantes na UFMT na página da TOCA – Agência Experimental de Comunicação em: https://www.facebook.com/tocaexperimental/?hc_ref=ARRzmwgn6OVzejymmzukhC5we9baovH4DZpdtt0Tk8obFdFm2mpNuUgLOpOdWzXefWU&fref=nf

  • Resistência do povo, com os braços, com o coração, com a revolta pela certeza da injustiça…

    Resistência do povo, com os braços, com o coração, com a revolta pela certeza da injustiça…

    De: Alfredina Nery

    Para: Cartas para Lula

    Lula,

    Meu marido e eu estivemos nas ruas, no dia 06 de abril de 2018, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, porque fomos abraçar e defender você e nossa Democracia ameaçada tão duramente desde 2016.

    A chegada já foi carregada de apreensão. A resistência do povo, por/com você estava sendo feito com os braços, com o coração, com a revolta pela certeza da injustiça… mais uma vez!

    No calor do sol, uma mulher passou chorando. A gente se olhou e se abraçou, emocionadas. Desconhecidas sim, mas velhas conhecidas da gravidade da situação. “O que será que será que dá dentro da gente …” (lembra da música?)

    Na grade da casa em que nos encostamos, em frente ao Sindicato, apareceu uma cachorra grande, preta,  de olhos doces que abanou o rabo pra nós. Ela também percebeu a multidão e sabia que dela pode vir carinho. Ficou conosco, em vários momentos, aliviando a nossa tensão, apenas com sua presença.

    Nas conversas, em meio às falas no caminhão de som,  o tom era sempre o mesmo: o que você, Lula, significa para o país, em toda sua simbologia, construída, há mais de quatro décadas e o que significa rasgar a Constituição brasileira, em tempos tão combalidos da nossa jovem Democracia.

    De repente, um casal começou a conversar conosco e aos poucos foi se revelando. Ele participou da diretoria do Sindicato, junto com você, Lula, e com você foi preso, nos idos de 1980. A mulher foi costurando, junto com ele, fios  históricos daquela cidade, do trabalho na fábrica, dos tempos da luta operária em plena ditadura e da construção do Partido dos Trabalhadores, com a simplicidade dos que sabem que “ a colheita é comum e o capinar é sozinho” (Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa tem razão, né?

    Quando o cansaço das pernas apertou, sentamos numa mureta onde lá estava um homem jovem que começou a conversar conosco. Era de Alagoas e mora atualmente em Guaianazes/SP. Contou a miséria da infância, junto com outros 17 irmãos porque 6 dos 23 filhos que os pais tiveram morreram ainda bebês. Havia época em que a seca durava cinco anos então a fome na família era enorme e seu sonho foi sempre ter uma bicicleta, o que nunca conseguiu (e hoje até tem um carro velho, para ir trabalhar).

    Foto de Celso Maldos

    Contou que desde que você, Lula, chegou à presidência começaram a receber Bolsa Família, por isto sua família e outros tantos moradores do local foram, devagar, melhorando de vida. E com as cisternas, o que era pesadelo eterno tornou-se direito garantido que alterou a vida de muitos.

    Contava tudo isto, no meio de breves paradas, para enxugar as lágrimas e conter o soluço. Por fim, disse que ele e vários irmãos, conforme iam conseguindo, vieram pra São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul em busca de trabalho. E hoje mandam para os que ficaram alguma ajuda porque a miséria está voltando aos rincões onde seus pais e alguns irmãos ainda vivem em Alagoas. Por isto, estava ali, solitariamente, gritando e defendendo você,  Lula, e, ao dizer isto, também chorava muito.

    Uma mulher passou com três sacolas de supermercado com balas e doces que foi oferecendo, generosamente, a todos e no trajeto vagaroso, seu sorriso, emocionava, seu gesto simples e desprendido dizia tudo…Quanto coisa bonita aconteceu naquelas ruas, Lula, que olhos de ver, viram!

    Encontramos também vários conhecidos do ensino público do ABC e nos abraçamos, na luta, mais uma vez e sempre! O medo e a energia da resistência caminhavam juntos.

    Os movimentos sociais, ativistas culturais, partidos políticos, representantes das várias religiões brasileiras e outros tantos que falavam no caminhão de som representavam a diversidade brasileira que nos constitui, que nos orgulha, que nos enche de esperança, pela convivência democrática, em luta pela justiça social e por direitos de todas as naturezas.

    De repente, você, Lula, surgiu numa das janelas do 2º andar. A multidão (meu marido e eu, incluídos) olhou pra cima, com os punhos cerrados, gritando seu nome, gritando palavras de resistência, de apoio, expressando em palavras o abraço que estava sendo dado desde ontem, na maior figura politica popular deste país.

     

    LULA LIVRE

     

    Alfredina Nery  em 06 de abril de 2018

  • “Militares estão no comando de Temer. E não o contrário”, diz Adriano Diogo

    “Militares estão no comando de Temer. E não o contrário”, diz Adriano Diogo

     

    Adriano Diogo é militante do PT e ativista histórico da Democracia e dos Direitos Humanos. Conhece a fundo o período da Ditadura Militar, porque presidiu a Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, e porque sentiu na pele a dor de ser um inimigo do regime dos generais. Adriano foi preso e torturado. Aqui, Adriano Diogo comenta as causas da atual intervenção militar no Rio de Janeiro e explica quem é que está com a iniciativa política nesta fase do golpe. Uma grande aula de história! Uma grande análise política! Compartilhe, comente, curta. Vamos levar essa história para todos os cantos do Brasil. Antes que seja tarde.

     

     

  • NA BONN DAQUI

    NA BONN DAQUI

    A dura face de nossa identidade genocida e a persistência dos povos indígenas.

    305 são os povos do Brasil. Irmãos do sofrimento, certos números nos dão friagens na espinha ao lembrar que eram mais, muito mais povos em terra tão vasta para andanças no ano 1500. Chegou de caravelas a morte nesses chãos.  Agora tá de volta o índio, 2017 é o ano e 305 são os povos, escuto entre algarismos na conversa de antropólogas em evento na  metrópole. Longe daqui, na capital da antiga República Federal da Alemanha, Bonn, na Conferência Internacional do Clima, rosna a onça suçuarana dos povos indígenas do Brasil, Sônia Guajajara; vão à luta e anuncia: onde tem direito garantido, tem floresta, tem biomas preservados. 

     

     

     

     

     

    Apesar de tudo o que perdemos, sabemos agora, para ladrões e seus parceiros no ofício da gestão do status quo, não tiraram essa vontade virgem de vencer tão evidente nos índios que vejo. Resiliência e resistência.

     

    Como na corrupção, talvez também sejam o genocídio e a devastação das florestas algo sistêmico, por baixo dos panos, entre os humanos que aqui aportaram de Portugal e tantos lugares. Na Alemanha acontece a COP 23, na Rússia os 100 anos da Revolução e em São Paulo, comigo ouço ligeiro, a Comissão Nacional da Verdade, seus arautos e o bom combate.

    Nosso mundo envelhece no planeta que gira e a mídia livre alforria antigos temas . Tupã, aqui em São Paulo, em sede de Banco ressoa seu trovão, ouço, enquanto na vizinha Praça da Sé centenas de pessoas protestam contra o governo atual.

    Pela janela, entre edifícios no centro da Sé, o punhal grafiteiro desafia antigos podres poderes. Helio Carlos Mello©

     

    Não vou escrever muito sobre a pauta dos direitos indígenas, pois o assunto desenvolve-se há 517 anos, ai de nossos netos.  O local da palestra que assisto fora um dia a sede dum Banco Federal. Todos aqui querem saber dos índios e o que lhes roubam em fluxo contínuo, tal curso de rio que não tem fim. Roubar o índio foi a primeira lei instalada em Pindorama, logo fica evidente no debate.

    De tudo cabe um pouco no Banco, agora museu e espaço cultural. É índio, é preto, é imigrante, tudo se configura nas paredes, entre muita segurança, do espaço cultural da Caixa Cultural São Paulo.  Advogados, antropólogos ou estudantes, muitos, no pequeno auditório querem é saber dos índios, a “não gente” primária toda aqui exterminada, excluída ou confinada. Duras são as palavras quando se fala da sina de índio nesse chão, não se iludam aqueles que buscam transcendência entre os povos tradicionais. Não são poesias ou doutrinas as veredas dessa gente, gente que foi e nunca mais vem, apenas guarda e cresce, lentamente.

    A nova geração de crianças indígenas, meninas Kalapalo, brincam de dançar, ritualizando um futuro que desafia. Helio Carlos Mello©

    Curioso notar que em espaço histórico de Banco nos sentimos como numa terra de ninguém, pois num museu de instituição financeira não há muito espaço para gente, mas sim engenhocas que calculavam, máquinas de somar e dividir, máquinas de escrever e vários instrumentos que demonstraram a seriedade e eficácia do capitalismo, a dureza fria de seus artifícios. Enfim…

    Sentam-se à mesa Manoel da Silva Werá (liderança da Terra Indígena Jaraguá e coordenador regional da Comissão Guarani Yvyrupá), Marlon Weichert (Procurador regional do Ministério Público Federal, atuando principalmente com direitos humanos, com ênfase nos temas de justiça transicional (direito à verdade, à responsabilização e à memória em relação a crimes contra a humanidade) e segurança pública, e Marta Azevedo (ex-presidente da Fundação Nacional do Índio, membro do Conselho Consultivo do Fundo de População da Organização das Nações Unidas no Brasil e coordenadora do Grupo de Trabalho de Demografia dos Povos Indígenas da Associação Brasileira de Estudos Populacionais).  Não são cantos de pássaros ou macacos nos galhos as vozes ou pensamentos em parlamento assim, a denunciarem direitos humanos violados e requerendo a recuperação dos direitos indígenas e a reparação de toda violência entre esses sertões que unem os séculos e dizimam multidões.

    O advogado Marlon Weichert, a antropóloga Marta Azevedo e Manoel da Silva Werá, liderança Guarani M’bya da Tekoa Pyaú. Helio Carlos Mello©

    Entre Bonn, Leningrado e São Paulo tudo gritava na sexta-feira. Tantos são os olhares de preocupações e expressões de escândalo ou resistência entre a continuidade da violação dos direitos indígenas, uma sede que não sacia. A violência contra os povos indígenas é ininterrupta.

    Índios, indigenistas, estudantes, juristas e o homem de bem sabem que há um monstro solto nas ruas nesses tempos de golpe. É preciso vigiar, orar aqueles que tem fé, sempre recordar e guardar, como sal da terra, direitos e democracia.