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  • Lula e o sítio de Atibaia: a saga da justiça seletiva continua

    Lula e o sítio de Atibaia: a saga da justiça seletiva continua

    Texto e fotos por Viviane Ávila, especial para o Jornalistas Livres

    Apesar de aparentemente tranquilo, o clima na manhã de 14 de novembro de 2018, uma quarta-feira cinzenta na porta da Polícia Federal em Curitiba, era de apreensão e resistência onde o ex-presidente Lula está preso desde o dia 7 de abril deste ano cumprindo pena de 12 anos referente ao “tríplex no Guarujá”. Em frente, a vigília Lula Livre, movimento que é a favor da justiça e da liberdade do ex-presidente desde o primeiro dia de sua prisão, protestava, cantava e vibrava energia positiva pelo companheiro e grande líder. Foi a primeira vez que ele saiu do prédio da Polícia Federal desde sua prisão. O motivo: prestar depoimento na Justiça Federal em mais uma ação de acusação, desta vez, se é dono ou não do “sítio em Atibaia” que frequentou no interior de São Paulo.

    O candidato a presidência nas eleições pelo PT, Fernando Haddad, que passou a manhã com o ex-presidente para prestar solidariedade e saber se ele estava bem, afirmou que “ele tinha lido todos os depoimentos das testemunhas e estava muito tranquilo quanto ao que ia relatar para a juíza no seu depoimento. Achei ele muito preparado e tranquilo”.

    A polícia federal fez uma segurança ostensiva do prédio. Fotos: Viviane Ávila, especial para o Jornalistas Livres

    Lula chegou na Justiça Federal de carro da PF, escoltado por outros seis carros, mais cerca de 20 motocicletas, um caminhão do BOPE e um grupo de atiradores de elite, que ficaram do lado de fora fazendo a segurança do prédio. A audiência teve início às 14h, pela juíza Gabriela Hardt, substituta do juiz Sérgio Moro, responsável pela “Lava Jato”. Na ocasião, ele entrou de férias do cargo de juiz, mas já cumprindo agenda como Ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro em reuniões de transição com outros ministros e assessores em Brasília.

    Fotos: Viviane Ávila, especial para o Jornalistas Livres

    Segundo lideranças do PT, essa manobra é inconstitucional, e a distribuição do processo deveria ter sido feita por sorteio, e não por indicação e substituição. Na última sexta-feira, 16, dois dias depois do depoimento, Moro pediu a exoneração do magistrado no Judiciário. O PT já deu entrada em ação de anulação da exoneração.

    Do lado de fora, a militância se manifestava pacificamente em frente ao prédio da Justiça Federal, e era constantemente munida de informações sobre o processo, expectativas do depoimento, esperança e senso de justiça por lideranças do PT, como a presidenta do Partido dos Trabalhadores e senadora PT-PR Gleisi Hoffmann, que explicou que Moro deveria ter se exonerado do cargo assim que aceitou ser ministro, para que o processo de Lula fosse redistribuído sem indicação de magistrado. Moro tirou férias para que a amiga dele pudesse continuar o julgamento e seguir o seu roteiro que é condenar o presidente Lula”, afirmou.

    Questionada sobre a expectativa em relação à substituta, Gleisi declarou: “Nenhuma. Porque é uma juíza que é a sequência do que o juiz Sérgio Moro quer.” Mais tarde, ainda em frente à sede da Justiça Federal, ela questionou o processo e afirmou que Lula é inocente. “Qual é o crime que Lula cometeu? Corrupção passiva precisa de um ato de ofício. Lavagem de dinheiro também. Lavou dinheiro de quem e onde? O sítio não é dele, ele não sabia das reformas, não pediu as reformas, todas as testemunhas falaram que não tem nada a ver com recurso da Petrobrás e mesmo assim o juiz embarcou de novo na tese do Ministério Público sobre as convicções, dizendo que Lula deveria saber e tem responsabilidade”. Ela classificou o depoimento de hoje como “mais uma peça teatral desse processo”.

    Em pleno acordo com a presidenta do partido, Paulo Pimenta PT-RS explicou que “não existe, na legislação brasileira, a figura do juiz de férias que faz política. Juiz não faz política. Isso está no conselho federal, na lei orgânica da magistratura, isso está no código de ética. Esta figura, juiz de férias fazendo política, nunca existiu, porque ela é ilegal”, disse.

    O senador Lingbergh Farias PT-RJ também mandou seu recado à militância. “Nós temos a tarefa de resistir. Já que não tem mais a separação dos poderes, é uma farsa o que está acontecendo com o país. Daqui 30, 40 anos, vamos sentir muito orgulho de estar junto de Luiz Inácio Lula da Silva!”, disse, indignado, referindo-se ao fato de Moro estar ocupando dois cargos ao mesmo tempo, um do Poder Judiciário e outro do Poder Executivo, comprovando portanto, o golpe político que vem sendo denunciado desde 2015, do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, até a prisão de Lula.

    Participaram também o deputado Enio Verri PT-PR, o presidente da CUT Nacional Vagner Freitas, Roberto Baggio, um dos coordenadores da Vigília Lula Livre e coordenador do MST-PR, e a candidata a vice-governadora nas últimas eleições pelo estado do Paraná, Ana Terra.   O advogado petista, Wadih Damous, advogado de Lula durante anos, principalmente na época da Ditadura, comparou as ações e constatou o mesmo erro: a falta de provas. “São dois processos diferentes do ponto de vista do objeto, mas são processos parecidos. Da mesma forma como no caso do tríplex, atribuiu-se a propriedade e a responsabilidade ao presidente Lula de um imóvel (o sítio) que não é dele”, afirmou Damous.

    Enquanto isso, na sala da (in) “Justiça”…

    Questionada por Lula se quem o acusa de ser dono do sítio em Atibaia havia conseguido juntar as provas, afinal, o ônus da prova é de quem acusa, a juíza foi incisiva ao calar o ex-presidente afirmando que somente ela poderia perguntar, e ele somente responder as perguntas que ela fizesse. Lula ainda tentou explicar que na audiência com Moro havia sido diferente, que apesar das acusações, o juiz o permitia perguntar quando havia dúvida sobre o processo ou sobre a pergunta, mas a juíza foi irredutível. Disse que não permitiria ser interrogada pelo ex-presidente. E prosseguiu com o interrogatório de 2 horas e 38 minutos, com interrupções em tom de censura e intimidação.

    Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) embora esteja em nome de amigos da família de Lula, ele seria o dono de fato do sítio e teria pedido que as empreiteiras OAS e Odebrecht realizassem melhorias avaliadas em cerca de R$ 700 mil. No total, entre a reforma e a aquisição de móveis e equipamentos, o petista teria recebido R$ 1,02 milhão em propina. Em troca, teria facilitado o acesso das empresas a contratos na Petrobras.

     

    Em depoimento, Lula contou que começou a frequentar o “sítio em Atibaia”, de propriedade de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, filho de Jacob Bittar, em 15 de janeiro de 2011, quando ele já não era mais presidente. Chegava a ficar hospedado lá vários dias com sua família: dona Marisa, filhas e filhos, genros e noras, netas e netos, bisneto e seguranças, e com a família Bittar, de quem são amigos desde 1975. Os laços fortes de amizade e ideais foram construídos durante todos esses anos numa parceria de luta política com a fundação do PT, dos sindicatos, formação de base da militância, greves e campanhas juntos.

    Para Lula, tudo isso já seria suficiente para ambas as famílias terem a intimidade de passarem os finais de semana também juntos. A família Bittar dava carta branca para o amigo Lula frequentar o sítio, inclusive, o direito dele e família terem pertences pessoais no local, de dona Marisa presentear o sítio com lona de cobertura de piscina para proteção dos netos, e com barquinho e pedalinho para as horas de lazer no lago, já que eram uma grande família. Devido a um câncer na laringe, a partir de 27 de outubro daquele mesmo ano, 2011, Lula passou a ir com menos frequência ao sítio, onde já não dormia mais, nem jogava buraco e mexe-mexe com a família Bittar.

    Para o Ministério Público, desconfiado dessa amizade e intimidade, o ex-presidente vira réu mais uma vez por corrupção passiva e lavagem de dinheiro numa possível, mas não comprovada, compra do sítio de Atibaia. No interrogatório, Lula disse, ao falar sobre o sítio de Atibaia: “Eu na verdade pensei em comprar o sitio para agradar a Marisa em 2016. Eu tive pensando porque se eu quisesse comprar o sitio eu tinha dinheiro para comprar o sitio. Acontece que o Jacó Bittar não pensava em vender o sítio, o Jacob Bittar tinha aquilo como patrimônio”.

    Questionado pela juíza, de acordo com declaração de Bunlai, sobre dona Marisa ter feito a reforma da cozinha ou tenha interesse em comprar o sítio, Lula respondeu: “Não acredito que dona Marisa tenha feito nem a reforma na cozinha, nem a compra do sítio, porque não existe nenhum documento assinado por mim ou por ela que prove qualquer movimentação a compra do sítio. Simples assim”.

    Lula nunca se negou a prestar qualquer esclarecimento a nenhum órgão de Justiça, mas teve prisão coercitiva até a Polícia Federal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no caso do tríplex, para criar espetacularização. Na mesma semana, teve apreensão de mais de 40 computadores e documentos no Instituto Lula. E teve condenação por ser dono do apartamento no Guarujá também por meio de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sem provas, nem escritura em nome de laranja, já que a propriedade nunca deixou de ser da construtora OAS.

    Nesse processo consta uma reforma de 1,2 milhão de reais que nunca ocorreu no apartamento, conforme o vídeo feito pelo Povo Sem Medo, em abril desse ano. Por essa condenação, Lula já está preso há sete meses. Com processo sem trânsito em julgado, sem cumprir seu direito por presunção de inocência até o julgamento em última instância, no STF, fato que ainda não ocorreu. Sobre este direito, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, questionou a juíza Gabriela, que imediatamente concordou com ele. Basta saber quando e se será cumprido.

    Texto e fotos: Viviane Ávila, especial para o Jornalistas Livres

    Em nota, a defesa de Lula, representada pelo advogado Cristiano Zanin, disse que o seu cliente “jamais praticou qualquer ato na condição de Presidente da República para beneficiar empreiteiras e que Lula é vítima de “lawfare”, que é o mau uso e abuso das leis para fins de perseguição política”. Leia a nota na íntegra:

     

    “O ex-presidente Lula rebateu ponto a ponto as infundadas acusações do Ministério Público em seu depoimento, reforçando que durante seu governo foram tomadas inúmeras providências voltadas ao combate à corrupção e ao controle da gestão pública e que nenhum ato de corrupção ocorrido na Petrobras foi detectado e levado ao seu conhecimento. Embora o Ministério Público Federam tenha distribuído a ação penal à Lava Jato de Curitiba sob a afirmação de que 9 contratos específicos da Petrobras e subsidiárias teriam gerado vantagens indevidas, nenhuma pergunta foi dirigida a Lula pelos Procuradores da República presentes à audiência. A situação confirma que a referência a tais contratos da Petrobras na denúncia foi um reprovável pretexto criado pela Lava Jato para submeter Lula a processos arbitrários perante a Justiça Federal de Curitiba. O Supremo Tribunal Federal já definiu que somente os casos em que haja clara e comprovada vinculação com desvios na Petrobras podem ser direcionados à 13ª Vara Federal de Curitiba (Inq. 4.130/QO). Lula também apresentou em seu depoimento a perplexidade de estar sendo acusado pelo recebimento de reformas em um sítio situado em Atibaia que, na verdade, não tem qualquer vínculo com a Petrobras e que pertence de fato e de direito à família Bittar, conforme farta documentação constante no processo. O depoimento prestado pelo ex-presidente Lula também reforçou sua indignação por estar preso sem ter cometido qualquer crime e por estar sofrendo uma perseguição judicial por motivação política materializada em diversas acusações ofensivas e despropositadas para alguém que governou atendendo exclusivamente aos interesses do País.”

  • Após percorrer 38 cidades em um ano, fotógrafo lança livro sobre o Mais Médicos: ‘é um manifesto humanista’, diz

    Após percorrer 38 cidades em um ano, fotógrafo lança livro sobre o Mais Médicos: ‘é um manifesto humanista’, diz

    Via: Opera Mundi em 2016

    É um manifesto humanista, mais do que um livro de fotografia. É assim que Araquém Alcântara, um de nossos maiores fotógrafos de natureza — ele prefere ser chamado de fotógrafo brasileiro — qualifica a última publicação que lançou. O livro Mais Médicos é um registro do programa do governo federal que levou mais de 18 mil médicos a 4 mil municípios do País. “Eu queria ir a esses lugares onde o Estado está chegando pela primeira vez”, conta Alcântara, em seu escritório na Vila Olímpia, zona oeste de São Paulo. “Eu sei como é, minha infância foi assim. Meus pais, analfabetos, nunca foram a médico nenhum”.

    Foto: Araquém Alcantara

    Segundo o texto de apresentação do livro, escrito pelo ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, cerca de 63 milhões de brasileiros passaram, somente agora com o Mais Médicos, a contar com a atuação de equipes de Saúde da Família com a presença de médicos, que garantem 80% dos problemas de saúde da população antes que se tornem graves.

    Alcântara percorreu 19 estados e 38 cidades durante um ano. Foi a lugares ermos, onde nunca havia tido a presença de um médico. “As comunidades se sentem brasileiras, amparadas pelo Estado. É impressionante, você vê a presença do Estado — que é o que falta no Brasil. Foi nesse aspecto que eu quis fazer esse ensaio, para registrar essa transformação no País”. A logística da viagem foi bancada pelo governo federal.

    O fotógrafo tem 46 anos de profissão e já publicou 49 livros, mas ainda vibra com cada imagem ao folhear sua última publicação: “Olha esse índio, olha esse peitoral, isso é África total! Esse é meu País! Um Brasil que ainda não foi descoberto, em 2015!”.

    Araquém vai pinçando algumas histórias, como a da médica cubana que descobriu que o foco de esquistossomose em Igreja Nova, Alagoas, era causado pelos canais de irrigação dos arrozais. Ou então a do paciente velhinho, em Manaus, vítima de hanseníase, sem uma das pernas e com os dedos das mãos atrofiados. Apaixonado pela médica cubana que o atende, escreve diversos poemas em sua homenagem.

    Foto: Araquém Alcantara

    Na Ilha do Marajó, no Pará, uma médica cubana faz as vezes de assistente social e conselheira. Diante de um bebê nascido com paralisia e uma mãe viciada em drogas, reuniu a família, redistribuiu as tarefas e delegou ao tio a responsabilidade de tratar da doença do sobrinho.

    O roteiro de Araquém não ficou apenas na floresta. No Rio de Janeiro, o fotógrafo se encontrou com o médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente João Goulart, que trabalha na favela da Rocinha. “Teve todo um esquema para liberar a nossa entrada. Passamos por vários caras armados, são os donos do pedaço. Triste”. Na favela, foram à casa de uma mulher que, em surto de esquizofrenia, matou a facadas o marido.

    “A importância do Mais Médicos é essa: o velhinho cruza com o médico na rua, toca nele e diz: está dando resultado o tratamento. É o contato direito, ter ali o porto seguro”, diz Alcântara.

    As fotografias do livro serão expostas em diversas mostras, dentre elas uma em Havana, Cuba, e outra em Genebra, Suíça, na sede da Organização Mundial de Saúde

    Publicado originalmente pela Revista Brasileiros.

  • Mais uma mãe morre em noite de chacina da polícia no Rio

    Mais uma mãe morre em noite de chacina da polícia no Rio

    A virada de segunda pra terça foi mais uma madrugada de dor, tristeza e choro nas comunidades cariocas. O Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, o BOPE, realizou uma “operação surpresa” no complexo de Favelas da Maré, na zona norte da cidade, por supostamente ter recebido informações que supostamente haveria supostos traficantes atuando supostamente em várias áreas da comunidade. O saldo de mortos, no entanto, não é suposto. De fato pelo menos cinco pessoas foram assassinadas na intervenção policial, apesar de por enquanto somente três terem sido identificadas: o professor William de Oliveira, a tatuadora Zezé e um rapaz de nome Thiago Ramos Pereira. Ao menos outras oito pessoas também foram feridas por disparos de arma de fogo, confirmando a estatística que mostra um aumento de 72% na letalidade das ações policiais de julho a setembro desse ano no estado em relação ao mesmo período do ano passado, conforme o Instituto de Segurança Pública. São mais 13 famílias sofrendo e chorando por seus entes queridos. Talvez mais cinco mães que perderam seus filhos para a violência policial que só deve aumentar com a eleição de um governador que quer comprar drones assassinos de Israel e posicionar atiradores de elite para “mirar só na cabecinha e… fogo”.

    Enquanto essas mães começavam a entender o que significa na prática ter um filho morto pela polícia para provavelmente nunca ver a justiça sobre o homicídio, outra mãe carioca que conhecia bem essa história se despedia da vida. Janaína Soares, da comunidade de Manguinhos, não resistiu a mais uma noite de luto. Ela lutava há três anos junto a outras vítimas como ela mesma contra a impunidade policial. Seu filho, Cristian, de apenas 13 anos, foi morto numa ação que contou com policiais civis e militares em setembro de 2015.

    Foto de Janaína Soares com camisa ilustrada com a imagem do filho Cristian, morto há três anos. foto- Facebook Débora Maria Silva

    Janaína, aliás, não foi a única mãe de jovem morto pela polícia que cujo coração não resistiu. Em agosto desse ano, Vera Lucia Soares dos Santos, uma das fundadoras do movimento paulista Mães de Maio (nome retirado do mês em 2006 no qual cerca de 600 jovens foram mortos em 10 dias, começados no domingo dia das mães, pela PM de São Paulo) também chegou a seu limite de resistência. Ela havia perdido em uma única noite a filha, Ana Paula, grávida de quase nove meses da neném Bianca que não chegou a nascer, e o genro Eddie Joey, que haviam saído para comprar um litro de leite na periferia de Santos. A injustiça havia legado uma profunda depressão tanto a Vera, como a Janaína.

    Vera Lúcia, a única loira na foto, em protesto das Mães de Maio na Praça da Sé – São Paulo – foto: www.mediaquatro.com

    Veja abaixo desabafo de Débora Maria Silva, também fundadora das Mães de Maio com Vera e amiga de lutas de Janaína. E depois, o relato das mortes pela ativista Natasha Neri:

     

    Débora Maria Silva carrega cruz com fotos de vítimas da polícia em evento em Santos – foto: www.mediaquatro.com

    É com muita dor na alma
    Que Noticiamos o Falecimento, hoje
    da Nossa Mãe Janaína de Manguinhos RJ.
    Mãe de Cristian… morto aos 13 anos.

    Vítima fatal do Terrorismo do Estado Fascista.
    Janaína e outras Mães que Morreram lutando
    Por Justiça pelo assassinato Brutal
    #Não serão Esquecidas.

    Não Iremos Jamais Nos Calar…

    Nós #Mães Exigimos Respeito!
    Malditos…Parem de Nos #Matar
    Total Solidariedade aos Familiares
    As Mães de Manguinhos e Tod@s Amigos.
    Janaína..Presente..Hoje é Sempre.
    Vera Lúcia..Presente..Hoje é Sempre.

     

    O Rio não amanheceu

    Por: Natasha Neri

    De madrugada, enquanto os caveirões e capitães do mato invadiam as favelas da Maré e disseminavam o terror pelas ruas e vielas, tombava, vítima de infarto, Janaina Soares, mãe de Cristian Soares, morto aos 13 anos, em 2015, numa operação da Divisão de Homicídios e da PM em Manguinhos.

    Janaina começou a se sentir mal ontem durante o dia, mas não quis ir ao hospital. Mesmo passando muito mal, se negava a aceitar ajuda. A depressão a acometeu nesses últimos 3 anos, tendo idas e vindas no ativismo dos familiares, mas sempre se reerguendo, com um sorriso largo no rosto

    Dois dias antes, no domingo, viu o Estado matar outro adolescente de 17 anos, perto de sua casa. Mandou as fotos do corpo para as companheiras do Mães de Manguinhos. Ninguém sabia o nome do menino, que não era morador de Manguinhos. Janaina ficou atordoada, triste, desesperada. A cada morte na favela, as mães que perderam seus filhos revivem os assassinatos e sentem na pele a morte outra vez.

    Foram três adolescentes mortos pelos fuzis do Estado essa semana nas favelas. Mas a mídia noticia que eles foram vítimas de “bala perdida”, essa categoria que contribui para a legitimação do processo social do genocídio.

    O dia nem amanheceu e o Estado aterroriza a Maré e o Complexo do Alemão. O helicóptero aéreo dispara no Alemão. Dona Tereza, que teve seu filho morto pelo Estado, não pode sair de casa, pois “não dá para botar a cara para fora de casa. É muito tiro”.

    Às 7h, a confirmação. Janaína foi morta pelo Estado. Teve seis paradas cardíacas.O Estado matou Cristian e agora levou sua mãe, vítima de depressão. O extermínio promovido pelo Estado corporificado no peito de Janaína. O coração adoecido da mãe parou de pulsar.

    Nos grupos de familiares de vítimas, o desespero das companheiras de luta de Janaína. O sofrimento. O grito. O choro. As Mães de Manguinhos saem pelas ruas atrás da família de Janaína. As outras mães se deseperam, passam mal, vomitam, tomam calmante, tremulam. O Estado aniquila a saúde das mães e moradores de favelas. Quantos mais tem que morrer para o genocídio acabar?

    “A bala tá voando”, conta um morador da Maré, que passou a noite em claro, por conta da chuva de tiros da polícia. Mais quatro mortos pelo Estado, além de outros feridos. Um professor, William, assassinado em via pública pela polícia. A TV afirma que ele tinha passagem por porte de arma. Mais uma vez, a mídia criminaliza os mortos pelo Estado, e este afirma que a operação foi “bem sucedida”, pois apreenderam drogas.

    Dona Tereza ainda não conseguiu sair de casa no Alemão, pois a polícia continua violando os direitos dos moradores. E a operação na Maré não acabou. As mães de vítimas continuam chorando. Um choro coletivo. A morte é coletiva. Mas uma abraça a outra, se afagando, se consolando, se fortalecendo. “Vamos resistir, por Janaína”, elas gritam.

    foto: www.mediaquatro.com

    Veja mais reportagens sobre as Mães de Maio nos Jornalistas Livres em: https://medium.com/jornalistas-livres/n%C3%A3o-acabou-tem-que-acabar-6073387484fhttps://medium.com/jornalistas-livres/maior-problema-do-brasil-n%C3%A3o-%C3%A9-a-corrup%C3%A7%C3%A3o-%C3%A9-o-genoc%C3%ADdio-da-popula%C3%A7%C3%A3o-preta-pobre-e-perif%C3%A9rica-d517e53ac989https://medium.com/jornalistas-livres/garantir-ao-genoc%C3%ADdio-da-popula%C3%A7%C3%A3o-perif%C3%A9rica-a-mesma-visibilidade-e-provid%C3%AAncias-de-assassinatos-ccf52cbc71dc e https://medium.com/jornalistas-livres/%C3%A9-a-m%C3%A3o-do-capit%C3%A3o-do-mato-que-est%C3%A1-atr%C3%A1s-de-cada-homem-fardado-c06645393e70 

    Fotos: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

  • Democracia dá mais um passo rumo à vitória em Belo Horizonte

    Democracia dá mais um passo rumo à vitória em Belo Horizonte

    Em apoio à candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, que disputam a presidência pelo Partido dos Trabalhadores, milhares de pessoas saíram às ruas por todo o país, e houveram até manifestações internacionais.

    Confira as fotos:

    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
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    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto: Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
  • Cuiabá pela Democracia

    Cuiabá pela Democracia

    Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

    Fotos: Maria Eugênia Sá www.mediaquatro.com especial para os Jornalistas Livres

    Na capital do agronegócio, não é difícil encontrar quem apoie o fim dos diretos trabalhistas e a solução para os conflitos do campo na ponta do fuzil. Um dos candidatos a senador nessa eleição, por exemplo, era o autor do projeto de lei que permitiria “pagar” os trabalhadores rurais sem usar dinheiro, apenas com roupas, comida e material de trabalho. Mas também há uma valorosa parte da população que compreende o momento delicado que estamos passando e como essa eleição pode se tornar o verniz jurídico-democrático que será usado para acabar de vez com a democracia. Como diz o #CaixaDoisDoBolsonaro, “fazer o país voltar ao que era há 40, 50 anos”. Nesse dia de mobilização nacional, dezenas de cidadãos de Cuiabá, em Mato Grosso, percorreram as ruas do centro velho, por onde há menos de 200 anos circulavam com correntes no pescoço negros traficados da África e indígenas escravizados por bandeirantes, para proclamar que não vamos deixar a democracia ser derrotada sem luta. E a luta hoje é para virar os votos daqueles que foram enganados pelas correntes de FakeNews impulsionadas por esquemas ilegais pagas a preço de ouro por empresários inescrupulosos. Gente que se diz patriota mas constrói em suas lojas réplicas bregas de monumentos de outros países. Contra tudo isso é fundamental votar pela democracia. Votar pelos direitos de todos e todas. Votar em quem não prega a tortura e a morte como solução para os grandes problemas do Brasil. Votar em quem não tem medo de confrontar ideias e programas, cara a cara, ao vez de se esconder atrás de Twitters ofensivos e mentiras por WhatsApp.

    A chamada Caminhada Pela Paz e Democracia Com #Haddad13, que começou bem cedo em frente à Igreja do Rosário e São Benedito, passou em frente à antiga e tradicional Igreja Nossa Senhora dos Passos, pelo calçadão de comércio e terminou sugestivamente na Praça da República, onde uma grande estátua da Justiça, feita pelo escultor Jonas Corrêa, têm sempre a seus pés pessoas em situação de rua novamente ameaçados pelos “cidadãos de bem” que em outros momentos já promoveram chacinas para “limpar as ruas”. A estátua, aliás, te outra história interessante. Ao ser inaugurada em 1997, o autor jogou um balde tinta preta no monumento protestando por nunca ter recebido o valor acertado com o poder público para criação da obra. Foi nesse lugar emblemático do Brasil que os manifestantes deram as mãos numa grande roda, concentrando e distribuindo força, empatia, carinho e esperança a quem resiste ao avanço do fascismo no país e no mundo. #NãoPassarão!

    Foto: Maria Eugenia Sa​ – www.mediaquatro.com

  • De voto em voto, ainda dá sim!

    De voto em voto, ainda dá sim!

    Amigos têm conversado comigo de seu desânimo em relação às primeiras pesquisas de voto para o segundo turno. Um grande clima de que já perdemos está poluindo o ar.

    A primeira coisa que eu tenho a dizer pra esses amigos é que ainda dá sim. Mesmo no primeiro turno as votações saíram muito diferentes das pesquisas, isso pode acontecer de novo a nosso favor. Isso e ainda temos muitos votos para ganhar, muitos brancos, nulos, indecisos e votos virados.

    Temos a chance de ter na presidência um dos políticos mais competentes, honestos e admiráveis do Brasil. Possivelmente o melhor ministro da educação que o Brasil já teve. Como prefeito de São Paulo, responsável por um verdadeiro renascimento na cidade de São Paulo, inclusive no combate à corrupção no município. Conheço muita gente que votou em João Dória em 2016 e se arrependeu amargamente. Haddad não foi reeleito porque desagradou aos motoristas espalhando ciclovias pela cidade e reduzindo a velocidade máxima nas marginais, decisão que comprovadamente salvou vidas, além de ter sido bombardeado pela máquina de difamação do PT que ainda hoje o ataca.

    As mais diversas estratégias de atuação na campanha estão sendo espalhadas pelas redes. Não acredito em todas elas, mas o melhor conselho que ouvi foi “faça o que você puder, aquilo com que você se sentir confortável.” Seja panfletar na rua, seja conversar com seu uber, seja falar com sua família no whatsapp, seja nas suas redes, seja fazendo uma doação diretamente para a campanha de Haddad.

    Que seja fazer um almoço para os seus amigos, estar junto e reforçar o amor e a esperança.
    Estar junto é muito bom, fortalece e é o melhor remédio para o desespero.

    Se você precisar descansar, descanse um dia, beba água, mas volte. Todo mundo é importante e todo mundo conta.

    Do outro lado temos uma terrível ameaça de continuidade da retomada do poder pelas elites brasileiras, reeditando a aliança com os militares.

    O que me leva à segunda coisa que eu tenho a dizer:

    A ameaça à democracia que representaria uma vitória de Bolsonaro é real, mas nossa democracia já acabou em 2016 quando nosso parlamento resolveu demover a presidenta e aplicar em nossa sociedade um projeto de governo oposto ao que as urnas sacramentaram. Muita gente resiste ao termo “golpe” porque o impeachment seguiu o rito institucional e o vice-presidente assumiu sua função. Entendo que “quem votou em DIlma votou em Temer”, mas votamos no Temer que assinou o projeto de governo de Dilma para compor sua chapa e o traiu. Essa traição é o golpe e essa alteração de programa foi a força motriz do impeachment.

    Não estamos em eleições ordinárias de um período democrático. Nosso candidato foi injustamente impedido de disputar as eleições, visto que prisão e perda dos direitos políticos após condenação em segunda instância é ilegal, fato admitido inclusive por alguns ministros do STF que estranhamente votaram a favor da manutenção do encarceramento. Lula inclusive é impedido de falar ao público e dar entrevistas, o que foi concedido ao preso Paulo Maluf, condenado em última instância por corrupção, ao preso Bruno, o goleiro, condenado por comandar o assassinato brutal da ex-namorada. Só Lula não pode falar porque ele é um preso político e sua prisão faz parte de uma agenda de retomada de poder pelos nossos coronéis de sempre.

    Some-se a isso a revelação de todo o ódio acumulado que as elites não têm mais vergonha de explicitar, sob a justificativa de que os movimentos minoritários “foram longe demais” na sua luta por igualdade. Eu não tenho nenhuma dúvida ao afirmar que o maior problema do Brasil é, muito antes da corrupção, o racismo, seguido de perto pelo machismo, este que acompanha a LGBTQIA+Fobia. Entendo esses problemas não como a discriminação, que é a ponta do iceberg, mas como um sistema viciado que é estruturado de modo a favorecer uns e desfavorecer outros. A ação afirmativa nesse sentido é absolutamente necessária, porque como Lula disse, só quando tivermos juízes vindos da pobreza, a justiça vai olhar para o pobre; só quando tivermos médicos vindos da pobreza, a saúde pública vai melhorar.

    A lista é longa mas o raciocínio é claro: só as cotas podem salvar o Brasil.
    A retomada de poder pelas elites, mesmo que imbuída de boas intenções, só podem nos empurrar pra trás. Pra uma política em que um grupo social controla o poder e o outro é estatística.

    Esse processo está em andamento desde que Aécio Neves resolveu questionar o resultado das eleições de 2014, mas sua origem está no Brasil colônia e na economia escravista. A eleição de Bolsonaro seria só mais um passo.

    Nada disso porém é motivo para esmorecer. Porque sempre estivemos em desvantagem. Mesmo para eleger Lula, mesmo para Lula conseguir fazer tudo o que fez, teve que enfrentar as enormes forças conservadoras da nossa sociedade.

    A luta pela democracia, pelos direitos humanos, pelos direitos sociais das minorias, é diária. Não começa nem se encerra nas eleições. Todo recuo nosso é um avanço deles.

    Por isso vamos lutar, vamos resistir.
    Porque ainda temos uns aos outros.
    Porque cada voto a menos que ele tiver é menos força política para ele realizar atrocidades.

    E cada voto a mais que a gente conseguir é a declaração de um passo à frente.
    E de voto e voto, eu tenho certeza, ainda dá pra ganhar.