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  • Covid-19 e ação genocida do governo Bolsonaro podem matar 28 mil índios

    Covid-19 e ação genocida do governo Bolsonaro podem matar 28 mil índios

    Por Julio Zelic, especial para os Jornalistas Livres

     

    Vivemos em um tempo tenebroso. O presidente Jair Bolsonaro, sem nenhum peso na consciência, ataca abertamente os povos indígenas. Em janeiro de 2020, por exemplo, Bolsonaro disse durante uma live em suas redes sociais que “Com toda certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós” [2]. Em diversas outras ocasiões ao longo de sua carreira como deputado e, agora, como presidente, Bolsonaro proferiu discursos contra a demarcação de terras indígenas. Luiz Antonio Nabhan Garcia, secretário fundiário de Bolsonaro, disse, em novembro de 2019, que Hoje, o maior latifundiário do país é o índio [3] e, durante a pandemia, articulou uma instrução normativa com a FUNAI que facilita o roubo das terras indígenas.

    São tantas mentiras e imposturas racistas de Bolsonaro e seus aliados a respeito dos povos indígenas, que não é preciso pensar duas vezes antes de desconfiar de qualquer ação ou omissão do governo.

    A “gripezinha” como minimizou o Presidente, nesta quarta-feira (13/5), já ultrapassou as 12 mil mortes[4] em todo o País. O amparo do governo não é suficiente, e a economia, posta acima de tudo, está trazendo a sombra do medo e a morte para cima de todos.

     

    Para os povos indígenas, as consequências da pandemia se agravam ainda mais.

     

    A FUNAI (Fundação Nacional do Índio), hoje presidida pelo delegado da PF Marcelo Augusto Xavier da Silva, que atuou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da FUNAI, em 2016, como assessor da bancada ruralista, não está dando mínima assistência ou direito à saúde para os indígenas. Não atua para restringir o contato, para proteger a terra, para expulsar os garimpeiros ilegais que transmitem a doença para os índios. Quanto aos casos, hoje, conforme os dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), no site “quarentena indígena” já temos a presença do vírus em ao menos 34 aldeias. São 308 contaminados e 77 mortos[5]. Sem contar toda a subnotificação, sabidamente imensa, já que o Brasil é dos países que menos testes tem feito para a doença.

    É importante reparar que, se em 308 casos conhecidos da Covid-19 entre indígenas, registraram-se 77 óbitos, a probabilidade de o índio morrer ao apresentar sintomas é de 25%, enquanto, no Brasil como um todo, essa porcentagem está, hoje, em aproximadamente 7%. Temos portanto uma taxa de mortalidade entre os indígenas mais do que três vezes maior do que a taxa de mortalidade do País. Obviamente, essa situação reforçaria ainda mais a necessidade de ajuda, de tratamento, de EPI’s, de fiscalização. Mas o Estado está ausente, quando o assunto é salvar os povos indígenas de uma doença que não lhes pertence.

    É trágica a constatação de que esta pandemia ainda irá longe, e que muitos indígenas morrerão por omissão criminosa do governo e do órgão que lhes deveria proteger. Segundo o censo de 2010, temos 800 mil índios no Brasil. Se seguirmos a projeção do Bolsonaro, segundo a qual, 70% da população irá se contaminar, e levando em conta uma porcentagem de 80% de assintomáticos[6] (que ainda não sabemos como se aplica aos índios por não existirem pesquisas a respeito), teríamos 112 mil remanescentes dos Povos Originários apresentando sintomas que podem requerer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória. Desses, a prosseguir o alarmante índice de 25% de mortalidade, 28 mil perecerão até o fim da pandemia.

    Que isso não aconteça de novo em nosso país.

    "Cenário

    Vivemos em um tempo de medo e desestruturação no mundo inteiro, convivendo com uma pandemia que ameaça nossa existência e o modo de vida em sociedade. Esta sensação que temos agora já foi sentida pelos brancos há 100 anos, durante outra pandemia que ficou conhecida como Gripe Espanhola. Fato tão distante no tempo mostra quão extraordinário para a Sociedade Nacional é esse medo, essa angústia de adoecer, de ter a morte à espreita, essa incerteza sobre o amanhã de nossa gente.

    Porém, quando olhamos para os povos indígenas, para as culturas e as pessoas tornadas invisíveis pelo mundo do Capital e da especulação, a realidade é muito diferente: doenças e morte são um perigo constante.

    Ao ler diversos documentos históricos, arquivados no site Armazém Memória (aberto a todos), tive a oportunidade de perceber a luta que os povos indígenas travam para sobreviver em meio a uma sociedade que lhes fecha as portas da saúde e dos cuidados. Para além disso, pude encarar a perversão do Estado e da classe dominante quanto ao adoecimento nas aldeias: utilizam-se da fragilidade decorrente das doenças como ferramenta para tomar posse das terras, para expansão de latifúndios, para extração de minérios, para o desmatamento e comércio de madeira, para tudo que gere lucro independentemente das vidas que se perdem no meio dessa exploração desenfreada.

     

    Estado genocida

    Não podemos compreender as doenças que assolam os povos indígenas sem fazer paralelo com as ações do Estado brasileiro. Portanto, usaremos como referência os registros nos Anais do Congresso Nacional, que são documentos importantes para entendermos esta relação: Estado/Povos Indígenas/Epidemias.

    O primeiro ponto notável, antes mesmo de apresentar documentos, é o descaso dos deputados diante das questões indígenas. Podemos ver que a quantidade de discursos no Congresso sobre epidemia em povos indígenas, entre os anos de 1946 e 1996, ou seja, num intervalo de 50 anos, não atingiu a marca de 30, e muitos desses discursos apareceram apenas como uma citação no Dia do Índio, soando como um descarrego de má consciência, depois de terem ignorado as pautas indígenas durante o ano todo.

     

    "Funai liquidará com os índios" - Reprodução "Jornal do Brasil":
    Reprodução “Jornal do Brasil”

    O discurso do deputado Marcos Freire[7], em maio de 1972, apresenta acusações graves à FUNAI, que mesmo sendo um órgão do governo cuja função é ajudar os povos indígenas, tem sido, ao longo da história, incapaz, incompetente e inepta no cumprimento de seu papel. Marcos Freire, após as denúncias contra a FUNAI, anexa a seu discurso uma reportagem publicada no “Jornal do Brasil” a respeito da renúncia de Antônio Cotrim a seu cargo na Funai. Destacarei aqui alguns trechos da notícia:

     

    “Sertanista Antônio Cotrim abandona FUNAI para não ser um “coveiro de índios”

    (Antônio Cotrim) “Afirma que não pretende continuar sendo instrumento de um órgão que é um “blefe à opinião pública” nem colocar em prática uma política indígena errada, pois não procura conciliar os interesses de desenvolvimento da sociedade nacional com a proteção das sociedades primitivas.”(…)

    (…) Antônio Cotrim: “Quando estava entre os kubekrametis, em junho, foi avisado pela FUNAI que havia epidemia de gripe entre os jandeavis, transmitida durante a passagem pela aldeia da missão do Padre Antônio Carlos, da Prelazia do Xingu. Dos 76 índios, morreram 16.

    O sertanista pediu medicamentos à FUNAI, mas eles só chegaram 48 dias depois e em quantidade insuficiente. Essa falta de assistência acabou por revoltá-lo ao ponto de se decidir pela demissão em caráter irrevogável.”(…)

    (…) A morte de mais de 40 parakanãs, além de cegueira em oito, causadas por doenças venéreas transmitidas pelos próprios funcionários da fundação, é relacionada por ele como uma das razões que o está levando a se afastar do órgão.”

     

    A partir deste documento podemos perceber em primeiro lugar a falta de amparo da FUNAI aos povos indígenas. Além disso, vemos também, que nestes casos citados, como em muitos outros, foi o contato dos brancos com os índios que trouxe doenças. É importante ressaltar que as doenças chegam, mas os medicamentos não.

     

    Sobre o caso dos Parakanã, citado por Antônio Cotrim, temos ainda no discurso da deputada Lúcia Viveiros, em outubro de 1979[8], um anexo que prova a reincidência do erro descrito por Cotrim. Novamente representantes da FUNAI levando doença aos Parakanã. Toda repercussão do escândalo denunciado pelo sertanista não foi suficiente para a FUNAI rever sua conduta:

     

    “1976: Uma frente de atração da FUNAI efetua contato com o grupo de Parakanã, junto ao Rio Anapu nas proximidades de Altamira. A situação de saúde dos componentes da equipe de atração, logo antes do contato, era bastante precária (malária e gripe) sem alimentação adequada e apoio suficiente.

    A equipe não optou pelo retorno, como era de esperar, mas permaneceu até o encontro final.

    O resultado foi que, logo depois do encontro, 11 índios morreram de malária e a equipe voltou às pressas impondo aos índios uma transferência e contato violentos com a “civilização”, em condições completamente diferentes dos próprios padrões culturais.

    O grupo Parakanã do Lontra é transferido, pela 4.ª vez, para o atual aldeamento junto ao PI (Posto Indígena) da FUNAI chefiado nesta época por um enfermeiro. Além da mudança de aldeia, neste período várias transformações culturais são impostas ao grupo”

     

    Seguimos com a oportunidade que este documento nos traz de refletir sobre o quinto parágrafo do artigo 231 da Constituição[9]:

     

    “§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, “ad referendum” do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.”

     

    Esta lei é uma ferramenta que pode ser utilizada de forma positiva ou negativa, pois permite a remoção de povos indígenas de suas terras em casos de epidemia (entre outros casos descritos no parágrafo). Podemos pensar de maneira positiva quando a remoção dos índios de sua terra visa aos cuidados de sua saúde. Seguindo a lei, após cessados os riscos, os índios deveriam retornar imediatamente para sua terra. Porém, as eventuais boas intenções dos constituintes não impediram a malversação da lei, que se tornou então uma ferramenta a serviço da expulsão dos índios de seus territórios. Como vimos no caso dos Parakanã, o Estado leva a doença e em seguida tira de forma forçada o povo de sua aldeia, pouco se importando com a cultura e o sagrado que ficam na terra em que eles habitam. Ao longo da história, os Parakanã foram remanejados diversas vezes, sempre por conta de algum interesse capitalista. Não por coincidência, este povo tem sua história pontuada pela doença, peste e sofrimento.

     

    Em abril de 1979 o deputado Heitor Alencar Furtado proferiu um discurso muito forte[10], embasando, ainda mais, a denúncia ao Estado que fazemos neste texto.

     

    “Para desalojar tribos indígenas e tomar-lhes a terra, no processo de ocupação que se desenvolveu ao longo da História, o branco sempre se utilizou de métodos desumanos, na maioria das vezes com a conivência das autoridades governamentais. Conta o sertanista Villas-Boas que, no período de construção da Estrada de Ferro Noroeste, os índios durante a noite desmanchavam o que era feito durante o dia. Houve, então, quem sugerisse e, pior, quem pusesse em prática a violência numa de suas formas mais cruéis. Algumas camisas contaminadas com o vírus do tifo foram deixadas junto à estrada. Ocorreu então uma epidemia devastadora e milhares de índios morreram. Quem pagou, ou quem pagará por essas vidas? A quem responsabilizar por estes crimes, senão a uma administração falha e omissa?”

     

    Neste documento podemos ver que para além da incapacidade do governo de cuidar dos povos indígenas, o Estado é conivente com a violência do setor privado contra os povos, cujo objetivo é roubar as riquezas e as suas terras. Vemos também que as doenças foram utilizadas como ferramenta para fragilizar a luta indígena contra a grilagem de suas terras. De tal forma, doenças tornaram-se armas letais que se fingem como um infortúnio, uma fatalidade, mas que escancaram que o governo, além de omisso, é também cúmplice da maldade genocida dos capitalistas, pois não julga os crimes dos invasores e nem sequer presta socorro aos índios adoecidos.

    É preciso respeitar a Constituição e os direitos dos povos indígenas, garantir-lhes o direito à terra, cultura, saúde e à vida. É nosso dever participar da luta dos povos originários para devolver o que lhes pertence por direito inalienável.

     

    [1] Indígena em Manaus, durante pandemia de Covid-19 | Alex Pazuello/Prefeitura de Manaus

    https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/direto-do-confinamento-salvem-os-indios

    [2]https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/24/cada-vez-mais-o-indio-e-um-ser-humano-igual-a-nos-diz-bolsonaro-em-transmissao-nas-redes-sociais.ghtml

     

    [3] https://exame.abril.com.br/brasil/hoje-o-maior-latifundiario-do-pais-e-o-indio-diz-secretario/

     

    [4] https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/12/casos-de-coronavirus-e-numero-de-mortes-no-brasil-em-12-de-maio.ghtml

    [5] https://quarentenaindigena.info/casos-indigenas/

    [6] https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca

    [7] para ver o discurso completo acesse o Centro de Referência Virtual Indígena: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocIndio/120583

    [8] para ver o discurso completo acesse o Centro de Referência Virtual Indígena: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocIndio/121005

    [9]Quadro histórico dos dispositivos Constitucionais – Artigo 231 CEDI – Câmara dos Deputados

    http://www.docvirt.com/docreader.net/LegIndio/1642

    [10] para ver o discurso completo acesse o Centro de Referência Virtual Indígena:

    http://www.docvirt.com/docreader.net/DocIndio/120963

     

     

    Leia mais sobre mortalidade de indígenas por Covid-19 em:

    Garimpo agrava os efeitos da Covid-19 entre os Povos Indígenas

  • COVID-19. Quando a fé contamina

    COVID-19. Quando a fé contamina

    Texto e fotos: Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres. Colaboração: Sato do Brasil

     

    Embora uma das orientações mundiais para evitar a disseminação do vírus COVID-19 seja de isolamento social, o Tribunal da Justiça Federal derrubou a liminar que suspendia cultos e missas por conta da COVID-19.

    Quem descumprisse com a ordem poderia pagar multa ou ter o local interditado. Esta ordem entende que estes espaços são, em maioria, ambientes fechados com pouquíssima circulação de ar e alta aglomeração de pessoas, aumentando a disseminação do vírus.

    “Infelizmente, a queda dessa liminar premia a inconsequência e mau-caratismo de líderes como Malafaia, e coloca em risco a vida de milhares de pessoas, já que os cultos, missas e diversos encontros religiosos são carregados de demonstrações de afeto e proximidade, salvo raras exceções. O que vamos colher disso é mais desgraça para um povo já sofrido e enganado por esses falsos líderes”, disse em entrevista, José Barbosa Junior, teólogo, escritor e um dos pastores da Comunidade Cristã da Lapa, Rio de Janeiro.

    É bom lembrar que recentemente, na Coreia do Sul, um padre cristão pediu desculpas de joelhos, após sua igreja ter sido considerada o grande foco de disseminação do COVID-19, quando se negou a suspender seus cultos.

    A igreja de Silas Malafaia, localizada no Rio de Janeiro, tinha suspendido os cultos por conta da liminar, porém aumentou para até 12 horas de atendimento dentro de suas igrejas. Mesmo depois de vários órgãos responsáveis do Governo Federal terem pedido e orientado diariamente a suspensão imediata dos cultos e missas, alguns pastores como Silas Malafaia (pastor e líder da Assembléia de Deus) e Edir Macedo (fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record e da RecordTV, a terceira maior emissora de televisão do Brasil) se negaram e entraram com essa ação de suspensão da liminar da justiça.

    Igreja Universal do Reino de Deus
    Igreja Pentecostal Deus É Amor

    O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em uma entrevista ao canal SBT, mostrou indignação pela suspensão dos cultos e missas, mesmo em tempo de pandemia mundial do COVID-19. No Brasil já são 2.201 infectados registrados e 46 mortes. Última atualização de quarta, 25 de março de 2020, 12h56, com dados do Ministério da Saúde: https://saude.gov.br/.

    Dentro dessas colocações problemáticas, uma delas que não foi citada acima é que Bolsonaro comparou a COVID-19 à uma chuva, que basta colocar uma capa pra se proteger. Além da metáfora desnecessária, Bolsonaro desafia o poder público ao afirmar que o pastor ou o padre deveriam decidir sobre suspender ou não os cultos e missas, como se as igrejas estivessem acima das leis comuns ao restante das pessoas, do país e do mundo.

    “É lamentável que num momento como esse , a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade”, afirma o pastor José Barbosa Junior.

    Agora é uma questão de tempo para que as pessoas procurem desesperadamente estas igrejas como refúgio. Entendemos que pastores, padres, igrejas e espaços religiosos no geral servem para além da religião como acalento em meio ao desespero e medo, uma força intensa de fé e ajuda. O problema é que estes espaços podem e vão continuar sendo centros de propagação do COVID-19 uma vez que continue o fluxo de pessoas. Inclusive, muitos pastores colocaram em seus sermões que existe salvação somente dentro da igreja.

    “As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena contra o COVID-19. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade”, continua o pastor José Barbosa Junior.

    Porque não fechar e manter a convivência online? Ou por ligação telefônica? Orar em casa e estratégias para que continuem utilizando de sua fé sem que se coloque em risco a sua vida e das outras pessoas. Os pastores, padres e disseminadores da fé, deviam estar orientando o isolamento social como uns dos métodos primordiais para saúde de seus seguidores.

    “(…) A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.(…)”, conclui o pastor José Barbosa Junior.

    Para além de todas essas contradições de alguns religiosos, ainda existem padres, pastores e outros líderes religiosos que nos servem de bom exemplo neste momento caótico. O Padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral Povo da Rua ofereceu acolhimento para moradores de rua com suspeita de COVID-19 em São Paulo. Também abriu uma petição para pressionar a Prefeitura Municipal de São Paulo e outros órgãos para que forneçam o material básico para higiene e proteção da população em situação de rua. Link da petição: http://change.org/PovoDeRuaSemCorona.

    Homem se protege do COVID-19

    Segue a entrevista completa com o pastor José Barbosa Junior.

    1. Como você vê esse momento de pandemia do COVID-19 especificamente no Brasil?
    Um momento muito difícil. Creio que é a primeira vez que a nossa geração enfrenta uma pandemia tão devastadora e o Brasil está tendo que aprender “na marra” como lidar com isso.

    2. Ontem o presidente Jair Bolsonaro teve uma fala no programa do Ratinho que contradiz o que a Justiça do Estado de São Paulo determinou com uma liminar que proíbe missas e cultos por conta da disseminação do Coronavírus ou COVID-19, mas o presidente agiu como se os pastores que tivessem que decidir sobre fechar ou não suas portas para cultos. Como você vê essa atitude do presidente Bolsonaro?
    É lamentável que num momento como esse, a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade.

    3. Alguns pastores como Silas Malafaia, Edir Macedo e outros se negaram a seguir as orientações do Ministério Público para que igrejas evitem cultos com grandes aglomerações. Porque você acha que pastores se negaram a seguir as orientações?
    Esses pastores citados já abandonaram há tempos o Evangelho. Não são pastores, são negociantes da fé, empresários da espiritualidade. Logo, suas igrejas são enormes comércios e visam somenteno lucro financeiro. Não me espanta manterem abertas as suas igrejas, por dois motivos: sabem que igreja cheia geralmente corresponde a boa arrecadação e se alimentam de brigas e polêmicas para posarem de “defensores da fé contra os inimigos”. São espertos e sabem que essa “cruzada” lhes favorece em seus projetos de poder.

    4. A ciencia sempre teve um papel fundamental que nenhum outro orgão consegue substituir. No entanto, a gente vê o desdém de planos de governo que realizou cortes e de algumas religiões que negam o entendimento científico. Porque algumas religiões tem medo da ciência?
    Esse governo que aí está é, desde a campanha, anticientífico. E o fundamentalismo religioso também o é, logo, há um casamento perfeito entre o mau caratismo governamental e a ignorância ensinada e fortalecida na maioria das igrejas, infelizmente. Algumas religiões, erroneamente, acham que fé e ciência são antagônicas. Nada mais distante da verdade. A verdadeira fé é suprarracional e não irracional. Caminha com a ciência e os conhecimentos. Vai além (daí ser fé), mas sem negar a caminhada em conjunto.

    5. Como as igrejas podem ajudar nesse momento a população? Qual deve ser a principal atitude, ao seu ver, de um pastor ou padre nesse momento?
    As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade.

    6. Como a população pode ajudar? Quais são as principais medidas de prevenção do coronavírus dentro de sua igreja?
    A população deve obedecer aos apelos de se resguardar, ficar em casa. A Comunidade Cristã da Lapa suspendeu as atividades por tempo indeterminado. E nós, pastores, continuamos nosso trabalho nas redes sociais.

    7. E pra finalizar, o que estamos aprendendo socialmente com esta pandemia mundial até agora?
    Acho que a principal lição é a de que o que acontece com um é problema de todos. Uma pandemia serve para nos mostrar isso. É quase um “efeito borboleta”. E isso nos traz o pleno sentido de humanidade. A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.

  • Vaza documento secreto da Abin com projeção de 5.571 mortes no Brasil

    Vaza documento secreto da Abin com projeção de 5.571 mortes no Brasil

    logomarca abin

    Para quem não sabe, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) é um órgão da Presidência da República, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional, responsável por fornecer ao presidente da República e a seus ministros informações e análises estratégicas, oportunas e confiáveis, necessárias ao processo de decisão. ABIN tem por missão assegurar que o Executivo Federal tenha acesso a conhecimentos relativos à segurança do Estado e da sociedade, como os que envolvem defesa externa, relações exteriores, segurança interna, desenvolvimento socioeconômico e desenvolvimento científico-tecnológico.

    Ou seja, em seu último pronunciamento, em 24 de março, Jair Bolsonaro já tinha acesso ao Relatório da ABIN 015/2020, concluído no dia anterior (23/03), às 22h10, e divulgado para os integrantes do Centro de Operações de Emergência – Coronavírus (COE-nCoV) com o carimbo “SIGILOSO”, que aponta por meio de estudos e gráficos, o cenário de mais de 5 mil mortes e 200 mil infectados pelo coronavírus no Brasil até o dia 6 de abril. Ainda assim, o Presidente da República criticou em rede nacional, o fechamento das escolas e dos comércios, voltou a minimizar o Covid-19, ao compará-lo com uma “gripezinha” ou “resfriadinho”, atacou governantes que seguem as orientações da Organização Mundial da Saúde para a contenção da epidemia, culpou a imprensa por causar histeria na população e incentivou a população a voltar à rotina.

    Seguindo um caminho para o genocídio de uma parte da população brasileira, Jair Bolsonaro, ignorou protocolos mundiais que garantem a saúde da população, quando disse:

    “Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade”.

    Divulgado em primeira mão pelo The Intercept Brasil, o relatório sigiloso da ABIN diz que a proporção de casos de COVID-19 que ainda aguardam resultados laboratoriais (sejam eles negativos ou positivos) é de cerca de 75% do total de casos notificados ao Ministério da Saúde.

    O estudo dos casos notificados mostra que há um alto número de casos com diagnóstico ainda não definido (área azul do gráfico abaixo).

     

    O relatório ainda deixa claro, que a China só conseguiu diminuição na taxa de crescimento cerca de 10-15 dias depois da adoção de medidas de contenção, inclusive com lockout (fechamento da entrada e saída de pessoas) em municípios e cidades. A partir desse período o número de casos novos parou de crescer na mesma taxa e o número de casos ativos começou a reduzir em função da melhora dos pacientes mais antigos.

    O Ministério da Saúde divulga os casos confirmados e dos óbitos por COVID-19, o que não permite, com base nos dados, fazer projeções mais precisas sobre o crescimento dos casos no País. Em relação aos pouquíssimos casos já confirmados, lembrando que 75% deles ainda esperam uma confirmação dos laboratórios de análises, os dados do Ministério da Saúde já indicam que 10% dos casos exigiram hospitalizações.

    Os gráficos do documento sigiloso da ABIN mostram as projeções da evolução dos casos confirmados de COVID-19 até o fim deste mês, considerando dois possíveis cenários. Até 30 de março o Brasil pode chegar a 35.906 infectados.

    Gráfico: Projeção Casos Covid-19 até 30 de março

    Cenário I (linha laranja) – comportamento semelhante às curvas epidêmicas de Irã, Itália e China.

    Cenário I I (linha cinza) – comportamento semelhante às curvas epidêmicas de França e Reino Unido.

     

    Já quando o estudo considera o horizonte de duas semanas, a situação fica extremamente grave em qualquer hipótese. Segundo os gráficos produzidos pela ABIN, até o dia 6 de abril, teremos, na pior das hipóteses 207.435 casos confirmados (com 5.571 mortes), ou na hipótese menos ruim, 71.735 casos, com 2.062 mortes. A pior hipótese trabalha com uma crise epidemiológica com comportamento semelhante às curvas do Irã, Itália e China. A segunda trabalha com comportamento epidemiológico semelhante às curvas da França e Alemanha.

    Cenário II (linha cinza) – comportamento semelhante às curvas epidêmicas de França e Alemanha.

     

     

    O documento traz a informação de que nova pesquisa científica mostra que duas em cada três infecções do novo coronavírus foram causadas por pessoas que não foram diagnosticadas com o vírus ou que não apresentavam sintomas. Isso significa que as pessoas infectadas que se sentem saudáveis ou têm sintomas muito leves estão espalhando o vírus sem perceber, representando um grande desafio para a contenção da pandemia. Destaca ainda que os cientistas dizem que a probabilidade é que haja entre cinco e dez pessoas sem diagnóstico para cada caso confirmado.

    Esse conjunto de dados eleva o discurso do Jair Bolsonaro à categoria de crime contra a humanidade.

     

    BAIXE a íntegra do documento da ABIN: Abin-Documento-23-Março