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  • Veja como participar das redes de solidariedade contra a covid-19

    Veja como participar das redes de solidariedade contra a covid-19

    Com Ariane Silva, especial para o blog MULHERIAS

    Que a periferia está sozinha na luta contra o coronavírus não é novidade. Quando o presidente Bolsonaro foi a  público contrariar as recomendações da Organização Mundial da Saúde e colocar-se contra o isolamento da população para defender a economia, deixou evidente que vidas pobres não importam. Ao bancos, o governo já concedeu R$ 68 bilhões. Para a população, foi aprovado ontem (26/03) o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados que estabelece uma política de Renda Básica Emergencial. O projeto ainda vai passar pelo Senado e o texto em discussão estabelece o auxílio de R$ 600 mensais por pessoa adulta sem emprego formal e R$ 1.200 mensais para mães solo, por 3 meses de duração.

    Enquanto o assunto segue em trâmites políticos, a periferia age com urgência, como sempre, se virando, como pode, mais uma vez. A tecnologia do “nós por nós” está em plena atividade e o blog MULHERIAS  foi atrás de quem está nos corres das mais de 200 iniciativas em andamento pelo Brasil. É possível colaborar com trabalho voluntário, doações, divulgação e até plantões de whattapp para tirar dúvidas. Confira ainda um guia para orientar a criação de novas redes de solidariedade. O método pode ser implantado na sua rua, prédio, bairro, comunidade, escola… e por qualquer pessoa disposta a ajudar. A hora é essa. 

    De comitês políticos aos comitês de solidariedade

    A ideia de se organizar de maneira autônoma, sem depender de governos ou órgãos públicos, é antiga, e parte de um princípio chamado de “auto-organização” pelos movimentos sociais. A funcionária pública Marcela Menezes, de 29 anos, o colocou em prática assim que soube da história de uma manicure que ficou sem renda porque o salão onde trabalhava fechou. “Mãe solo com 3 crianças, ela já estava sem comprar alimento e eu precisava fazer alguma coisa”, conta.

    Na última semana, Marcela, então, foi conversar com lideranças da comunidade e conseguiu mapear casos de outras pessoas que, assim como a manicure, perderam a renda e já estavam em apuros. Aproveitou para reunir voluntários  para ajudar. Nas mídias sociais, soltou o apelo e o coletivo Balaio se organizou, assim, às pressas em um grupo do Whatsapp.

    Marcela Menezes, 29, mora em Justinópolis, região de Ribeirão das Neves. O município na região metropolitana de Belo Horizonte já tem 140 casos suspeitos da doença e o isolamento é fundamental. Como ainda não há apoio para trabalhadores autônomos, ela criou um grupo para doar alimentos aos que já precisam (Foto: acervo pessoal)

    “A gente começou numa segunda-feira com três pessoas e quatro dias depois já eram 15 voluntários. E tem mais gente chegando.” Fora do grupo de risco e com todos os cuidados, ela mesma foi comprar mantimentos com as primeiras doações e o grupo foi fazer a entrega a pé na favela, batendo na porta dos mapeados e deixando as doações ali, sem contato físico. A iniciativa é exemplo de que dá para começar rápido e com pouca gente e recursos e ainda dar conta de demandas urgentes que fazem a diferença.

    Quarentena sem água e comida

    Enquanto os órgãos de saúde orientam lavar as mãos várias vezes ao dia, em favelas e periferias há falta de água até das grandes capitais, com comunidades inteiras sofrendo com o desabastecimento. São peculiaridades que não passaram despercebidas do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que criou coletivamente um manual de higienização contra o vírus para quem tem pouca água em casa e precisa economizar recursos. Entre as dicas, estão as que recomendam o uso de garrafas pet de 2 litros com água limpa à mão para retirada de sabão e banho em bacia e de cócoras para economizar água.

    “Nos organizamos online para falar demandas reais pois as orientações do Ministério da Saúde levam em consideração uma classe média que tem recurso para comprar álcool em gel e tem água todos os dias”, conta a advogada Elisa Aníbal, de 25 anos, militante do movimento. “Além disso, fizemos cards informativos sobre sintomas leves e prevenção da transmissão comunitária. Todos eles acompanham áudio com o texto para que as mulheres com dificuldades de leitura possam se informar.”

    Em Belo Horizonte, Recife, São Paulo ou Rio de Janeiro também foram voluntários que ouviram as necessidades da população de rua. Sem os serviços assistenciais de alimentação oferecidos pela prefeituras, como o Restaurante Popular e postos de atendimento, foi necessário organizar às pressas marmitas para atender os mais vulneráveis.

    “Como ainda não há um projeto de isolamento social para quem está em situação de rua, as pessoas estão aglomeradas de qualquer jeito e passando fome”, lamenta Claudenice Rodrigues Lopes, de 46 anos, assistente social da Pastoral de Rua, entidade ligada à Igreja Católica. A situação está grave. A orientação é ficar em casa, mas como fico se sei que pessoas seguem nas ruas nas condições mais precárias, sem lugar pra higiene e pra se alimentar?” questiona.

    Claudenice reforça que as pastorais de rua cobram dos governos municipais a responsabilidade por esse trabalho. Mas, enquanto isso, os grupos diariamente articulam contatos para matar a fome imediata. “É o mínimo. Porém, estamos repensando em como fazer, por que não dá para seguir com a gente se expondo e expondo as pessoas.”

    Em Belo Horizonte a população de rua passa fome e voluntários se arriscam para tentar remediar a omissão do Estado

    Dos sem terra para os sem teto: movimento distribui marmitas para população em situação de rua

    Em Recife, o ponto de apoio é o Armazém do Campo, loja de produtos orgânicos e naturais do MST (Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra). A região central da cidade, onde fica o Armazém, concentra muitas pessoas em situação de rua e os grupos de atendimento cessaram atividades. “Resolvemos abrir a cozinha industrial para fazer marmitex numa ação articulada com a arquidiocese de Olinda, equipes voluntárias de cozinhas de sindicatos e ONGs que já faziam esse trabalho”, conta.

    O trabalho é dividido em diferentes equipes. Uma busca doações, outra fica isolada na cozinha preparando os alimentos e a terceira, na rua, faz a distribuição usando equipamentos de proteção para prevenir a contaminação. Toda a organização é feita por aplicativos no telefone.  

    Apoio para mulheres em situação de prostituição de SP 

    Com a sede fechada e as responsáveis, idosas, em quarentena, a entidade Mulheres da Luz não conseguiu manter as atividades como ponto de apoio para as mulheres em situação de prostituição no centro de São Paulo, que ficaram sem ter onde buscar preservativos gratuitos, comer e procurar ajuda. O jeito foi organizar o apoio pela internet e colocar apoiadoras jovens para nas tarefas de rua como separar e distribuir doações.

    “As mulheres lá no maior perrengue, a gente não podendo ir lá…  Mas gente está conseguindo ajudar”, conta Cleone Santos, de 62 anos, uma das coordenadoras da entidade. Ela comemora doações mas conta que ainda precisa de apoio financeiro para atender, no mínimo, 50 mulheres. Só assim poderá evitar que elas se arrisquem recorrendo à prostituição durante o período de quarentena e consigam se manter. As assistidas pela ONG têm entre 40 e 70 anos de idade, o que coloca quase todas no grupo de risco do COVID-19.”Além de cesta básica, algumas precisam de gás, outras de remédio ou pagar pensão ou contribuir no aluguel de onde moram”, explica Cleone. “Alguém tem que olhar para esse grupo.”

    Cleone Santos é coordenadora da Mulheres da Luz, ONG paulista que dá assistência a mulheres em situação de prostituição e luta pelo fim da exploração sexual. “Em dias normais elas já não conseguem se sustentar com os programas de R$ 20 ou 30 a que se submetem. Com a pandemia, precisam ainda mais da nossa ajuda” (Foto: reprodução Facebook)

    Saem os panfletos e entra o carro de som
    Moradores da Pedreira Prado Lopes, favela de Belo Horizonte, estão diariamente se mobilizando para protegerem uns aos outros durante a pandemia. Nos próximos dias um carro de som vai circular com informações sobre o novo coronavírus para conscientizar a comunidade. “A Pedreira tá bem vazia, mas tem muita gente na rua ainda. As pessoas parece que não tão acreditando muito”, conta Valéria Borges Ferreira, de 50 anos, que emprestou a voz para alertar os vizinhos do perigo. Muitos, sob pressão de pastores, continuam frequentando cultos presenciais mesmo com a orientação de permanecer em casa.

    “As igrejas da comunidade tão todas abertas e o pastor faz um apelo muito covarde para os fiéis estarem ali, colocando a fé deles em cheque. E brigar contra um vírus, brigar contra o Bolsonaro é fácil, mas brigar contra Deus é impossível”, resigna-se. Para Valéria, pastores mal intencionados têm se aproveitado da falta de informação na comunidade para manter os fiéis na Igreja.

    A preocupação com a falta de renda também afeta a comunidade, com muitas trabalhadoras e trabalhadores sem saber como vão se manter sem auxílio. “O que tá pegando mesmo aqui na Pedreira é a preocupação daqueles que trabalham informal. A minha cunhada mesmo. Ela é faxineira e três patroas já dispensaram ela. Hoje ela me falou: ‘Valéria, eu tô sem saber que faço. Ou  morro de fome dentro de casa ou eu morro do coronavírus”, conta.

    Valéria mora na comunidade da Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte. É dela a voz que vai circular em carros de som alertando sobre o coronavírus. O serviço foi contratado pelos próprios moradores que fazem parte do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), que organiza a Ocupação Pátria Livre, instalada na região. O áudio foi gravado por uma moradora da comunidade com ajuda de comunicadores populares da região. Abaixo, o cenário da comunidade. (Fotos: acervo pessoal)

    MAIS DE 200 INICITIAVAS PARA PARTICIPAR, FORTALECER E AJUDAR. ENCONTRA SUA E COLABORE!

    Veja como entrar em contato com quem já está fazendo campanhas nas periferias 

    Planilhas colaborativas ponteAponte – Mais de 80 ações periféricas de mapeamento, arrecadação e campanhas solidárias estão reunidas nas planilhas abertas que estão sendo consolidadas diariamente pela empresa de avaliação de projetos sociais ponteAponte, que tem como objetivo promover encontros e conexões transformadores. O documento, muito simples em uma planilha de Google, é feito de maneira colaborativa e traz contatos de responsáveis pelas iniciativas, endereços e abrangência das atividades. “Decidimos organizá-la ao notarmos que havia muitas iniciativas incríveis surgindo espontânea e velozmente (felizmente!) e que o próximo passo seria ter uma visão macro para realizarmos ações mais integradas e coordenadas, com impacto coletivo”, avisa a entidade. Qualquer pessoa inserir comentários ou enviar sugestões de alterações, correções ou inclusões para leticia@ponteaponte.com.br e leticiacardoso@ponteaponte.com.br. Porém, importante ressaltar, não se trata de uma lista de recomendações e cabe a cada usuário entrar nos devidos links e realizar suas análises dentro de interesses próprios.

    Grupo autônomo contra o coronavírus de Ribeirão das Neves – Atua na região de Justinópolis,e está recebendo doações no Centro Cultural Di Quebrada, na Rua Cenira Gurgel de Carvalho, 137, perto da Escola João de Deus Gomes. Para doações em dinheiro, entre em contato nos números (31) 99999-6536 ou (31) 3638-1697.

    Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte – A entidade busca doações na quadra do Colégio Santo Antônio, Rua Santa Rita Durão, 1033. Também precisam de voluntários. Informações pelos telefones (31) 98374-5587 ou (31) 99402-6451. As doações serão encaminhadas para a população em situação de rua da cidade.

    Mulheres da Luz – A ONG paulista que atende mulheres em situação de prostituição recebe doações de produtos alimentícios (como cestas básicas) e de higiene (sabão, sabonete, pasta de dente e álcool líquido ou em gel) na Companhia de Teatro Pessoal do Faroeste, na Rua do Triunfo 301 e 302, e na Rua General Osório, 23. Para doações financeiras, o contato é (11)9824-99713.

    Marmita Solidária de Recife (PE) – As marmitas servidas no Armazém do Campo para a população de rua de Recife contam com doações para acontecer. O endereço é Av. Martins de Barros, 387. Contato: (81) 99855-3121.

    Quarentena Solidária – As comunidades Pedreira Prado Lopes e Vila Senhor dos Pastos, na região Noroeste de Belo Horizonte, solicitam doação de sabonetes, toalhas de papel, produtos de limpeza e alimentos não perecíveis, e também recebem doações de dinheiro. Para doar, mande mensagem para (31) 99591-3234 (Carol) ou (31) 99901-7623.

    UniãoSP contra o coronavírus – Grupo diverso formado por diferentes entidades que já desenvolvem trabalhos com as periferias de São Paulo, entre elas estão Agora!, Comunitas, Cufa, Educafro, GK Ventures, Instituto Locomotiva, Movimento Bem Maior, Península, Periferia Sem Corona, Pinheiro Neto Advogados, Rede Mulher Empreendedora, RenovaBR, Grupo Tellus e Vella Pugliese. No site https://www.uniaosp.org/ é possível fazer doações de cestas básicas e entrar em contato com o grupo que já arrecadou mais de 55 mil cestas e mais de R$ 3 milhões.

    ÉDITODOS – Nascida em 2017, a aliança de organizações reúne vários atores do ecossistema de empreendedorismo negro no Brasil que já atuam coletivamente afim de apoiar as experiências de empreendedores e empresas que souberam transformar sua cultura em inovação para produtos e serviços voltados para o consumo da população negra e não negra. Atualmente, a coalisão é formada pelas organizações: Afrobusiness, Agência Solano Trindade e Pretahub (São Paulo); Fa.vela (BH) e Vale do Dendê (Salvador). A meta atual é impactar 250 mil pessoas, atender a 130 projetos, fomentar mais de 500 novos empreendimentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belem, Maranhão, Minas Gerais e Bahia. Para isso, precisam arrecadar um fundo emergencial de R$ 1 milhão que serão destinados 500 empreendedores e R$ 300 mil para retomada econômica de pequenos negócios por 5 meses.

    GUIA DO VOLUNTÁRIO – Como montar um grupo de solidariedade na sua rua, prédio ou comunidade

    1 Faça o mapeamento das necessidades:
    _É preciso cuidar especialmente das pessoas idosas e das que têm problemas de saúde e estão em grupos de risco. Na atual conjuntura, são comuns os grupos de vizinhos que estão se organizando com listas de compras para evitar que idosos saiam de casa. Cada voluntário pode fazer a compra para vários vizinhos. O aplicativo Amigo Vizinho ajuda a colocar em contato quem quer ajudar e quem precisa de auxílio.

    _A saúde mental das pessoas também merece cuidados: organizar grupos para as pessoas se manterem próximas mesmo à distância e propor atividades coletivas a partir de casa também é uma boa. Por todo o país, diferentes clubes do livro estão funcionando pelo facebook.

    _No caso de distribuição de alimentos, é possível organizar um grupo para recolher doações, outro para comprar os donativos e ainda um terceiro para distribuí-los. Quando a comida é distribuída para pessoas em situação de rua, existe ainda a equipe da cozinha. 

    _O foco de atuação também ser voltado para tirar dúvidas via Whatsapp. É uma maneira de combater o pânico e as fake news, desde que feita com extrema responsabilidade, amparando-se em fontes fidedignas de informação como reconhecidos portais de comunicação, a Agência Nacional de Segurança Sanitária, Anvisa, o Ministério da Saúde ou secretarias de saúde de estados e municípios.

    _Grupos para pressionar o poder público podem cobrar de prefeituras e governos a assistência adequada para suas comunidades. 

    2 Chame mais gente
    _Seja qual for a frente de atuação ou necessidade a ser atendida, fica mais fácil e seguro atuar coletivamente e em rede.

    _Poucas pessoas podem fazer muita diferença: você pode fazer um grupo com a sua família, pessoas que moram no mesmo prédio ou quarteirão. A ideia é também dividir as funções por encarregados ou equipes, de forma que possam ajudar sem ter contato físico entre si.

    _Sabendo com quantas pessoas contar, é possível criar metas de atendimento do tipo de ajuda oferecida. 

    _Caso o grupo esteja coletando cestas básicas, busque locais de armazenamento e montagem dos kits ou entre em contato com outros grupos que estejam fazendo o mesmo tipo de ação.

    3 Cuidem-se
    _Para você e outros voluntários ajudarem precisarão se cuidar. Saibam em detalhes como se proteger para diminuir riscos de contágio ao ir fazer compras ou distruibuição de donativos. Busque informações de fontes seguras como a Agência Nacional de Segurança Sanitária, Anvisa, o Ministério da Saúde ou as secretarias de saúde de estados e municípios. O grupo de solidariedade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, criou o “Protocolo Diquebrada de solidariedade contra o corona” para voluntários:

    • Use luvas + álcool líquido + máscara de proteção para trabalhar com as doações e higienizar TUDO
    • Não tenha contato direto com as pessoas doadoras. Crie um local para deixem os produtos, que serão recolhidos e higienizados posteriormente para distribuição
    • A distribuição deve ser feita com máscara + luva de proteção na porta das casas das famílias
    • Alimentos e produtos serão distribuídos em sacolas próprias

    São ações simples que fazem toda a diferença. É importante ir ajustando o protocolo conforme as necessidades do grupo, as tarefas que realizam e as áreas em que atuam. O grupo de Neves mudou o protocolo após ler a recomendação de que máscara é só para quem está contaminado ou trabalha com saúde, pois estão em falta. Para alguns grupos, por exemplo, o álcool em gel vai ser fundamental, pois vão atuar em locais onde não há água para lavar as mãos. 

    4 Tenha um plano
    _
    O planejamento de um grupo de solidariedade pode ser simples, com uma listinha de tarefas dividida por poucas pessoas, ou mais complexa com maior organização e detalhes para o grupo dê conta do recado.

    _Esse é o momento de dividir quem faz o quê, qual o prazo para ser feito, onde vão ser recebidas e mantidas as doações e tudo mais que precisar ser definido para fazer acontecer.

    _O grupo Periferia Sem Corona no Facebook tem várias iniciativas diferentes que estão trabalhando conjuntamente para alcançar mais pessoas e resultados. Por ali, também é possível conhecer e copiar boas práticas que estão surgindo em todo o país. Troque figurinhas, peça conselhos, busque os mais experientes. Todos querem ajudar.

    5 Divulgue a campanha
    Sua mensagem precisa chegar em quem pode  ajudar. Crie uma imagem de divulgação para dar visibilidade e circular bem nos grupos de Whatsapp e outras mídias sociais. Descreva nas redes a região em que o grupo atua, o que ele faz e como recebe as doações.

    6 Em ação!
    Com tudo preparado, chegou a hora de dar início à atividade. Alguns grupos planejam mais, outros reúnem as pessoas mais próximas bem rápido, já se organizam e começam a atuar no dia seguinte. É hora de agir rápido, então se precisar comece pequeno e vá somando mais gente e mais recursos no caminho. 

    7 Avalie e replanejar sempre
    Com tudo mudando tão rápido, inclusive as orientações do que fazer e o que evitar, é importante prestar atenção nas necessidades da comunidade atendida. Faça avaliações coletivas  para garantir que os protocolos são eficazes e a ajuda está chegando em quem precisa.

  • O mundo encantado do Governo Federal e o coronavírus

    O mundo encantado do Governo Federal e o coronavírus

    O presidente eleito em novembro de 2018, Jair Bolsonaro, apresentava-se ao mercado como defensor do liberalismo econômico. Tão logo assumiu, implementou a contrarreforma da Previdência e fez avançar as privatizações. Essas e outras medidas no ano de 2019 levaram a desaceleração da economia brasileira que cresceu apenas 1,1%, contra 1,3%, em 2018, no governo Temer. O pior, considerando o crescimento populacional do período estimado em 0,8%, podemos concluir que a economia praticamente estagnou no ano passado.

    A crença na autorregulação do mercado do presidente Bolsonaro e seu ministro da economia, Paulo Guedes, estão promovendo estragos econômicos e sociais. A indústria continuou operando com ociosidade da sua capacidade produtiva próximo de 24%; milhares de empresas foram fechadas, a taxa de desemprego se manteve alta em 11,8% (2019), a informalidade bateu recorde, a renda média do trabalho principal foi de R$ 2.259,00, em 2019, contra R$ 2.283,00 em 2014.

    Esses foram os resultados da economia brasileira no ano de 2019 quando a economia mundial não sofreu com nenhuma grande crise e não tínhamos ainda a pandemia gerada pelo coronavírus. Agora, estamos diante de uma pandemia que já tem repercussão nas principais economias do mundo e que aponta para um processo recessivo nos próximos meses. A duração dessa crise econômica, a princípio, está vinculada a dimensão e duração da pandemia. Os estragos vão depender da reação da população e dos governos, o livre mercado nada fará.

    A cambaleante economia brasileira será atingida com mais fechamento de empresas e mais desempregados. O isolamento da população tende a ser maior nos próximos dias com implicações no consumo de bens e serviços. Apesar do que vem ocorrendo aqui e no mundo, o governo federal parece não reconhecer a gravidade do problema. O ministro da economia afirma que “o Brasil pode crescer entre 2,0% e 2,5% em 2020”, mesmo com a pandemia, pois “temos dinâmica própria”. Ele bate na mesma tecla desde 2018, privatizar e aprovar a contrarreforma, esse é o remédio.

    Continuando com os sinais de que eles não estão nesse mundo, no último domingo (15/03), o próprio presidente descumpria as recomendações do seu ministro da saúde e também não apresentava medidas enérgicas de combate e controle a disseminação do vírus, a não ser o fechamento da fronteira com a Venezuela. Sim, para eles o problema é a Venezuela e mais recentemente passou a ser a China. Enquanto isso, os EUA impedem a entrada das pessoas que tenham estado na Europa nos últimos 14 dias, exceto os seus cidadãos. Vários países adotam medidas de controle nos aeroportos como a medição da temperatura para detectar febre.

    Mais um sinal, esse vem da Bahia, aqui o governo federal, via Anvisa, não permite sequer que o governo baiano faça triagem dos passageiros no Aeroporto Internacional Dois de Julho. É inacreditável o que se passa no Brasil!

    Parece que o presidente e o seu ministro da economia vivem em outro mundo, talvez no país das maravilhas, talvez em Marte ou quem sabe em Wall Street. ‘Não, em Wall Street é impossível’, reclamará o cidadão estadunidense alegando que lá o governo Trump abandonou a ideia da autorregulação do mercado e decidiu adotar as políticas de intervenção estatal de tipo keynesianas. Sim, é isso mesmo, o presidente dos EUA, Donald Trump, não só anunciou intervenção na economia com a injeção de mais de um trilhão de dólares, como afirmou que pode enviar para casa do cidadão um voucher (cheque) de US$ 1.000,00 (mil dólares), valor equivalente a cinco mil reais. Isso porque entende que a economia vai desacelerar em função do avanço da pandemia.

    No mesmo sentido atuou o governo de Hong Kong. Na França, o presidente Macron falou que o país está em guerra contra o “coronavírus” e tomou medidas enérgicas como: fechamento de fronteiras; a suspensão da cobrança de alguns impostos para estimular a economia e manter os empregos; possibilidade de estatização de empresas; e a suspensão da cobrança de contas de água, gás e aluguéis.

    E aqui no Brasil? Só na última quarta-feira, 18, o governo anunciou medidas econômicas. Várias delas nos parecem inócuas e destoam daquelas adotadas por seus pares em diversos países. Isso porque o ministro da economia se encontra preso a uma camisa de força ideológica e não consegue desapegar do liberalismo econômico, da paixão ao mercado e do ódio a Venezuela. Em função disso, ele coloca no pacote das políticas de combate ao coronavírus a privatização da Eletrobrás. Sim, isso mesmo! Também acredita que as medidas que retiram direito dos assalariados vão ajudar a combater o vírus, como as reduções de jornada e salários. Se assim fizer, a tendência é que a crise se agrave. Como já vem sendo feito em alguns países, o governo deveria adotar um programa de renda mínima para a população, mesmo que temporário, como forma de combater a disseminação do vírus, amenizar a crise social e evitar a paralisia da economia.

    Depois de ser muito criticado, o governo federal resolveu apresentar um pacote de injeção de 147,3 bilhões de reais na economia, o equivalente a quase 29 bilhões dólares. Esse valor é 40 vezes menor que o anunciado pelo governo dos EUA para uma população que não chega a ser o dobro da brasileira. Também foi anunciado o voucher de R$ 200,00 por três meses para trabalhadores informais, valor este que certamente não será suficiente para os pagamentos de suas contas da farmácia, de alimentação, de água e energia. Vale destacar que dos 147 bilhões de reais, a maior parte é antecipação de receita.

    Para se ter ideia do tamanho da preocupação do governo, o orçamento da saúde para 2020 é de R$136,25 bilhões, montante esse inferior em  R$11 bilhões ao orçado para 2019;  e R$14 bilhões menor do planejado para saúde em 2015 (corrigido pela inflação do período), anos estes quando não se falava em pandemia. Além dos R$136 bilhões orçado, o governo anunciou mais R$5 bilhões oriundos de remanejamento e R$2 bilhões do DPVAT. Ainda assim, o recurso planejado para saúde é inferior ao orçado em anos anteriores. Tudo leva a crer que o governo federal continua apostando que o mercado resolverá os nossos problemas.

    Diante dos fatos, não é demais afirmar que os (as) brasileiros(as) tendem a sofrer com o avanço do coronavírus e com a forte crise econômica que se aproxima, estando no olho do furacão todos, especialmente os idosos, os mais pobres; os desempregados; os miseráveis; a população de rua; trabalhadores informais; os assalariados que precisam se submeter a transporte público superlotado; profissionais liberais e os microempresários que sofrerão com a queda na demanda. É certo que outras medidas além das anunciadas terão que ser tomadas pelo governo federal ou a crise se aprofundará, exceto para funerárias.

    Especial para o Jornalistas Livres

    Marcos Tavares é professor do curso de Economia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

    Imagem de capa: Unsplash

  • “Ele nos chamou para briga. O que ele ganha com isso?”

    “Ele nos chamou para briga. O que ele ganha com isso?”

    Por Luis Araújo, professor da Universidade de Brasília, Doutor em Políticas Públicas.

     

    Não sou dono da verdade, já tem muitas pessoas cumprindo essa tarefa ingrata. Mas peço um minuto de reflexão.

    Na noite de ontem (24 de março), depois de um mês do primeiro caso de coronavirus e com o crescimento acelerado de casos, o presidente Bolsonaro fez um discurso inacreditável, absurdo e revoltante. Diante de tal absurdo, a reação dos setores progressistas foi anunciar o seu fim, diagnosticando que o mesmo enlouqueceu e que tirá-lo da presidência imediatamente é a demanda a ser assumida. Será?

    Bolsonaro é louco? Não há nenhum dado cientifico sério que confirme isso. Ele é um idiota? Se o fosse não teria conseguido ganhar as eleições, derrotando a direta tradicional e uma forte unidade da esquerda no segundo turno. Bem, se não é um caso médico e ele agiu ontem de caso pensado, qual o seu interesse de provocar tamanha revolta?

    Não sou um bom jogador, nem de futebol e muito menos de xadrez, mas dizem que o melhor cenário numa guerra ou num jogo, sendo a batalha inevitável, é poder escolher o local e o momento que mais lhe favorece. É isso que ele está tentando fazer. Vejamos os elementos que estamos deixando escapar.

    A pandemia é real, vai matar centenas, talvez milhares, de brasileiros, vai superlotar o já saturado sistema de urgência do país. E, para além das consequências sanitárias, já está paralisando a economia, o que nos jogará numa recessão violenta, com desemprego, queda de renda de 40 milhões que vivem da informalidade, fechamento de empresas e tudo que disso é derivado. Isso ainda está no início, mas quando chegar no ápice, a culpa será distribuída em quem tinha responsabilidade de conduzir o país: Bolsonaro. Ele sabe disso, sabe que os ânimos da população diante de seu governo vão mudar, fazendo derreter a base social que até agora mantém no seu entorno e, fazendo isso, ele perderá a utilidade para as elites, podendo facilmente ser descartado.

    O que Bolsonaro fez ontem foi potencializar o campo de batalha que lhe é favorável, a narrativa de que há uma trama da esquerda, de governadores e da mídia, tentando destruir a economia, exagerando os efeitos da pandemia, para derrubá-lo. Trabalha com a desinformação, com o medo, com os mesmos mecanismos que o levaram a presidência. Sua intenção é antecipar a polarização, provocando ódio nos setores progressistas (#bolsonarogenocida) e tentando coesionar sua base em sua defesa.

    O que ele fez ontem foi tentar antecipar a batalha do impeachment para o momento que mais lhe favorece, no cenário real que vivemos: antes que a maioria da população comece a sentir os efeitos econômicos da recessão, facilitando a sua narrativa de que é uma trama sórdida para lhe tirar do poder, justamente na hora que estava tentando proteger os empregos das pessoas.

    É uma aposta perigosa? Sim, por que se as medidas de mitigação não forem suficientes para deter o vírus, um crescimento do número de mortes cairá na sua cabeça. Mas é a mesma aposta que Trump está fazendo, por que os dois sabem que as pessoas votaram neles em momento de desespero e esperavam que a vida melhorasse.

    Assim como no xadrez, aceitar a oferta de uma peça aparentemente gratuita e equivocada, pode simplesmente comprometer peças importantes do nosso time, prejudicando nossa estratégia.

    Antecipar um processo de impeachment, no meio da pandemia, sem possibilidade de mobilizações sociais presenciais, sem ter derretido bastante a base social bolsonarista (leiam as três pesquisas disponíveis para ver que isso está em processo, mas ainda longe de caracterizar um real isolamento), é deixar que ele escolha o local e o momento da batalha. Um erro que pode nos custar a perda do jogo.

    A hora, nesse momento, é de carimbar a irresponsabilidade de Bolsonaro, de propor medidas que dialoguem com o drama de milhões de brasileiros que não alcançamos pelas nossas redes sociais, nos quais a nossa indignação ainda não chega e que ainda o discurso de polarização esquerda X mito é ainda forte. A pandemia e a recessão, bem trabalhadas, podem desfazer as barreiras que nos impedem de fazer esse diálogo.

    E os panelaços? Sim, presenciamos uma radicalização dos setores que não concordam com o governo e o avaliam de forma negativa ou regular. É um sintoma de que estamos reconquistando terreno. E é justamente esse diagnóstico que faz Bolsonaro antecipar a batalha, antes que perca mais posições e não tenha narrativa que se sustente diante do caos econômico.

    A economia derreteu Collor, manteve Lula no cargo em 2006 e isolou Dilma de sua base social em 2016. E é o que será capaz de derreter de 30 a 35% de apoio que Bolsonaro ainda tem.

    A vontade de interditar esse presidente, um irresponsável que coloca em risco milhões de brasileiros é muito forte. Comungo muito dessa revolta. Mas, sem racionalidade e uma estratégia que entenda que o adversário não é louco ou imbecil e que sabe jogar, não seremos vitoriosos.

    Assim, considero que a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” e uma narrativa que mostre sua irresponsabilidade, articulada com uma plataforma de exigências de medidas que salve a vida dos brasileiros e proteja seus empregos e renda, são mais eficientes do que deixar que ele escolha a hora e o lugar da batalha. Iremos travar essa batalha, não em 2022, mas este ano ainda, mas ele precisa sangrar mais, precisa perder legitimidade junto a milhões de brasileiros que serão vitimados por sua inconsequência.

    Quem é Luiz Araújo:

    Professor, doutor em políticas públicas em educação pela USP. Secretário de educação de Belém (1997-2002). Presidente do INEP (2003-2004). Assessor de financiamento educacional da UNDIME Nacional (2004-2006). Assessor do senador José Nery -PSOL/Pa (2007-2009). Consultor na área educacional. Consultor Educacional da UNDIME Nacional (2010/2011). Assessor da Senadora Marinor Brito – PSOL-PA (2011). Assessor da Liderança do PSOL no Senado Federal (2012-2013). Atualmente é Professor da Faculdade de Educação da UNB.
  • COVID-19. Quando a fé contamina

    COVID-19. Quando a fé contamina

    Texto e fotos: Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres. Colaboração: Sato do Brasil

     

    Embora uma das orientações mundiais para evitar a disseminação do vírus COVID-19 seja de isolamento social, o Tribunal da Justiça Federal derrubou a liminar que suspendia cultos e missas por conta da COVID-19.

    Quem descumprisse com a ordem poderia pagar multa ou ter o local interditado. Esta ordem entende que estes espaços são, em maioria, ambientes fechados com pouquíssima circulação de ar e alta aglomeração de pessoas, aumentando a disseminação do vírus.

    “Infelizmente, a queda dessa liminar premia a inconsequência e mau-caratismo de líderes como Malafaia, e coloca em risco a vida de milhares de pessoas, já que os cultos, missas e diversos encontros religiosos são carregados de demonstrações de afeto e proximidade, salvo raras exceções. O que vamos colher disso é mais desgraça para um povo já sofrido e enganado por esses falsos líderes”, disse em entrevista, José Barbosa Junior, teólogo, escritor e um dos pastores da Comunidade Cristã da Lapa, Rio de Janeiro.

    É bom lembrar que recentemente, na Coreia do Sul, um padre cristão pediu desculpas de joelhos, após sua igreja ter sido considerada o grande foco de disseminação do COVID-19, quando se negou a suspender seus cultos.

    A igreja de Silas Malafaia, localizada no Rio de Janeiro, tinha suspendido os cultos por conta da liminar, porém aumentou para até 12 horas de atendimento dentro de suas igrejas. Mesmo depois de vários órgãos responsáveis do Governo Federal terem pedido e orientado diariamente a suspensão imediata dos cultos e missas, alguns pastores como Silas Malafaia (pastor e líder da Assembléia de Deus) e Edir Macedo (fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record e da RecordTV, a terceira maior emissora de televisão do Brasil) se negaram e entraram com essa ação de suspensão da liminar da justiça.

    Igreja Universal do Reino de Deus
    Igreja Pentecostal Deus É Amor

    O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em uma entrevista ao canal SBT, mostrou indignação pela suspensão dos cultos e missas, mesmo em tempo de pandemia mundial do COVID-19. No Brasil já são 2.201 infectados registrados e 46 mortes. Última atualização de quarta, 25 de março de 2020, 12h56, com dados do Ministério da Saúde: https://saude.gov.br/.

    Dentro dessas colocações problemáticas, uma delas que não foi citada acima é que Bolsonaro comparou a COVID-19 à uma chuva, que basta colocar uma capa pra se proteger. Além da metáfora desnecessária, Bolsonaro desafia o poder público ao afirmar que o pastor ou o padre deveriam decidir sobre suspender ou não os cultos e missas, como se as igrejas estivessem acima das leis comuns ao restante das pessoas, do país e do mundo.

    “É lamentável que num momento como esse , a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade”, afirma o pastor José Barbosa Junior.

    Agora é uma questão de tempo para que as pessoas procurem desesperadamente estas igrejas como refúgio. Entendemos que pastores, padres, igrejas e espaços religiosos no geral servem para além da religião como acalento em meio ao desespero e medo, uma força intensa de fé e ajuda. O problema é que estes espaços podem e vão continuar sendo centros de propagação do COVID-19 uma vez que continue o fluxo de pessoas. Inclusive, muitos pastores colocaram em seus sermões que existe salvação somente dentro da igreja.

    “As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena contra o COVID-19. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade”, continua o pastor José Barbosa Junior.

    Porque não fechar e manter a convivência online? Ou por ligação telefônica? Orar em casa e estratégias para que continuem utilizando de sua fé sem que se coloque em risco a sua vida e das outras pessoas. Os pastores, padres e disseminadores da fé, deviam estar orientando o isolamento social como uns dos métodos primordiais para saúde de seus seguidores.

    “(…) A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.(…)”, conclui o pastor José Barbosa Junior.

    Para além de todas essas contradições de alguns religiosos, ainda existem padres, pastores e outros líderes religiosos que nos servem de bom exemplo neste momento caótico. O Padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral Povo da Rua ofereceu acolhimento para moradores de rua com suspeita de COVID-19 em São Paulo. Também abriu uma petição para pressionar a Prefeitura Municipal de São Paulo e outros órgãos para que forneçam o material básico para higiene e proteção da população em situação de rua. Link da petição: http://change.org/PovoDeRuaSemCorona.

    Homem se protege do COVID-19

    Segue a entrevista completa com o pastor José Barbosa Junior.

    1. Como você vê esse momento de pandemia do COVID-19 especificamente no Brasil?
    Um momento muito difícil. Creio que é a primeira vez que a nossa geração enfrenta uma pandemia tão devastadora e o Brasil está tendo que aprender “na marra” como lidar com isso.

    2. Ontem o presidente Jair Bolsonaro teve uma fala no programa do Ratinho que contradiz o que a Justiça do Estado de São Paulo determinou com uma liminar que proíbe missas e cultos por conta da disseminação do Coronavírus ou COVID-19, mas o presidente agiu como se os pastores que tivessem que decidir sobre fechar ou não suas portas para cultos. Como você vê essa atitude do presidente Bolsonaro?
    É lamentável que num momento como esse, a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade.

    3. Alguns pastores como Silas Malafaia, Edir Macedo e outros se negaram a seguir as orientações do Ministério Público para que igrejas evitem cultos com grandes aglomerações. Porque você acha que pastores se negaram a seguir as orientações?
    Esses pastores citados já abandonaram há tempos o Evangelho. Não são pastores, são negociantes da fé, empresários da espiritualidade. Logo, suas igrejas são enormes comércios e visam somenteno lucro financeiro. Não me espanta manterem abertas as suas igrejas, por dois motivos: sabem que igreja cheia geralmente corresponde a boa arrecadação e se alimentam de brigas e polêmicas para posarem de “defensores da fé contra os inimigos”. São espertos e sabem que essa “cruzada” lhes favorece em seus projetos de poder.

    4. A ciencia sempre teve um papel fundamental que nenhum outro orgão consegue substituir. No entanto, a gente vê o desdém de planos de governo que realizou cortes e de algumas religiões que negam o entendimento científico. Porque algumas religiões tem medo da ciência?
    Esse governo que aí está é, desde a campanha, anticientífico. E o fundamentalismo religioso também o é, logo, há um casamento perfeito entre o mau caratismo governamental e a ignorância ensinada e fortalecida na maioria das igrejas, infelizmente. Algumas religiões, erroneamente, acham que fé e ciência são antagônicas. Nada mais distante da verdade. A verdadeira fé é suprarracional e não irracional. Caminha com a ciência e os conhecimentos. Vai além (daí ser fé), mas sem negar a caminhada em conjunto.

    5. Como as igrejas podem ajudar nesse momento a população? Qual deve ser a principal atitude, ao seu ver, de um pastor ou padre nesse momento?
    As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade.

    6. Como a população pode ajudar? Quais são as principais medidas de prevenção do coronavírus dentro de sua igreja?
    A população deve obedecer aos apelos de se resguardar, ficar em casa. A Comunidade Cristã da Lapa suspendeu as atividades por tempo indeterminado. E nós, pastores, continuamos nosso trabalho nas redes sociais.

    7. E pra finalizar, o que estamos aprendendo socialmente com esta pandemia mundial até agora?
    Acho que a principal lição é a de que o que acontece com um é problema de todos. Uma pandemia serve para nos mostrar isso. É quase um “efeito borboleta”. E isso nos traz o pleno sentido de humanidade. A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.

  • #AcabouBolsonaro – Presidente e vice do Senado dizem que não temos liderança

    #AcabouBolsonaro – Presidente e vice do Senado dizem que não temos liderança

    #AcabouBolsonaro
    #NãoTemosGoverno
    #InterdiçãoJá

    O presidente e o vice-presidente do Senado acabam de divulgar nota à imprensa em que dizem não termos no executivo uma “liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da população”. A nota afirma, ainda, que “o Congresso continuará atuante e atento para colaborar no que for necessário para a superação dessa crise”.

    No momento, o que o Congresso e o STF deveriam fazer é INTERDITAR IMEDIATAMENTE o presidente. Sem isso será impossível coordenar nacionalmente as ações contra a pandemia do Coronavírus