Jornalistas Livres

Tag: Bento Rodrigues

  • Vale S.A. nada fez após cinco anos do crime em Mariana

    Vale S.A. nada fez após cinco anos do crime em Mariana

    Há exatamente cinco anos acontecia o rompimento da barragem do Fundão em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, MG, levando 20 vidas, destruindo a vila e jogando toneladas de lama de minério no oceano ao acabar com a vida ao longo do Rio Doce em Minas e no Espírito Santo. A barragem da Vale S.A. e BHP Billiton, mas operada pela mineradora Samarco, rompeu-se na tarde do dia 5 de novembro de 2015.

    Durante todo esse período, mais de 1.800 dias, os responsáveis pelo crime não foram julgados. Em 2019, o crime de homicídio foi retirado do processo. As mortes provocadas pelo rompimento da barragem foram consideradas pela Justiça como simples consequência da inundação causada pelo rompimento, prevalecendo a impunidade. De lá para cá, as comunidades destruídas não foram reconstruídas e não há respostas para a recuperação do meio ambiente e para moradores, que passaram a sofrer de depressão e outras doenças.

    Foto de Aloísio Morais

    “Tudo está por fazer”. Esta é a conclusão da chefe da Força-Tarefa Rio Doce, Silmara Goulart, procuradora do Ministério Público Federal (MPF), sobre o crime cometido pelas empresas Vale S.A., BHP Billiton e Samarco. “A sensação, olhando cinco anos de desastre, é de consternação e profunda tristeza com a desolação, tudo ainda está por fazer”, conclui Silmara. “Nenhum grupo de atingidos foi integralmente indenizado, o meio ambiente também não foi integralmente recuperado e sequer o distrito de Bento Rodrigues foi reconstruído”, afirmou.

    Além disso, um outro bom exemplo que ela aponta é o auxílio emergencial pago aos atingidos, que foi suspenso em plena pandemia. A procuradora ressalta também o fato do caso envolver duas empresas que estão entre as mais ricas do mundo, a Vale e a BHP Billiton, controladoras da Samarco, que atua em Mariana. “Antes do desastre, elas preferiram economizar para não reparar a barragem que estava em risco. Agora, os mesmos responsáveis preferem brigar para economizar centavos às custas da dignidade humana. Nós, do MPF e instituições parceiras, tentamos todas as estratégias possíveis, pedimos recomendações, recorremos de decisões, mas os resultados são frustrantes”, disse Silmara durante entrevista coletiva.

    Na zona rural de Barra Longa as casas e imóveis das comunidades foram parcialmente encobertas pela lama que chegou pelo rio Gualaxo do Norte. Foto de Tânia Rego/ABR

    Na ocasião, MPF, Ministério Público de Minas Gerais e Defensoria Pública de Minas Gerais e do Espírito Santo criticaram a  Fundação Renova, criada pelas mineradoras para reparar os danos ambientais e sociais, pelo descumprimento de acordos feitos ainda em 2016, como a criação das câmaras técnicas para assessorar os atingidos. Apenas cinco das 23 câmaras foram contratadas até agora. “Brumadinho (na Grande Belo Horizonte, onde outra barragem se rompeu há quase dois anos) tem assessoria técnica, embora a Vale lute contra. Lá temos avanços incríveis que, infelizmente, não temos em Mariana, onde o desastre é mais antigo”, apontou o promotor André Sperling.

    As instituições criticam também a atuação da 12ª Vara da Justiça Federal por decisões recentes envolvendo a tragédia de Mariana. “A diferença principal (entre a reparação em Brumadinho e Mariana), além da experiência acumulada de um caso para o outro, é a atuação do Judiciário Estadual, que foi bem superior em comparação com o Judiciário Federal”, completou Sperling.

    Ilustração de Vilé

    O procurador Edilson Vitorelli, do MPF, lembrou que, no meio deste ano, o órgão ficou sabendo pela imprensa que corria na Justiça um processo de reparação de dano que não constava no processo coletivo. “Começamos a fazer pesquisa e descobrimos que a Justiça Federal de Belo Horizonte admitiu a instauração de 13 processos desmembrados do nosso processo federal, os quais não eram conhecidos de nenhumas das instituições da força-tarefa. Desses 13 processos, além do MPF não ter sido intimado, nove foram mantidos em segredo de Justiça. Nem que se tentasse pesquisar não seria viável localizá-los. Quem faz coisa certa não faz escondido. Se fosse coisa boa para os atingidos não seria feito de forma oculta”, afirmou Vitorelli.

    A Fundação Renova, administrada por Samarco, Vale e BHP Billiton, informou que os novos processos indenizatórios, de adesão facultativa, foram implementados a partir de decisão da 12ª Vara Federal, após petições apresentadas pelas Comissões de Atingidos de Baixo Guandu (ES) e Naque, no Vale do Aço. “O papel da Fundação Renova é executar o que está definido pela sentença judicial”, justificou.

    Até setembro, segundo a Renova, foram destinados R$ 10,1 bilhões para as ações de recuperação e compensação. Até 31 de agosto, cerca de R$ 2,6 bilhões foram pagos em indenizações e auxílios para cerca de 321 mil pessoas.

    Ilustração de Janete

    Nota do MAB

    A propósito dos cinco anos do crime da Vale S.A. em Mariana, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou a seguinte nota:

    Nós, atingidos e atingidas de toda a bacia do Rio Doce e litoral capixaba, somos pescadores e pescadoras tradicionais do rio, do mar e do mangue, marisqueiras. Somos trabalhadores da cadeia de apoio da pesca, comerciantes, pousadeiros e surfistas. Somos ribeirinhos e agricultores familiares e artesãs. Somos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, assentados da reforma agrária, moradores das comunidades atingidas. Nós somos homens e mulheres, idosos e crianças que tivemos nossos sonhos e projetos de vida interrompidos há cinco anos, pelo crime das mineradoras Vale, Samarco e BHP.

    Estamos hoje, dia 5 de novembro de 2020, em Regência (ES), reunidos na foz do rio Doce, para dizer às empresas criminosas: Nossas vidas não têm preço! Não daremos quitação geral as empresas! Não estamos quites deste crime!

    Não tivemos de volta nossas vidas, nosso rio, nosso trabalho, nossa renda, nosso lazer, nossa autonomia, nossos sonhos, nem sequer as nossas casas foram concluídas em Mariana e Barra longa, nos três reassentamentos propostos. Somos seres humanos e não mercadoria, não estamos a venda, sem reparação não haverá quitação.

    Temos direito a ter voz e vez nas decisões. Estamos cansados de ter nossos destinos colocados à mercê de empresas, políticos e juízes, poderosos e donos desse sistema, que rouba nossos direitos à luz do dia sem nenhum pudor, e nos afundam cada vez mais nessa lama tóxica de interesses privados.

    Nossos saberes tradicionais e populares, o nosso conhecimento acumulado por meio de gerações sobre nossos territórios e nossos modos de vida deve ser levado em conta. Já estávamos nos territórios antes da lama chegar. Estaremos aqui, e a nossa descendência estará por gerações nos mesmos territórios, mesmo após a Fundação Renova e os governantes que hoje estão à frente da reparação.

    Não permitiremos mais que as nossas vidas sejam resolvidas entre quatro paredes pelas criminosas e seus cúmplices. A solução do problema vira de nós, atingidos e atingidas, povo unido e organizado.

    A verdadeira participação popular virá das ruas, das praias, das escolas, das beiradas de rios e mangues, das vilas e das comunidades atingidas. Virá do povo atingido, em seu espaço de vivência, de afeto e de luta.

    E, por fim, não abriremos mão de nossa saúde e bem-estar. Além das 19 vidas e do aborto em Bento Rodrigues, muitas outras vidas foram perdidas nesses cinco anos. Vidas que se foram, e vidas que nunca mais serão as mesmas.

    Queremos de volta nossa água, nosso rio, nossas praias, nosso lazer e nosso alimento. Aqui está o povo que sempre trabalhou duro para ter o que comer, e sempre produziu alimento saudável para as nossas famílias e comunidades.

    Não pedimos para ser atingidos por esse crime, mas agora que fomos, seremos de cabeça erguida e com a certeza de que estamos do lado certo da história. É hora de o Brasil dar um basta a essas empresas que se orgulham de recordes seguidos de lucro – enquanto negam ao povo humilde a justa reparação aos danos causados aos nossos territórios, aos nossos corpos e as nossas vidas.

    Vale, Samarco e BHP, se preparem, pois estamos aqui para dizer em alto e bom som: saímos do luto, e os próximos cinco anos serão de muita luta!

    Do Rio ao Mar, não irão nos calar! Águas para Vida, Não para Morte!

    Ruínas deixadas pela lama em Bento Rodrigues – José Cruz/Agência Brasil
    Barra Longa (MG) – Rio Gualaxo do Norte poluído pela lama levada pelo rompimento da Barragem de Fundão – José Cruz/Agência Brasil

    Obs. A foto de abertura deste texto é de Antônio Cruz/ABR

  • Crime em Mariana: 5 anos se reproduzindo

    Crime em Mariana: 5 anos se reproduzindo

    Dia 5 de novembro de 2020, cinco anos do crime/tragédia das mineradoras Samarco/Vale/BHP Billiton e do Estado. Dói, mas é preciso recordar e denunciar.

    Por Gilvander Moreira*

    Pela impunidade reinante e pela continuidade da engrenagem criminosa, o Governo de Minas Gerais, as mineradoras e as autoridades não aprenderam nada com os crimes/tragédias da Vale e do Estado, em Mariana e em Brumadinho. Pior, jamais aprenderão, pois cegados pelo ídolo do mercado idolatrado estarão sempre ajoelhados se empanturrando das benesses do sistema de morte, enquanto se enlameiam de sangue por ações ou omissões cúmplices que fomentam a reprodução da mineração devastadora. Covardemente, teremos outros crimes/tragédias sendo preparados enquanto continuar a atual composição estrutural da Comissão de Atividades Minerárias (CMI) do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) com 12 conselheiros/as, sendo 10 conselheiros/as do Governo de Minas, da União e representantes das grandes empresas de mineração (de entidades a elas ligadas) e apenas 2 conselheiros representando a sociedade civil: CEFET-MG[1] e FONASC[2]. Com essa composição tremendamente injusta e desigual, o resultado das votações é sempre 10 votos a favor dos licenciamentos de novos projetos da mineração contra 1 ou 2.

    Durante as longas reuniões de apreciação e votação de novos projetos de mineração os 10 conselheiros representantes do Estado e de entidades que representam as mineradoras quase não falam, ficam olhando no celular e ao final, SEMPRE votam a favor dos projetos de mineração devastadores. Isso é injustiça que clama aos céus! É uma casa de horrores!

    A missão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), por lei, é “garantir a sustentabilidade”, mas decidem sempre pró-mineração e contra a sustentabilidade. Em uma reunião que autorizou a retomada de mineração na Serra da Piedade, em Caeté, ao lado de Belo Horizonte, uma representante da Secretaria de Governo (SEGOV) chegou ao absurdo de dizer que “princípio da precaução não tem poder de barrar mineração”. Indignado, eu disse que já vi várias decisões judiciais impedirem/suspenderem mineração alegando o princípio constitucional da precaução. A ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Minas Gerais, a museóloga Célia Corsino, disse em Audiência Pública na ALMG, que “jamais daria anuência do IPHAN-MG ao projeto de mineração na Serra da Piedade”. Logo depois, Célia Corsino foi exonerada da Superintendência do IPHAN, em MG, pelo Governo Federal de Jair Bolsonaro. Júlio Grillo, ex-superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em Minas Gerais, foi exonerado pelo desgoverno federal um dia após ele votar contra a retomada da mineração na Serra da Piedade.

    Os crimes/tragédias não são apenas da mineradora Vale, mas também do Estado, porque os licenciamentos ambientais concedidos pelo Governo de Minas Gerais que, em conluio com o capital, se ajoelha diante do poderio econômico das grandes mineradoras e dribla todos os argumentos técnicos e jurídicos suficientes para não conceder licenciamento ambiental a empreendimentos extremamente devastadores socioambientalmente. O Estado concede licenças ambientais para projetos devastadores e, pior, não fiscaliza. Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Mina Capão Xavier, da Vale, em Nova Lima, MG, uma funcionária da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), do Governo de Minas Gerais, disse: “A FEAM não fiscaliza. Nós apenas lemos os relatórios produzidos por funcionários das mineradoras”. Por isso, o crime não é só da Vale, mas também do Estado que está acumpliciado ao capital desde que se iniciou há 300 anos mineração no estado de Minas Gerais.

    A impunidade do crime/tragédia acontecido a partir do distrito de Bento Rodrigues alimentou a construção de outros crimes/tragédias como o da Vale, a partir de Brumadinho. Com o passar do tempo, rastros de morte vão sendo percebidos e se avolumando. As águas da bacia do Rio Paraopeba garantiam 50% do abastecimento público de Belo Horizonte e região metropolitana. A COPASA[3] investiu 130 milhões de reais para captar água do Rio Paraopeba em uma grande obra inaugurada em dezembro de 2015, prometendo que a obra garantiria o abastecimento de BH e região metropolitana pelos próximos 25 anos. Tudo isso foi perdido. E agora, onde arrumar água para garantir o abastecimento de cinco milhões de pessoas de Belo Horizonte e região metropolitana? A nova captação de água que a Vale está fazendo no Rio Paraopeba, acima de Córrego do Feijão, na comunidade de Ponte das Almorreimas, em Brumadinho, além de estar sacrificando impiedosamente várias comunidades e aumentando a devastação ambiental, não garantirá o abastecimento de BH e RMBH por muitos anos.

     Onde há muito minério há também muita água. O Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, é também um Quadrilátero Aquífero. Os lugares onde as mineradoras se instalam eram paraísos naturais, mas após a chegada das mineradoras iniciou-se um processo absurdo que sacrifica no altar do deus do mercado a dignidade humana e a dignidade da mãe terra, da irmã água, da flora e da fauna. Bento Rodrigues, por exemplo, era um ‘paraíso na terra’, mas após a mineração da mina de Fundão, estava sendo abastecida por caminhões pipas, antes de ser devastada pelo crime tragédia da VALE/SAMARCO/BHP que aconteceu na tarde do dia 05 de novembro de 2015 e continua impune e matando de muitas formas. Em um instante, 19 vidas de seres humanos foram ceifadas. Pior, dezenas de pessoas, em 5 anos, já morreram vítimas das consequências dramáticas daquele crime hediondo e ecocida.

    Tripudiando sobre as vítimas, o Governo de Minas já autorizou o retorno da mineração da mineradora VALE/SAMARCO/BHP em Mariana, aprovou a construção da barragem de Maravilhas 3 da Vale, o alteamento da Barragem da mineradora Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, à revelia da Lei “Mar de Lama”, de iniciativa popular,  aprovada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais – Lei Estadual nº 23.291/2019.

    No Brasil, há mais de 24 mil barragens: de água para irrigação, de rejeitos de mineração com lama tóxica ou de água para geração de energia em hidrelétricas. As barragens de hidrelétricas são feitas de concreto com ferro e aço, mas as barragens de rejeitos minerários são apenas uma montanha de lama com calços quebradiços. Mais de 700 grandes barragens são de rejeitos minerários, sendo que 70% destas estão em Minas Gerais, mais de 460. Desde a década de 1970, volta e meia, alguma barragem de rejeitos minerários tem se rompido. Em Minas Gerais, houve vários rompimentos de minerodutos, o Minas-Rio, por exemplo, que consome diariamente água que dá para abastecer uma cidade de 230 mil pessoas e transporta o equivalente a 1.600 carretas de minério por dia. As nossas montanhas estão sendo arrancadas e vendidas pela metade do preço de banana e, pior, todas as nascentes, rios e os lençóis freáticos estão sendo sacrificados. As condições objetivas de vida estão em exaustão e colapso nos territórios sob a sanha das mineradoras.

    Recentemente houve mais uma operação do Ministério Público de MG com o apoio das Polícias Militar e Civil visando combater a atuação de uma associação criminosa estruturada para facilitar a concessão de licenças ambientais no âmbito da Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) Zona da Mata mineira, vinculada à SEMAD. As investigações até então realizadas apontam para o pagamento de propinas a funcionários públicos e a falsificação de documentos e relatórios em processos administrativos de licenciamento ambiental.

    Ilustração de Janete

    Na Bíblia, o profeta Miqueias mostra que a riqueza de quem se enriqueceu se baseia na miséria de muitos e tem como alicerce a carne e o sangue do povo. Denuncia Miqueias: “Essa gente tem mãos habilidosas para praticar o mal: o príncipe exige, o juiz se deixa comprar, o grande mostra a sua ambição. E assim distorcem tudo. O melhor deles é como espinheiro, o mais correto deles parece uma cerca de espinhos! O dia anunciado pela sentinela, o dia do castigo chegou: agora é a ruína deles” (Miqueias 7,3-4). Os opressores dos tempos bíblicos, atualmente são os diretores, executivos, acionistas da mineradora VALE e todos os seus vassalos nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

    Na Bíblia, no livro do Êxodo se diz que o Deus da vida, para forçar a libertação do povo escravizado, enviou dez pragas sobre os faraós – com coração endurecido – do imperialismo do Egito que superexplorava o povo. A 1ª praga/prodígio é narrada em Êxodo 7,14-24: “transformou o Rio Nilo em sangue. Todos os peixes morreram. O rio ficou poluído e morto. Os egípcios não podiam beber mais da água do rio” (Êxodo 7,20-21). Depois da 1ª praga, as seguintes eram gradativamente piores, até o povo superescravizado conquistar a libertação, com a travessia do mar vermelho. Quantas barragens ainda precisarão romper e mais quantos crimes acontecer para que as autoridades ouçam os clamores do povo, da mãe terra, da irmã água e de todos os seres vivos?

    03/11/2020

    (*) Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

    Obs.: Os vídeos nos links e o áudio, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

    1 – Palavra Ética na TVC/BH: Crimes da Vale e Samarco. Produção de farinha/Acampamento Nova Esperança 2

    2 – Denúncia comovente/Marino/crime/SAMARCO/VALE/BHP/ESTADO/Audiência Pública da ALMG. Parte I/Vídeo 2

    3 – Massacre da Samarco/Vale/BHP: luta profética-2a Romaria das Águas/Terra-bacia do rio Doce. 3a parte

    4 – MAB na 19a Romaria das águas e da terra de MG: desastre da Samarco/Vale/BHP, pecado grave. 24/07/16

    5 – Tribunal Popular julga crime das mineradoras Samarco/Vale/BHP: crime de Mariana. BH, 01/04/2016

    6 – Vale e Estado de MG são cúmplices: Crime continua em Ponte das Almorreimas, Brumadinho, MG/06/3/2020

    7 – Vale mente e comete crimes também em Catas Altas, MG. Por território Livre de Mineração! Vídeo 1

    8 – “Meu irmão está debaixo da lama tóxica do crime da Rio Verde, hoje Vale, há 19 anos”. Bruma/Vídeo 5

    9 – “Vale comete crime e nós é que pagamos?” Ponte das Almorreimas, Brumadinho, MG. Vídeo 2 – 26/12/2019

    10 – Cresce o crime da VALE e do Estado; cresce a luta. Atingidos no TJMG, em BH. Vídeo 3 – 21/11/2019

    Obs. 2: no YOUTUBE – no canal: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos – existem centenas de videorreportagens denunciando os crimes tragédias das mineradoras Vale, Samarco, BHP, Angloamerican, SAM etc. 


    [1] Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.

    [2]  Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas.

    [3] Companhia de Saneamento de Minas Gerais.

  • O que eles querem ver?

    O que eles querem ver?

    Por Mauro da Silva com o apoio de Miriã Bonifácio para o Jornal A Sirene (jornalasirene.com.br)

    Em Mariana, o “casarão” da Fundação Renova/Samarco, localizado na Praça Gomes Freire, está continuamente servindo como ponto turístico da cidade, onde são expostas maquetes referentes ao local de reassentamento de Bento Rodrigues e repassados conhecimentos sobre o processo de reparação das comunidades atingidas a partir do ponto de vista da fundação/empresa. Também foi iniciado o programa VimVer, vinculado à área de atuação de Diálogo Social da Renova/Samarco, em que são oferecidas visitas monitoradas com especialistas dessa fundação/empresa nas áreas atingidas de Bento, Paracatu e Gesteira. Tendo em vista isso, foi encaminhada uma carta da Comissão dos(as) Atingidos(as) de Mariana à Renova/Samarco solicitando o transporte e a alocação das maquetes para a Casa dos Saberes. Isso porque se entende que, com tais medidas, a empresa usa ações obrigatórias de reparação para fazer propaganda de si mesma. E, ainda, utiliza recursos e espaços em desigualdade com o dos(as) atingidos(as) para criar a sua versão da história. Diante disso, reafirma-se que toda e qualquer informação que diz respeito a estes territórios deve ter o consentimento das pessoas proprietárias destas terras (e memórias).

    “VimVer o quê?” O que a Renova ou a Samarco estão fazendo? Esse é um projeto muito audacioso por parte da fundação/empresa, de entrar em um território que, embora ela tenha todo um interesse, não lhe pertence, nem à Vale ou à BHP Billiton, e sim ao povo, no caso de Bento, um povo sofrido que, durante três séculos, lutou para ter o seu lugar. Eu sou de uma geração que vem dos fundadores de Bento Rodrigues. Portanto, sou testemunha de que a Samarco sempre pleiteou esse espaço. Agora, por meio desse programa, a gente vê que ela se sente dona do que diz respeito à nossa comunidade, e está querendo se sentir dona também de Paracatu e das demais áreas que foram atingidas por essa tragédia-crime.

    “Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as).”

     

     

    Então, esse Projeto VimVer é uma afronta à nossa dignidade, uma falta de respeito com o sentimento daqueles que perderam tudo, que perderam seus entes queridos. E ainda é um projeto que visa criar uma cortina de fumaça sobre aquilo que foi feito até agora em se tratando da nossa reparação. A Renova/Samarco, ao invés de reparar os danos que sofremos, vem causando violações ainda maiores. Eu, então, pergunto, como tive a oportunidade de questionar o Roberto Waack (Presidente da Fundação Renova) durante reunião realizada no dia 4 de maio, em que ele nos disse que esse não é um projeto voltado inteiramente para o turismo, que é um programa que vai levar estudantes, pesquisadores e aquela conversa de sempre, mas que, na verdade, vemos como algo que estou batizando de “turismo da desgraça”: “VimVer o quê?”. Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as). Isso que estão fazendo está nos ferindo de morte. Estamos resistindo e lutando pelo tombamento dos nossos espaços, porque acreditamos que é isso que vai resguardar que esse território continue pertencendo a quem é de direito. E que não se enganem, pois, na versão do bandido, ele sempre é a vítima.

    Leia a matéria em seu site original: http://jornalasirene.com.br/manifestos/2018/06/13/o-que-eles-querem-ver

  • Jornada Rio Doce – A busca pelos atingidos de Mariana

    Por Carolina Rubinato

    Vigésimo quinto dia de Jornada pelo Rio Doce e sigo em busca dos atingidos de Mariana, as vítimas do crime cometido pela Samarco.Elas estão espalhadas pela cidade, difícil encontrá-las. Uma estratégia planejada pela empresa: separar os atingidos como uma forma de cortar laços e dificultar a comunicação entre eles.

    Recebo uma mensagem com um possível endereço, me dirijo para lá, é um prédio e pela informação recebida seis famílias moram ali. Decido esperar sentada na calçada, alguém chegar ou sair do prédio, quarenta minutos depois e nada. Inicio minha abordagem. Toco nos apartamentos e segue o diálogo.
    – Olá, tudo bem?
    – Quem fala?
    – Meu nome é Carolina Rubinato, sou jornalista de São Paulo, estou em uma jornada pelo Rio Doce, procurando as famílias de Bento que foram atingidas e tive a informação que estão morando neste prédio. Gostaria de conversar um pouquinho, saber como estão as dores e alegrias, você pode me ajudar?
    – Não conheço ninguém, faz um mês que estou morando aqui. Tu tu tu tu, desliga.

    Tento de novo em outro apartamento.
    – Olá, tudo bem?
    – Quem fala?
    – Meu nome é Carolina Rubinato, sou jornalista de São Paulo, estou em uma jornada pelo Rio Doce, começamos em Mariana e vamos até Regência, no Espírito Santo. Estou procurando as famílias de Bento que foram atingidas e tive a informação que estão morando neste prédio. Gostaria de conversar um pouquinho, saber como estão, as dores e alegrias, você pode me ajudar?
    – Tu, tu, tu, tu, desliga.

    Faço isso com os próximos oito apartamentos.

    “Gritei para todo mundo sair da casa e correr, não deu tempo de pegar nada,

    saímos correndo só com a roupa do corpo.

    Minha mãe não quis correr, ficou.”

    Todos que me atendem desconversam. Sinto que não conseguirei nada por ali. Há muito medo. Encaminho-me para uma casa parecida com um centro comunitário, chamada Comunidade da Figueira, resolvo entrar para ver se podem me ajudar.

    Ao entrar entendo onde estou, é uma escola para adultos com necessidades especiais. Converso com a coordenadora Solange Ribeiro dos Santos, que me autoriza a falar com dois alunos que moravam em Bento na época do crime, Sônia da Conceição Felipe, 39 anos e Elias Rocha da Conceição, 62 anos.

    A primeira pergunta que faço qual o sonho de vocês, a resposta da dupla vem de forma direta. “Voltar para Bento e ter qualidade de vida”. Para os atingidos há esperança de reconstrução do Distrito. Observo, escuto e absorvo as histórias, sinto dentro de mim o desespero de fugir da lama. Sônia morou desde pequena em Bento, como tem necessidades especiais frequentava a escola da Figueira em Mariana. No dia do acidente ela não tinha ido para a escola, estava em Bento com a mãe. Conta orgulhosa que ajudou a salvar a vida de três pessoas.

    Ouvimos um barulho muito forte e alto, parecia que o mundo ia acabar. Nesse momento fui até a janela ver o que estava acontecendo, olhei e fiquei chocada com o que estava vindo em nossa direção. Gritei para todo mundo sair da casa e correr, não deu tempo de pegar nada, saímos correndo só com a roupa do corpo. Minha mãe não quis correr, ficou. A mulher do Jaime, a Carminha, machucou o pé. Corremos o mais rápido que podíamos para o mato, ficamos na floresta em um ponto bem alto, olhando lá de cima a lama levar tudo, foram apenas cinco minutos para nos salvar”, relembra Sônia.

     

    Sônia da Conceição Felipe e Elias Rocha da Conceição, ambos moradores de Bento Rodrigues. Foto por Carolina Rubinato

     

    Na manhã seguinte um ônibus conseguiu entrar na comunidade e resgatá-los. A mãe de Sônia, Marcelina Xavier Felipe, 75 anos, não correu. Arrastada pela lama quebrou a bacia, mas conseguiu segurar em um abacateiro, foi resgatada por moradores e sobreviveu.

    Elias também conta sua história. No dia do crime ele estava na escola em Mariana. Nesse momento a Solange, coordenadora da escola se junta a nós, tem participação na história do Elias. “Elias e o irmão Raimundo estavam na escola. Acabou o dia e como é de rotina, coloquei os dois dentro do ônibus para Bento e retornei, foi quando recebi a notícia do rompimento da barragem de Fundão. Naquele instante meu coração bateu muito mais rápido, tentei falar com o motorista do ônibus, localizá-los de todas as maneiras possíveis. O Elias não tem uma necessidade acentuada, mas o irmão dele, o Raimundo precisa de ajuda, fiquei em desespero. Passei a noite em claro procurando pelos meninos em hospitais e na arena”.

    Nesse momento Elias entra na história com a sua parte.

    “Estávamos indo para casa quando o ônibus parou e mandaram a gente descer e correr.

    Corremos junto com um monte de gente sem saber o que estava acontecendo, a gente só corria.

    Dormimos no mato, tinha um monte de gente chorando, triste, procurando parentes.

    Foi uma noite de pesadelos”.

    Solange conta que no dia seguinte uma assistente social ligou, estava com dois homens com o uniforme da Figueira. Os meninos, como ela carinhosamente chama os irmãos, estavam vivos.

    Solange me dá o telefone de outra pessoa atingida. Ligo para a Mônica e marco de encontrá-la às 20h30, no intervalo da faculdade onde estuda Direito. Chego ao local combinado às 20h00, envio uma mensagem avisando que já estou lá. Mônica aparece e nos dirigimos à biblioteca. Simone fala baixo, com receio de ser ouvida, diz que estão sofrendo retaliações e preconceitos por uma parte da população de Mariana.

    Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues conta que às 16h00 recebeu uma ligação avisando sobre o rompimento da barragem. Pegou o carro e foi para Bento sem saber muito bem o que tinha acontecido. Mas não conseguiu passar, a estrada estava interditada. “Encontrei algumas pessoas na estrada que me disseram pra voltar que a lama tinha matado todo mundo. Entrei em pânico e comecei a chorar, não estava compreendendo nada direito. Foram 24 horas de terror. Passei a noite na estrada e só fiquei sabendo o que aconteceu quando clareou o dia e vi que não tinha mais nada em Bento, minha casa despareceu”.

    “Eu estava sem roupa, sem nada do que era meu, sem casa, sem chão.

    Ao anoitecer do dia seguinte ao crime, o Dr. Guilherme de Sá Meneghin, promotor público, conseguiu uma liminar

    que obrigava a Samarco a nos transferir para um hotel e

    depois de alguns meses conseguimos outra liminar que obrigava a empresa a pagar aluguel para todos,

    mas tudo isso só conquistamos por ações do ministério público.

    A Samarco só responde com pressão judicial”.

    Mônica também fala do preconceito e agressões que estão expostos em Mariana. Uma parte da população culpa os atingidos pelo fechamento da Samarco que domina financeiramente o poder público local e gere a massa de empregos na região. O algoz passa a ser aclamado pela população que se vê mergulhada no caos econômico. Mais um crime social cometido pela mineradora.

    “Todos os dias nós temos nossos direitos violados. As crianças de Bento são chamadas de pé de lama nas escolas e essa é só uma parte da hostilização a qual estamos expostos. Temos um cartão alimentação que recebemos como uma pequena parte da nossa indenização. Hoje temos receio de utilizá-los no comércio, pois muitas vezes nos tratam de forma agressiva. O nome do cartão é benefício, mas deveria ser chamado de cartão obrigação. Foi a Samarco que passou por cima de seres humanos para explorar cada vez mais. A Samarco construiu o risco em cima da gente, estávamos lá, já morávamos em Bento quando a empresa chegou”, completa Mônica.

    “Meu pai faleceu há muitos anos e as fotos que eu tinha dele a lama levou, nenhum dinheiro do mundo vai me dar isso de volta. A gente continua vivendo, mas o sentimento é o mesmo do dia 5 de novembro de 2015. Eu ainda sinto raiva, angústia, desespero, incerteza, ódio e muita raiva, infelizmente”.

    Mônica me fornece mais dois telefones de moradores de Barra Longa, cidade próxima a Bento Rodrigues que também sofreu grande impacto da lama química e me conta que 11 pessoas em Barra Longa estão contaminadas por metais. “Foi gente colher exame deles, sangue e fio de cabelo, o laudo ficou pronto já”. Escuto com atenção, anoto tudo.

    Faço uma última pergunta para a Mônica. O que ela acha sobre a Fundação Renova, uma instituição criada pela Samarco Mineração, com o apoio de suas acionistas Vale e BHP Billiton, após a assinatura do Termo de Transação e Ajustamento de Conduta proposto pelo Ministério Público, para criar, gerir e executar as ações de reparação e compensação das áreas e comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.

    Mônica responde:

    “Ela simplesmente existe para renovar o crime da Samarco”.

  • Mariana e a Síndrome de Estocolmo

    Mariana e a Síndrome de Estocolmo

    No dia 5 de novembro de 2015 o planeta Terra chorou a ganância do homem quando 60 milhões de metros cúbicos de lama química correram ao longo dos 700 km, entre o local da ruptura da barragem de Fundão e a foz do rio Doce, no Espírito Santo, causando danos ambientais e sociais irreparáveis para o Brasil.

    A jornada é pelo Rio Doce junto com o Eduardo Marinho – artista de rua e Isadora Zardin – fotógrafa, na Kombi chamada Celestina.

     

    Depois de 22 dias entre Maringá – RJ e Mariana – MG, com três paradas no mecânico, pois Celestina resolveu adoecer, três dias dormindo no Graal da Dutra com a Kombi quebrada, começa efetivamente uma jornada que me levará até a foz do Rio Doce, que deixou de ser doce para ser morto, em Linhares, no Espírito Santo. Uma investigação sobre os danos sociais e ambientais causados pela Samarco ao longo dos povoados que margeiam o rio.

    Dia 6 de Março, saio pelas ruas de Mariana, procuro sentir a cidade, entender as histórias e perguntar o que você sente em relação à Samarco. Surpreendo-me com as respostas, coitada da Samarco. Reflito. Como uma empresa pode receber um sentimento relacionado ao ser humano, como uma companhia especializada em mineração pode ser considerada coitada?

    Compreendo que o genocídio financeiro e cultural são as estruturas fundamentais para o processo de dominação de um povo. De acordo com Renato Cidrack, professor de história do Estado de São Paulo, “vivemos um sistema planejado e eficiente para adestrar, amansar, controlar e destruir”. Para chegar a esse trunfo é preciso também realizar a famosa lavagem cerebral. Entendo que em Mariana há uma ordem inversa, estou naquele local onde a culpa é da vítima, onde a síndrome do Estocolmo prevalece.

    Síndrome de Estocolmo é o nome dado para um estado psicológico particular em que uma pessoa, quando submetida à intimidação, passa a ter simpatia por quem a agride. São processos psíquicos inconscientes aliados a pequenos gestos gentis por parte dos agressores que fazem a pessoa não ter uma visão clara das ameaças. Situação típica em Mariana.

    A população local não fala sobre mineração. Quando abordados sobre o assunto Rio Doce, logo explanam sobre as dificuldades financeiras da cidade, a falta de emprego e a queda na economia. Vendas sutilmente colocadas nos olhos do povo local para que o medo prevaleça e os faça clamar, volta Samarco. Deixá-los financeiramente e emocionalmente instáveis são estratégias usadas pela mineradora. A diversificação econômica do município nunca foi levada em consideração pelos políticos locais, convenientes em servir aos interesses das multinacionais.

    Já os atingidos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo não falam muito, tentam passar despercebidos, há um entendimento que eles são os culpados pelas portas fechadas da Samarco, há acusações de que receberam mais do que tinham, como se micro-ondas, computadores ou aluguéis duzentos reais mais caros pudessem reparar as histórias levadas pela lama química.

     

    Uma parte da população culpa os atingidos pela drástica questão econômica que a cidade vive, não há entendimento que isso faz parte da estratégia de sobrevivência das mineradoras nas pequenas cidades. Minar qualquer outro tipo de fonte de renda e criar com o passar dos anos, a dependência econômica do município e a emocional da população, assim se tem um povo rendido à exploração travestida de caridade.

    A questão do silêncio é enorme por aqui, nem a universidade local se dá ao trabalho de envolver os universitários nas questões ligadas a mineração e as compensações ambientais e econômicas que deveriam ser de responsabilidade dessas exploradoras. Estudantes do curso de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP até fizeram uma publicação sobre o Rio Morto, mas não passou de uma edição especial da Revista Curinga, em 2016.

    Mineradoras não dão esmolas à população, elas desenvolvem uma atividade econômica onde se retira muito dinheiro, são mais de 500 anos escoando as riquezas do Brasil para outros países. Gerar emprego não é favor à população. As empresas precisam dos empregados para extraírem e explorarem as minas, mãos de obra são massas necessárias para que o corporativismo continue comprando o Brasil e seus políticos.

    Coincidentemente um levantamento feito pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, em 2015, mostrou que as mineradoras ocuparam o quarto lugar na lista de maiores doadores da penúltima campanha eleitoral, já que na última eleição foram proibidas as doações feitas por empresas.

    As primeiras posições são ocupadas respectivamente por companhias das áreas de alimentação, bancos e construções, juntas elas doaram R$ 32,7 milhões para os 15 partidos que disputaram uma vaga na câmara dos deputados por Minas Gerais, Pará e Bahia, as maiores especulações minerais do país. Vale ressaltar que somente a Samarco, responsável pelo maior dano socioambiental do Brasil, doou 22,6 milhões para políticos. Um jogo fácil de entender. Eu te coloco lá e você não me tira de cá.

    Pelas ruas de Mariana se vê a supremacia da exploração da Samarco marcada por um silêncio constrangedor.