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  • Damares ataca reportagem sobre aborto seguro recomendado pela OMS

    Damares ataca reportagem sobre aborto seguro recomendado pela OMS

    Não basta defender cadeia de no mínimo um ano para qualquer mulher que, simplesmente dona de seu corpo, queira interromper uma gravidez indesejada no Brasil. Não basta ignorar que uma brasileira morre a cada dois dias por complicações de abortos inseguros segundo o Ministério da Saúde. Não basta sequer fechar os olhos para a o fato de que são as mulheres pobres e vulneráveis que padecem nessas condições por aqui – o que transforma o procedimento seguro em mais um privilégio dos ricos. Em sua nova cruzada anti-feminista, Damares Alves, a ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, quer privar a população do acesso à informação confiável sobre como evitar os riscos de morte ou as sequelas de um aborto inseguro.

    Na sexta-feira, dia 20 de setembro, a ministra se pronunciou, pelo Twitter, contra a reportagem “Como é feito um aborto seguro?”, de autoria da repórter Helena Bertho, publicada na revista feminista digital AzMina, que também reproduzimos neste post dos Jornalistas Livres para difundir ainda mais o conteúdo. A matéria é fundamentada em informações públicas sobre os protocolos médicos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e conta como o procedimento foi realizado, a partir dessas diretrizes, pela estudante de direito Rebeca Mendes, 32 anos, em uma clínica na Colômbia, onde o aborto é legalizado.

    Pelo twitter, Damares chama de apologia ao aborto reportagem com as recomendações da OMC (reprodução)

    Realizamos o trabalho jornalístico de transmitir informações sobre saúde pública, de uma fonte confiável que é a OMS.” (Revista AzMina)

    Damares não gostou. Na rede social, avisou que encaminhou o caso às autoridades em uma denúncia. De acordo com a ministra, “liberdade de expressão é uma coisa. Isso aí é apologia ao crime e pode matar meninas e mulheres”. A ministra não mencionou, porém, que os dados da reportagem, assim como o procedimento realizado ou mesmo o nome de medicamento utilizado e a dose indicada para a colombiana Rebeca, são informações de acesso público e em português constam no documento “Abortamento seguro: orientação técnica e de políticas para sistemas de saúde”, como bem lembrou a revista. “Realizamos o trabalho jornalístico de transmitir informações sobre saúde pública, de uma fonte confiável que é a OMS.”

    Damares busca criminalizar o jornalismo e o ato de informar. Parece tentar usar o sistema penal e a máquina pública para impedir que pensamentos diferentes dos dela sejam divulgados” (André Lozano, mestre em Direito Penal, IBCCRIM)

    O documento de divulgação mundial foi criado para direcionar as políticas públicas nos países que permitem a interrupção da gravidez e conta orientação técnica para abortamento seguro que trata de tudo: desde os procedimentos para a interrupção até orientações sobre contracepção que devem ser dadas à mulher após o procedimento.

    A reportagem ainda explica que a colombiana tentou na Justiça o direito de fazer o procedimento no Brasil, mas teve seu pedido negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, por isso, buscou ajuda para fazer o aborto no exterior. “Na época, Rebeca tinha um emprego temporário, fazia faculdade com bolsa e já criava sozinha seus dois filhos. Sem condições para bancar a viagem, ela teve a ajuda de uma organização internacional”, esclarece a matéria, que além dos dados da OMS traz entrevistas com profissionais da área médica e investiga o contexto do aborto no Brasil.

    USO DA MÁQUINA PÚBLICA PARA CRIMINALIZAR O JORNALISMO

    Para o mestre em direito penal André Lozano, a reportagem deixa evidente que aborto, via de regra, é proibido no Brasil e explica as exceções e os procedimentos adotados para fazer o aborto legal por aqui. “O que a Damares busca é criminalizar o jornalismo e o ato de informar. Ela parece tentar usar o sistema penal e a máquina pública para impedir que pensamentos diferentes dos dela sejam divulgados”, diz o especialista, que é coordenador do laboratório de ciências criminais do IBCCRIM (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), centro de referência de ciências criminais que há 22 anos posiciona-se como entidade não-governamental, sem fins lucrativos, de utilidade pública e promotora dos Direitos Humanos.

    O mais correto, diz Lozano, é realizar “o arquivamento imediato da denúncia feita pela Damares, pois não há indício de crime”. Se houver investigação, esclarece, há a possibilidade de arquivamento após investigações ou oferecimento de uma denúncia pelo Ministério Público. “Nesses casos me parece que se estaria usando a máquina pública e os órgãos de persecução penal de maneira irregular, talvez um aparelhamento das instituições, como a polícia e Ministério Público, uma vez que quando não há indícios de crime não podem ocorrer investigações pois além de causar constrangimento ilegal a um cidadão, há gastos públicos injustificados.”

    Não é apologia ao aborto. É informação de saúde pública que já existe e está disponível, nós apenas organizamos.” (Helena Bertho, repórter AzMina)

     

    A repórter Helena Bertho levou dois anos para se preparar para a reportagem e, por sua vez, reitera que tudo o que está na matéria são recomendações da OMS sobre aborto seguro e também sobre como é feito o aborto quando é legal. “Quais são os procedimentos? E os remédios? As doses? Os efeitos esperados? Quais os sinais de alerta? Não é apologia ao aborto. É informação de saúde pública que já existe e está disponível, nós apenas organizamos.”

    Como era de se esperar, houve internautas que responderam à publicação com ameaças de processo e ofensas, e chegaram a divulgar dados pessoais de uma das mulheres da equipe. Sobre a denúncia de Damares, diz a revista, “está em seu direito, como qualquer cidadão, isso faz parte da democracia. Seguiremos fazendo jornalismo responsável e defendendo os direitos das mulheres.”

    Para saber mais:

    A Revista AzMina é um veículo independente, financiado por pessoas físicas e fundações que apoiam os Direitos Humanos. O ataque representa risco para a existência do veículo e abre mais um precedente contra a liberdade de toda a imprensa brasileira. Para ajudar, divulgue a reportagem , marcando AzMina nas redes sociais e seja um  apoiador da Revista.

     

    Como é feito um aborto seguro?

  • O #MamiloLivre (mamilaço) não liberta as mulheres

    O #MamiloLivre (mamilaço) não liberta as mulheres

    Vivemos em uma sociedade patriarcal que vê o corpo da mulher como algo do Estado e dos homens, mas nunca das próprias mulheres. Nossa sociedade é doente ao ponto de controlar e condenar a autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos. Mulheres são objetificadas e fetichizadas todos os dias e isso independe da forma com que estão vestidas. A cultura do estupro culpabiliza mulheres para camuflar os verdadeiros culpados por tais crimes: quem estupra.

    Mamilaço #MamiloLivre

    Ontem, 24, a revista AzMina lançou a campanha #MamiloLivre com a falácia da liberdade sexual e de exposição do corpo feminino. As criadoras da campanha, uma fotógrafa e uma psicóloga, dizem que o objetivo do movimento é questionar a censura ao corpo da mulher, que sempre tem que ser visto como “obsceno” ou “sexual”.

    Mas isso é mais do mesmo.

    A campanha serve aos homens e ao patriarcado, e não às mulheres. Nós vivemos diariamente sendo objetificadas e esse tipo de campanha apenas reforça o que já acontece: os homens continuarão sexualizando os corpos das mulheres. Não é estranho perceber que a campanha recebeu, de imediato, o apoio dos homens.

    comentários Mamilaço #MamiloLivre

    A campanha se revela parte da falácia da liberdade sexual quando alimenta a fantasia e o fetiche masculino sobre os corpos das mulheres.

    É sintomático que campanhas que colocam os corpos das mulheres à disposição dos homens ganhem tão rápido a mídia, e as pautas emergenciais, que as feministas gritam todos os dias, não apareçam nem em uma nota de rodapé. Não há interesse em falar sobre feminicídio, estupro, estupro marital, mulheres barriga de aluguel, sobre a estrutura de família que aprisiona mulheres, violência masculina (porque somente um dos gênero mata por misoginia e é o gênero masculino), maternidade, maternidade compulsória, heterossexualidade compulsória, lesbianidade e tantas outras pautas, que são ignoradas diariamente.

    O intuito do sistema patriarcal não é dar autonomia de suas vidas e corpos às mulheres, muito pelo contrário.

    Mamilaço #MamiloLivre

    O site da campanha diz que os seios não são o problema e sim a objetificação sexual que é feita deles, mas propõem uma campanha incentiva a objetificação. Com nenhuma responsabilidade, induzem meninas menores de idade a participarem da campanha (não há nenhum aviso no site que fale sobre nudez infantil, prevista como crime no art. 241-A da Lei nº 8.069/90).

    É simbólico que apenas os seios considerados bonitos sejam aprovados pelos homens apoiadores da campanha. Quando mulheres gordas ou idosas postam imagens no corpo nu, são hostilizadas e ridicularizadas pelos mesmos homens que gritam apoio ao #MamiloLivre. É curioso também lembrar que mulheres mães são condenadas, julgadas e proibidas de amamentar seus filhos em público porque consideram algo impróprio.

    Uma sociedade que condena uma mulher que amamenta uma criança, mas incentiva meninas adolescentes a tirarem suas blusas é, no mínimo, machista e misógina. Em nenhum momento a preocupação é com as mulheres e com os direitos que elas não tem, e sim sobre como os homens vão se aproveitar de tal ato.

    Mamilaço #MamiloLivre

    A sociedade sempre “aceitou” nossos corpos, ou melhor dizendo, usou. Eles estão nas embalagens de bebida alcoólica, nas propagandas de cerveja, nos filmes pornôs e nas revistas para o publico adulto. O capitalismo usa nossos corpos há muito tempo. O corpo feminino está exposto nas novelas, revistas, portais, filmes, outdoors e todo tipo de propagada. Nosso corpo não passa de uma mercadoria aos olhos do capitalismo.

    E aí, pra quem serve o mamilaço? Você, mulher, se sente dona do seu corpo sabendo que um homem está se aproveitando da tua falsa sensação de liberdade como estimulo sexual? Conta pra gente!