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  • PM: “ É quase certeza que a reintegração ocorrerá”

    PM: “ É quase certeza que a reintegração ocorrerá”

    Boa parte dos moradores da ocupação são crianças. Foto: www.mediaquatro.com

    A reintegração de posse do Glória, área pertencente à Universidade Federal de Uberlândia onde vivem 2.350 famílias há cinco anos, se torna cada vez mais próxima aos olhos da Polícia Militar. Porém, mesmo com o planejamento pronto e a verba necessária depositada à PM, a intervenção ainda não ocorreu. O Major Julio Cesar Cerizze Cerazo de Oliveira, assessor de Comunicação Organizacional da 9ª RPM (9ª Região de Polícia Militar), explicou o motivo desta ação ainda não ter acontecido em entrevista exclusiva ao blog Glória em Foco.

    “O processo de reintegração de posse não é simplesmente o uso de força policial para reaver o terreno ocupado. Ele envolve uma série de negociações que inclui reuniões com o Ministério Público, órgãos de defesa dos direitos humanos e dos sem teto, a Pastoral da Terra, a Promotoria e os próprios moradores”. Segundo o Major, o avanço do processo depende das negociações e prazos estabelecidos nesses encontros.

    Ele ainda afirma que a área do campus Glória da UFU não é um assentamento. “Tecnicamente, por enquanto é uma invasão. Vira assentamento depois que o governo compra a área e a distribui em forma de lotes”. Apesar disso, o dicionário Aurélio apresenta outra descrição: “Ato ou efeito de fixar-se, de estabelecer residência em determinado lugar”.

    O chamado “Triângulo do Glória” limitado abaixo por um campus da UFU, à esquerda pela antiga ocupação e hoje bairro São Jorge e ao fundo os bairros centrais de Uberlândia. Foto: www.mediaquatro.com

    Oliveira declara também que a parte mais complexa desta ação já foi realizada. “Realmente houve o depósito dos R$ 7,4 milhões para custear a operação, e isso era o mais difícil de ocorrer. Então eu quero acreditar que a ordem judicial será cumprida, pois já são dois anos de negociação e ninguém conseguiu entrar num consenso. Tenho quase certeza que a reintegração vai acontecer”. Como fins da verba citada, ele cita a munição, o transporte, a alimentação e o combustível, além de hospedagem para as possíveis tropas vindas de fora da cidade.

    “O planejamento para a operação já está pronto desde 2014. Por isso, o valor depositado pela UFU pode não ser suficiente para custeá-la. Houve aumento do número de pessoas no local, então precisaremos aumentar a quantidade de policiais, de viaturas, de armamento para fazer frente ao tamanho que hoje está a invasão do Glória ”, declara Oliveira.

    Para o Major, há também perigo de fatalidades no caso de um confronto com os moradores do local. “Quem vai determinar o tipo de abordagem que vai ocorrer são as pessoas que moram lá. A Polícia Militar estará preparada para o que for necessário. De acordo com a reação que ocorrer por parte dos moradores, vamos responder à altura”. Ele também afirma que, no planejamento, a polícia já faz uma previsão do pior dos cenários, com 40 mortes (10 soldados e 30 civis). Por este motivo, existe um plano de uso de ambulâncias e de transporte aéreo para feridos graves. Além disso, é feito um contato prévio nos hospitais próximos.

    Praticamente todas as mais de 2.350 casas da ocupação são de alvenaria e os moradores continuam construindo mais. Foto: www.mediaquatro.com

    Quanto aos bens da população, Oliveira afirma que, por ser uma área federal, provavelmente a UFU colocará à disposição mão de obra, equipamentos e um local para manter os pertences dos moradores, no entanto não há qualquer manifestação da reitoria nesse sentido. “No caso de uma área particular, o proprietário é quem geralmente banca estes custos. Como é uma área federal, quem deve acolher estas pessoas deve ser a própria universidade”. Ainda assim, em documento expedido no dia 13 de fevereiro deste ano, a procuradoria de Uberlândia afirmou que a universidade não tem competência para realizar um plano de desocupação considerando o número atual de habitantes do terreno.

    Quando perguntado sobre a possível substituição da área pela Fazenda do Capim Branco, localizada na zona rural de Uberlândia, o oficial foi incisivo. “Não existe troca de área pública. O governo não pode doar esta área porque não pertence a ele, é público. É como achar que o prefeito pode dar uma praça para alguém. A UFU é pública, por isso não se pode ficar trocando ou cedendo espaço para outros. Se fosse uma área particular, seria diferente”. É importante lembrar que, apesar da afirmação acima, houve uma série de negociações para a troca do terreno com a UFU, mesmo havendo certo prejuízo. Enquanto a área do Glória é avaliada em cerca de R$ 65 milhões, a do Capim Branco tem valor de 58 milhões de reais.

    Foto: www.mediaquatro.com

     

  • Assentamento Glória enfrenta ameaça de despejo

    Assentamento Glória enfrenta ameaça de despejo

    Uma das maiores ocupações urbanas do Brasil, na periferia de Uberlândia, teve 5º pedido de reintegração de posse emitido pela justiça mas não foi realizada. Governo golpista pode desalojar 2.300 famílias a qualquer momento.

     

    Desde o final de 2011, 50 famílias, várias despejadas de outra ocupação, começaram a montar alguns barracos em uma grande área na periferia de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, pertencente à União e destinada a um novo campus da Universidade Federal de Uberlândia. No ano seguinte, 120 famílias ligadas ao Movimento dos Sem Teto do Brasil (MSTB) se juntaram às iniciais e fundaram a Ocupação do Glória, também chamada então de Paulo Freire. Hoje são cerca de 15 mil moradores na área que tem ruas demarcadas, lotes numerados, casas de alvenaria, igrejas, pequeno comércio e recebe o nome oficial de bairro Élisson Pietro.

    Foto por Luiz Alberto Júnior
    Foto por Luiz Alberto Júnior

    Para evitar uma tragédia como o Pinheirinho, em São José dos Campos, São Paulo, a UFU e a Prefeitura de Uberlândia entraram num entendimento de doação de um outro terreno para a universidade em permuta com o da ocupação. Entretanto a Secretaria de Patrimônio da União teria recusado o acordo por conta do valor do terreno ofertado pela prefeitura, que seria menor do que o do campus Glória, e entrado na justiça pedindo a reintegração de posse.  Segundo o advogado dos assentados, Higino Marcos, o imbróglio jurídico deveria ter se encerrado em março desse ano, a partir de um acordo entre as partes. Mas a justiça emitiu em abril uma nova ordem de despejo, a 5ª em quatro anos, para execução em 10 dias. Esse prazo já se encerrou e com a tomada pelo poder do governo golpista de Michel Temer, os assentados estão novamente com a espada sobre as cabeças.

    Foto por Luiz Alberto Júnior
    Foto por Luiz Alberto Júnior

    O documentário Faces do Glória, produzido em 2015 por alunos do curso de jornalismo da UFU, mostra a realidade da comunidade e retrata a sua identidade através de depoimentos dos próprios moradores sobre as dificuldades enfrentadas, a marginalização do movimento de luta pela terra e as perspectivas para o futuro em busca da conquista do seu espaço e direitos básicos. Conheça a realidade de um movimento muito estigmatizado, estereotipado e invisível aos olhos da sociedade.

    Produção, edição e finalização do vídeo:  Ana Luiza Figueiredo, Emilio Andrade, Halyson Vieira, Isabela Silveira, Isadora Puríssimo, Iury Machado e Luiz Alberto Júnior

    Orientação acadêmica: Profas. Diva Silva e Christiane Pitanga