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  • TJMT manda despejar 100 famílias pra satisfazer grileiro

    TJMT manda despejar 100 famílias pra satisfazer grileiro

    Em controversa decisão, Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso acata pedido de despejo contra 100 famílias do Pré-Assentamento Boa Esperança, em favor de grileiro. Na área, reconhecidamente da União, vivem mais de 300 pessoas, entre elas, 65 crianças e 22 idosos. Em nota, organizações pedem que decisão seja revista pelo Desembargador e processo enviado para a Justiça Federal de Sinop, que tem competência para julgar ações que tratam de bens da União, como no caso da Fazenda Araúna.

    Confira nota na íntegra:

    NOTA PÚBLICA – Grilagem de terra e violência no campo correm soltas com apoio do Tribunal de Justiça De MT

    “Mas vocês não têm olhos nem coração, a não ser para o seu lucro, para derramar sangue inocente e para praticar a opressão e a violência. (Jr 22, 16-17).”

    A Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Regional Oeste 2, vêm denunciar a situação de grilagem de terras da União e violência contra as famílias do Pré-Assentamento Boa Esperança, município de Novo Mundo, Região Norte de Mato Grosso, desta vez com decisão do Tribunal de Justiça de MT.

    Trata-se da área da Fazenda Araúna, que possui mais de 14.700 hectares, localizada no município de Novo Mundo (MT), terra comprovadamente da União, conforme sentença da 1ª Vara da Justiça Federal de Sinop, na Ação Reivindicatória nº. 0005891-77.2009.4.01.3603, que reconhece e declara “a propriedade da União sobre o imóvel denominado Fazenda Araúna, com extensão de 14.796,0823 (catorze mil, setecentos e noventa e seis hectares, oito ares e vinte e três centiares)”, decisão confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em dois recursos impetrados pelo grileiro Marcello Bassan.

    Recebemos com surpresa e indignação a decisão do Desembargador Sebastião Barbosa Farias, da Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de MT, que acatou pedido de Revigoramento de Liminar do grileiro Marcelo Bassan, mandando despejar as 100 famílias do Pré-Assentamento Boa Esperança. Em 4.500 hectares da área estão vivendo mais de 300 pessoas, entre elas, 65 crianças e 22 idosos, cada família em seu lote, criando pequenos animais e iniciando suas plantações.

    As 100 famílias que são acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra-CPT/MT e pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra-FDHT/MT, viveram mais de 15 anos acampadas às margens da estrada e da fazenda e, em março deste ano, reocuparam parte da área onde já haviam morado por quase dois anos. Tomaram esta atitude após o Superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-MT) se negar a receber a posse da área, para então assentar as famílias.

    As atitudes tendenciosas do Superintende do Incra-MT foram denunciadas à Procuradoria Federal do Cidadão-Ministério Público Federal (PFDC-MPF), que emitiu o parecer nº PGR-00080259/2020, e, com base na Auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no Programa Terra Legal, que resultou no Acórdão/TCU nº 727/2020, afirma que “a postura da Superintendência do INCRA no Mato Grosso se enquadra justamente nesse cenário de renúncia de receita e não destinação constitucional a terras públicas.”, e que as ações do superintendente indica “uma omissão deliberada no dever de garantir a proteção daquele patrimônio, a ser investigada pelos órgãos com atribuição em combate à corrupção do MPF.”.

    Em 27 de junho do corrente ano, o Desembargador Sebastião Barbosa Farias havia revogado sua decisão inicial de despejar as famílias, alegando que “sobreveio juntada de petição da Advocacia Geral da União, anunciando que a União tem interesse em ingressar na lide perante o juízo “a quo”, com pedido de remessa dos autos à Justiça Federal”, razão pela qual, “a manifestação da União dá guarida às ponderações do juízo “a quo”, na decisão agravada”, decisão esta que havia negado o revigoramento da liminar para despejar as famílias.

    O magistrado afirma na decisão de 27 de junho que “há de se levar em consideração notícias de intenso confronto entre as partes, em região na qual estão instaladas muitas famílias, inclusive com crianças.”, e que o momento não se mostra razoável para a retirada de tantas famílias da região, em meio à pandemia, pois sem dúvida colocam em risco as famílias que ocupam a área.”.

    Contudo, no final do dia 10 de julho, o Desembargador voltou atrás em sua decisão, acatando acusação infundada do Grileiro Marcello Bassan, de que a Advocacia Geral da União (AGU) levantou falsas premissas no processo quando requereu seu ingresso na ação. E mais, que “na decisão anterior, deixei de ponderar quanto às questões humanitárias, a vida dos trabalhadores da fazenda que lá já encontravam com suas famílias, inclusive com crianças, que estão sofrendo frequentes ameaças e violência”, fatos que não condizem com a realidade encontrada no local, posto que as 100 famílias acompanhadas pela CPT-MT e pelo FDHT/MT, não ocuparam a sede da área e não estão ameaçando a vida dos trabalhadores como alegado, mesmo porque na sede da área não existem famílias, mas um única família, e com uma criança, no mais são jagunços contratos pelo grileiro.

    Mais do que mandar despejar as famílias o Douto Julgador, que deveria fazer valer a Justiça, mandou que o despejo seja efetuado IMEDIATAMENTE, desconsiderando toda a situação de pandemia vivenciada pela população brasileira, não observando as orientações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as próprias determinações do Tribunal de Justiça de MT, da Portaria Conjunta nº 399, de 26 junho de 2020, que prorroga até o dia 17 de julho de 2020, data esta que deve sofrer nova prorrogação frente à gravidade da situação de pandemia no estado, a decisão de não serem praticados atos presenciais, mais ainda quando envolve aglomeração de pessoas em situação de vulnerabilidade, como é o caso das 100 famílias.

    Questionamos o que mudou na situação de pandemia nos últimos dias? É fato notório que a situação se agravou, e isso não foi levado em consideração pelo julgador ao reconsiderar sua decisão inicial e determinar o despejo das famílias.

    Quanto à realização de despejos em tempos de pandemia, o relator da ONU para o direito à moradia adequada, Balakrishnan Rajagopal, pediu no último dia 9 de julho, que o Brasil acabe com todos os despejos durante a crise da COVID-19, afirmando que “O Brasil tem o dever de proteger urgentemente todos, especialmente as comunidades em risco, da ameaça do COVID-19”, e que Despejar as pessoas de suas casas nessa situação, independentemente do status legal de sua moradia, é uma violação de seus direitos humanos.

    Na decisão o magistrado alega que “é fato notório a truculência costumeiramente empreendida pelos integrantes do MST”, revelando a predisposição em criminalizar a luta pela terra feita pelo movimento social. Ocorre que nos autos existe petição da Comissão Pastoral da Terra-MT e do Fórum de Direitos Humanos e da Terra-FDHT-MT, afirmando que as 100 famílias do Pré-Assentamento Boa Esperança são acompanhadas por estas entidades há mais de 15 anos.

    Ainda, esta decisão de despejar as famílias, contraria parecer do Ministério Público Estadual de Mato Grosso, de Primeiro Grau e de Segundo Grau, posto que ambos, opinaram pelo INDEFERIMENTO do revigoramento da liminar. Esta mesma decisão do TJ MT revoga a decisão do juízo da Vara Agrária, que indeferiu o revigoramento da liminar, para com isso não despejar as famílias.

    Esperamos e apelamos ao Judiciário de Mato Grosso que reveja esta decisão, para manter as famílias em suas casas, e ao governo do estado que tenha o bom senso de não disponibilizar meios para que esta decisão INJUSTA e totalmente contrária ao que determina o ordenamento jurídico vigente, caso seja mantida, não seja cumprida enquanto perdurar a situação de pandemia que assola severamente todo país.

    Diante disso, mais uma vez reafirmamos a responsabilidade do Tribunal de Justiça de MT, do Estado de Mato Grosso e do Incra, pela perpetuação da grilagem de terras no estado e a consequente violência contra as famílias e cobramos medidas URGENTES para garantir a permanência das famílias na área ocupada e de direito, bem como que esta decisão seja revista pelo Desembargador e o processo enviado para a Justiça Federal de Sinop, que tem competência para julgar ações que versam sobre bens da União, como no caso da Fazenda Araúna.

    Goiânia – Brasília, 15 de julho de 2020.

    Comissão Pastoral da Terra (CPT)

    Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM)

    Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – Regional Oeste 2

     

    Mais informações:

    Assessoria de Comunicação – CPT Nacional

    Cristiane Passos (62) 99307-4305

    Mário Manzi – (62) 99252-7437

    Matéria original em: https://cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/conflitos-no-campo/5271-nota-publica-grilagem-de-terra-e-violencia-no-campo-correm-soltas-com-apoio-do-tribunal-de-justica-de-mt

  • Vitória na luta pela terra em Fronteira, Minas Gerais

    Vitória na luta pela terra em Fronteira, Minas Gerais

    COMUNICADO
    No dia 24 de outubro de 2017 seria cumprido mandado de reintegração de posse, na fazenda denominada Pântano, na cidade de Fronteira/MG. A reintegração de posse deveria ser cumprida contra integrantes do Acampamento Beira Rio, movimento este de luta pela terra, moradia e reforma agrária. Atualmente 25 (vinte e cinco) famílias ocupam a fazenda, atribuindo a terra a sua devida função social, pois, todos residem no imóvel, produzem alimentos orgânicos e respeitam o meio ambiente. O mandado de reintegração de posse foi expedido pelo Juiz da Vara Agrária de Minas Gerais, em uma ação de reintegração de posse movida por Destilaria Rio Grande S/A, que se diz proprietária do imóvel rural reivindicado (Ler aqui). O mandado de reintegração de posse veio para a cidade de Frutal através de Carta Precatória, caberia então ao Juiz da Comarca determinar somente o cumprimento da reintegração.
    A iminência de um conflito era evidente, já que ocorreria um despejo compulsório, violento e sem nenhuma garantia de respeito aos direitos fundamentais das pessoas que ocupam o local, por isso, a pedido da defesa do Acampamento Beira Rio, nos autos da Carta Precatória foi realizada uma audiência de conciliação, no dia 19 de outubro de 2017, para elaboração de um plano de desocupação.

    O plano de desocupação elaborado na audiência, nitidamente, violava os direitos fundamentais dos desalojados, já que estabeleceu: a) que os bens móveis das pessoas desalojadas seriam encaminhados para um galpão do Município de Fronteira que possui área coberta de somente 160 m², pelo prazo de 60 (sessenta) dias; b) a Polícia Militar informou que faria o transporte de todas as pessoas desalojadas; c) ficou determinado ainda que, as famílias que possuem parentes em Fronteira, serão transportados para o local indicado; d) por fim, ficou determinado que as famílias que não possuem local para irem após o despejo, seriam instaladas na quadra poliesportiva “Blair Mendonça”, na cidade de Fronteira, e lá permanecessem pelo prazo máximo de 48 horas, quando então deveriam ser retiradas, sob pena de imediata de desocupação forçada.

    Diante da evidente violação dos direitos dos assentados, membros do movimento acompanhados do advogado de defesa, compareceram a Belo Horizonte para tentar solucionar o problema e garantir, no mínimo, uma desocupação que respeite os direitos humanos e fundamentais dos assentados.
    O Juiz da Vara Agrária de Belo Horizonte, indeferiu todos os pedidos feitos pelo Acampamento Beira Rio, acatando apenas o pedido de não demolição das edificações, bem como não destruição das lavouras.

    Na segunda feira, um dia antes da desocupação, ante a movimentação de policiais e a tensão instaladas no assentamento, em razão da criminalização e desejo das alas mais conservadoras da cidade em ver membros do movimento despejados, foi necessária a impetração de um mandado de segurança visando garantir os direitos fundamentais das pessoas que seriam atingidas pela reintegração.

    Na ação de mandado de segurança, foi feito um pedido liminar com os seguintes argumentos: que a reintegração forçada sem um plano concreto de desocupação viola o direito à moradia, já que os assentados estabeleceram moradia na área ocupada; colocaria em risco todas as famílias desalojadas, pois, estariam em condições de sub emprego, degradantes e desumanas; que a desocupação nas condições estabelecidas pela Juíza da Comarca de Frutal, viola a dignidade humana, aumenta a pobreza e a marginalização, as desigualdades sociais.

    O mandado de segurança foi distribuído no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte, na segunda feira e, por consequência, em razão da gravidade dos fatos narrados na ação o Desembargador Relator do Mandado de Segurança concedeu medida liminar para suspender a reintegração de posse marcada para o dia 24 de outubro de 2017, até que se elabore um plano de desocupação adequado ao reassentamento das famílias.

    Além disso, o Desembargador ainda mencionou em sua decisão que as famílias devem se assentadas em imóvel que lhes permita continuar a desenvolver as atividades rurais. Foi mencionado ainda na decisão que a desocupação da forma como ocorreria poderia ocasionar um conflito e até mesmo uma tragédia.

    Vale lembrar, que desta decisão cabe recurso, bem como que a pressão exercida pela elite dominante de Fronteira, junto com a PM e a suposta proprietária da terra aumentou, já que as perseguições e arbitrariedades aumentaram, tempos difíceis virão, mas a luta segue sem baixar a guarda.
    Ocupar, distribuir, produzir, resistir. Reforma Agrária Já….

  • “Para nós, governos de direita sempre significaram bala, chumbo e sangue”

    “Para nós, governos de direita sempre significaram bala, chumbo e sangue”

    Márcio José dos Santos, do assentamento Luiz Beltrame do MST em Gália-SP, militante do MST desde os 12 anos de idade, conta um pouco de sua trajetória no MST e por que estava no ato do dia 31 de março contra a tentativa de golpe parlamentar em curso no Brasil.

    Para ele, sua presença no ato se deu não por um caso de amor ao governo, mas sim devido o receio que o mesmo tem com relação ao avanço dos fascistas na politica brasileira, uma vez, que de acordo com sua vivência, os governos de direita sempre tiveram por características de tratamento com o MST “bala, chumbo e sangue”.

    Apesar de não estar satisfeito com a politica de reforma agrária do PT, para ele permitir aos fascistas avançarem pode significar grandes perdas para a democracia e direitos sociais.

    #BrasilContraOGolpe