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  • O dia em que o circo chorou

    O dia em que o circo chorou

    Um relato sobre Matias Ziatriko, uruguaio cruelmente assassinado em Rondônia.

    Era 08h horas da manhã, do sábado (8 de abril) e ele estava contente. Conversando sobre política e outras questões da vida nas ruas num posto de gasolina na região norte do Brasil, Matias acabou irritando um jovem, que estava passando de carro no local. A discussão terminou com 10 tiros a queima roupa e o assassinato intolerante e xenofóbico do uruguaio, que viajava trabalhando com a arte circense pelo Brasil e pela América Latina.

    A artista Samira Lemes, que têm ajudado a família a conseguir os recursos para levar Matias ao Uruguai, conta que ele era um jovem de muita paz e serenidade, e servirá de inspiração para  muitos. “Ele semeava amor. E temos que mostrar que esses artistas de rua são os anjos do mundo. São os ‘busca vidas’. Se doam para mudar essa realidade do mundo.”

    Filho de família humilde, ele perdeu a vida aos 29 anos em Ji-Paraná, enquanto falava sobre ser artista de rua, profissão da qual conheceu já adulto, após ter trabalhado em muitas outras e ter descoberto e aperfeiçoado seu dom ao longo dos últimos 10 anos. Neste momento, eles tentam o traslado de seu corpo e toda ajuda é bem vinda. Samira têm feito esforços para que seja possível enterrá-lo em seu lar e contribuições podem ser feitas através da conta dela no Banco Itaú (Agência 1538 / Conta Corrente: 56996-1) .

    Porém, este texto não é sobre o ódio e a intolerância crescente, e sim um tributo de força às artes. As palavras derramadas aqui são para combater o esquecimento. Para que a memória de Matias se espalhe pelos quatro cantos do país e seja lembrada, para que a história nunca mais se repita. Hoje somos circo, somos povo, América Latina, e é o nosso sangue que escorre pelas ruas de Ji-Paraná. Que a arte vença o ódio!

    Abaixo, mensagens anônimas de homenagens feitas pelos amigos de Matias, que foram coletadas e cedidas por Samira, e o manifesto sobre o caso:

     “Morto por ser artista independente, morto por trabalhar na rua, julgado por ser a rua o seu palco, ganha um tiro no peito por não aceitar que digam que a arte de rua não é arte”

    Foto: Samira Lemes

    “Matias, pessoa humilde, um malabarista excepcional, perdeu a vida pela intolerância, pela ignorância, pelo conservadorismo, pelo julgamento, por um indivíduo que sacou uma arma e atirou 10 vezes, indivíduo esse que lhe disse que malabarista de rua não é artista, indivíduo que fugiu em seu Corolla prata, indivíduo que provavelmente apoiou seu julgamento em projetos de lei que proíbe a livre atuação do artista na rua, que marginaliza e descredibilizada o nosso papel na arte! Quem perde são os familiares, são os amigos, são os artistas que o admirava, são as crianças que não vão mais ver suas habilidades, é essa sociedade doente que julga e mata! Dói, dói pensar que nossa luta não pode impedir que aquele gatilho fosse puxado, dói saber que a cada sinal fechado uma pessoa pode estar nos julgando e menosprezando algo que poderia ser a salvação dessa sociedade patológica, dói pensar no medo que sentimos do que serão nosso dias, assombrados por hoje, dia que se vai um colega, uma referência de artista, uma esperança de um mundo melhor…. Dói!!! Luto!!!” 

     

    “Hoje recebi a infeliz notícia do assassinato de um grande amigo nosso. Nosso porque ele jamais seria pessoa para se fazer referência assim no singular: “meu”, “teu”, “dele”. Um artista de rua que cativava as pessoas com a sua risada solta, a sua simplicidade incorporada e a sua conversa boa. Amava a arte, assim como amava levar esta para o mundo. Por estas motivações escolheu a rua como o seu palco, o cidadão comum como seu público. Os intervalos do semáforo era o tempo suficiente para o encanto da sua arte contagiar. Amava as crianças e sempre que podia estava perto delas, levando um pouco da sua alegria, da sua espontaneidade e também da sua criatividade.

    Ontem, Matias, foi assassinado por mais uma destas pessoas intolerantes à arte, intolerantes ao amor, intolerantes a qualquer modo de pensar e viver fora deste padrão consumista comandado pelo capital. Que Deus, olhe com amor para as pessoas que incentivam e cometem os crimes de intolerância. Somos uma sociedade doente. E enquanto não pararmos para compreender as razões disto jamais estaremos aptos para dar um passo a frente na transformação moral(cívica) da humanidade. Estamos todos doentes enquanto humanidade e nos entupimos de armas, de remédios, de ódio, de inveja, de orgulho, de vaidade, de comida, de roupas, de sapatos, de imagens, de egocentrismo, de comida, de revistas, de falsas verdades que são comprovadas pela ciência e atestada pelo médico, pelo psiquiatra ou mesmo pelo jornalismo barato que diariamente adentra a nossa casa.

    Radical é este mundo que tem seu maior lucro na indústria armamentista. O segundo maior lucro na indústria farmacêutica. O terceiro maior deve ser do ramo dos agronegócios ou da exploração energética. Todos estes ramos muito bem polidos e apresentados pelo marketing midiático. Estamos radicalmente doentes, mas quem se importa com isto? Ninguém se importa, porque sempre estamos aptos a criticar o colega ao nosso lado e jamais em reformar o nosso ego inflado. Não acredito em discursos radicalizados sejam de esquerda ou direita. Não quero saber de falatório de coxinhas e tão pouco de mortadelas. Matias, presente!

    “Acredito em práticas individuais. Acredito no coração que pulsa ardente dentro deste nó no peito. Porque em todo coração existe uma o razão em ação. Um dia quem sabe, todos nós, consigamos ser mais estas mudanças que gostaríamos de ver no mundo.”

    “Hoje recebi umas das piores notícias que alguém pôde receber; um amigo morreu. O primeiro que qualquer um ia pensar é “porque?” Mas a galera já tá ligada das injustiças da vida. Matias Galindez morreu ontem 8 de abril de 2017 nas mãos do Thiago Fernandez num posto da cidade de Ji-Paraná. Aos 29 anos, Matias já tinha conhecido muito da nossa Latinoamerica, faz mas de 7 anos que ele viajava e os últimos anos esteve pelo Brasil, o mesmo Brasil que viu ele soltar o ultimo respiro. Ele foi mais do que um amigo, foi companheiro, lutador da vida, um filho, um irmão, sem dúvida um artista e acima de tudo uma grande pessoa.  Era só mais um dia de trampo onde ele falava com um parceiro do “que é arte na real?” fazendo com que alguém que passava lá se achasse com o direito de atirar dez vezes contra ele só por ter uma opinião diferente, e fugir. Foi na normalidade do dia a dia onde alguém acha que pode tirar a vida de mais alguém sem se-sentir culpado, por ser quem ele era, viver como vivia, fazer o que fazia, arte na rua. O circo do mundo inteiro ta de luto hoje, foi embora um amigo, companheiro, um grande mesmo. Me dói a nossa humanidade. Até a próxima irmão, valeu.”

    Manifesto latinoamericano e internacional sobre o caso, em espanhol:

     

    ” El 8 de abril, Matías Galindez Rodríguez (Matías Ziatriko), malabarista y viajero uruguayo de 29 años, conversaba con un amigo sobre lo que es SER ARTISTA CALLEJERO. Ambos se encontraban en una estación de servicio en Ji-Paraná, Rondonia, Brasil, cuando THIAGO FERNANDES, que pasaba por ahí, intervino en la misma alegando que los malabares no son arte. Posteriormente THIAGO FERNANDES sacó un arma y disparó 10 VECES A QUEMA ROPA contra Matías, huyendo en un auto Corola color plata. Matías, fue socorrido por los bomberos y llevado al hospital en donde su vida se apagó.

    THIAGO FERNANDES de 19 años, quien actualmente se encuentra prófugo, es hijo de dos grandes autoridades del lugar y ya ha cometido otros asesinatos. Ante la corrupción y el abuso constante de autoridad que vivimos diariamente, nuestra palabra no tiene peso, nuestro camino no vale, nuestra elección no es valida, nuestra opinión no cuenta.

    A pesar de nuestra innegable presencia en las calles, en las plazas, en los parques de toda latinoamerica se nos siguen marginando, prohibiendo, reprimiendo. Hoy es triste decirlo pero defender la bandera del arte callejero te puede costa la vida. A Matías se lo llevó esa intolerancia encubierta de civilidad. Vivimos en un mundo absurdo en que Es mas dificil conseguir un permiso para ejercer el arte en la via publica que comprar un arma y de sentirse con la autoridad de disparar a cualquiera que piense y viva diferente.

    Somos conscientes que a Matías se lo llevo el odio: el odio a la libertad de poder elegir un modo de vida alternativo, autónomo, y anti sistema que nutre de sueños, de pasiones, de desafios. Asi es la vida de los artistas callejeros. Es una lucha constante. Es la paradoja entre saber lo que generamos, la sorpresa de un niño, la sonrisa de un anciano y ese odio que se engendra en la ignorancia de quienes nos tildan de vagos y desempleados por tener una idea diferente de lo que es el buen vivir.

    ALGO DEBE QUEDAR BIEN CLARO A MATIAS LO ASESINARON violenta e impunemente por defender lo que eligió ser: Un artista callejero que entiende el arte como herramienta de transformación, como un derecho intrínseco en los seres humanos, como algo que debe ser accesible para todos. Desde toda Latinoamérica, Europa y el mundo exigimos JUSTICIA PARA MATIAS. Que su muerte no quede impune y quien apagó su vida pague por sus acciones ante las leyes humanas, pues sabemos que la sabiduría del universo le devolverá sus acciones.

    Como artistas callejeros, como viajeros, como ciudadanos del mundo que somos exigimos ser respete un estilo de vida que no solo trasciende frontera sino que es patrimonio cultural de los pueblos. Siempre hemos existido. Luchamos día a día por reinvidicar nuestro rol en la sociedad. Nos resistimos a formar parte de este sistema capitalista/patriarcal de odio, violencia y sometimiento que adoctrina día a día a través de los medios de desinformación.

    Los artistas callejeros RESISTIMOS desde el semáforo, desde un ruedo en la plaza, desde una ocupación, desde el humor, desde la colaboración voluntaria a la gorra, desde la autogestión y desde la organización colectiva y cooperativa.

    Desde el arte callejero creemos, así como lo creía y vivía Matías, que una sociedad tolerante, inclusiva, amorosa y libre de prejuicios es posible. Hacemos un llamado a las autoridades pertinentes: Consulado, Cancillería, Ministerio de Relaciones Exteriores y a todos los que puedan contribuir de alguna manera a que se haga justicia. Hasta ahora sabemos que la madre y el hermano están en Ji-Paraná haciendo las averiguaciones para el traslado del cuerpo a su país. BASTA DE PREJUICIO Y REPRESION POLICIAL CONTRA LOS ARTISTAS CALLEJEROS DESDE SIEMPRE EN LAS CALLES DEL MUNDO LARGA VIDA AL ARTE CALLEJERO.”

    Foto: Samira Lemes

     

  • Assassinato do presidente do PT em Mogeiro (PB)

    Assassinato do presidente do PT em Mogeiro (PB)

    Centenas de pessoas de Mogeiro (PB) e do agreste paraibano participaram na manhã de hoje da missa de corpo presente de Ivanildo Francisco da Silva, presidente do PT na cidade e assentado da reforma agrária. Ele foi assassinado na noite de quarta-feira (6/4) em casa, com um tiro de revólver e outro de espingarda calibre 12 na cabeça, diante da filhinha de um ano e meio.

    A pequena Mogeiro tem 13.349 habitantes e área de 218 km². Está localizada no polígono das secas. Distante  113km de João Pessoa, a cidade tem Índice de Desenvolvimento Humano de 0,574, considerado baixo pelas Nações Unidas.

    Ivanildo e a família moram no Assentamento Padre João Maria, na zona rural do município. O corpo só foi encontrado na manhã de ontem, quinta-feira (7/4), pela mulher de Ivanildo, que havia dormido na casa de parentes, na cidade, onde fora participar de uma missa. A filha do casal passou a noite ao lado do corpo do pai.

    A missa foi presidida pelo frade franciscano Frei Anastácio Ribeiro, que é deputado estadual do PT. Ele disse que o assassinato “é a volta do crime organizado no campo” e acusou um grupo de 5 fazendeiros: “Temos informações de que existe um grupo arquitetado para impedir a luta pela terra na região do Agreste paraibano. Atualmente há um grupo de capangas fortemente armados atuando nos municípios de Mogeiro, Itabaiana e São José dos Ramos. Eles estão sendo pagos por um grupo de cinco proprietários rurais desses municípios”.

    O parlamentar indicou quem são os fazendeiros: “O grupo é formado pelos proprietários José Guilherme, dono da fazenda Paraíso; José Otávio Silveira, proprietário da fazenda Fazendinha; o jogador de futebol Ailton, de Mogeiro, além de Maria Luiza, dona da fazenda Salgadinho (ex-vice-prefeita de Mogeiro), Alexandre de Miranda, que comprou uma parte da fazenda Salgadinho e o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da Paraíba, Paulo Américo Maia Filho, dono da fazenda Pau a pique, em São José dos Ramos”.

    Os nomes dos fazendeiros já foram entregues às autoridades da Paraíba para que seja aberta investigação. Frei Anastácio relatou ainda que na tarde da quarta-feira (6/4), Ivanildo e outras lideranças haviam realizado reunião com a assessoria jurídica da Comissão Pastoral da Terra (CPT), para denunciar toda organização criminosa. À noite, foi morto.

    FREI Anastacio celebra missa_Snapseed

    Ivanildo e os agricultores da região têm uma história de ameaças e atentados realizados por jagunços dos fazendeiros. Em outubro de 2015 ele e outros cinco agricultores da fazenda Salgadinho, no município de Mogeiro, haviam sido feridos a tiros de espingardas 12 e revólveres .38 quando realizavam um mutirão. Os jagunços foram presos e depois soltos, com pagamento de fiança.

    Segundo frei Anastácio, não tem fim a lista de arbitrariedades contra os pobres no agreste da Paraiba. Ivanildo e mais 7 trabalhadores da antiga fazenda Mendonça, também em Mogeiro – hoje Assentamento Dom Marcelo – ficaram 19 meses presos entre abril de 2002 e dezembro de 2003, acusados injustamente de terem atentado contra a vida do policial civil Sérgio Azevedo. “Esse policial era líder de capangas na região de Itabaiana”, afirmou o parlamentar.

    Ivanildo e os outros foram julgados em 2015 pelo Tribunal do Júri de João Pessoa e absolvidos por unanimidade.


    Fotos da missa de corpo presente de Ivanildo Francisco da Silva, celebrada na manhã de hoje (8), em Mogeiro. Frei Anastácio Ribeiro, deputado estadual pelo PT, presidiu a missa. Fotos enviadas pelo mandato do deputado.

  • Cubanos denunciam participação de assassino de Che Guevara em Cúpula das Américas

    Cubanos denunciam participação de assassino de Che Guevara em Cúpula das Américas

    Felíx Rodríguez Mendigutía à esquerda de Che Guevara. Foto: Reprodução
    Felíx Rodríguez Mendigutía à esquerda de Che Guevara. Foto: Reprodução

    A delegação cubana presente nos fóruns da 7ª Cúpula das Américas denunciou nesta quarta-feira (8) a presença de Felíx Rodríguez Mendigutía no Panamá. Segundo os cubanos, Rodríguez, um dos responsáveis pela morte de Che Guevara em 1967, se encontraria com parte dos opositores ao regime socialista e que se credenciaram para participar de um encontro de entidades da sociedade civil prévio à Cúpula. Félix foi chamado de “terrorista” e os opositores de “mercenários”.

    Ricardo Guardia Lugo, presidente da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), leu uma carta pública dirigida aos organizadores do Fórum da Sociedade Civil, solicitando às autoridades panamenhas a expulsão de Mendigutía.

    No dia anterior, a delegação cubana distribuiu uma publicação em que denunciava a presença de “mercenários fabricados pelos estrangeiros e pagos por nossos inimigos históricos, sem qualquer legitimidade” que participariam do Fórum em nome da sociedade civil cubana.

    História

    Félix Rodríguez Mendigutía, ex-agente da CIA nascido em Cuba, esteve envolvido em diversos episódios recentes da história da ilha. Também conhecido como “O Gato”, foi responsável pela coleta de informações que ajudariam, em 1961, na invasão da Praia Girón, tentativa de cubanos exilados apoiados pelos EUA para derrubar o regime socialista.

    Em 1967, foi escolhido pela agência de inteligência estadunidense para liderar a campanha contra Che Guevara na Bolivía. Mendigutía interrogou e deu as ordens para a execução de Guevara. Ele ainda se envolveu, na década de 1980, no esquema de tráfico de drogas e armas armado pela CIA para financiar os contra-revolucionários na Nicarágua. Até hoje, ele guarda e utiliza o relógio que Che utilizava quando foi capturado.

    “O que mais indigna e dói para nós é seu envolvimento direito, por indicação da CIA, na morte do Che Guevara”, disse Guardia Lugo. Ele mostrava uma foto em que Mendigutía posava com um dos opositores cubanos credenciados para participar do Fórum da Sociedade Civil.

    “Nos enoja que um sujeito como ele, com essa história, venha ao Panamá para se reunir com traidores que inexplicavelmente foram aceitos no Fórum da Sociedade Civil para opinar sobre o destino de nossa pátria”, afirmou Guardia.

    Antes da abertura do Fórum, um grupo de cubanos, apoiado por delegações de outros países, realizou um protesto em que pediam a saída de Mendigutía do encontro. Em repúdio à sua permanência, os manifestantes se retiraram do local afirmando “ser uma vergonha para a América Latina aceitar a presença de um assassino e terrorista”.


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