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  • É preciso um “fora já”

    É preciso um “fora já”

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    Foram necessários 41 dias para que o Ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, formalizasse o plano de contingência do governo federal para conter o maior desastre ambiental da história brasileira.
    Enquanto voluntários se organizavam, colocando a própria saúde em risco, para tentar amenizar os efeitos do derramamento de óleo que atinge 2.000 quilômetros do litoral brasileiro. Enquanto a Justiça, dos Estados do Nordeste, e o Ministério Público Federal cobravam a atuação do governo para adotar medidas para conter a crise, o ministro Salles usava as redes sociais, com vídeo adulterado, para ironizar o Greenpeace.
    Durante as queimadas criminosas que atingiram a Amazônia no mês passado, a atitude de Ricardo Salles foi pegar um avião para a Europa para encontros secretos com empresas multinacionais poluidoras, interessadas na exploração da Amazônia, como revelou o The Intercept.
    Ricardo Salles está condenado por improbidade administrativa e a perda dos direitos políticos, desde dezembro de 2018, por adulterar mapas de preservação ambiental, quando exerceu o cargo de secretário do meio ambiente de Geraldo Alckmin, em São Paulo, para permitir que a Suzano Papel e Celulose despejasse lixo tóxico na várzea do Tietê. A empresa pertence a família Feffer, que é a principal financiadora do grupo “Endireita Brasil”, fundada pelo ministro, e de suas campanhas eleitorais.
    Salles também foi denunciado pelos funcionários da secretaria, às vésperas de deixar o cargo, por tentar vender um prédio público do Instituto Geológico para um amigo pessoal, mentindo sobre o parecer da Consultoria Jurídica que foi contrária ao negócio por gerar danos ao erário. O Ministério Público arquivou o novo processo de improbidade, não por falta de provas, mas, porque o ministro já havia deixado o cargo, o MP conseguiu com a instalação do inquérito que o negócio não fosse concretizado.
    Em agosto deste ano, o Ministério Público de S˜ao Paulo abriu um outro inquérito para investigar a suspeita de enriquecimento ilícito do ministro entre 2012 e 2018, período que ocupou cargos públicos na administração paulista. Em 2012, Salles declarou um patrimônio de 1,4 milhão em bens. Em 2018, quando se candidatou para deputado federal pelo Partido Novo, seu patrimônio era de 8,8 milhões de reais, montante incompatível com os rendimentos de servidor público. Nesse período, Ricardo Salles foi a justiça para reduzir a pensão alimentícia dos dois filhos, alegando que seu salário era baixo demais para cumprir a obrigação. Ele chegou a ser ameaçado de prisão por dever 28 mil reais de pensão para as filhas.
    Depois de disputar a cadeira de deputado federal, Salles foi acusado de abuso de poder econômico e de fazer propaganda antecipada, por aparecer em propagandas publicadas em jornais antes do período eleitora. Por isso, a Procuradoria Eleitoral quer que ele fique inelegível por oito anos.
    O Ministro também foi pego em suas mentiras, ao divulgar durante anos em seu currículo um mestrado em direito público pela Universidade de Yale, onde nunca assistiu uma aula.
    Em uma semana no ministério, Salles usou o Tweeter para atacar o IBAMA por um contrato de 28 milhões, alegando irregularidades. Bolsonaro compartilhou a mensagem do ministro, mas quando vieram as explicações, o presidente foi obrigado a apagar a postagem.
    Não é de se esperar de um governo que tem como exemplo de moralidade torturadores, estupradores e criminosos de toda espécie, exigir probidade dos ministros que escolhe. Agora, que a justiça paulista, tão célere em encarcerar integrantes de movimento sociais e políticos de esquerda, mantenha o país e o planeta reféns de um político condenado, com vastas provas documentais e com tantas evidências de imoralidade no trato público, ocupando um cargo da importância que tem o Ministério do Meio Ambiente, se recusando a julgar um processo engavetado desde dezembro do ano passado, só pode ser visto como escárnio, provocação e cumplicidade.
    Não basta que ONGs denunciem o descalabro da gestão ministerial para ONU e faça protestos pontuais, como a de hoje (23), em frente ao Palácio do Planalto.

     

    É urgente que a sociedade se mobilize para cobrar da justiça o julgamento dos crimes cometidos pelo ministro para que as instituições retornem ao estado de normalidade democrática e possam resolver os problemas que afetam o país de forma séria e segura.
    É preciso um “Fora já” para Ricardo Salles e para a política de destruição do meio ambiente imposta pelo governo federal.
  • Que Pindorama queremos?

    Que Pindorama queremos?

    Na foto vemos a jovem entrevistada Tamikuã Txihi

     

    “Estamos aqui para dizer a essa sociedade que quer fazer cinza da nossa mãe e irmã natureza, devastando tudo em troca do dinheiro, que dinheiro se acaba, mas a nossa resistência pela Mãe Terra não. Vamos defendê-la com nossa vida, com nosso corpo, com nosso espírito.” Essa é a mensagem da jovem liderança Txihi do povo Pataxó, integrante da comunidade Tekoa Itakupe, da terra Indígena do Jaraguá, São Paulo. 

     

    A devastação da Amazônia ocorre desde que essa terra deixou de ser Pindorama para se chamar Brasil, como ela nos contou:  “Enquanto jovem, venho aqui trazer a luta e a força da mulher Pataxó, a luta e a força da mulher Guarani, a luta das mulheres indígenas desse território que hoje tem o apelido de Brasil, mas a gente reconhece como Pindorama ou Abya Yala, que é toda a América Latina, respeitando a memória dos povos Cunas.”  

     

    Sendo a América Latina o berço do pulmão do mundo, a Amazônia, nada mais significativo do que seu território ser intitulado ‘terra de sangue vital’, que é o significado de Abya Yala. Segundo os últimos dados do INPE, em 2018 o desmatamento  aumentou 8,5% em relação a 2017. O fato da fumaça atingir regiões longínquas, como São Paulo, demonstra que em 2019 o nível de desmatamento será consideravelmente maior. Veja abaixo uma foto disponibilizada pela NASA mostrando os focos da fumaça: https://www.earthobservatory.nasa.gov/images/145498/uptick-in-amazon-fire-activity-in-2019

     

    A agressão contra os povos nativos é crescente: em 2018 foram 135 assassinatos, enquanto em 2017 foram 110, conforme o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, de 2019. Só nos primeiros nove meses já foram 160 casos de ¨invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio¨, enquanto em 2018 foram 109. O ano nem terminou e o índice de violência já superou do ano passado. Márcia Mura, liderança do povo Mura e coordenadora do coletivo Mura em Porto Velho, nos contou um pouco sobre a violência sofrida na luta pela demarcação da Terra Indígena Itaparanã. 

    Márcia Mura durante a entrevista.

     No dia 5 de agosto, ela deixou seu povo de Nazaré, às margens do Rio Madeira, de barco, em um percurso que durou doze horas: saiu uma da tarde e chegou em Porto Velho onze da noite. Ao chegar em Porto Velho, seguiu para o território Itaparanã, no Amazonas, onde conseguiu se encontrar com o filho, a nora e o neto de oito meses. Quando lá chegou, entendeu a situação: ‘Tinham denunciado que havia gente cortando as árvores das terras indígenas sem autorização’. Então ela, como liderança, e os guerreiros foram verificar a denúncia.. Um fazendeiro havia invadido a terra deles e já estava fazendo os registros dessa invasão para mandar ao ministério público. 

     

    A situação da comunidade indígena é terrível: o cacique morreu por negligência médica, o território está sendo invadido por fazendeiros, que cortam as árvores sem autorização. 

     

    Foi um longo caminho até a Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, no dia 13 de agosto: depois de três dias, voltou para Porto Velho, seguiu de carona até Humaitá, e de lá pegou uma lotação de táxi para Porto Velho. Como a nora estava com sintoma de malária, o filho e a nora também foram junto para fazer o tratamento. Depois, vendo as fotos das parentas que já haviam chegado à marcha, ela começou a escrever para várias pessoas pedindo financiamento, e conseguiu que uma companheira comprasse sua passagem de avião. 

     

    A jovem liderança Txihi também nos contou um pouco sobre a recente violência contra seu povo: no dia 16 de julho, a exposição de peças artísticas indígenas no Centro Cultural Mestre Assis do Embu (Embu das Artes, São Paulo) foi destruída à noite. As peças expostas de Txihi, representações de onças com seus filhotes, tiveram as cabeças das foram cortadas. Para a artista, a mensagem que queria passar era de esperança no futuro  aos jovens indígenas. Txihi, todavia, continua acreditando que ‘as artes são instrumentos de luta e defesa dos territórios e conhecimentos dos povos originários, os novos arcos e flechas que vão lançar os sonhos da humanidade ao futuro.’  

     

    Txihi é assistente social e mesmo com as contínuas e crescentes violência contra seu povo tem fé no futuro e na humanidade. Ela veio de ônibus até Brasília, até o Congresso Nacional para ‘mostrar que é possível ocupar esses espaços de poder, e se eu cheguei até aqui, até o gramado, é porque quero que as futuras gerações estejam lá dentro, especialmente as mulheres. Nós, mulheres indígenas, somos fortes.’