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Tag: alagamento

  • A dialética das águas

    A dialética das águas

    Por vezes em janeiro, noutras fevereiro, não que já não tenha ocorrido em março, verdade recorrente a qualquer mês e dia santo, todo santo ano, é que setembro também chove na terra da garoa – e não deveria? Em datas e dias como hoje o Tietê se torna violento, o Pinheiros agressivo e o Tamanduateí revolto. O lixo dos populares é criminoso, a chuva também detém sua carga de culpa. Todos; todos e tudo são responsáveis por parar a “cidade que não para”. Cabe a Deus e ao mundo uma parte na tragédia (anunciada já em João Ramalho).

    Tentativa deslavada de enxugar a responsabilidade real e capital da questão. O rodizio de placas é suspenso para que os autos transitem livremente, mas para onde, por onde, e porque meu Deus?

    “São Pedro castigou São Paulo”, afirma o inventivo e imaginativo jornalista escapista. Na louvável e cínica tentativa de isentar autoridades e reais autores, inacreditável até mesmo para redatores e editores, São Paulo é lavada por uma enxurrada de meias verdades que em nada altera a dura realidade das enchentes.

    Vão-se os móveis e imóveis, bens e poréns levados pela água suja e turva da chuva, vidas que se acabam, prestações que não se pagam, boletos infindáveis de mercadorias irrecuperáveis. O custo de vida em São Paulo se eleva a cada carga d’água, e água arrasta carro, arrasa casa, atrasa o lado. E é chover no molhado dizer que o mau tempo era inesperado.

    O coração financeiro do país não possui, ainda, um plano emergencial para deter, verter ou reter as águas que ano que vem irão de novo desolar, arrasar e arrastar mais vidas. Fato é que quando a água suja dos rios bate na Barra Funda, rios que apenas reagem – ano após ano –  a alteração forçada de seu curso natural em nome do “progresso”, São Paulo recorda a todos a verdade a qual ricos e pobres estão submersos: a materialidade concreta do real. O atraso que a iluminada ponte estaiada intencionalmente não ilumina se impõe. “Nós somos do avesso”, não o avesso do baiano Caetano, mas o avesso de Juninho Pernambucano, que de cara lavada admite que o Brasil é atrasado, atraso que hoje feito nunca tem pressa em retroceder. São Paulo é onde este atraso melhor se apresenta.

    São de açúcar os sonhos de bonança em São Paulo. O delírio de grandeza e grande eloquência paulistano se dilui em chuva. E a medida está tomada, dirimir em água a culpa da catástrofe até que o céu esteja novamente limpo. Referir-se ou referenciar o capital pega mal na capital. Não faz bem para imagem da metrópole. “Sorriam e acenem”, diriam pinguins melhor ajustados a água e a ficção. Onde ganancia é fluxo, franqueza é luxo que não se pode ter. Águas passadas São Paulo retomará a dinâmica do lucro, a mesma lógica que a assola e devasta em dilúvio ano após ano, cada vez, e uma vez, mais.

    E de boas intenções o Tietê está cheio, tão cheio que por vezes transborda.

    Por Eudes Cardozo
  • Dilúvio, falta de obras anti-enchentes e prefeito passeando pelo mundo

    Dilúvio, falta de obras anti-enchentes e prefeito passeando pelo mundo

    Por Vereador Antonio Donato (PT)

     

    Enquanto a população contabiliza os prejuízos com a chuva entre a noite de domingo (10) e a madrugada de segunda-feira (11), uma olhada nos gastos da Prefeitura de São Paulo em combate às enchentes mostra queda de investimentos nessa área e explica o caos vivido na cidade.

    A gestão Doria/Bruno Covas reduziu em 34% a média dos investimentos em manutenção e obras de combate às enchentes e alagamentos. Dos R$ 630 milhões em média entre 2013-2016, os recursos para esses serviços caíram para R$ 413 milhões na média no período 2017-2018. Os dados são do SOF – Sistema de Orçamento e Finanças – da Prefeitura de São Paulo.

    E o motivo não é falta de recursos. De 2014 para 2018 a receita municipal cresceu 31%, enquanto os investimentos tiveram queda de 49% .

    O mais lamentável de tudo isso é constatar que, enquanto a cidade de São Paulo vive um verdadeiro caos – e boa parte dos problemas se deve à inaptidão do PSDB para administrar o maior município do Brasil –, o prefeito Bruno Covas está mais uma vez ausente. No sábado (9) o tucano entrou em licença “por motivos pessoais” durante sete dias.

    Desde 1º de janeiro de 2017, quando ainda era vice-prefeito, Bruno Covas se ausentou 108 dias da cidade de São Paulo. Desse total, 46 dias foram para tratar de assuntos particulares. O fato é que Bruno Covas gosta muito de viajar, mas não demonstra o mesmo apetite na administração da cidade. Vide os problemas com zeladoria (limpeza e manutenção de espaços públicos) da cidade, que tem deixado muito a desejar, embora tenha sido eleita como prioridade da gestão Doria/Covas.

    São Paulo sofre com a Síndrome do Abandono Tucano. Prefeitos eleitos do partido fogem do cargo e adoram viajar, em vez de trabalhar pela cidade. É o caso de José Serra, João Doria e agora Bruno Covas.

    Vereador Antonio Donato (PT)
    Câmara Municipal de São Paulo

     

    VEJA AQUI A VOLTA AO MUNDO DO PREFEITO AUSENTE

  • TODO DIA É DIA DE LUTAR PELO BÁSICO

    TODO DIA É DIA DE LUTAR PELO BÁSICO

    “Art.30. Compete aos municípios:…
    V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;…” (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988)

     

    Não é à toa que o nome do município, ‘Campinas’, consiste numa palavra que está no plural. Dentro dos 796,4 Km² que, de acordo com os dados da prefeitura municipal, compõem a área total do município, são muito perceptíveis as diferenças e desigualdades entre as diversas regiões da cidade, principalmente no que tange à prestação de serviços públicos básicos.

    No bairro Jardim Florence II, situado na região Noroeste do município, bem afastada do centro da cidade, os moradores, que em muito dependem dos serviços públicos para dar andamento a atividades cotidianas básicas, travam uma luta cotidiana para que seus direitos enquanto cidadãos sejam respeitados. A precariedade atinge todas as áreas, saúde, educação etc… mas hoje, o foco será saneamento básico.

    Segundo relatos dos moradores, desde 2011 o bairro sofre com os alagamentos que ocorrem em dias de chuva volumosa. A força das águas forma verdadeiras crateras nas ruas do bairro, tornando-as perigosas não apenas para o trânsito de veículos como também para a circulação de pedestres.

     

     

    Ao caminhar pelas ruas do Florence II e ouvir os relatos dos moradores, fica muito evidente que a questão ali diz respeito à falta de planejamento para escoamento da água das chuvas. Num dos extremos da rua Jácomo Lione, próximo aos condomínios residenciais Cosmos e Sirius (do outro lado da linha do trem), existe um grande terreno baldio repleto de entulho que, segundo relatos da moradora Maria Sandra Silva Santos, fica toda alagada em dias de chuva volumosa. Como a drenagem e os meios de escoamento dessa água não cumprem seu papel, boa parte daquela água acaba correndo rua abaixo, destruindo a pavimentação. O vídeo e as fotos abaixo, captadas por um dos moradores do bairro, retratam com precisão a situação deste local em dias de forte enxurrada:

     

     

     

    Na parte mais baixa da rua Jácomo Lione percebe-se uma situação ainda mais crítica. Neste trecho, as casas são tomadas pelas águas. Resultado: muitos moradores acabaram perdendo boa parte da sua mobília e, nos casos mais extremos, houve danos de natureza estrutural nas casas. O casal Zé Motta e Cida, residentes da parte mais baixa da Jácomo Lione, instalaram pequenas barragens nas portas para dificultar a entrada de água no interior da casa. Já o morador Elias Andrade, vivenciou uma experiência traumática. Uma grande chuva ocorrida em 2011 fez com que uma parte do terreno de sua casa cedesse, de modo que ele teve que aterrar o quintal de sua casa, abandonando tudo o que lá estava.

     

    Mesmo diante desta situação crítica, o poder público não reage de acordo com as demandas da circunstância. O máximo oferecido são serviços de natureza paliativa, como a limpeza das tubulações e o reparo na pavimentação das ruas. Muito cientes da situação e, obviamente, insatisfeitos com a forma como a administração municipal tem lidado com o problema, os moradores do Jd. Florence II têm se organizado de forma autônoma e coletiva com o objetivo de implementar uma série de ações de luta e resistência que forcem a prefeitura a tratar a situação enquanto algo que demanda uma solução definitiva. É uma questão de respeito aos direitos dos cidadãos que ali residem.

    Estamos de olho e a luta prossegue!