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  • Alvim e Goebbels: Foi traçado um limite para o absurdo

    Alvim e Goebbels: Foi traçado um limite para o absurdo

    A rápida demissão de Roberto Alvim do cargo de Secretário Especial de Cultura não isenta o governo Bolsonaro de ser acusado de associação com idéias totalitárias. Muito provavelmente o Prêmio Nacional das Artes seguirá com suas diretrizes e deverá fomentar produções artísticas com os valores anacrônicos já amplamente defendidos por qualquer outro membro do plantel bolsonarista.

    Apesar disto, a reação imediata da sociedade brasileira em todos os âmbitos – imprensa, política institucional, redes sociais, sociedade civil – nos traz algo a comemorar: foi traçado um limite para o absurdo.

    Há pouco mais de um ano temos suportado os atos e declarações mais absurdas do presidente, do alto escalão do governo e de sua corte, de seu arremedo de família real. A implosão das instituições democráticas, das políticas públicas de serviços básicos, de direitos civis, é acompanhada por mais um doloroso componente: a corrosão da nossa sanidade.

    Cada vez que denunciamos uma dessas emissões, por ser racista, machista, LGBTQ-fóbica, por reproduzir discurso de ódio, por escancarar o desprezo aos necessitados, por revelar uma propensão genocida, cada vez que isso aconteceu e fomos tachados de loucos, petralhas, esquerdopatas, e tudo seguiu acontecendo normalmente, e nós fomos desacreditados, e fomos obrigados a engolir seco e quadrado a pizza em que tudo acabou, que a capacidade de se chocar estava se perdendo, cada vez que isso aconteceu nós sofremos um amargo golpe no nosso ânimo, na nossa esperança e a nossa concepção do que é real, do que é possível.

    A operação do autoritarismo é sempre a mesma: o ato precede a sua normatização. Primeiro se pratica o impensável e em seguida ele torna-se pensável, praticável, possível. É o inverso do que acontece no Estado de Direito, em que a gestão se submete ao pacto, à Constituição. No Brasil do último ano não foi assim. Os limites do concreto foram forçados e expandidos. Como um rolo compressor, o governo Bolsonaro foi passando por cima de tudo.

    Todo ultraje foi normalizado. Até ontem.

    O vídeo protagonizado por um Roberto Alvim engomado, foto oficial do Presidente Bolsonaro acima, uma cruz ao lado esquerdo e a bandeira do Brasil do lado direito, com seu discurso bizarro de uma nova arte e, finalmente, a citação explícita e inegável ao infame Ministro da Propaganda Nazista Joseph Goebbels, foram demais.

    Dizer que a arte brasileira será o que este governo quer, uma arte pautada em valores eurocêntricos e cristãos, “ou então não será nada”, como disse Alvim e como disse Goebbels, foi demais.

    Aí o Brasil disse, finalmente, que basta. Que isso não pode. Este governo não pode decidir que arte as pessoas vão fazer. Este governo não pode fazer tudo que quer.

    Pode ser pouco, mas já é motivo para um grande suspiro de alívio. Temos agora uma trincheira clara, fixa, onde podemos fincar o pé e daí avançar na direção de recuperar a cidadania no Brasil.

  • Grande dia?

    Grande dia?

    Por Ícaro Jatobá para os Jornalistas Livres

    Há sete dias de tomar posse do novo mandato, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jean Wyllys (PSOL), anunciou em entrevista exclusiva à Folha de S. Paulo que abriria mão do seu terceiro mandato para resguardar a sua vida.
    Jean Wyllys que desde a morte da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, vivia escoltado por policiais, levou em consideração para a sua decisão as constantes ameaças e a falta de liberdade. Wyllys alega ainda que as fake news, muitas disseminadas no período eleitoral, serviu para alimentar constantes agressões verbais e até físicas.
    No país que mais se mata LGBT (445 em 2017 e 336 até outubro de 2018) segundo o Grupo Gay da Bahia, Wyllys foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a defender a agenda LGBT no Congresso Nacional e enfrentou resistência de bancadas que representam a ‘tradicional família brasileira’, como a bancada da bíblia e da bala.
    Após o anúncio da saída de Wyllys do cenário político brasileiro, o parlamentar se tornou o assunto mais comentado do Brasil no Twitter, diversas manifestações a favor e contra foram registradas. Mas a quem interessa a saída de Jean Wyllys do Congresso Nacional? Quem perde com isso?
    Poucos minutos após Jean Wyllys atingir o ‘trending topics mundial’ do Twitter, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) atualizou a sua rede social com a mensagem “Grande dia! ”, o que foi suficiente para que seus seguidores vissem como uma comemoração ao pronunciamento de Jean. No mesmo instante e também no twitter, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PSL) postou “Vá com Deus e seja feliz! ”. Um dos seguidores interroga “Prezado Presidente, se o motivo de Jean Wyllys estar saindo do país e abandonando o seu cargo de Deputado Federal for, de fato, receio pela sua integridade física, então é gravíssimo! O senhor não deveria estar comemorando, mas, sim, exigindo investigação e apuração dos fatos.”

    Entre as mensagens de apoio, famosos e colegas de profissão ressaltam o grande legado que Jean Wyllys fez durante a sua vida pública. Perde a esquerda, perde a comunidade LGBT, perde a democracia, perde o Brasil.

     

  • Vereadores de Sergipe reproduzem discurso LGBTfóbico

    Vereadores de Sergipe reproduzem discurso LGBTfóbico

    Por Mayara Peixoto para os Jornalistas Livres

    A Câmara de Vereadores do município de Estância, Sergipe, foi palco de cenas de intolerância e discriminação protagonizadas pelos vereadores Dionísio Neto (REDE) e Misael Dantas (PSC). A polêmica começou por causa do Projeto de Lei 74/2017, de autoria de Neto, que tem o objetivo de proibir a inclusão de atividades pedagógicas de discussão da sexualidade na grande curricular de ensino das escolas da rede municipal. A desculpa é novamente o perigo da tal “ideologia de gênero”, uma mentira criada por grupos religiosos, conservadores e de direita que lutam para manter fora das salas de aula discussões que poderiam diminuir no futuro o preconceito na sociedade contra mulheres, gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transgêneros e não binários.

    O acontecimento ganhou nova dimensão quando os vereadores de orientação conservadora aumentaram o tom de voz e de maneira agressiva propagaram o ódio à comunidade LGBTqueer. O caso, que gerou grande revolta no estado, vem ganhando repercussão também nas redes sociais. As respostas de repúdio dos sergipanos aos atos dos parlamentares fizeram com que redes sociais dos vereadores ficassem cheias de comentários contrários aos seus posicionamentos.

    O Conselho Regional de Psicologia, juntamente com outras organizações, publicou uma nota de repúdio às ações de ódio em plena Câmara de Vereadores e ao PL 74/2017, que desconsidera o princípio da dignidade humana e fere a Constituição Federal vigente no Brasil.

    Vídeos das agressões:

  • Crivella em 7 ataques à cultura e aos LGBTs do Rio

    Crivella em 7 ataques à cultura e aos LGBTs do Rio

    Márcio Anastacio para os Jornalistas Livres

    O primeiro ano de gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB), não tem sido fácil para a Cultura e nem para os LGBTs do Rio de Janeiro. A sociedade tem acompanhado a um verdadeiro desmonte destas duas áreas. Nos últimos meses, informações veiculadas pela imprensa deram o alerta aos cariocas e os Jornalistas Livres coloca sete delas em debate. Relembre:

    Inviabilizou a parada LGBT
    Com alegação de falta de recursos, a Prefeitura do Rio cortou a verba para a parada LGBT de Copacabana, um dos cinco maiores eventos da cidade, e inviabilizou a sua realização. Organizadores seguem tentando conseguir outras formas para garantir a realização da parada ainda este ano.

    Cortou a verba do Carnaval
    Após não ir na abertura do Carnaval na Sapucaí, Crivella manda tirar 1 milhão de cada escola de samba do grupo especial. A atitude inviabilizaria a realização do maior espetáculo da terra e atingiria às agremiações culturais em seu funcionamento. O desfile deste ano está garantido graças aos repasses do Governo Federal.

    Esvaziamento da CEDS
    Em sua gestão, o prefeito Marcelo Crivella impõe um esvaziamento da Coordenadoria Especial para Diversidade Sexual. Com uma estrutura mínima, a equipe de gestores da pasta trabalha com poucos recursos e verba quase inexistente.

    Cancelou ensaios técnicos
    Como uma das consequências da retirada de mais de R$ 13 Milhões que eram destinados para as escolas de samba, Crivella inviabilizou os ensaios técnicos das agremiações. O evento conhecido como “desfile do povo” deixa de acontecer esse ano após décadas de realização.

    Menos blocos de rua
    De forma extraoficial, já foi informado aos organizadores de blocos de rua do Rio, que o número de autorizados para desfilar será reduzido. Eles seguem em negociação com a Riotur e acreditam que o posicionamento do prefeito tem a ver as suas convicções religiosas.

    Veto ao Queermuseu
    “Só se for no fundo do mar”, foi essa a frase falada pelo prefeito Marcelo Crivella para dizer não à vinda da exposição “Queermuseu – Cartografias da diferença da Arte Brasileira”, que foi acusa de apologia a pedofilia por grupos conservadores e defendida por cerca de 70 diretores de centros culturais do Brasil em carta aberta.

    Inviabilizou a Parada LGBT de Madureira
    A segunda maior mobilização do movimento LGBT do Rio, a Parada de Madureira, iria ser realizada ainda este mês e foi adiada por falta de apoio da Prefeitura do Rio para a sua realização. Os organizadores publicaram esclarecimento oficial nas redes cobrando apoio da gestão municipal