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Categoria: secundaristas

  • Impasse sobre Enem 2020 reflete desigualdades brasileiras na educação

    Impasse sobre Enem 2020 reflete desigualdades brasileiras na educação

    Por: Beatriz Passos – do Com_Texto

    Entrar em uma universidade pública é o sonho de muitos estudantes brasileiros. Mesmo com diversos fatores que tornam complicadas as vivências na universidade, milhares de alunos em todo Brasil se inscrevem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentarem uma vaga no ensino superior. Mas essas instituições estão preparadas para receber esses alunos? Quais são os obstáculos desses jovens? Quem os ajuda nessa caminhada? São questões como essas que fizeram o Com_Texto investigar um pouco dessa trajetória, em 2020, no cenário inédito de pandemia mundial causada pela Covid-19.

    Em maio de 2019, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) divulgou que a maioria dos seus estudantes era mulher, parda, com idade entre 18 e 24 anos e com renda per capita familiar de até um salário mínimo. Tais dados foram levantados a partir da V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), promovida pelo Fórum Nacional de Pró Reitores e Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Para a coleta de informações foram entrevistados 28.481 estudantes dos cinco campi da UFMT, consultando 68,6% da sua comunidade estudantil.

    Cerca de um ano depois, em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, estudantes com perfis parecidos com a realidade da UFMT correm o risco de não terem a oportunidade de pleitear uma vaga no ensino superior. Afinal, a edição 2020 do Enem, principal meio de entrada nas universidades, ainda não tem sequer uma data certa para ocorrer, apesar do governo ter gasto muito dinheiro numa propaganda onde atores com mais de 20 anos interpretavam secundaristas com pleno acesso a computadores, smatphones importados, quartos individuais e livros nas estantes. Esse cenário utópico está muito longe da realidade da maioria dos estudantes brasileiros.

    DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO

    A UFMT foi uma das primeiras universidades a aderir o sistema de cotas sociais, em 2011, antes mesmo da consolidação da Lei 12.711 de 2012, a Lei das Cotas. Ocasionando um quadro de 69% de seus estudantes pertencentes à categoria de baixa renda, além de ter 55% vindos de escolas públicas. Segundo Vinicius Brasilino, Conselheiro de Estado de Educação, representante dos estudantes do ensino superior na Câmara de Educação Profissional e Ensino Superior e também graduando de Saúde Coletiva pela UFMT, essa realidade ampliou o processo de democratização da universidade. “A maior participação de estudantes das redes públicas garantiu que mais jovens das classes populares tivessem acesso ao ensino superior, podendo dar continuidade ao seu processo de formação e escolarização formal”, afirma.

    Brasilino ressalta, contudo, que a manutenção desse acesso não basta. É preciso também garantir a permanência dos alunos no ensino superior. “O fato desta democratização ter dado acesso à universidade aos diferentes perfis de estudantes, ocasionou na demanda pela permanência estudantil, o que a gente chama de assistência estudantil: garantia de benefícios para que o estudante possa estudar com qualidade”, explica. “Esses meios podem ser, por exemplo, bolsas alimentação e moradia. Foi por isso que o Brasil criou o Programa Nacional de Assistência Estudantil, para dar conta de atender a esses estudantes que têm especificidades e demandas emergentes dentro das universidades”.

    Porém, especialmente por conta dos cortes de verbas desde 2014, as políticas de assistência não conseguem garantir tais benefícios a todos os que necessitam. No caso da UFMT, em 2020 o orçamento total de custeio é 21% menor do que no ano passado, e da assistência estudantil foram retirados cerca de 40% da verba. “Os principais obstáculos que estudantes em vulnerabilidade social enfrentam estão relacionados às políticas de permanência e assistência estudantil. Afinal, a educação vem sofrendo nos últimos anos vários cortes, como a Emenda Constitucional nº 95 , de 2016, que congelou os investimentos em educação, saúde e outras áreas do desenvolvimento social do país por 20 anos”, comenta o Conselheiro de Estado de Educação.

    Vinicius Brasilino também vê como prática perigosa aos cidadãos o possível agendamento da prova do Enem ainda em 2020. “Observando o movimento da pandemia no Brasil e as ações que o Governo Federal vem tomando, que são muitas vezes contrárias ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem proposto, a realização do Enem não só coloca em vulnerabilidade sanitária milhares de estudantes, como também se transforma em instrumento de ampliação das desigualdades educacionais e sociais do Brasil”, analisa.

    Em razão da pandemia do Covid-19, o Enem 2020, incialmente marcado para os dias 1 e 8 de novembro, provavelmente será adiado de 30 a 60 dias, de acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que aplica a prova. A contragosto do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, e do Governo Federal, o Senado aprovou um projeto de adiamento o exame por 74 votos a 1 (do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República). No dia seguinte, o presidente do Congresso, deputado Rodrigo Maia, informou ao presidente o projeto teria placar semelhante na Câmara dos Deputados, forçando o mudança.

    Sem dúvida essa foi uma grande vitória das pressões de organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE). Mas ainda não é o suficiente. “O adiamento do Enem de 30 até 60 dias, mantém o processo perverso desse governo de privilégios, assim como a anuncida modalidade virtual do exame. Quem realmente tem acesso à internet para fazer o Enem digital? Quem fará virtualmente poderá fazer a prova de sua casa com um conjunto de livros e conteúdos ao lado, com condições de ter um melhor resultado na prova? Para mim, o Enem digital reforça ainda mais uma falsa meritocracia e condições desiguais de acesso à universidade. É um equívoco”, afirma Vinicius Brasilino.

    Alunos da UFMT em manifestação contra o projeto Future-se, em 2019 (Foto: Com_Texto)

    FUTURO E INCERTEZAS

    Luiz Antônio está no quinto semestre do ensino médio integrado ao curso técnico em edificações, no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) – campus Várzea Grande. Com 18 anos, seus planos no início de 2020 eram prestar o Enem e concorrer a uma vaga na UFMT. “Eu costumava passar em torno de 35 a 40 horas semanais na escola, tudo isso entre aulas, projeto de pesquisa e extensão e grupo de estudo. Esse ano seria o meu último ano do ensino médio, mas agora já estamos nos encaminhando para o terceiro mês de aulas interrompidas por causa da pandemia do novo coronavírus”, conta.

    Sem aulas desde o dia 17 de março, o estudante declarou que sua rotina mudou bastante. Como passava muito tempo na escola, se organizava para estudar no colégio, e em casa dedicava-se às outras responsabilidades domésticas. Diferente de outros alunos da sua escola, Luiz Antônio tem acesso à internet em casa, mas ainda assim preferiu fazer a prova na modalidade física, por segurança. “Eu tenho acesso à internet em casa, o que tem me ajudado bastante nesse processo de adaptação. E devido aos problemas da correção da edição passada do Enem, eu optei pela versão impressa da prova, porque tenho um pouco de incerteza com essa experimentação”, assume.

    Apesar do ministro dizer que foi “o melhor Enem de todos os tempos”, a edição de 2019 teve erros de correção, além do vazamento de uma das páginas da prova durante o dia do exame, em 3 de novembro. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), foi divulgada uma foto da folha de redação antes do final do exame, já no momento da correção. E quem fez a prova com uma determinada cor de gabarito, teve suas respostas corrigidas com base em um gabarito de cor diferente.

    Diante de tantas dúvidas, Luiz comenta que, assim como ele, seus colegas estão muito inseguros. “Tudo isso tem sido muito comentado nos grupos de turmas sobre o Enem, e tudo é uma grande incerteza. Ninguém sabe como vai ser ou o que pode acontecer. Está todo mundo muito apreensivo porque o ano está correndo e já perdemos o final de semestre todo. Então estamos ficando para trás sim, comparado aos alunos de escola particular”, revela.

    Sobre os próximos acontecimentos com relação ao Enem, o estudante acredita que o melhor é o cancelamento da aplicação da prova em 2020. “Eu acho as discussões sobre o adiamento do Enem muito pertinentes, porém, ao meu ver, o correto nesse momento seria o cancelamento dessa edição. Porque já foi praticamente todo o primeiro semestre do ano e as escolas estaduais de Mato Grosso não chegaram nem a começar o ano letivo de 2020, enquanto as escolas particulares já estavam praticamente no fim do primeiro semestre”.

    OBSTÁCULOS DIFERENTES

    Para uma professora de biologia que atua há 20 anos em escolas estaduais de Mato Grosso, que preferiu não ter a identidade revelada, os alunos da rede pública e da rede particular têm condições intelectuais iguais para prestar o Enem. A diferença entre os dois perfis está nas oportunidades sociais que acabam por privilegiar apenas um dos lados. “Os alunos de escola pública têm que trabalhar mais para conseguir uma vaga na universidade. Então, quando eles conseguem, é muito gratificante porque é todo um universo que eles conseguiram vencer. Por isso que, intelectualmente, eles têm condições tanto quanto um aluno de escola particular, porém em relação à estrutura social eles saem perdendo”, comenta a professora.

    Com experiência no ensino também em escolas particulares, a professora ressaltou a diferença dos perfis dos alunos que frequentam escolas pagas daqueles matriculados em instituições públicas. “Quando dei aulas em escolas particulares, no começo da carreira, os alunos, em sua maioria, eram classe média ou classe média alta. As escolas tinham boas estruturas, como lousa mágica, internet veloz e salas climatizadas. Além do que, grande parte dos estudantes de escolas particulares não trabalhavam. Já os meus alunos do ensino público normalmente têm duplas jornadas. Se estudam de manhã, trabalham à tarde, e se estudam à tarde, trabalham de manhã, em sua maioria em empregos com carga horária pesada”, conta.

    A professora defende a educação pública, acredita que apesar das dificuldades enfrentadas por alunos e até mesmo por professores, o ensino gratuito garante o atendimento a demandas às quais as escolas particulares não se comprometem.

    “Outra grande diferença entre a escola particular e pública é que são poucas as escolas pagas que têm, no meu conhecimento, ensino inclusivo com alunos PcD (Pessoas com Deficiência). Na escola pública, esses estudantes são inclusos em salas regulares. E falando do estado de Mato Grosso, existem também as escolas quilombolas, indígenas e rurais com logísticas diferentes”, salienta.

    Atenta à diversidade de perfis, a educadora também se preocupa com o lado psicológico dos estudantes que pretendem realizar o Enem. “Como todos que estão passando por essa pandemia, os estudantes estão assustados e com medo, de certa forma sem condições psicológicas para fazerem uma prova densa como o Enem”, acredita a professora. “E nesse momento, o aluno de escola pública estadual soma a essas inseguranças a angústia de não ter iniciado o ano letivo devido à greve realizada ano passado. E o que a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) disponibilizou para eles, que são aulas online e/ou pelo canal da TV Assembleia, não é o ideal. Eu sei disso porque participo de grupos de conversas com eles e eles dizem que não têm condições porque não entendem os conteúdos devido aos problemas de conexão”, revela.

    As transmissões das videoaulas acontecem via TV ALMT (canal 30.2), com aulas inéditas e reprises durante a semana. As aulas são sobre as quatro áreas do conhecimento exigidas no Enem: matemática; linguagem e suas tecnologias; ciências sociais aplicadas; e ciência da natureza e suas tecnologias. O projeto foi apresentado pelo deputado estadual Delegado Claudinei (PSL), no dia 8 de maio, pela indicação de n.º 1.572/2020, na qual propunha à Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) a aplicação de método de ensino a distância para promover aulas virtuais para alunos da rede pública estadual durante a pandemia do novo coronavírus.

    Estudante segurando cartaz “Em defesa da educação pública” durante as manifestações contra os cortes no setor em 2019 (Foto: Com_Texto)

    DIMINUINDO BARREIRAS

    A Rede de Cursinhos Populares Podemos+ formada pelo Levante Popular da Juventude ajudou a aprovar em 2019 mais de 100 alunos no Enem. Criada em 2017, em São Paulo, a rede está presente em 50 cidades, distribuídas em 21 estados do Brasil, e tem em sua organização 1600 educandos e 800 educadores. Com componentes voluntários a Podemos+ reúne pessoas que buscam ajudar jovens brasileiros que são afastados ou excluídos do ensino superior a ingressar em universidades federais ou estaduais.

    “As experiências na nossa rede de cursinho estão vinculadas aos jovens da classe de trabalhadores, que são moradores de periferias, jovens estudantes de escolas públicas, jovens mães, e aos que não têm possibilidade de pagar mensalidades absurdas em cursos preparatórios. Nosso objetivo é com as questões de igualdade mesmo, de facilitar o acesso à universidade, como é o caso do cursinho de escrita acadêmica que serve justamente para aqueles que têm dificuldades em desenvolver trabalhos com critérios acadêmicos”, explica a Coordenadora da Rede de Cursinhos Populares Podemos+ e da Frente Territorial do Levante Popular da Juventude, Lorhana Lopes.

    Outra ação neste sentido foi o mutirão de ajuda na realização das inscrições no Enem. “A gente precisava fazer com que o máximo de pessoas tivesse acesso. Por isso, movimentamos mais de 800 pessoas, em ação voluntária, para contribuírem nesse processo que é extremamente burocrático. Então, passamos por processo formativo, lemos todas as informações da plataforma do Inep, e depois entramos em contato por telefone com pessoas que preencheram o formulário básico para solicitar a ajuda, além dos outros educandos já inscritos”, conta Lorhana. Em Mato Grosso, a Podemos+ atua desde 2019 em Cuiabá e conta com 42 educadores voluntários. No primeiro ano de curso foram aprovados três alunos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em 2020, o processo de mobilização foi interrompido pela pandemia do Covid-19, e até o momento da pausa cerca de 60 jovens já estavam inscritos para participarem das aulas.

    Questionada sobre o porquê de não continuar com as aulas no formado de Ensino a Distância (EaD), a coordenadora da Rede de Cursinhos Populares Podemos+ em Mato Grosso, Amandla Sousa, revela que a modalidade seria incompatível com as realidades dos educandos que a rede atende. “Nós da Podemos+ não podíamos pensar na manutenção das aulas do cursinho em uma modalidade EaD. Essa não é a realidade da população brasileira. Essa não é a realidade dos sujeitos com os quais estamos contribuindo para que acessem a universidade e essa também não é a realidade de Mato Grosso. Nós temos bairros do município de Cuiabá, onde é a situação de vulnerabilidade dos trabalhadores é tamanha que falta por vezes alimentação para essas pessoas. O que dirá internet”, esclarece.

    Segundo a coordenadora, a Podemos+ utiliza uma metodologia da educação popular e justamente por isso considera mais importante acompanhar os educandos e suas famílias neste período de fragilidade causada pela crise sanitária e econômica mundial. “Neste momento nós temos que nos preocupar com a vida do nosso povo. Temos que nos preocupar em garantir condições de vida digna, e o Enem deve se adaptar a esse processo para que ele não seja mais excludente. Na realidade do nosso povo que é tão diverso, que tem tantas dificuldades, adiar o Enem com base no ano letivo de 2020 é fazer justiça social”, afirma Amandla Sousa.

     

    NOTA OFICIAL DIVULGADA NO PORTAL DO INEP

    Atentos às demandas da sociedade e às manifestações do Poder Legislativo em função do impacto da pandemia do coronavírus no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) decidiram pelo adiamento da aplicação do exame nas versões impressa e digital. As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais.

    Para tanto, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. As inscrições para o exame seguem abertas até as 23h59 desta quarta-feira, 27 de maio.

     

    SAIBA MAIS:

     

    V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes): https://noticias.paginas.ufsc.br/files/2019/05/VERSAO_MESTRA_DO_RELATORIO_EXECUTIVO_versao_ANDIFES_14_20h52_1.pdf

    NOTA OFICIAL | Adiamento do Enem 2020: http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/nota-oficial-adiamento-do-enem-2020/21206

    Rede de Cursinhos Podemos+: @cursinhospode

    Matéria original no site do Com_Texto: https://com-texto.wixsite.com/comtexto/post/impasse-sobre-enem-2020-reflete-desigualdades-brasileiras-na-educa%C3%A7%C3%A3o

  • Secundaristas ocupam escola contra fechamento de cursos

    Secundaristas ocupam escola contra fechamento de cursos

    Estudantes do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Lênio Vieira de Moraes, em Barueri, ocuparam no final da tarde de hoje o prédio da escola em repúdio à decisão do Estado de transferir alunos sem qualquer diálogo. Os estudantes secundaristas tiveram a informação apenas quando as transferências começaram a ocorrer e as matrículas foram canceladas. Os funcionários da escola eram obrigados a dar a notícia aos que seriam remanejados. Alunos, pais e toda a comunidade escolar não foram ouvidos durante o processo.

    Por Cadu Bazilevski, Lucas Martins e Martha Raquel Rodrigues, dos Jornalistas Livres 

    A gestão atual da escola é compartilhada entre a prefeitura do município de Barueri, responsável pelas turmas do ensino fundamental, e pelo governo do Estado de São Paulo, que mantém as turmas de ensino médio e da Escola de Jovens e Adultos (EJA).

    Acontece que, a partir de 2020, o Estado deixará de compartilhar a gestão da escola com o município e alunos secundaristas do ensino médio e da EJA estão sendo transferidos para escolas de outros bairros, mais longes. A ocupação-protesto acontece com o intuito de lutar pela permanência destes alunos que, além de ter uma ligação com a escola, também terão muita dificuldade de locomoção para outros bairros para estudar.

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a PnadC, do IBGE, em 2018 quatro em cada dez brasileiros de 19 anos não haviam concluído o ensino médio ainda, uma realidade ignorada pelo governo estadual de São Paulo.

    Cem pessoas, entre professores, pais, alunos secundaristas e do EJA e funcionários, foram até a frente da escola declarar apoio aos estudantes.

    A Polícia Militar de João Doria foi chamada e um policial agrediu a professora e conselheira do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), Angela Soares. Neste vídeo é possível ver a ação descontrolada do policial:

    Em entrevista exclusiva aos Jornalistas Livres, Angela disse que veio até a escola em solidariedade aos alunos e decidiu intervir quando um policial tentava invadir o prédio.

    “Eu vi que o policial ia entrar e poderia fazer alguma coisa com os alunos. A gente sabe como os policiais agem nessas situações. Aí eu só falei para ele que ele não podia fazer daquela forma porque os alunos eram menores e eles precisavam que os pais estivessem presentes. Que ele tinha que conversar com eles [os alunos] na presença dos pais e aí ele já veio pra cima de mim perguntando quem eu era, dizendo que eu estava sendo abordada, que eu ia ser presa, que eu ia ser detida. Ele chegou a colocar a mão no meu braço”.

    Estudantes secundaristas e da EJA dizem que não conseguirão se manter estudando 

    Gabriel tem 21 anos e é aluno do EJA. Ele esteve em frente ao colégio em apoio à luta dos estudantes porque sabe da importância da escola para a comunidade. “Eu estudei nesse colégio desde a sexta série e ele foi muito importante pra mim porque eu parei de estudar e quando eu voltei, ele me acolheu. São muitos alunos, e fechando essas turmas, com certeza haverá superlotação em outras escolas. E com essa superlotação os alunos vão parar de estudar”.

    O jovem trabalha como estoquista e diz que, se transferido, não conseguirá se manter estudando. “Mesmo que eles disponibilizem vale-transporte, ainda assim não conseguirei estudar porque eu levaria uma hora até a outra escola e meu horário de trabalho combinado com o horário de entrada na escola não daria certo. Eu teria que pegar dois ônibus”.

    Mariana é secundarista, tem 16 anos e ano que vem cursará o segundo ano do ensino médio. “A gente ficou sabendo pelos funcionários. Teve aluno que foi transferido pra Cotia, outros pra Carapicuíba. Eu estudo aqui há uns 10 anos e essa escola faz parte da minha vida. Sair daqui seria perder um pedaço de mim. Aqui eu formei laços, fiz amizades, eu me criei aqui dentro. Ir pra outra escola, de repente, no penúltimo ano escolar seria como arrancar um pedaço de mim”.

    Márcia é mãe de Mariana e contou que a filha e os demais alunos secundaristas da sala dela enfrentam a dupla jornada de trabalho e estudo. Elas moram bem-próximas à escola e, se transferida, a menina teria que andar pelo menos 35 minutos até a nova unidade de ensino. “Essa ainda é a escola mais próxima, mas ainda não disseram pra onde ela vai. Tem escola que não tem nem quadra”, disse indignada. “Aqui fica naquele disse me disse, ninguém foi informado de nada. Eu apoio muito os estudantes secundaristas que ocuparam a escola e acho que eles só tem que sair de lá de dentro quando tiver um papel oficial com assinatura do governador dizendo que eles não serão transferidos. Caso contrário eles não tem que sair. Ela [a filha] só não tá aí dentro porque foi de última hora a assembleia. Se com ela aqui fora eu já veio declarar apoio, imagina lá dentro”, completou a mãe orgulhosa da luta da filha.

    Um ato de apoio aos alunos foi chamado para amanhã, 17 de dezembro, às 10h, em frente à Escola Estadual Lênio Vieira de Moraes. Para mais informações sobre o ato, CLIQUE AQUI.

    Veja outras reportagens sobre a luta dos estudantes por melhores condições de estudo:

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – sobre o movimento secundarista de ocupação no Paraná

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – Não tem conforto, só tem perrengue!

     

  • Campinas (SP) teve o dia dedicado à defesa da Educação no #30M

    Campinas (SP) teve o dia dedicado à defesa da Educação no #30M

    No dia 30 de maio, quem passava pelo centro de Campinas (SP), pôde notar diversos jovens segurando cartazes conversando com a população, e também diversas atividades promovidas por pelos estudantes com o apoio de professores. Os cartazes abordavam questões relacionadas às áreas e disciplinas universitárias, e informavam sobre os campos das pesquisas. Dialogar, interagir e trazer conhecimento para a população sobre a produção acadêmica também é parte do processo de educação.

    #30M, #BrasilPelaEducação , Campinas | foto: Fabiana Ribeiro , Jornalistas Livres

    No calçadão da Rua 13 de Maio, em meio à concentração de lojas comerciais, um doutorando e estudantes do curso de Filosofia da Unicamp empunhava um cartaz onde se lia “Sabe o que é Filosofia? Quer saber?” e dialogava animadamente com as pessoas. Segundo Leonardo, que é doutorando do curso, “é importante esclarecer para as pessoas sobre o que a Filosofia pode influenciar direta ou indiretamente a vida das pessoas. Existem muitos preconceitos relacionados a filosofia e as ciências sociais e é importante desfazê-los”, disse.
    Dezenas de estudantes ocupavam a região com muito diálogo, intervenções artísticas e vontade de mostrar que a produção de conhecimento é importante para o país. Para Juliana, que faz licenciatura em Biologia “é importante trazer para a população o que é feito dentro das universidades e o quanto elas são importantes para o desenvolvimento do país. E é importante que não aconteçam cortes nos recursos destinados à educação, porque educação não é gasto. Educação é investimento, investir em Educação é investir no país”, acentuava.
    Por volta das 16h começou a ocupação do Largo do Rosário para o grande ato do 30 de maio, #BrasilPelaEducação contra a política obscurantista promovida pelo governo Bolsonaro, que em seu ódio ao conhecimento ataca a educação ao promover cortes no orçamento chamou de “contingenciamento”, provocando a balbúrdia de jogo de palavras na tentativa de tornar-se mais palatável e minimizar as críticas.

    Estudantes, professores, trabalhadores e trabalhadoras, pais e mães de estudantes, movimentos sociais e estudantis lotaram a praça. A Rua General Osório foi ocupada, assim como uma das faixas da Avenida Francisco Glicério, a principal da área central da cidade. O ato começou por volta das 17h30 e às 19h os manifestantes seguiram em passeata em protesto pelas ruas Francisco Glicério, Moraes Sales e Anchieta. Nem a chuva que ameaçou o início da passeata atrapalhou. Os manifestantes não recuaram e a chuva cessou. As ruas eram um verdadeiro mar de gente. A manifestação ocupou mais de 2 km de extensão, gerando uma estimativa de participação de cerca de 10 mil pessoas, conforme os organizadores.
    Durante o percurso, a manifestação recebeu apoio da população, que aplaudia a defesa da educação. Palavras de ordem contra o governo Bolsonaro e a favor da educação eram o tema principal, mas também havia protestos contra a Reforma da Previdência e contra as gestões do governador Doria e do prefeito Jonas Donizette.

    A manifestação de protesto seguiu pacífica até a prefeitura, onde foi encerrada. A heterogeneidade e a democracia marcaram a mobilização em Campinas. Pessoas das mais diferentes idades, de crianças a idosos, etnias, gênero e classe social compunham um pequeno recorte do que se sonha para o país; um local onde a beleza e a força está na diversidade que busca o bem comum para todos e todas que vivem aqui.

     

    Fotos: Fabiana Ribeiro | Jornalistas Livres

     

  • A escola virou campo de batalha: PM e diretor atacam estudantes

    A escola virou campo de batalha: PM e diretor atacam estudantes

    Por Cecília Bacha e Lucas Martins

    Na noite da última quinta-feira, 04/03, a escola Escola Estadual Frederico Barros Brotero, em Guarulhos viveu uma noite de terror. Nas imagens gravadas por estudantes no pátio interno da escola, é possível ver que um PM empurra uma adolescente primeiro com a mão e depois com a ponta da sua arma. O vídeo publicado primeiro pelos Jornalistas Livres viralizou na internet.

    Marcas no corpo da estudante que sofreu agressão de PM dentro da escola

    Tudo começou quando os alunos da escola resolveram marcar uma manifestação para protestar contra o diretor José Maria Stanzani.  Além da jovem ameaçada com a arma, outros dois menores de idade foram apreendidos durante o ato e passaram a noite de quinta-feira presos, acusados de ameaçarem o diretor. Eles foram liberados no final da tarde da sexta-feira, 5. Os Jornalistas Livres acompanharam o momento da soltura e a volta dos alunos a escola.

    Os alunos tinham convocado o ato para durar durante todo a quinta. Ao chegarem para o turno da noite o diretor já havia solicitado a presença da PM e carros da polícia estavam na porta da escola.

    O Boletim de Ocorrência registrado pela apreensão dos dois jovens confirma que a polícia tinha sido convocada “por solicitação do Diretor da Escola”, no BO o protesto é caracterizado como um “tumulto generalizado”. Na descrição da ação policial está registrado que “conforme afirmaram os Policiais, eles empregaram força moderada, por se tratarem de dde muitos adolescentes” e confirma que o próprio diretor “veio a apontar os ora adolescentes infratores”.

    “A gente entrou todo mundo na escola e estavam todos os alunos no pátio protestando, falando ‘abre portão, abre portão. fecha portão’, os gritos de guerra. todo mundo mostrando o celular. ainda são sete horas. O diretor passou pelo pátio, entrou na secretaria fazendo joinha, rindo. Saiu fez joinha e fechou o portão [externo]. Depois, quando ele mandou abrir o portão, desceram três policiais militares e a gente deu uma recuada. Aí eles pegaram um aluno e enquadraram. Aí a gente foi pra cima, falou ‘não, solta o menino’, foi quando aprenderam o menino. três policiais tiraram o menino pela força, menor de idade. Dá pra ver, muito nítido na imagem que o diretor pega aponta pro menino, cochicha com o policial e logo em seguida eles pegam ele. Aí a menina foi falar para o diretor ‘você não tem o direito de deixar isso acontecer, ele é menor’ foi quando o policial empurrou a menina” conta a estudante Sophia Rios, 17 anos.

    O estudante Raul protesta pela liberdade do colega preso
    Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres

    Segundo Sophia, a insatisfação dos alunos com o diretor começou no início deste ano letivo quando José Maria assumiu o cargo e implementou uma política de “tolerância zero” com o fechamento dos portões.

    “A gente sempre teve um regime de tolerância de dez minutos e sempre funcionou muito bem, porque os alunos vinham do trabalho, mas atrasavam cinco, dois minutos, coisa básica. E esse diretor acabou tirando esses dez minutos de tolerância. Ou você entrava às sete horas em ponto ou não entrava mais. E o que acontece? Muitas pessoas trabalham pra sustentar a casa, muitos de nós não têm essa condição de se dar ao luxo de trabalhar só por diversão. A gente tem que ter essa tolerância, não porque a gente quer ‘vagabundar ou fazer vadiagem. Não, a gente precisa porque a gente trabalha para manter a nossa casa, para ajudar nossos pais.”

    Os alunos contam que logo na primeira reunião de pais a nova diretriz foi passada. Nenhum atraso seria tolerado. Eles reclamam ainda que o sinal da escola está adiantado pelo menos três minutos, precipitando o fechamento da escola para os alunos do período noturno. Uma vez atrasados, independente do tempo que for, eles não podem entrar na escola no dia do atraso.

    Além da nova política de horários o diretor tornou constante a presença da polícia na entrada da escola. A estudante Karine, de 15 anos, conta que “isso começou muito frequente esse ano. O ano inteiro, todos os dias, são várias viaturas passando, rondas pela praça e pela escola.”

    A E.E Frederico Barros Brotero, que fica na região central da cidade, é uma escola modelo em Guarulhos. Muitos pais transferem os filhos de outras escolas para a Frederico buscando proporcionar um melhor ambiente escolar, como é o caso da Roseli, mãe da Juliana, que

    “devido a qualidade do Brotero eu trouxe ela pra cá. Por causa do ensino, professores. A referência aqui em Guarulhos que é a escola.Trouxe ela no ano passado. [Mas] devido ao ocorrido de ontem eu me senti completamente insegura agora. não pelo fato dos alunos terem feito esse motim, que eu falo, esse manifesto, essa manifestação. Sim pela insegurança dos alunos dentro da escola por causa da própria direção, da própria escola que deveria estar dando segurança para eles, dentro da escola chamar a polícia para dentro da escola.”

    A confiança no trabalho realizado pelos educadores da escola é recorrente entre pais e alunos da Frederico. É o caso também de Eliane de Gouveia, mãe do João Vitor, 17, um dos rapazes detidos durante o protesto. Ela diz que inicialmente concordou com a medida do diretor “que queria colocar ordem na escola”. Segundo ela, de seis anos para cá, quando seu filho entrou na escola, a escola vem perdendo qualidade. “O problema foi justamente essa falta de tolerância do diretor. Nenhuma mudança pode ser feita assim da noite para o dia”, explica.

    Estudantes reunidos em frente a escola Frederico Barros Brotero, um dia após violência policial Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres

    A manifestação a que Roseli se refere é a convocada pelos alunos para acontecer durante toda a quinta-feira passada e pressionar a diretoria a voltar atrás na decisão de retirar a tolerância de 10 minutos para os retardatários. Foi durante ela que aconteceram as cenas de barbaridade realizadas pela Polícia Militar do estado de São Paulo. Os alunos, que já tentavam dialogar com o diretor desde o começo do ano, chegaram ao limite na quarta-feira passada, 03/03.

    O aluno Raul Martins, 18 anos, explica “um dia antes do protesto [o protesto ocorreu na quinta, então na quarta-feira] eu tinha vindo para escola, não posso andar muito rápido porque eu acabei de ter uma lesão no tornozelo por conta do esporte que pratico, então eu cheguei na escola eram 18:58. Eu me deparei com viaturas na porta da escola e quando eu desci para tentar entrar na escola o portão estava fechado e o diretor falou assim para a gente ‘vocês me dão um minutinho só que eu vou organizar aqui dentro e vocês já entram’, só que nisso ele deu voz para os policiais [que estavam na frente da escola] nos abordarem. Várias vezes os policiais falaram ‘eu to deixando de fazer o meu trabalho, que é pegar bandido porque estou recebendo reclamação do diretor da escola desse bando de maconheiro vagabundo que nao quer entrar para a escola. Sendo que nisso eu tinha chego antes do horário do fechamento.”

    A abordagem foi presenciada por outros estudantes que de dentro da escola tentaram conversar com o diretor “no dia que aconteceu esse enquadro [quarta-feira, 03/03] os alunos que estavam lá dentro ficaram sabendo do enquadro e começaram a perguntar para as tias e para o diretor. O diretor não falou com nenhum aluno. Pais bateram na porta da escola e ele nao abriu para os pais. Ele saiu para fora e não deixou os pais entrarem.” contou Karine.

    Raul conta que a abordagem seguiu o padrão da PM “violência verbal e violência física” e que durante a revista, que ocorreu na entrada da escola, Raul afirma que um dos policiais “falou que iria deixar todos nós de cueca e iríamos embora de cueca. Só não aconteceu isso porque as tias intervieram, as inspetoras da escola” e completa “eu não gosto disso, de sair de casa pra entrar pra escola e acabar levando enquadro na porta da escola. Levar tapa na cara encostado no portão da escola.”

    Segundo o site G1 o governo de João Doria (PSDB) declarou em nota para o veículo que  o policial militar que empurrou a estudante com uma arma foi “foi afastado”.

    Os dois menores detidos dentro da escola passaram quase 24h na Vara da Infância e da Juventude em Guarulhos. Do lado de fora, dezenas de estudantes faziam vigília até o momento da soltura. O movimento era acompanhado por algumas mães. Após a liberação os alunos caminharam cerca de 20 minutos pelas ruas do Centro de Guarulho até a escola onde os dois alunos foram recebidos como heróis pelos colegas.

    Assista no vídeo a ação da policia dentro da escola e a comemoração pela liberdade dos estudantes, nesta última sexta-feira: 

     

     

     

     

     

  • ESCOLA ESTADUAL VIRA CAMPO DE CONCENTRAÇÃO!

    ESCOLA ESTADUAL VIRA CAMPO DE CONCENTRAÇÃO!

    Brutal violação dos direitos de adolescentes!
     
    Absurda e violenta ação policial hoje na Escola Estadual Frederico Barros Brotero, em Guarulhos.
     
    Dois estudantes estão detidos no 1*DP de Guarulhos.
     
    Professores protegeram com seus próprios corpos os alunos ameaçados pela truculência dos PMs.
    Veja o vídeo, clicando AQUI
     
    O episódio aconteceu nesta quinta (4/4), durante protesto dos estudantes, que pedem a saída do diretor José Maria Stanzani. Desde o início do ano, os alunos que chegam atrasados têm sido impedidos de entrar na escola, mesmo na segunda aula. Hoje, quando tentavam negociar com a direção da escola, os alunos foram surpreendidos com essa ação covarde e insana da polícia, que poderia ter acabado em tragédia.
     
    via Passe Livre Guarulhos