Jornalistas Livres

Categoria: Saúde

  • Desertos Pântanos e Oásis alimentares: O que comer? 

    Desertos Pântanos e Oásis alimentares: O que comer? 

     

    Entre a ausência da comida de verdade e a podridão apresentada pela indústria dos alimentos o que nos resta é ir além dos Oásis alimentares e construir uma rede entre o campo e a cidade que possibilite a população a alimentação saudável enquanto um direito no país.

    Exposição e debate com o site O Joio e o Trigo no Metrô Vilarinho em Belo Horizonte

     

    Em uma breve volta ao passado, podemos demarcar um tempo histórico dos últimos 100 anos que apresenta ao Brasil e ao mundo um novo horizonte sobre a alimentação. As últimas décadas o que é argumentado pelo agronegócio e toda cadeia industrial agroalimentar é que não é possível produzir comida saudável em suficiência para toda a população. Porém como há tanta comida e ao mesmo tempo tanta fome no século 21? Fica a pergunta.

    A revolução verde da agricultura e a Ditadura Militar no Brasil, de forma conjunta apresentaram para o campo, águas, florestas e as cidades urbanas um novo panorama na alimentação da população brasileira. Os agrotóxicos, ou veneno, tinham como garantia a produção de alimentos para o monocultivos em larga escala e a ausência de pragas na produção. Também na mesma narrativa, a revolução verde trouxe o discurso do Produto Interno Bruto PIB da agricultura acima de qualquer política econômica e a ideia modernista de comer alimentos industrializados por sua praticidade e versatilidade. O que restou desta narrativa são os estudos científicos que ligam as doenças graves como o câncer crescente na sociedade.

    Quem não lembra que após Ditadura Militar, com as eleições, o Frango foi a grande bandeira política em debate no Brasil. O ex presidente Fernando Henrique Cardoso apresentou a avicultura em confinamento e o seu controle químico como a alternativa de reposição proteica para a população em situação de pobreza. Neste mesmo processo a queda do valor da moeda, o recente criado real, apresentou um aumento no consumo de alimentos americanizados e a invasão dos fast food como o Brasil do futuro. Na atualidade as barras de cereais que contém todos os ingredientes, menos os cereais.

    A luta das trabalhadoras e trabalhadores nos movimentos sociais rurais em qualquer tempo deste diálogo  é sinônimo de resistência. Com a vitória do ex presidente Lula, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CONSEA e a articulação entre governo e a sociedade civil foram fundamentais para reposicionar a alimentação e a nutrição no cenário político. O tema: Brasil, país rico é país sem pobreza tem muito para nos dizer.

    As políticas de aquisição de alimentos, às compras antecipadas, os recursos para fomento, a assistência técnica e a extensão rural apresentaram uma realidade que sobreviveu na resistência dos povos e comunidades tradicionais. 

    É a agricultura familiar quem produz o que comemos. Mas o processo da dialética é complexo, ao mesmo tempo cresce a resistência do campo é o tempo que se amplia o agronegócio e as bancadas ruralistas. Que se luta pela comida de verdade se apresenta a propaganda para crianças de alimentos ruins para a saúde.

    Nos últimos anos o Guia Alimentar para a População Brasileira traz à sociedade um novo panorama, que além de combater a fome é necessário pensar o que se come. Estar alimentado não é o mesmo que estar nutrido!

    Os desertos e pântanos alimentares estão a cada dia tomando conta da cartografia do país. Se entende por desertos os territórios que apresentam a ausência de venda ou acesso de alimentos saudáveis e por pântanos os espaços territoriais em que a grande oferta alimentar se resume aos produtos ultra processados e de baixo valor nutricional.

    Esta conjugação entre a ausência de alimentos saudáveis e a presença de alimentos ruins para a saúde da população não fica apenas nos centros urbanos. A cada dia ganha as periferias das metrópoles e a ruralidade. Atravessa a questão da renda e apresenta em especial às famílias mais pobres, chefiadas por mulheres negras, a ausência do papel do estado enquanto regulador da economia e responsável pela saúde pública.

    O Governo Federal, após o Golpe em 2016, avança em pacotes de veneno, incentivos para a indústria dos alimentos e perseguição aos movimentos sociais e aos povos e comunidades tradicionais. Uma conjugação que nos leva à ausência da democracia, perda da soberania e da segurança alimentar e nutricional e consecutivamente a morte em larga escala. A alimentação é indispensável para a vida.

    Especialistas apresentam a ideia de que a oferta dos alimentos saudáveis em uma delimitação cartográfica devem ser compreendidos como Oásis. Porém este conceito também nos remete para algo distante, quase inatingível e possibilitador da vida frente aos desertos e pântanos. Os Oásis não podem ser a única forma de se comer com qualidade em um país de tamanha dimensão espacial, biomas e de toda formação ecológica que temos.

    Lutar pelo Direito Humano à Alimentação Adequada é fortalecer as práticas e as culturas alimentares e apresentar para a população alternativas reais que possibilitem transformar a realidade que vivemos. As tecnologias e as redes sociais podem ser aliadas as feiras, as compras colaborativas e aos mercados alternativos.

    E se comer é um ato político, a nossa organização coletiva nos alimentará!

    Leonardo Koury Martins – Assistente Social, professor, escritor e conselheiro dos Conselhos Municipal de Belo Horizonte e Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Minas Gerais. Especial para os Jornalistas Livres

     

  • Guilherme Estrella fala sobre o Pré-sal em palestra na Unicamp

    Guilherme Estrella fala sobre o Pré-sal em palestra na Unicamp

    ” Energia é questão de soberania ou dependência. O que estão fazendo com a Petrobras não é privatizar; é desnacionalizar o que nos garante a soberania, de forma a nos colocar de volta na condição de colônia”, apontou o geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, em palestra realizada no Instituto de Geografia da Unicamp, em Campinas/SP.

     

    Na última terça-feira (5), a UNICAMP recebeu o Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras entre os anos de 2003 e 2012, é considerado o “Pai do Pré-Sal”, rótulo que rejeita, exaltando a equipe superqualificada com quem ele trabalhava. “Era como ser o técnico da seleção brasileira de 58. Só precisava fazer um pedido: ganhem o jogo”, disse.

    Estrella começou sua fala exaltando as qualidades naturais do Brasil: “Temos a maior floresta tropical do mundo. Somos o país mais bem servido de recursos hídricos. Os dois maiores aquíferos do mundo estão no Brasil. Temos uma produção agrícola que nos coloca como segundo maior produtor de alimentos do mundo. E também somos muito ricos em minérios, sendo a maior província mineral do planeta”.

    Em seguida, ele começa a demonstrar a relação do acesso a fontes de energia e desenvolvimento de Estados ao longo da história. Começando com a revolução industrial na Inglaterra, propiciada pelo acesso ao carvão mineral. Num segundo momento os EUA descobrem petróleo e em seguida se tornam potência mundial. Enquanto que a primeira fonte de energia do Brasil foi a eletricidade. Então já percebemos que nosso desenvolvimento foi tardio em relação a essas grandes nações.

    Então, devido a muita luta política chegou o fim a política café com leite com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Com ele construímos a Companhia Siderúrgica Nacional, a Eletrobrás e a Petrobrás, além de diversas outras empresas estatais. A partir de então, com um esforço 100% do Estado brasileiro, começamos a desenvolver tecnologias e entender a geologia do nosso país, o que muitos anos depois resultou no descobrimento do pré-sal, em 2006.

    No momento do descobrimento do pré-sal, nenhuma empresa queria assumir o risco exploratório de desenvolver estas áreas tão desafiadores. Quem assumiu esse risco foi a Petrobras. Foram instituídas duas formas de explorar e produzir o pré-sal: o regime de partilha, onde nas licitações promovidas pela ANP, a empresa vencedora será aquela que oferecer ao Estado brasileiro a maior parcela de petróleo e gás natural (ou seja, a maior parcela do excedente em óleo), e a Cessão Onerosa que é um contrato celebrado entre a Petrobrás e a União através do qual a empresa adquiriu pelo montante total de R$ 75 bilhões o direito de produzir um volume total de 5 bilhões de barris de petróleo equivalente a partir de seis áreas onde a estatal já havia conduzido estudos exploratórios.

    Na quarta-feira (6) aconteceu o leilão do excedente da cessão onerosa. Considerando a descoberta posterior de volumes superiores ao limite do contrato, de cinco bilhões de barris, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou a ANP a licitar esse excedente, no regime de partilha da produção, na Rodada de Licitações do Excedente da Cessão Onerosa.

    O valor de R$ 106 bilhões inicialmente apresentado pelo governo como sendo algo maravilhoso não é bem assim. A rodada do “excedente da Cessão Onerosa” leiloará uma área que possui um volume de 6 a 15 bilhões de reservas provadas, ou seja, reservas com uma probabilidade de 90% de que serem produzidas. Nesse caso, praticamente não há risco exploratório. Portanto, estão entregando praticamente de graça uma das maiores riquezas do mundo. Enfático, Estrella disse que a energia não é mercadoria, é questão de soberania ou dependência. E o que estão fazendo com a Petrobras não é privatizar; é desnacionalizar o que nos garante a soberania, de forma a nos colocar de volta na condição de colônia.

    Das quatro áreas, duas foram concedidas, e pelo lance mínimo. Quem levou foi a própria Petrobrás, com a arrecadação de R$ 69,9 bilhões dos R$ 106 bil que o governo esperava arrecadar. Ontem (7), a Petrobras, também em sociedade com uma estatal chinesa, fechou o contrato por R$ 5,05 bilhões dos R$ 7,8 bi previstos.

    Para concluir a palestra, Estrella afirmou: “Nós, petroleiros, sozinhos, dificilmente enfrentaremos essa parada com perspectiva de êxito. Nós temos que ter a sociedade ao nosso lado. Temos que convencer o cidadão brasileiro que ele é proprietário disso. Quando você entrega o pré-sal, quando você vende uma refinaria brasileira, nós estamos vendendo uma riqueza que pertence ao cidadão brasileiro”.

     

    Assista à palestra “Território e energia: geologia do pré-sal e geopolítica do petróleo”, com Guilherme Estrella realizada no Instituto de Geografia da Unicamp, em Campinas/SP

    https://youtu.be/8J3Z4uGW-RU

     

    Com informações:

    Geopetro – Coletivo de Geopolítica do Petróleo da Unicamp.

    Facebook.com/geopetrounicamp

    Instagram: @geopetrounicamp

    Twitter: @geopetrounicamp

  • Dez coisas que você precisa saber sobre Cannabis Medicinal

    Dez coisas que você precisa saber sobre Cannabis Medicinal

    Da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC)

    O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) publicaram em outubro de 2019 o Decálogo da Maconha. Uma lista com frases curtas e tendenciosas, muitas vezes distorcidas, enviesadas e baseadas em dados sobre o abuso crônico de Cannabis e que foram generalizadas para o uso medicinal. Todas as afirmações ali compiladas são aqui confrontadas com pesquisas que apontam no sentido contrário. Sentimos que é nosso dever esclarecer a população, visto que há milhares de famílias medicando seus filhos com produtos derivados de Cannabis para quadros graves e potencialmente letais, como epilepsia refratária e quadros para os quais a medicina tradicional não oferece tratamento eficaz, como o autismo. A publicação de um documento afirmando categoricamente que não existe Cannabis medicinal é um desserviço à população que se beneficia desse tratamento, instaurando medo e desconfiança em famílias já sofridas devido aos diversos dramas relacionados aos seus entes queridos enfermos. Assim, em nome da SBEC vimos a público esclarecer ponto a ponto as afirmações do Decálogo da Maconha com a expertise e segurança de profissionais que exercem a “medicina canábica” há vários anos com altas taxas de sucesso. Ressaltamos ainda que, uma vez que o CFM e a ABP não reconhecem a existência de Cannabis medicinal, todos os itens que criticam ou apontam malefícios em relação à Cannabis, referem-se ao abuso crônico de Cannabis fumada (incluindo uso recreativo ou adulto), e portanto, não se aplicam ao uso medicinal da Cannabis, pois embora haja alguns aspectos em comum, trata-se de administração de produtos muitas vezes diferentes, por vias e com objetivos diferentes.

    1- Decálogo: A Cannabis sativa e a indica não podem ser consideradas medicamentos e, portanto, não existe “maconha medicinal”;

    SBEC: A Cannabis é uma planta utilizada como medicamento há mais de 4 mil anos, tendo relevante história na Índia. Israel, por exemplo, é líder em pesquisas científicas com a planta e tem seu uso aprovado desde 1992 1 .

    2- Decálogo: A planta tem pelo menos 400 substâncias, sendo que uma, o THC, tem potencial de causar dependência e apenas uma, o CBD, está sendo investigada com o objetivo de verificar se existe ou não um potencial terapêutico;

    SBEC: A Cannabis possui mais de 500 substâncias, das quais cerca de 140 são canabinoides. O potencial terapêutico da Cannabis é resultante da sinergia entre todo o fitocomplexo, isto é: a utilização da planta in natura contendo óleos essenciais, terpenos, ésteres, flavonoides e fitocanabinoides, possui efetividade superior ao uso de seus componentes isolados ou sintéticos. O THC também tem propriedades terapêuticas, é anticonvulsivante, analgésico, anti-inflamatório e antitumoral. 2, 3, 4 .

    3- Decálogo: Como os poucos resultados obtidos (com o tratamento com Cannabis) estão longe de ser generalizados, mesmo que o uso controlado possa ser feito, deve-se levar em conta os potenciais malefícios já́comprovados.

    SBEC: A terapia canábica engloba múltiplos saberes, rompe com a lógica biomédica reducionista e deve ser individualizada, sendo de fato difícil se generalizar os resultados. Isso deve-se às múltiplas particularidades das próprias plantas e ao funcionamento metabólico de cada indivíduo. A terapêutica com a planta requer a lógica da promoção de saúde, colocando em primeiro plano a educação, que é um importante elemento para se conquistar a autonomia. Silva Júnior e Alves5 entendem que os fatores determinantes ou condicionantes da qualidade de saúde são “informações e conhecimento para promover a autonomia e a necessidade de acesso às tecnologias do cuidado”. Outro ponto fundamental para essa terapia é trabalhar com a prática da clínica ampliada e do cuidado. Para Kalichman6 , essas clínicas têm como desdobramento prático: “a superação dos limites colocados pela clínica tradicional e suas versões ‘degradadas’, com a consequente transformação do trabalho em saúde para uma clínica que reconhece sujeitos e suas necessidades, valoriza seus saberes e tem a corresponsabilização como guia para a execução dos projetos singulares terapêuticos”. A Cannabis, como qualquer substância, precisa ter um uso controlado. Os estudos controlados são menos numerosos, em parte devido à proibição da planta, mas seu potencial terapêutico e os parâmetros para o uso seguro já estão demonstrados por diversos estudos e pela prática clínica. Paracelso no século XVI já afirmava que a diferença entre remédio e veneno estava na dose. No caso da Cannabis, além da questão da dose está a cepa utilizada pelo paciente. Esse controle deve passar pelo uso consciente e responsável e pelo acompanhamento do profissional de saúde que pode fazer indicações terapêuticas e balizamentos no sentido de reduzir possíveis danos. Devemos salientar que o uso médico de qualquer substância requer avaliação da dose e acompanhamento dos resultados terapêuticos. No caso da Cannabis, suas propriedades medicinais já são conhecidas há milênios, tendo seu estudo científico ampliado a partir da década de 1960, quando a molécula do Delta-9- hidrocannabinol (THC) foi isolada e identificada pelo Professor Dr Raphael Mechoulam e colaboradores da Hebrew University of Jerusalem, que identificaram o canabinoide endógeno anandamida no cérebro e o 2-aradoquinoil glicerol (2-AG) nos órgãos periféricos. Apesar dos possíveis efeitos adversos e colaterais que a Cannabis pode provocar, principalmente relacionado ao uso de altas doses de THC e a seu uso prolongado, precisamos reconhecer seus efeitos medicinais e ponderar seu uso controlado. O professor Dr Elisaldo Carlini7 da Universidade Federal de São Paulo relatou possíveis efeitos adversos do uso prolongado de THC e que no campo cognitivo pode haver um prejuízo na capacidade humana de discriminar intervalos de tempo e distâncias espaciais, vigilância, memória e desempenho para o trabalho mental; e, na área psíquica, relatou reações como pensamentos desconectados, reações de pânico, alterações na percepção, delírios e experiências alucinatórias. Porém, também destacou o seu efeito medicinal em náusea e vômito em pacientes com câncer, no auxílio para a retomada do apetite, na dor e na Esclerose Múltipla. O uso em outros quadros clínicos parece proporcionar benefícios, que precisam ser mais bem explorados por meio de pesquisas científicas que estão sendo realizadas em diversos países com regulamentação mais progressista sobre a Cannabis. Entretanto, o embargo para o desenvolvimento de políticas e regulamentações que abarquem a questão da pesquisa e da produção da Cannabis interdita o conhecimento de seus potenciais terapêuticos e o debate honesto sobre o público mais vulnerável a seu uso não médico, incluindo crianças, adolescentes e idosos. Além dos efeitos do THC, outros canabinoides vêm sendo estudados. O Canabidiol (CBD), o mais popular, que vem sendo usado em casos de epilepsia refratária e que também tem mostrado efeito terapêutico em diversos outros acometimentos da saúde, como por exemplo, dor crônica, fibromialgia, psicoses e ansiedade8 . Outro exemplo seria o Canabinol (CBN), que tem sido estudado para insônia. No entanto, consideramos ainda mais importante em termos terapêuticos uma abordagem integral da planta levando em consideração os estudos sobre o efeito comitiva ou entourage9, 10 .

    4- Decálogo: Para qualquer substância com potencial de causar dependência em uso terapêutico, até hoje, a regulamentação é especial, pois os benefícios iniciais podem ser substituídos por danos decorrentes do uso crônico, visto que ainda não existem estudos a longo prazo que comprovem a segurança;

    SBEC: O uso da Cannabis medicinal é milenar. O vasto efeito terapêutico em diferentes condições clínicas é, muitas vezes, potencializado pela sinergia dos seus componentes, como THC, CDB e diversos terpenos. Contudo, como qualquer medicamento, o uso crônico pode causar eventos adversos, tornando-se necessária a avaliação individual de riscos versus benefícios para promoção da saúde do paciente. O uso agudo, medicinal, da Cannabis é muito seguro. Não existe dose letal para o CBD e as doses letais do THC, em ratos chegam a 1900mg/kg, e mais de 3000mg/kg em cães. O uso crônico de Cannabis fumada (com altos níveis de THC), em especial na infância e na adolescência, traz prejuízos cognitivos e psicose em predispostos. Entretanto, o uso medicinal não tem trazido esses efeitos nos estudos de longo prazo, dado o efeito protetor do CBD atuando em conjunto com o THC 2, 3 .

    5- Decálogo: As consequências do consumo de maconha fumada costumam ir além do usuário e podem atingir toda a família. Por exemplo, as alterações de humor e mudanças de comportamento são comuns e afetam as pessoas próximas e provocam acidentes no trânsito;

    SBEC: Qualquer substância inalada através de processo de combustão possui alto potencial de danos às vias aéreas e não é recomendada como uso médico. Porém, inalação por vaporização é uma forma de administração que visa a alta e rápida biodisponibilidade, evitando o metabolismo hepático de primeira passagem. Como a via inalada leva a efeito rápido, mas também rápida cessação de seus efeitos, não se recomenda a vaporização como via de administração única, e sim complementar a outra forma de administração, como a via oral. Assim como ocorre com todo e qualquer psicotrópico, não é recomendado dirigir ou operar máquinas pesadas associado ao uso do THC 11, 12 .

    6- Decálogo: O consumo de maconha pode levar a dependência, diminuição da atenção, memória e funções executivas. Prejudica a percepção da realidade e a tomada de decisões. Leva ao declínio de até 8 pontos no QI (Quociente intelectual);

    SBEC: O consumo de Cannabis fumada, com altas concentrações de THC e sem CBD e, principalmente quando iniciado na adolescência tem risco de levar a dependência (taxa presumida de 9% dos que experimentam). Todavia, estudo de David Nutt13 em 2009 (figura 1), levando em conta vários aspectos de danos pessoais (físicos e psíquicos) e sociais (impacto na vida de terceiros), coloca a Cannabis atrás de álcool, heroína, cocaína/crack, tabaco e anfetamina. Um grande corpo de evidências das últimas décadas sugere que o uso adulto de Cannabis é relacionado a prejuízos cognitivos, incluindo déficits na memória verbal, velocidade de processamento, atenção e função executiva14 . Enquanto esses déficits têm sido observados em usuários adultos de Cannabis15, são mais salientes entre usuários adolescentes16 já que se encontram numa fase crítica do neurodesenvolvimento17. Além disso, esses prejuízos também estão relacionados a alterações em estrutura e função cerebrais. O principal prejuízo é na memória imediata, mas que em poucos dias de abstinência melhora consideravelmente

    Embora tenha sido postulado que o uso medicinal de Cannabis possa estar associado a déficits similares, estudos preliminares sugerem que isto pode não ser o caso. Em uma recente investigação piloto14, o único estudo até o momento que examina o impacto de produtos medicinais derivados da planta inteira sobre a performance cognitiva, os autores verificaram que os pacientes em uso medicinal de Cannabis não apresentaram prejuízos no desempenho em testes de função executiva nos três meses que se seguiram ao início do tratamento. Na realidade, os pacientes geralmente demonstraram melhora no desempenho em um número de testes, particularmente naqueles que avaliaram funções executivas. Melhora também foi notada em diversos indicadores de qualidade de vida, sono e de sintomas depressivos. Diferenças entre usuários recreativos e medicinais podem ser relacionadas a uma variedade de fatores, incluindo época de início do uso da Cannabis, duração, magnitude e frequência do uso e escolha atual dos produtos da Cannabis. Apesar de os produtos utilizados pelos usuários recreativos e medicinais serem derivados da mesma espécie de planta, eles são geralmente utilizados para diferentes propósitos (p.e., para sentir-se inebriado x alívio sintomático), inclusive havendo diferenças entre as diversas variedades de Cannabis, estando o cânhamo em um extremo (com alto CBD e baixíssimo THC) e a “maconha” no outro extremo (cepas com alto THC e quase zero CBD). Desse modo, usuários recreativos e medicinais frequentemente utilizam produtos de Cannabis diferentes, considerando os vários constituintes da planta, segundo os efeitos desejados. Usuários recreativos geralmente procuram produtos com alta concentração de THC, o principal constituinte psicoativo da planta Cannabis, enquanto os de uso medicinal, costumam utilizar produtos ricos em outros canabinoides. As pesquisas começaram a focar nos efeitos benéficos do canabidiol (CBD), o constituinte não-euforizante da Cannabis, que tem sido apregoado por seus efeitos antipsicóticos, ansiolíticos, anticonvulsivos e anti-inflamatórios (19) . Enquanto alguns estudos com usuários de Cannabis recreativa reportaram uma relação entre altos níveis de THC e pior performance cognitiva20, 21 a administração aguda de CBD antes do THC tem mostrado melhorar a função cognitiva22, 23, ressaltando a necessidade de mais estudos. Adicionalmente, Yücel et al 24 encontraram que, embora usuários de Cannabis expostos ao THC exibam alterações no volume hipocampal e na neuroquímica, aqueles que utilizaram produtos que também continham CBD não demonstraram diferenças em relação ao grupo controle. Igualmente, uma recente revisão dos efeitos do THC e do CBD em neuroanatomia concluiu que os usuários de Cannabis são suscetíveis a alterações cerebrais em regiões com alta densidade de receptores canabinoides, e embora o THC exacerbe essas alterações, o CBD aparenta proteger contra mudanças deletérias25 . Finalmente, vários pesquisadores têm administrado THC ou CBD isolados para pacientes controles saudáveis, a fim de investigar o impacto desses constituintes nos modelos de ativação, usando ressonância magnética funcional e em geral, os estudos sugerem que o THC e o CBD têm efeitos opostos na ativação das áreas cerebrais relacionadas à cognição26, 27 . Isto pode estar relacionado ao fato de que o THC é um forte agonista CB1 , enquanto o CBD é antagonista CB1 e exerce seus efeitos através de mecanismos indiretos, incluindo ação em outros receptores28, 29. Além disso, há evidência de que o CBD exerce uma ação de agonista inverso do receptor CB1, deslocando o THC parcialmente de sua ligação forte ao receptor CB1. No relatório da National Academy of Sciences de 201730, no Capítulo 12, estudos indicam que em indivíduos com esquizofrenia e outras psicoses, um histórico de uso de Cannabis pode estar relacionado com melhor performance em testes de aprendizagem e memória.

    7- Decálogo: Estudo recente mostrou que maconha usada na adolescência pode aumentar o risco suicida nesta faixa etária e também na fase adulta;

    SBEC: No capítulo 12 do relatório da National Academy of Sciences de 201730, dedicado aos estudo dos efeitos sobre a saúde da Cannabis e dos canabinoides, foi verificado que o uso de Cannabis não aparenta aumentar a probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade e estresse pós-traumático. E, que apenas em usuários pesados era mais frequente ideação suicida do que em não usuários. Por outro lado, em importante e contundente revisão e meta-análise, Gotzsche et al31 observaram que o uso de antidepressivos em voluntários adultos saudáveis dobrava a ocorrência de eventos que podem culminar com suicídio e violência.

    8- Decálogo: A maconha pode induzir à esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar quadros de ansiedade, como ataques de pânico;

    SBEC: A Cannabis tem tido demonstrada eficácia no tratamento de vários transtornos psiquiátricos, incluindo transtornos de ansiedade (TOC, TEPT, fobia social) e depressão. Muitos estudos avaliaram CBD e/ou THC isolados, porém o uso de extrato de Cannabis é ainda mais eficaz em relação a seus benefícios terapêuticos devido ao efeito comitiva (sinergia entre todas as moléculas presentes na planta). Entretanto, em alguns transtornos psiquiátricos, salienta-se a importância de se utilizar níveis mais baixos de THC em relação ao CBD, enquanto para outros é necessária a presença do THC em proporções ajustadas individualmente, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48,49 .

    9- Decálogo: “O consumo de maconha na gestação leva a alterações no cérebro do feto”

    SBEC: Dado o aumento do uso adulto de Cannabis que tem sido liberado em diversos países, assim como da Cannabis medicinal, a exposição durante a gestação tem aumentado. Um estudo em Vancouver (Canadá) encontrou que 77% do uso medicinal da Cannabis na gestação foi decorrente de náusea, 50% para tratar falta de apetite, dor, insônia, ansiedade, depressão e fadiga50. Apesar do conhecimento de potenciais danos ao feto, o uso de Cannabis na gestação tem aumentado e estudos de avaliação de segurança são cada vez mais necessários 51,52 . Em relação ao uso de Cannabis na gestação, carecemos de estudos do uso de THC na gravidez que avaliem como se dá sua metabolização, percentagem de passagem placentária e efeitos no Sistema Nervoso Central fetal. A Cannabis fumada tem absorção quase imediata e em concentração muito maior do que a via oral, que tem biodisponibilidade muito menor. Há indícios de que fatores fetais estejam envolvidos na concentração de THC, pois há relato de que gêmeos dizigóticos de mães usuárias de Cannabis diferiram nas taxas de THC no cabelo e na urina. Os estudos de seguimento de mães usuárias de Cannabis têm encontrado taxas menores de peso nos recém-nascidos, tremores, reações de sobressalto, redução de sono, redução no processamento verbal e de memória, redução de concentração, controle de impulsos e hiperatividade. Esses estudos se baseiam no relato materno de uso, de modo que é difícil fazer correlações de dose-resposta. Além disso, o uso relatado é de Cannabis fumada, não havendo estudos com Cannabis medicinal. O consumo de qualquer substância tóxica ou que atravesse a placenta durante a gestação possui potencial de causar danos a um feto em desenvolvimento. O risco de más-formações ocorre especialmente no primeiro trimestre. A partir da quinta semana de gestação a placenta estabelece seu mecanismo de transporte transplacentário. O abuso de álcool em doses altas durante a gravidez pode causar síndrome alcoólica fetal. O consumo de nicotina durante a gravidez já foi relacionado com TDAH53 e síndrome de Tourette na criança. Diversas substâncias terapêuticas usadas na gravidez podem causar malformações, tais como lítio e alguns antidepressivos. Entretanto, já é consenso que é mais danoso não tratar uma depressão na gravidez do que assumir os riscos de potenciais efeitos ao feto pelos antidepressivos. Sendo assim, estudos são necessários para saber se a Cannabis medicinal na gestação e no aleitamento é danosa para o feto, de modo que no futuro possamos tomar medidas baseadas em riscos versus benefícios em relação a mães que não prescindam do tratamento, como ocorre atualmente em casos de mães deprimidas, bipolares ou psicóticas. Por ora, recomendamos que as gestantes sejam informadas quanto ao atual estado de conhecimento sobre a questão para que possam decidir em conjunto com seus médicos sobre o uso de Cannabis durante a gestação.

    10- Decálogo: O consumo de maconha pode levar a câncer de pulmão, bronquite, enfisema e infecções respiratórias, dentre outras alterações nos diferentes sistemas orgânicos. Elas são mais graves que aquelas decorrentes do uso de cigarro comum. SBEC: O consumo de maconha ou Cannabis fumada pode levar a problemas respiratórios assim como o tabagismo, tais como enfisema54 . Em pessoas susceptíveis ou cardíacas, a Cannabis SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DA CANNABIS fumada pode levar a infarto agudo do miocárdio, hemorragia cerebral, morte súbita e acidente vascular cerebral, 55,56 . Zhang et al57 , em um estudo com mais de 2 mil casos de câncer de pulmão, não encontrou aumento de carcinoma de células escamosas de pulmão em usuários de Cannabis fumada. Entretanto, a taxa de adenocarcinoma foi 1,7 x maior em fumantes de Cannabis. Porém, a taxa de usuários de tabaco entre os que fumam Cannabis foi de mais de 80%, de modo que não se pode excluir a influência do tabaco nesses resultados. Na literatura médica, a associação de problemas cardiorrespiratórios e de câncer com o uso de tabaco é muito maior do que com o uso de Cannabis fumada. Uma busca simples no PUBMED por tobacco and lung cancer origina mais de 7 mil artigos, enquanto a busca por Cannabis and lung cancer, traz 84 estudos na presente data. Tashkin e Roth58 revisaram a literatura sobre problemas pulmonares entre fumantes de Cannabis versus fumantes de tabaco e concluem que a literatura é escassa, mas que os dados atuais indicam frequência semelhante de tosse crônica, catarro e sibilos (chiado), inflamação de mucosa, metaplasia e desorganização celular mostrando que a afirmação de que as consequências do fumo de Cannabis são muito piores que as do tabagismo é totalmente improcedente e irresponsável pois desmistifica o tabagismo, estimulando seu consumo.

    Participaram da elaboração deste artigo:

    Ana G Hounie, psiquiatra, Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e prescritora de Cannabis medicinal desde 2016.

    Camila Sirieiro Abreu, Farmacêutica industrial, Mestrado na Fiocruz e Especialização em pesquisa clínica na Invitare.

    Eliane Lima Guerra Nunes, Doutorado FMUSP, especialista em Psicanálise Sedes Sapientiae, especialista em dependência química UNIFESP, Coordenadora Geral da SBEC.

    Jackeline Barbosa, Neurologista e Médica da Família. Doutorado em Ciências Médicas – UFRJ. Mestrado em Neurologia – FMUSP-RP. Especialização em Bioética, Pesquisa Clínica e Desenvolvimento em Fitoterapia e Biotecnologia Vegetal, Diretora do Comitê Científico para Pesquisas Clínicas da SBEC.

    João Carlos Normanha Ribeiro, médico intensivista, diretor médico da AGAPE, prescritor desde 2016.

    Paula Fabrício, psiquiatra, Mestranda pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca ENSP/ FIOCRUZ e prescritora de Cannabis desde 2018. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DA CANNABIS

    Rafael Evangelista Ladeira – Presidente do Instituto de Pesquisas Científicas e Medicinais das Plantas – Aliança Verde e Membro Honorário da SBEC Wilson Lessa da Silva Jr, psiquiatra, professor UFRR, prescritor desde 2017.

  • Ato reunirá mil mães em defesa da amamentação

    Ato reunirá mil mães em defesa da amamentação

    Do Extra

    O Rio sediará um ato público em defesa da amamentação, no dia 11 de novembro: mil mães com seus bebês se reunirão nos jardins do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, no Flamengo, para chamar atenção para a importância do aleitamento materno.

    “Um ato coletivo de amamentação possibilita a troca de saberes e experiências, reforça a motivação das mulheres para continuar amamentando e mobiliza a sociedade para a relevância dessa prática. Aumenta a conscientização e reforça o apoio que precisa vir de todos, sociedade, família e estado”, afirma a advogada Fernanda Hack, uma das organizadoras do Mil Mães.

    Para arcar com as despesas e montar toda estrutura para receber as mães e seus bebês, os organizadores do evento estão realizando um financiamento coletivo, que tem como meta a arrecadação de R$ 70 mil até o dia 3 de outubro. As doações podem ser feitas pelo link http://benfeitoria.com/milmaesamamentando.

    “ A amamentação é vital para a saúde de uma criança ao longo de toda a vida. Mas é um aprendizado diário, cansativo, às vezes, doloroso. Ajudar a construir uma rede de apoio para esse momento especial é fundamental”, afirmou a atriz Maria Paula Fidalgo, que gravou um vídeo sobre o evento.

    Os valores arrecadados serão destinados ao aluguel de banheiros químicos, à montagem de trovadores, ao transporte de voluntárias que virão de diversos pontos do país, alimentação, entre outros. Segundo a organização do evento, caso a meta não seja atingida, os valores doadores serão devolvidos.

  • Inexpugnavelmente

    Inexpugnavelmente

     

     

     

     

     

    Construir um país é derrubar muros, abrir janelas, criar portas.Há uma linha de frente na história, entre pensamento e resistência, escrita por pessoas que pensam e creem nos cuidados com a vida,  saúde coletiva.

    No Brasil colonial eram os curandeiros e barbeiros que propiciavam atendimento de saúde aos menos favorecidos./ desenho por Jean-Baptiste Debret

     

    São antigos os traços, relatos, o percurso dos que querem sim a saúde como direito universal, integral, equânime. 

     

    Será lançado, dia 12, nesta quinta-feira, o LASCOL, Laboratório de Saúde Coletiva, na Escola Paulista de Medicina/Unifesp, na cidade de São Paulo.

     

    Docentes, técnicos, pesquisadores, residentes e alunos da graduação e pós-graduação vinculados à área de Política, Planejamento e Gestão; além de convidados de outras universidades, gestores e trabalhadores do SUS, Conselheiros de Saúde, lideranças e militantes dos movimentos sociais, parlamentares com atuação na área da saúde, etc.

     

     

     

    O compromisso é com a democratização e disseminação de conhecimentos e informações para a sociedade, utilizando a mídia convencional, as redes sociais e outros meios alternativos de comunicação.

     

    Atividades de pesquisa e disseminação de conhecimentos, atividades de extensão, ações diversas com o movimento social, assessoria e consultoria ao que, de fato, importa para se viver numa saúde coletiva.

     

    Políticas sempre em movimento, que necessitam de permanente reflexão em sua construção. E que agora estão em risco.

    A 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada entre 17 e 21 de março de 1986, foi um dos momentos mais importantes na definição do Sistema Único de Saúde (SUS).

     

     

    Em tempos de conservadorismos e quebra do Estado Democrático de Direito que estamos vivendo, é o próprio SUS, enquanto política pública, universal e gratuita, que está em risco.

     

     

    Abre-se convite aos que não renegam ou abjuram, creem livres, conectam-se.

  • A nuvem escura que nos cobre a todos

    A nuvem escura que nos cobre a todos

    A névoa que cobre a Avenida Paulista e encobre a lua na foto, não é das queimadas em Mato Grosso, onde vivemos hoje, ou de outros estados da região amazônica. É do gás lacrimogêneo lançado às centenas de litros pela PM sobre estudantes que protestavam contra o aumento das passagens de ônibus e quem mais estivesse nas ruas, como por exemplo os jornalistas, no fatídico 13 de junho de 2013. De alguma forma, os dois eventos estão conectados.

    O excesso, pra dizer o mínimo, de violência policial sobre manifestantes foi exigido em editoriais pelos jornais e comentaristas de TV que reclamavam “o direito do cidadão de bem” de ir e vir numa das principais avenidas da cidade e contra “a balbúrdia” dos estudantes e ativistas, em sua maioria de esquerda. O evento mudou o padrão de aceitação da sociedade sobre as manifestações. A partir desse dia, se fosse uma manifestação “sem partido”, “contra tudo o que está aí”, com bandeiras do Brasil, teria cobertura no Jornal Nacional e direito a selfies com os policiais. Mas se fosse de “baderneiros”, contra o governo de direita do PSDB de São Paulo ou com bandeiras vermelhas, o tratamento seria como o de 13 de junho. As manifestações de direita, no final, derrubaram o governo. Tivemos Temer prometendo milhões de empregos com a reforma trabalhista, o que era mentira, enquanto recebia malas de dinheiro na garagem. Depois tivemos a prisão sem provas do principal candidato de esquerda ao governo federal e eleição de um fascista que chega nos dar saudade da velocidade com a qual Temer destruía a economia, os direitos, a educação e meio ambiente no Brasil.

    As nuvens de fumaça das queimadas que escondem agora o sol em quase metade do Brasil começaram ali. São mais escuras, espessas e duras, assim como as balas de borracha que cegavam os jornalistas são hoje as balas de fuzil que executam doentes mentais em surto na ponte Rio Niterói e centenas pobres e negros nas comunidades cariocas (e não só). A nuvem do fascismo, da opressão, da falta de perspectiva, já penetrou fundo nos cérebros mais frágeis. Dois adolescentes mataram oito colegas e professores numa escola em Suzano em março. Hoje, outro jovem feriu mais cinco numa escola no Rio Grande do Sul. Essas nuvens não vão se dissipar se não agirmos. Se não reagirmos. É passada a hora de quem ainda tem consciência nesse país se levantar e dar um BASTA !

    #MediaQuatro #ProtejaAmazônia #Fotojornalismo #JornadasDeJunho #FascistasNãoPassarão #ContraOsCortesNaEducação #EducaçãoPúblicaDeQualidade #NãoàViolênciaPolicial #LulaLivre #AnulaEleição2018

     

    Por: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – Especial para os Jornalistas Livres