SEM QUALQUER EXPERIÊNCIA em fornecimento de material hospitalar, uma empresa chamada Farma Supply ganhou do Ministério da Saúde dois contratos para a compra de máscaras cirúrgicas que juntos somam R$ 18,2 milhões.
Graças ao estado de emergência decorrente da pandemia do coronavírus, a empresa foi escolhida sem que houvesse concorrência pública. As máscaras que ela fornece, porém, são 67% mais caras que a de uma concorrente que também fornece ao governo federal.
A Farma Suply tem como sócio e administrador Marcelo Sarto Bastos, um militar aposentado da Marinha e bolsonarista fervoroso. Em sua página no Facebook, ele tem um histórico de postagens a favor do presidente Jair Bolsonaro e aliados. É também apoiador da criação do Aliança, o partido que o presidente quer criar.
O ministério comandado por Luiz Henrique Mandetta autorizou em 5 de março a dispensa de licitação para o contrato nº 54/2020. Ele prevê o gasto de R$ 2,4 milhões na compra de 1,5 milhão de máscaras a um preço unitário de R$1,60.
Para isso, usou lei federal 13.979, de 6 de fevereiro, que prevê a realização de compras emergenciais sem licitação para o enfrentamento da pandemia de covid-19. Para participar, basta que a empresa não tenha nenhum impedimento legal de realizar contratos com o setor público.
Só que, no mesmo dia, o Ministério da Saúde fechou outro contrato para a compra do mesmo produto. A vendedora, dessa vez, foi a BRT Medical de Materiais Hospitalares, de João Pessoa. Idênticas às da Farma Supply, cada máscara da BRT irá custar 40% menos: R$ 0,96 a unidade.
O Intercept verificou outros editais de compras de máscaras cirúrgicas e encontrou diferenças ainda maiores de preços. A Prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo, comprou máscaras com descrições similares em janeiro deste ano e pagou R$0,14 por unidade. Ou seja, 12 vezes menos do que o valor pago para a Farma Supply.
Uma semana e meia depois das primeiras compras, em 17 de março, Mandetta assinou um terceiro contrato para a aquisição de mais máscaras. Em vez de optar pela mais barata, porém, fez o inverso e entregou mais R$ 15,8 milhões à Farma Supply. Detalhes deste contrato, como o número de máscaras e o valor unitário, ainda não foram publicados no site do ministério.
A paraibana BRT já participou de ao menos 12 licitações para fornecimento de material médico para hospitais federais do Nordeste. A Farma Supply, porém, é novata em vendas ao governo federal: até ganhar os dois contratos sem licitação deste mês, tinha vencido apenas uma licitação federal – e não na área médica. Em 2014, recebeu R$ 449,10 por garrafões de 20 litros de água mineral comprados pelo Ministério da Cidadania para o Museu da República, no Rio.
Criada em 2011, a Farma Supply informa em seu site que “assessora pacientes na aquisição de medicamentos importados de última geração em caráter de urgência”. Ou seja, ajuda quem deseja comprar remédios que não são produzidos no Brasil, mas podem ser comprados por brasileiros por atenderem a padrões internacionais. À Receita Federal, diz que também faz “comércio atacadista de instrumentos e materiais para uso médico, cirúrgico, hospitalar e de laboratórios”.
Reprodução: Facebook
A soma dos dois contratos da Farma Supply com o Ministério da Saúde é mais de 180 vezes maior que o capital social que a empresa informa à Receita Federal: R$ 100 mil. O endereço que consta no site oficial é um pequeno prédio comercial na zona oeste do Rio de Janeiro. Não há qualquer informação sobre que estrutura ou quantos funcionários a Farma Supply possui para dar conta de produzir ou importar R$ 18,2 milhões em máscaras cirúrgicas no prazo de 30 dias previsto no contrato.
Em fevereiro, o governo federal chegou a abrir um edital para a compra de 24 milhões de máscaras, mas enfrentou dificuldades para encontrar uma empresa que atendesse à demanda. A solução encontrada foi dividir as compras em lotes de 500 mil unidades e realizar as compras sem licitação.
Se lhe falta de experiência em vendas ao governo, a Farma Supply coleciona negócios que terminaram na justiça. Em março de 2018, a empresa foi condenada à revelia no Tribunal de Justiça de Santa Catarina e teve R$248 mil em bens bloqueados por não ter quitado uma dívida de compra de equipamentos realizada em 2016. O processo foi movido por uma empresa de máquinas têxteis de Blumenau.
Um ano antes, A Farma Supply foi processada por uma empresa de São Paulo que importa insumos à base de canabidiol, substância presente na maconha, para a produção de óleos medicinais. A empresa cobra R$ 218.484,89 por um suposto calote na venda de medicamentos. O caso está na segunda instância no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
O Intercept entrou em contato com o Ministério da Saúde e com a Farma Supply na noite de sexta-feira, 20, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem. O ministério foi questionado sobre critérios de escolha para seleção dos fornecedores, o motivo da diferença de preços em relação à compra realizada com a BRT Medical na mesma data e se o histórico judicial da Farma Supply foi levado em consideração.
O uso desse tipo de máscara cirúrgica é recomendado para quem está com sintomas da covid-19, para quem está cuidando de pessoas infectadas ou para profissionais de saúde. Como aconteceu com álcool gel, a alta procura nas farmácias fez o produto sumir das prateleiras e Organização Mundial de Saúde já alerta para a possibilidade de falta de material
A Farma Suply tem como sócio e administrador Marcelo Sarto Bastos, um militar aposentado da Marinha e bolsonarista fervoroso.
Via de regra, essas paralisações são fruto da própria iniciativa dos trabalhadores, que não esperam autorização para salvar vidas.
Apesar de todas as orientações médicas e sanitárias para evitar aglomerações e dos decretos governamentais para fechar serviços não essenciais durante a pandemia, as empresas de telemarketing seguem operando normalmente em todo Brasil. Almaviva, Atento, Teleperformance e outros grandes call centers terceirizados acreditam estar vivendo em um planeta à parte: tentam manter o funcionamento, ignorando ou minimizando os relatos de operadores sobre colegas doentes ou contato com infectados.
Operadores de call center em São Paulo preparam paralisação na próxima sexta-feira
Após uma semana de incertezas e desespero, operadores de call center começam a tomar providências por conta própria. Por todo Brasil, se espalham notícias sobre greves selvagens, em que os trabalhadores decidem juntos abandonar as operações. As empresas de call center são um ambiente ideal para a contaminação pelo vírus, aglomerando centenas de pessoas em salões mal ventilados e compartilhando equipamentos — sem falar na ausência de meios de prevenção básicos, como álcool em gel e limpeza do espaço de trabalho.
Na manhã desta quinta-feira (19/03), operadoras da Fidelity de Lauro de Freitas, na Bahia, abandonaram seus postos para protestar em frente à empresa. Ainda na Bahia, teve protesto em Feira de Santana (primeira cidade com caso confirmado de coronavírus da estado) e em Salvador.
Paralisação na BTCC-Oi de Goiânia
Também no Nordeste, trabalhadores paralisaram a Almaviva de Teresina, no Piauí — a maior empresa da cidade, que concentra milhares de pessoas em um mesmo prédio — chamando seus colegas para fora. A Almaviva também foi palco de mobilizações em Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde os operadores saíram para a rua cantando “Ah, o que que é isso? Alguém aqui vai contrair coronavírus!”.
Paralisação da BTCC-Oi em Goiânia, 19/03
Em Goiânia, capital de Goiás, o dia não foi menos agitado. Trabalhadores da BTCC-Oi fecharam a rodovia BR-153 cantando “quarentena é solução, saúde e proteção!”. A gerência aceitou receber uma comissão para negociação e propôs dispensar quem faz parte de grupo de riscos e adiantar as férias de quem pedisse — no entanto, a reivindicação dos trabalhadores, para conter a pandemia, era suspender o trabalho. Também em Goiânia, a Atento foi paralisada por seus funcionários, que denunciam perseguição contra quem fala sobre saúde dentro da empresa: supervisores bloqueiam e excluem operadores de grupos de mensagens e desligam os televisores durante notícias sobre o Covid-19. Em resposta ao ato, as chefias da Atento acionaram a polícia para reprimir a greve. Nas redes sociais, corre uma convocatória para paralisação geral dos call centers de todo Brasil na sexta-feira, 20/03. Em São Paulo, o chamado já tem adesão de funcionários de unidades da Almaviva, Atento, Teleperformance, LiQ e Contact Center. A reivindicação é suspensão imediata das atividades da empresa em função do pandemia do Covid-19 com manutenção plena dos salários.
Ao se recusarem a fechar, as empresas colocam em risco não apenas a vida de seus trabalhadores, mas de todas as pessoas que os cercam e, em última instância, de toda população. Afinal, o vírus prolifera exponencialmente. Basta ver o que aconteceu na Coreia do Sul. Segundo reportagem do Globo, o país havia conseguido estabilizar o surto do Covid-19, e o número de casos infectados começara a cair. No entanto, a presença de um único infectado, em uma única sala de call center, produziu um efeito desastroso. Só nessa empresa, foram confirmados 90 novos casos e outros 200 suspeitos. Nos dias seguintes, o número oficial de mortos saltou de 3 para 63. Ainda no cenário internacional, em Portugal, o Sindicato dos Trabalhadores de Call Center reivindica o fechamento dos centros de atendimento com mais de 200 trabalhadores, alertando para o fato de que existem locais onde os funcionários compartilham os mesmos materiais (fones de ouvido e microfones). Em resposta a essa postura, os trabalhadores estão exigindo, além do fechamento dos centros de operação, a implementação de trabalho à distância e marcaram uma greve para dia 24 de março.
No Brasil, a atitude dos patrões, que insistem em manter em atividade um serviço não essencial, como o telemarketing voltado para vendas ou retenção de clientes, ocorre com respaldo dos sindicatos de funcionários do setor. Na maioria dos estados, a posição oficial dos sindicatos de telecomunicações é pedir para as empresas zelarem pela higienização do ambiente, sem, no entanto, exigir a quarentena. É por isso que, via de regra, essas paralisações são fruto da própria iniciativa dos trabalhadores, que não esperam autorização para salvar vidas.
A Secretaria Estadual da Administração Penitenciária (SAP) e governo Doria fazem modificação e restrições as visitações, mas não impede totalmente visitas, como denuncia Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (SIFUSPESP), em nota:
Um servidor do Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, na capital, é o primeiro caso confirmado de coronavírus no sistema prisional paulista. O Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (SIFUSPESP) também recebeu e está apurando informações sobre outro servidor com sintomas do vírus, lotado na Penitenciária “A.E.V.P. Cristiano de Oliveira”, de Flórida Paulista, no interior do estado.
Há suspeita de contágio de um detento de um dos Centros de Detenção Provisória (CDP) de Pacaembu, no interior paulista. Na cidade, a prefeitura municipal decretou nesta quinta (19) a proibição de entrada e permanência de visitantes em hotéis, pensões e outros estabelecimentos que hospedam visitantes das unidades prisionais.
Depois de apresentar febre alta e dificuldade para respirar – sintomas considerados típicos do coronavírus, um detento do Centro de Detenção Provisória (CDP) I de Pinheiros, na capital, pode ter colaborado para a infecção de um pavilhão inteiro da unidade prisional. O caso aconteceu nesta quarta-feira (18).
De acordo com relatos de policiais penais presentes no atendimento do sentenciado, ele teria tido contato com pelo menos 35 outros presos que estavam na mesma cela antes de ser isolado. Para piorar, esses presos que estavam no mesmo local se espalharam pelo pavilhão e podem ter infectado ainda mais detentos.
Na Penitenciária Feminina da Capital (PFC), em Santana, na zona norte paulistana, uma detenta com os sintomas do coronavírus passou por atendimento médico nesta terça-feira (17). Segundo informações recebidas pelo sindicato, ela passou por exames, mas não foi feito teste para o diagnóstico do vírus.
A detenta acabou liberada pelo médico, com a recomendação de que volte ao atendimento se sentir falta de ar. A presa retornou à penitenciária, onde segue dividindo a cela com as demais detentas.
Na Penitenciária 1 de Lavínia, um detento com sintomas de gripe faleceu há duas semanas, mas ainda não saiu o resultado do exame para identificar se o vírus foi ou não a causa da morte.
Barrar visitas e trânsito de detentos
O prenúncio de uma possível infestação pelo COVID-19 no sistema prisional possui relação direta com a demora da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e do governo de São Paulo em suspenderem as visitas bem como o trânsito de sentenciados como forma de minimizar os riscos de proliferação do vírus. Em resolução publicada no Diário Oficial deste 19 de março, a SAP restringiu apenas visitantes a partir da 60 anos e os menores de idade, mantendo os demais.
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As novas regras para visitas de presos, que passam a valer a partir deste sábado (21):
– Cada preso poderá receber apenas 1 visitante por fim de semana;
– Está proibido o ingresso de menores de idade, acima de 60 anos ou de pessoa que se enquadre nos demais casos do grupo de risco definido pelos órgãos de saúde;
– A exemplo do que já foi feito no final de semana passado, os visitantes continuam a passar por triagem na entrada: aqueles com sintomas de enfermidades não poderão entrar. Segundo nota da http://www.sap.sp.gov.br/
O SIFUSPESP enviou ofício à SAP no último 13 de março, mas ainda não teve qualquer resposta à reivindicação de suspensão total e imediata das visitas e do trânsito dos presos entre as unidades prisionais. Por isso, o sindicato protocolou uma ação civil pública nesta quinta-feira (19) junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, reivindicando um plano de contingência imediato com uma série de medidas contra a contaminação pelo coronavírus no sistema prisional paulista.
O sindicato quer a adoção imediata de um protocolo específico para proteger servidores com doenças crônicas, como diabetes, problemas respiratórios e cardiovasculares, que agravam o quadro do coronavírus, o fornecimento de equipamentos de proteção individual e coletiva e equipe médica para avaliação dos trabalhadores.
O sindicato reivindica ainda que a SAP e o governo estadual garantam condições para que os atendimentos aos detentos sejam feitos ao máximo dentro das próprias unidades, restringindo o trânsito externo apenas aos casos urgentes.
A imprensa tradicional não está noticiando os casos já constatados, e a sociedade civil vem manifestando muita preocupação quanto às condições precárias e desumanas dos presídios, para conter uma contaminação desta natureza. Matéria da Agência Pública por exemplo, levanta dados recentes sobre a contaminação por tuberculose na população carcerária.
Mais de 10 mil: essa foi a quantidade de casos confirmados de tuberculose entre detentos em 2018 no Brasil. […]
Presos brasileiros têm 35 vezes mais casos de tuberculose que população livre.
Há uma epidemia de tuberculose nos presídios, confirma Carla Machado, professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela pesquisa epidemiologia e métodos quantitativos em saúde e alerta: devido às condições nas penitenciárias, “é uma questão de tempo até que o novo coronavírus esteja instalado entre a população carcerária”.
Em um momento extremamente delicado que são necessários todos os recursos humanos necessários o prefeito Jonas Donizette (PSB) golpeia os trabalhadores do serviço público com uma manobra política na Câmara Municipal de Campinas. A proposta impacta na renda e diminuí o salário do servidor público, ao promover o aumento no desconto previdenciário que passará a ser de 14% , segundo a proposta apresentada pelo prefeito Jonas Donizette (PSB)
A manobra foi realiza hoje, 18/03/2020, a comissão de justiça e legalidade da Câmara Municipal reuniu-se, e, de última hora, inseriu na pauta o Projeto de Lei 19/2020, de autoria do Prefeito Jonas Donizette que trata da reforma do Camprev ( Instituto de Previdência Social do Município de Campinas).
De forma sorrateira os vereadores VINICIUS GRATTI (PSB), LUIZ CIRILO (PSDB), TENENTE SANTINI(PSB), ZÉ CARLOS(PSB) e LUIZ CARLOS ROSSINI(PV) aliados ao prefeito, propuseram a votação no dia 23/03/2020 mesmo diante ao isolamento social por conta da crise do Coronavírus. Diante a momento de enfrentamento muitos servidores estão na linha de frente contra o avanço da epidemia na cidade. A entrada na Câmara está proibida e restrita nesse período assim como todas as atenções estão (ou deveriam estar em cuidar da população) .
Audiência pública
Havia uma audiência pública agendada para o dia 13/03/2020, que foi cancelada em virtude da pandemia mundial do Coronavírus.
A crise sanitária e a soma de esforços conjuntos deveriam ser priorizados mas a base aliada pretende retirar direitos
Parte da Câmara preocupada com a população e com a crise social, econômica e sanitária conseguiu o adiamento, portanto não será mais votado no dia 23 como o base governamental queria. Mas poderá ser votado em breve, segundo o vereador Rossini, o PL (Projeto Lei) que ataca o trabalhador em um momento tão fragilizado, poderá ser votado durante o período de contingenciamento.
Não haverá audiência pública, lembrando que algumas áreas do serviço público não terão condições de mobilização, pois estarão ocupadas com a epidemia, com a população e como atender as demandas da cidade.
Um momento de extrema fragilidade e que qualquer mudança previdenciária não pode acontecer sem o mínimo de discussão. A fragilidade dos desmontes das políticas públicas, da seguridade social e dos serviços públicos têm impactado diretamente na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiras.
Os serviços públicos são interesse popular, e boa parte do povo brasileiro necessita deles para sobreviver. Com o SUS (Sistema Único de Saúde) não é diferente – saúde é um direito básico de todo cidadão e em tempos de calamidade, como a pandemia do coronavírus, fica mais evidente a necessidade de um bom serviço de saúde pública. O Documentário “Na fila do SUS”, dirigido pela profissional e pesquisadora da área Ellen Francisco, retrata o impacto que o sucateamento do SUS têm na vida dos brasileiros mais vulneráveis socialmente.
Manifestação contra o sucateamento do SUS
“Na fila do SUS”. São Paulo, Rio e Amazônia
Reconhecendo o sistema único de saúde como uma luta popular, a obra apresenta essa reflexão a partir de três diferentes situações e regiões do Brasil. Em São Paulo, o foco é com moradores de rua e dependentes químicos. A cidade não tem hoje políticas públicas para essa população, e isso implica em falta de ações como redução de danos e ressocialização. Pessoas em situação de rua vivem em constante ameaça de doenças respiratórias e dermatológicas, como tuberculose e escabiose, além de doenças psicológicas, fruto da falta de cuidado com a saúde mental dessas pessoas.
No Rio de Janeiro, o debate gira em torno da precarização da atenção primária nos postos de saúde e hospitais. As Clínicas da Família sofreram com esse desmonte e isso gerou uma crise na rede. Funcionários com meses de salários atrasados e pacientes relatando superlotação e restrição de atendimento. Consequência direta da desestruturação do atendimento básico.
Por último, “Na fila do SUS” denuncia a influência do agronegócio nas áreas de preservação ambiental da Amazônia. E o impacto disso na saúde dos povos indígenas. Como o sucateamento do SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e a transferência para os precários serviços de saúde da rede municipal, a região carece de atendimento de qualidade para esse povo que vem sofrendo com doenças causada pelos impactos ambientais.
“Na Fila do SUS é uma iniciativa para debatermos a importância da saúde pública e do SUS na vida do povo brasileiro. Se a situação já estava difícil em diversas capitais, agora em tempos de Coronavírus a coisa ganhou ares desesperadores. É uma produção urgente para mostrar que tem muita gente defendendo o SUS e a saúde pública.” diz Vito Ribeiro, roteirista do filme.
Agentes comunitários da saúde participam de manifestação a favor do SUS
Luta de classes na saúde
O documentário, com a opinião de pesquisadores e acadêmicos especialistas no assunto, traz essa crítica ao poder político que precariza e limita a capacidade do SUS de atender os menos favorecidos. Dentre os responsáveis estão os planos de saúde privados, empresas, partidos e candidatos políticos – os interesses particulares nesse meio acabam causando esse desmonte, e milhões de brasileiros são prejudicados.
A previsão para o lançamento de “Na fila do SUS” é de junho de 2020, na plataforma de documentários independentes Bombozila. O projeto faz parte de uma campanha de financiamento coletivo – para colaborar, basta entrar na página da vaquinha online e apoiar. O documentário também pode ser encontrado no instagram: @NaFiladoSus. Confira o trailer abaixo:
*Doutora em jornalismo, professora e servidora pública federal aposentada pela UFSC/IELA
Jornalista brasileira vive em isolamento do coronavírus com o marido e o filho em Matera, no Sul da Itália. “Vivendo a quarentena de uma nação inteira”
Aqui estamos praticamente em quarentena, trancados em casa.
Só saímos para comprar o indispensável. Esta semana fui ao supermercado… a recomendação é de ir só uma pessoa por vez e de cada família.
Que sensação estranha…
No supermercado precisa fazer fila e pegar um número, que é para os clientes irem entrando aos poucos, respeitando a distância de segurança uns dos outros.
Os que conseguiram ainda comprar, usam máscaras de proteção, outros cobrem o nariz e a boca com uma echarpe ou algo assim.
Há quem faça máscaras “fai da te” (faça você mesmo).
Alguns usam luvas de silicone.
A sensação é de irrealidade…
Como num filme de ficção, meus amigos !
A minha ida para o Brasil, que seria agora em março está adiada, não sei até quando…
Desde a última terça-feira o Stefano está em casa para vivermos juntos esta espécie de “quarentena” de uma nação inteira…
Ele veio sem problemas de Bari até Matera, porque tem residência aqui é isso entra nas regras restritivas estabelecidas para a mobilidade em tempos de coronavírus na Itália.
O “presidente del Consiglio,” quer dizer o primeiro ministro da Itália, Giuseppe Conte, na última quarta-feira, 11 de março, comunicou ao povo italiano que a maior parte daquilo que ainda estava aberto no país teria que fechar.
Portanto, desde 12 de março, não abrem mais restaurantes, bares, cafés, pubs, centros comerciais, lojas, salões de beleza, centros de estética etc etc etc , e tudo aquilo que não é considerado de primeira necessidade.
As novas regras são medidas de “guerra” contra o coronavírus.
Agora estamos todos na zona vermelha. Mais de 60 milhões de italianos…
Papa Francisco, no centro de Roma, evocando fim da epidemia
A Itália inteira virou “zona rossa”, embora oficialmente a chamem de “Zona protegida”, para funcionar melhor psicologicamente e não criar mais alarmismo do que já incitam as redes sociais e certa mídia. Não tinha mesmo outro jeito.
Esperar mais tempo para limitar os deslocamentos e reduzir os contatos físicos no país todo seria muito arriscado, pois esse vírus é muito contagioso, se expande com uma rapidez enorme. E os italianos não são tão disciplinados como os chineses, demoraram para entender que a coisa é muito séria, que não se trata de uma simples influenza.
Os demais países europeus já perderam muito tempo, e apenas agora alguns começam a entender que servem atitudes drásticas, como fez a Itália, que de algum modo serviu de muro de contenção para o vírus responsável por esta grave pandemia, declarada como tal pela OMS, a Organização Mundial da Saúde.
Se o governo italiano tivesse deixado tudo solto, sem adotar as medidas que foi tornando dia-a-dia mais rígidas, a situação de contágio na Europa hoje talvez fosse ainda mais grave.
A própria primeira ministra alemã Angela Merkel afirmou em uma entrevista coletiva na semana passada que a Alemanha corre o risco de chegar a ter 60 a 70% da população contagiada pelo coronavírus.
Mas mesmo na Alemanha medidas mais severas para interromper a circulação do vírus ainda não foram tomadas de modo unívoco.
O sistema federativo parece dificultar bastante uma tomada de posição em nível nacional.
A comunicação nos países da zona euro e principalmente nos Estados Unidos sobre o contágio na Itália foi bastante distorcida. Os italianos foram vistos no mundo, nos primeiros dias da epidemia que os atingia , como “gli untori”, aqueles que espalhavam o coronavírus pelo mundo, sendo quase tão tripudiados quanto foram os chineses. Só agora, após o reconhecimento por parte da própria OMS, do enorme esforço que a Itália está fazendo para conter o Covid-19, alguns países europeus começam a se dar conta da dificuldade que têm pela frente e até se espelham no modelo italiano de contenção do vírus..
Até agora na Itália mais de dois mil profissionais da saúde foram infectados
Os responsáveis pela saúde pública de todo o mundo deveriam se mirar no “caso italiano”, adotando preventivamente medidas para reduzir o contágio iminente. Isso não aconteceu nem na Europa, que hoje é o foco principal da pandemia no mundo. A primeira medida que teriam que adotar, lamentavelmente, é o isolamento social. Quer dizer, impedir o nosso direito de mobilidade.
Diante de um vírus altamente contagioso, para o qual nenhum ser humano tem imunidade, só resta reduzir os contatos ao mínimo, ficar em casa o maior tempo possível e sair apenas para para comprar produtos de primeira necessidade (como alimentos, remédios, produtos de limpeza e higiene pessoal).
Com sintomas de coronavírus ou após ter tido contato próximo e desprotegido com uma pessoa contagiada, o primeiro cuidado a tomar é não ir ao posto de saúde nem na emergência dos hospitais, pois é alta a probabilidade de contagiar outras pessoas, além de médicos e enfermeiros, que estão na linha de frente cuidando dos pacientes.
Até agora na Itália mais de dois mil profissionais da saúde foram infectados. Desses, cerca de 250 são médicos que estão em quarentena ou internados, inclusive alguns entubados. Dois deles morreram.
(Veja vídeo que flagra um momento de solidariedade com música, entre vizinhos na Itália)
Os primeiro passos da Itália para conter a disseminação do Coronavírus
A Itália foi o primeiro país europeu a interromper os voos para a China no auge na emergência naquele país, e está pagando um altíssimo preço econômico, cultural e em todos os âmbitos da vida social pelas medidas restritivas que precisou tomar.
Aqui o sistema sanitário público realiza uma grande quantidade de “tamponi” (testes para confirmar se as pessoas foram contagiadas).
Além disso, são divulgados, todos os dias, durante entrevista coletiva, boletins oficiais da defesa civil, com todos os números do contágio, pessoas em quarentena, doentes nos hospitais, os curados e, infelizmente, os mortos, que pelos números de 16 de março, somam 2158. Boa parte desse triste número de vidas perdidas se refere a pacientes que morreram com coronavírus e não exclusivamente por coronavírus.
Eram predominantemente pessoas velhinhas, que já estavam bastante fragilizadas e doentes, mas há idosos com boa saúde que foram atingidos, e também pessoas de diversas outras faixas etárias.
Embora a chance de cura seja alta, o grande problema do coronavírus é que um percentual de 10% a 13% de pacientes necessita de terapia intensiva.
É como se de repente um tsunami invadisse as UTIs, ao contrário dos casos de influenza, que ocupam os hospitais como uma onda gigantesca, distribuída ao longo dos meses de inverno.
Muitos países não estão fazendo a coisa certa, segundo os especialistas italianos. Não tomam medidas urgentes de prevenção nem divulgam os dados reais do contágio.
Inclusive os Estados Unidos, onde a pessoa tem que pagar em média 3 mil dólares para fazer o exame para saber se foi contagiada.
Lá não existe saúde pública.
Os estadunidenses que podem pagar enfrentam a selva dos planos de saúde privados, que frequentemente dão cobertura ínfima.
Além disso ali muitos contratos de trabalho não preveem sequer licença de saúde remunerada. Então a pessoa vai trabalhar mesmo contagiada ou doente.
E certamente os números do contágio por coronavírus são muito mais elevados do que os divulgados pelo “Tremp”, em ano eleitoral. Não é à toa que ele colocou o vice-presidente como responsável pela questão do coronavírus. Assim, se a coisa der errado, em última instância ele vai colocar a culpa no vice.
No discurso que fez na semana passada, declarando emergência nacional, ele finalmente teve que assumir a existência da emergência coronavírus, que antes negava, mas o que chega de lá não é nada tranquilizante.
A situação era grave há várias semanas, tanto que os governadores da Califórnia e o do estado de Nova York já haviam declarado estado de emergência.
A única coisa que funciona, como demonstra a China, é impedir o contágio com medidas de restrição dos contatos humanos, já que não há vacina nem medicamento certo para curar a pneumonia nos casos mais graves provocados pelo Covid-19.
Aqui na Itália estão experimentado usar antivirais que serviram para tratar doentes durante as epidemias de AIDS e Ebola. Também estão usando, ao que parece já com algum sucesso para alguns pacientes em estado grave internados em Nápoles, um fármaco utilizado para tratar artrite-reumatóide (Tocilizumab).
O serviço público de saúde está à beira do colapso no norte da Itália, pois é elevado o número de doentes com pneumonia intersticial grave que necessitam de UTI.
E não há só doentes de Covid-19, obviamente. As demais doenças não “entraram em férias”. Aqui no sul o agravamento da epidemia pode ser ainda mais grave, se não se conseguir deter a progressão do contágio, pois o serviço de saúde entraria ainda mais rapidamente em colapso.
O problema da saúde pública da Itália se revela com o Coronavírus
Enfermeira italiana alerta para a única precaução possível: “Fique em casa!”
Devido aos menores investimentos feitos na saúde pública na Itália meridional, o sistema aqui é muito mais frágil do que o do norte, que está resistindo a duras penas a essa prova.
Esta é a consequência, principalmente nos últimos dez anos, da absurda política de austeridade ditada pelo capitalismo neoliberal, com cortes drásticos principalmente em saúde e educação.
É em momentos graves como esse que se percebe, com imensa preocupação, quanto essa política é danosa e desumana.
A discussão sobre isso, agora, tardiamente, está na ordem do dia na Itália.
Neste momento muitas pessoas do povo, especialistas de todos os campos e diversos jornalistas coniventes despertam para a necessidade de salvar e fortalecer o virtuoso serviço público de saúde italiano, que ainda é um modelo admirável de sistema universal de atendimento, como o SUS brasileiro, tão vilipendiado pela fórmula do neoliberalismo.
Aqui na Itália cada pessoa tem um médico de referência, chamado médico de base ou médico de família, o primeiro a quem consultar quando se sente mal.
No caso da emergência coronavírus, todos são orientados a não ir ao consultório, mas telefonar ao próprio médico de base, no caso de ter tido contato próximo e desprotegido com algum contagiado ou já apresentar sintomas.
O grande risco do coronavírus é que é possível ser contagiado por uma pessoa assintomática, que pode transmitir o vírus por diversos dias sem saber que é positiva.
Mas quando a pessoa já apresenta algum sintoma, o médico de família a orienta, por telefone, sobre os cuidados a tomar, prescreve a quarentena e avisa a ASL (Azienda Sanitaria Locale), que passa a também monitorar a pessoa isolada em casa.
É a ASL que encaminha o paciente para fazer, em ambiente protegido, o exame que identifica se ele é positivo ou não ao vírus.
Essa é a forma de buscar evitar que o contagiado passe o vírus a médicos, enfermeiros e outros pacientes.
A ordem é não ir de jeito nenhum para o consultório do médico de família nem às emergências dos hospitais, pois foi o que fez o paciente número 1, indo à emergência do Ospedale di Codogno, na Lombardia, iniciando assim, involuntariamente, a cadeia de transmissão que hoje totaliza quase 28 mil pessoas contagiadas pelo coronavírus na Itália, somando as que sararam, as que se encontram em quarentena em casa, estão internadas ou, lamentavelmente, morreram.
Médicos infectologistas, virologistas e pesquisadores avaliam que o vírus já circulava na Itália bem antes da descoberta do primeiro foco de contágio e da eclosão da emergência em 21 de fevereiro.
Assim, o coronavírus ficou circulando livremente e contagiou pessoas que eram assintomáticas ou apresentavam sintomas semelhantes aos da influenza.
Alguns médicos de família hoje relatam que, já no início do inverno, estranharam alguns casos graves de pneumonia, mas não puderam naquele momento imaginar a epidemia que estava por vir, causada por um vírus até então desconhecido.
O fato de a epidemia ter iniciado exatamente na emergência de um hospital (de Codogno) foi outro fator responsável pela gravidade da rede de contágio na Itália.
Só a luz da razão e da solidariedade pode conter a pandemia. Matera, Itália
Aqui em Matera (festejada capital europeia da cultura em 2019) o clima de grande efervescência artístico/cultural deu lugar ao silêncio e ao temor de que todos os investimentos feitos para atrair visitantes se tornem inúteis. Patrimônio da humanidade declarado pela Unesco, a capital cultural da Europa de 2019 descortinou a um número significativo de turistas e viajantes de tantos países o cenário de um mundo remoto e deslumbrante, com sua esplêndida cidade histórica feita de pedra, I Sassi.
Agora aqui, como na Itália inteira tudo é incerteza, mas Matera e a Basilicata (terceira região menos populosa da Itália) ainda suspiram aliviadas por serem “lanterninhas” na transmissão do contágio. Nas duas províncias da região (Matera e Potenza), os casos ainda são limitados, mas todos os habitantes tremem só de pensar em uma emergência, pois há poucos leitos de UTI disponíveis nos hospitais.
E não são só os velhinhos os mais contagiados nessa emergência italiana. Eles representam mais de 40% dos casos totais, mas 35% dos pacientes em terapia intensiva têm entre 50 anos e pouco mais de 60. Pessoas que em geral não têm o físico debilitado.
Há também adolescentes e adultos jovens nas UTIs. Felizmente poucas crianças contagiadas, mas há inclusive bebês.
Já se desmentiu a hipótese tranquilizadora que circulou inicialmente de que crianças e jovens seriam praticamente imunes ao coronavírus.
Não é assim, declaram as autoridades sanitárias do país, alertando para a exigência de que crianças, adolescentes e adultos jovens fiquem também rigorosamente em casa.
Lamentavelmente até agora a mortalidade é maior entre idosos, principalmente aqueles com outras doenças que já os fragilizam.
É por isso que hoje é uma prioridade a proteção dos avós, que na Itália, em grande número, são “baby-sitters” dos netinhos.
A recomendação nessa fase de emergência é que não fiquem com os avós. As crianças podem ser transmissoras ideais do coronavírus, pois , dada a sua energia e sede de brincar, tocam continuamente tudo.
O governo inclusive estabeleceu uma ajuda financeira para pais e mães (que atuam nas atividades definidas como essenciais e precisam sair para trabalhar) contratarem quem os ajude a cuidar dos filhos.
As escolas e creches estão fechadas e os avós precisam ser protegidos até de abraços e beijos.
A guerra contra o coronavírus impõe também sacrifícios afetivos.
Nós, como a maioria dos italianos, já estamos há vários dias isolados dentro de casa.
Saímos só o estritamente necessário, para comprar alimentos ou coisas de primeira necessidade.
Impossível não ficar preocupados com estes números de contágio que ainda não param de subir.
Ninguém está livre de adoecer, pois o vírus não conhece fronteiras e nenhum de nós em todo esse vasto mundo tem imunidade contra ele. Além disso, não e possível prever quando estará disponível uma vacina ou medicamentos eficazes contra o Covid-19.
A única esperança é de que as medidas de restrição da nossa liberdade de ir e vir possam ter o efeito esperado.
Agora, com as novas medidas, as pessoas só devem sair de casa por motivos sérios, como o trabalho (naqueles setores públicos e privados que não podem parar), para dar assistência familiar a doentes, fazer compras de produtos indispensáveis como alimentos, produtos de limpeza, higiene e remédios.
Por força dos dois decretos anteriores já estavam fechados todos os teatros, cinemas, museus, academias de ginástica, feiras de alimentos, etc, inclusive os famosos “mercati rionali” (feiras dos bairros), onde se vende de tudo um pouco.
As missas estão suspensas há vários dias. As igrejas permanecem abertas, mas quem entra nelas para rezar precisa respeitar a distância de segurança de no mínimo um metro de um ser humano ao outro.
Até os funerais devem acontecer em privado, com número mínimo de presenças, sempre respeitando a distância, sem abraços e beijos.
Quando uma pessoa adoece e morre por causa do Covid-19, os familiares não podem ter nenhum contato com os próprios caros, nem no hospital nem depois, por ser uma doença infecciosa. E esse é um dos aspectos mais tristes, pois não podem sequer confortar ou se despedir dos que amam.
Em algumas cidades, como Bergamo, que hoje é o epicentro da epidemia no norte, está sendo traumático para as famílias a fila de espera para sepultamento ou cremação. Em Bergamo, na semana passada, morreram cerca de 50 pessoas por dia, com o coronavírus que agravou outras doenças de que já padeciam, ou por causa exclusiva do coronavírus
Viver tudo isso na mais absoluta solidão era imaginável até outro dia, principalmente em um país como a Itália, que vive com grande intensidade os rituais da vida e da morte.
Todas as escolas, conservatórios e universidades estão fechados até 4 de abril.
Por enquanto, pois é bastante provável que tenham que prorrogar o fechamento.
Até mesmo na China as escolas ainda não reabriram.
Sinal de que o risco de reincidência do contágio é um receio dos cientistas, médicos e do governo chinês.
Com essas novas medidas rigorosas o governo italiano, assessorado por cientistas e respeitados nomes da saúde pública italiana e da OMS, espera reduzir nos próximos 15 dias a curva de crescimento do contágio.
Certamente não se chegou ainda ao pico dessa curva, todos advertem.
Nos próximos dias é previsto um aumento substancial do número de contagiados, pois as medidas restritivas ainda vão demorar um pouco para gerar os resultados esperados.
Ninguém tem certeza do tempo que vai ser necessário, mas a hipótese é de que, ao se atingir o clímax, o contágio começaria lentamente a cair, como acontece agora na China, e aconteceu no passado com outras epidemias e pandemias.
Esse vírus é muito pouco conhecido pelos cientistas. Não se sabe ainda com relativa precisão o seu “modus operandi.” E o pior é que é mutante, como todo vírus. A sensação absurda hoje é de vivermos todos como personagens de um filme de ficção científica…
Impressionante pensar que não podemos sair de casa livremente, e que encontrar outro ser humano representa sempre um risco.
Na situação mais grave vivida desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o grande inimigo está na respiração do outro.
É visível como as pessoas que se encontram nas filas dos supermercados, munidas de máscaras (se conseguiram comprar ou confeccionar uma), se olham de soslaio, até com um pouco de vergonha do medo que sentem umas das outras. A ordem que se lê nos olhares é: mantenha distância. Todos querem se livrar das gotinhas de saliva que podem ser “habitadas” pelo temível vírus SARS COV-2, que causa a doença batizada pela comunidade científica com um nome imponente: Covid 19.
Só nos resta esperar que esse pesadelo passe.
Espero com todo o coração que o vírus não se expanda, como já anunciando, no nosso Brasil, na Nuestra América, e em outros países do mundo onde ainda não chegou.
Temo muito pelo que pode acontecer no Brasil, se o coronavírus se tornar uma grande emergência nessa era de brutalidade do desgoverno, que fez cortes enormes no nosso SUS e desmantelou o excelente programa Mais Médicos.
Agora, médicos cubanos (e venezuelanos), que forem descartados sem nenhum respeito apesar do excelente trabalho que faziam nos grotões do Brasil, socorrendo os últimos, já se aprestam a vir em socorro da Itália nessa dolorosa emergência.
Me angustio só de pensar no já tão espoliado e sofrido continente africano. Ali o coronavírus provocaria uma tragédia inimaginável.
Estou rezando a toda hora…
Segura, coração!
Dados da Itália hoje:
Os números são divulgados todos os dias durante entrevista coletiva do comissário para a emergência do Serviço Nacional da Proteção Civil.
DADOS DE 18 horas de 16 de Março
27980 casos no total 23.073 casos com teste positivos,
destes 2151 (mortos), 2749 (curados)
Dos 23.073 com teste positivo 10197 estão em isolamento domiciliar
11025 estão internados com sintomas 1851 em terapia intensiva (UTI)
Contei um pouco do que vi, ouvi e aprendi estes dias, a duras penas…
Uma espécie de carta reportagem… coisa de jornalista.
Muita gente estava mandando mensagens e me perguntado o que está acontecendo. Todo mundo assustado.
Talvez o que escrevi possa ser útil e ajudar em alguma coisa.