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Categoria: Religiosos explicam Bolsonaro

  • COVID-19. Quando a fé contamina

    COVID-19. Quando a fé contamina

    Texto e fotos: Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres. Colaboração: Sato do Brasil

     

    Embora uma das orientações mundiais para evitar a disseminação do vírus COVID-19 seja de isolamento social, o Tribunal da Justiça Federal derrubou a liminar que suspendia cultos e missas por conta da COVID-19.

    Quem descumprisse com a ordem poderia pagar multa ou ter o local interditado. Esta ordem entende que estes espaços são, em maioria, ambientes fechados com pouquíssima circulação de ar e alta aglomeração de pessoas, aumentando a disseminação do vírus.

    “Infelizmente, a queda dessa liminar premia a inconsequência e mau-caratismo de líderes como Malafaia, e coloca em risco a vida de milhares de pessoas, já que os cultos, missas e diversos encontros religiosos são carregados de demonstrações de afeto e proximidade, salvo raras exceções. O que vamos colher disso é mais desgraça para um povo já sofrido e enganado por esses falsos líderes”, disse em entrevista, José Barbosa Junior, teólogo, escritor e um dos pastores da Comunidade Cristã da Lapa, Rio de Janeiro.

    É bom lembrar que recentemente, na Coreia do Sul, um padre cristão pediu desculpas de joelhos, após sua igreja ter sido considerada o grande foco de disseminação do COVID-19, quando se negou a suspender seus cultos.

    A igreja de Silas Malafaia, localizada no Rio de Janeiro, tinha suspendido os cultos por conta da liminar, porém aumentou para até 12 horas de atendimento dentro de suas igrejas. Mesmo depois de vários órgãos responsáveis do Governo Federal terem pedido e orientado diariamente a suspensão imediata dos cultos e missas, alguns pastores como Silas Malafaia (pastor e líder da Assembléia de Deus) e Edir Macedo (fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record e da RecordTV, a terceira maior emissora de televisão do Brasil) se negaram e entraram com essa ação de suspensão da liminar da justiça.

    Igreja Universal do Reino de Deus
    Igreja Pentecostal Deus É Amor

    O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em uma entrevista ao canal SBT, mostrou indignação pela suspensão dos cultos e missas, mesmo em tempo de pandemia mundial do COVID-19. No Brasil já são 2.201 infectados registrados e 46 mortes. Última atualização de quarta, 25 de março de 2020, 12h56, com dados do Ministério da Saúde: https://saude.gov.br/.

    Dentro dessas colocações problemáticas, uma delas que não foi citada acima é que Bolsonaro comparou a COVID-19 à uma chuva, que basta colocar uma capa pra se proteger. Além da metáfora desnecessária, Bolsonaro desafia o poder público ao afirmar que o pastor ou o padre deveriam decidir sobre suspender ou não os cultos e missas, como se as igrejas estivessem acima das leis comuns ao restante das pessoas, do país e do mundo.

    “É lamentável que num momento como esse , a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade”, afirma o pastor José Barbosa Junior.

    Agora é uma questão de tempo para que as pessoas procurem desesperadamente estas igrejas como refúgio. Entendemos que pastores, padres, igrejas e espaços religiosos no geral servem para além da religião como acalento em meio ao desespero e medo, uma força intensa de fé e ajuda. O problema é que estes espaços podem e vão continuar sendo centros de propagação do COVID-19 uma vez que continue o fluxo de pessoas. Inclusive, muitos pastores colocaram em seus sermões que existe salvação somente dentro da igreja.

    “As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena contra o COVID-19. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade”, continua o pastor José Barbosa Junior.

    Porque não fechar e manter a convivência online? Ou por ligação telefônica? Orar em casa e estratégias para que continuem utilizando de sua fé sem que se coloque em risco a sua vida e das outras pessoas. Os pastores, padres e disseminadores da fé, deviam estar orientando o isolamento social como uns dos métodos primordiais para saúde de seus seguidores.

    “(…) A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.(…)”, conclui o pastor José Barbosa Junior.

    Para além de todas essas contradições de alguns religiosos, ainda existem padres, pastores e outros líderes religiosos que nos servem de bom exemplo neste momento caótico. O Padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral Povo da Rua ofereceu acolhimento para moradores de rua com suspeita de COVID-19 em São Paulo. Também abriu uma petição para pressionar a Prefeitura Municipal de São Paulo e outros órgãos para que forneçam o material básico para higiene e proteção da população em situação de rua. Link da petição: http://change.org/PovoDeRuaSemCorona.

    Homem se protege do COVID-19

    Segue a entrevista completa com o pastor José Barbosa Junior.

    1. Como você vê esse momento de pandemia do COVID-19 especificamente no Brasil?
    Um momento muito difícil. Creio que é a primeira vez que a nossa geração enfrenta uma pandemia tão devastadora e o Brasil está tendo que aprender “na marra” como lidar com isso.

    2. Ontem o presidente Jair Bolsonaro teve uma fala no programa do Ratinho que contradiz o que a Justiça do Estado de São Paulo determinou com uma liminar que proíbe missas e cultos por conta da disseminação do Coronavírus ou COVID-19, mas o presidente agiu como se os pastores que tivessem que decidir sobre fechar ou não suas portas para cultos. Como você vê essa atitude do presidente Bolsonaro?
    É lamentável que num momento como esse, a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade.

    3. Alguns pastores como Silas Malafaia, Edir Macedo e outros se negaram a seguir as orientações do Ministério Público para que igrejas evitem cultos com grandes aglomerações. Porque você acha que pastores se negaram a seguir as orientações?
    Esses pastores citados já abandonaram há tempos o Evangelho. Não são pastores, são negociantes da fé, empresários da espiritualidade. Logo, suas igrejas são enormes comércios e visam somenteno lucro financeiro. Não me espanta manterem abertas as suas igrejas, por dois motivos: sabem que igreja cheia geralmente corresponde a boa arrecadação e se alimentam de brigas e polêmicas para posarem de “defensores da fé contra os inimigos”. São espertos e sabem que essa “cruzada” lhes favorece em seus projetos de poder.

    4. A ciencia sempre teve um papel fundamental que nenhum outro orgão consegue substituir. No entanto, a gente vê o desdém de planos de governo que realizou cortes e de algumas religiões que negam o entendimento científico. Porque algumas religiões tem medo da ciência?
    Esse governo que aí está é, desde a campanha, anticientífico. E o fundamentalismo religioso também o é, logo, há um casamento perfeito entre o mau caratismo governamental e a ignorância ensinada e fortalecida na maioria das igrejas, infelizmente. Algumas religiões, erroneamente, acham que fé e ciência são antagônicas. Nada mais distante da verdade. A verdadeira fé é suprarracional e não irracional. Caminha com a ciência e os conhecimentos. Vai além (daí ser fé), mas sem negar a caminhada em conjunto.

    5. Como as igrejas podem ajudar nesse momento a população? Qual deve ser a principal atitude, ao seu ver, de um pastor ou padre nesse momento?
    As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade.

    6. Como a população pode ajudar? Quais são as principais medidas de prevenção do coronavírus dentro de sua igreja?
    A população deve obedecer aos apelos de se resguardar, ficar em casa. A Comunidade Cristã da Lapa suspendeu as atividades por tempo indeterminado. E nós, pastores, continuamos nosso trabalho nas redes sociais.

    7. E pra finalizar, o que estamos aprendendo socialmente com esta pandemia mundial até agora?
    Acho que a principal lição é a de que o que acontece com um é problema de todos. Uma pandemia serve para nos mostrar isso. É quase um “efeito borboleta”. E isso nos traz o pleno sentido de humanidade. A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.

  • Na igreja Bola de Neve, Profeta Kevin previu que Roberto Alvim comandaria a Nação

    Na igreja Bola de Neve, Profeta Kevin previu que Roberto Alvim comandaria a Nação

     

    “Deixa eu pedir uma coisa pra vocês. Vocês que filmaram, não postem, porque isso é a vida privada [da Igreja]”, pediu o Apóstolo Rina (é assim que Rinaldo Luis de Seixas Pereira, marqueteiro e dublê de surfista prefere ser chamado), a uma multidão de milhares de fiéis da Bola de Neve Church, em sua sede no bairro da Lapa, em São Paulo. O Apóstolo Rina foi quem criou a Bola de Neve, em 2000, igreja famosa por colocar uma prancha de surfe em cima do altar, seja lá o que isso queira dizer.

     

    A “vida privada” a que se referiu Rina foi um mega-culto ministrado pelo americano Kevin Leal, também “apóstolo”, mas que gosta de ser chamado de “profeta”. Na ocasião, o Profeta Kevin homenageava Roberto Alvim, ex-secretário Nacional da Cultura de Jair Bolsonaro. Roberto Alvim, como se sabe, é o sujeito que lançou um tal Prêmio Nacional das Artes numa encenação grotesca que incluiu a reprodução ipsis literis de partes de discurso do Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels.

     

    A homenagem a Roberto Alvim ocorreu há pouco mais de um mês, quando o ex-secretário da Cultura ainda não havia “incorporado” Joseph Goebbels. Mas o que se via lá já não prenunciava coisa boa. Roberto Alvim ajoelhou, fechou os olhos, recebeu a unção dos óleos com ares de comoção, ergueu as mãos como se estivesse em louvor e adoração, enquanto o Profeta Kevin gritava-lhe em inglês, imediatamente traduzido para o português, também aos gritos:

    “Vocês trabalham para o presidente, mas servem a um Rei”.

     

    A platéia delirava.

     

    Era só o começo.

     

    Ah, nem é preciso dizer que o pedido do Apóstolo Rina, diante dos fiéis, para que o culto não fosse postado nas redes… Bem, o pedido foi ignorado e o vídeo é o que está embaixo deste texto (o pedido de Rina, para que o vídeo não fosse colocado nas redes está no último minuto do vídeo).

     

    Quem é o Profeta Kevin?

    "Palavra de Deus" ensinada pelo Profeta Kevin - apenas 3 dólares
    “Palavra de Deus” ensinada pelo Profeta Kevin – apenas 3 dólares

    Em 1971, servindo na Força Aérea americana, Kevin “foi salvo e cheio do Espírito Santo”, conforme consta em seu currículo. Logo descobriu seu dom profético e profetizou para centenas de pessoas em reuniões de dois ou três dias. Nos anos 1980, ele uniu seus dons de profecia a uma nova missão, que lhe teria sido passada diretamente pelo Espírito Santo e se transformou num formador de quadros evangélicos. Presidente do Kevin Leal Ministries e do Key Ministries, ele ensina para líderes de igrejas evangélicas do mundo todo como conquistar e permanecer com as chaves de acesso aos corações dos fiéis. Em outras palavras, Kevin é um consultor de igrejas. Ajuda a construir equipes de liderança, ensina e treina pastores e quadros dirigentes das denominações religiosas que atende, produz livros para serem usados em escolas de ministério, além de obras de auto-ajuda, como “Detox Espiritual” (veja ao lado o anúncio) e “Expansão dos Negócios”. Também é o criador de um programa da “mentoring”, chamado Headlights, que será instalado em sua propriedade, onde funciona a igreja Jubilee International Ministries em Pensacola/Flórida.

     

    O Brasil está no foco das atenções do Profeta Kevin. Ele é presença frequente nas sedes da Bola de Neve e da Rede Águias e Leões (REAL), liderada pelo Apóstolo Maurício Cundari Marques, da qual é um dos conselheiros.

     

    Com esse currículo todo, coube ao Profeta Kevin a tarefa de (como não?) profetizar, vaticinar, prever o futuro que caberia ao então secretário Nacional de Cultura, Roberto Alvim. E o profeta não fez por menos, já que estaria falando por inspiração divina ou, mais sério ainda, sendo a própria voz de Deus.

     

    Para Roberto Alvim, o profeta profetizou, falando bem de perto e tocando no rosto do ex-secretário, como se fosse o Todo Poderoso:

    “Você trabalha para o presidente, mas serve a um rei. Eu te faço como Daniel na casa do Brasil. Todo o teu preparo acadêmico todo o teu treinamento, agora está nas mãos do Senhor. E você será o conselheiro sábio, não somente para este governo, mas para outros governos. Dê a eles a sua sabedoria. Você será uma voz para a próxima geração. Você vai ver o futuro do Brasil e vai influenciar muitos políticos. Você vai influenciar as leis do Brasil, porque eu te dei o meu maior dom: a Sabedoria para a Nação. E você vai sentir a presença de Deus sobre ti. Você vai sentir algo sobrenatural sobre ti. Receba agora a Sabedoria para comandar uma Nação.”

     

    Uau! Comandar uma Nação!

     

    O Profeta Kevin pediu aos milhares de fiéis que cantassem enquanto oravam por Roberto Alvim, no que foi obedecido com devoção.

    “Eu quero dizer para as pessoas no Brasil. Só porque você teve uma eleição, isso não determina o resultado final. Deus comanda que o povo continue orando pelos seus líderes, oração é a mão de Deus no Brasil. Então, quando a música começar a tocar, eu quero que vocês orem por eles. Para que eles sejam fortalecidos pelas orações que vêm de dentro.”

     

    O Apóstolo Rina também foi grandioso:

     

    “Em sua presciência o Senhor determinou que, nesta hora, o Brasil viveria mudanças que primeiro começariam nas regiões celestiais, que foram geradas por oração, por intercessão, e que agora estão se materializando. São mudanças que também dizem respeito à área cultural. E nós estamos diante de pessoas que o Senhor gerou, treinou, preparou e condicionou para esta hora [n.r. estavam diante de Roberto Alvim, o que copiou frases nazistas]. Tudo o que eles viveram de bom e de ruim os capacitou para aquilo que eles precisam enfrentar. O nosso papel como corpo de Cristo, como igreja é interceder por eles… Que o Senhor lhes dê intrepidez, unção para que, dirigidos pelo Espírito Santo, eles possam fazer o melhor trabalho que essa Secretaria, que esse Ministério já fez nesta Nação. Porque aquilo que é Belo, aquilo que é alimento espiritual para povo, também é cultura. Dai-lhes graça, diante de Deus e diante dos homens. E que toda a arquitetura das Trevas seja dissipada. Que tudo o que eles façam tenha a Tua benção e a Tua aprovação. Para a glória e honra do nome de Jesus.”

     

     

    Coincidência estranha:

     

    Fachada do Cine Nacional na inauguração, em 1950: monstros e nazismo
    Fachada do Cine Nacional na inauguração, em 1950: monstros e nazismo

     

    A igreja Bola de Neve, onde essas cenas “proféticas” ocorreram, localiza-se na rua Clélia, 1.517, na Lapa (zona oeste de São Paulo). Lá, no mesmo local, em 1950, foi inaugurado o luxuoso Cine Nacional, com capacidade para 3.300 espectadores sentados nas confortáveis poltronas Cimo, as melhores que havia para grandes casas de espetáculos. Foi um acontecimento. Uma edição especial do jornal “Cine-Repórter” saiu no dia 15 de abril, inteiramente consagrada à inauguração do “imponentíssimo palácio da cinematografia”, que pertencia ao Circuito Serrador. De página inteira, um anúncio da British Films do Brasil, oferecia seus produtos aos exibidores. E eles pareciam instigantes. Em um filme, chamado “Ilha Desconhecida”, mostrava-se a luta do homem moderno contra criaturas pré-históricas. O outro, com título em forma de pergunta, atiçava os fantasmas: “Acontecerá de Novo?” -prometia cenas inéditas com Adolph Hitler, Eva Braun e “todos os nazistas em pessôa”. A sessão inaugural do novo cinema exibiu o filme “Monstro de um Mundo Perdido”. Parece que eles estão voltando… Acontecerá de novo?

     

     

    VEJA O VÍDEO (há partes com o áudio cortado devido a reclamação de direitos autorais por parte da gravadora Onimusic, que diz ser “proprietária” do hino de louvor cantado durante o culto)

     

  • Bolsonaro é um “perigo real”, afirma bispo brasileiro

    Bolsonaro é um “perigo real”, afirma bispo brasileiro

    REVISTA IHU ON-LINE

    eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil representaria um perigo real para o país, avaliaO bispo de Ruy Barbosa, no Estado da Bahia, lamenta o excesso de prudência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB “que conheceu períodos mais proféticos que hoje”

    A reportagem é de Jacques Berst, publicada por cath.ch, agência católica da Suíça, 19-10-2018. A tradução é de IHU On-Line.

    D. André de Witte, bispo belga que vive no Brasil desde 1976, falou de seus temores no no dia 18 de outubro de 2018, em Genebra. Ele testemunhou na ONU a realidade brasileira a convite da “Franciscans International”, uma ONG que tem o estatuto de consultora junto à ONU. Ela faz um trabalho de ‘advocacy’ em favor dos direitos humanos, pela promoção da justiça, da paz e da proteção da criação. D. de Witte foi ameaçado de morte, nas redes sociais, por partidários de Bolsonaro.

    “A parte podre da Igreja católica”

    Mas ele não é o único alvo: até a muito prudente CNBB foi chamada, juntamente com o Conselho Indigenista Missionário – CIMI, pelo  favorito da eleição presidencial, de “ser a parte podre da Igreja católica”. Há vários dias, circula nas redes sociais um vídeo onde o ‘caudilho’ do Partido Social Liberal insulta a Conferência Episcopal Brasileira com linguagem vulgar, como é seu costume.

    Nostálgico da ditadura que ensanguentou o Brasil de 1964 a 1985, com seu cortejo de militantes e de simples civis torturados, assassinados ou exilados, Bolsonaro demonstrou, no curso da sua longa carreira política, sua hostilidade aberta contra a Igreja católica.

    O antigo militar visa sobretudo os setores mais comprometidos com as causas sociais e os direitos dos mais pobres. Ele não hesitou, certa vez, de na tribuna do Congresso Nacional, dizer que o cardeal Paulo Evaristo Arns, um dos grandes opositores da ditadura militar, era um homem “sem honestidade” e um “aproveitador”.

    O papa Francisco também foi tratado de “comunista”

    Há muito tempo que “o populista Bolsonaro nos insulta, lamenta D. André de Witte, pois ele não suporta nosso compromisso social, nossa vontade de participar na construção de uma sociedade justa e solidária… Nós somos qualificados de ‘comunistas’ quando nós perguntamos porque há tanta pobreza, quando nós buscamos as causas. O papa Francisco sofreu os mesmos ataques… É o caminho do Cristo!”

    Frente aos ataques, D. André de Witte lamenta, com palavras cuidadosas, o excesso de prudência da CNBB: “numerosos são os bispos que têm medo de falar francamente. Falta uma mensagem imediata e clara. O povo se ressente desta falta”.

    Para o bispo de Ruy Barbosa, não se trata de atacar uma pessoa, mas de analisar seu projeto político, pois o que está em jogo é, de qualquer maneira, a alternativa entre um “projeto de vida” e um “projeto de morte”. “Bolsonaro tem um discurso racista, prega a discriminação contra as populações negrascontra as mulheres, quer suprimir a demarcação das terras indígenas na Amazônia”, afirma o presidente da CPT, pois os povos autóctones são considerados como um obstáculo para o desenvolvimento.

    “Bandido bom é bandido morto…”

    “Sua atitude é perigosa: ele prega a violência armada, afirmando que bandido bom é bandido morto… Ele quer mais repressão e até recompensar os policiais que saem atirando nos delinquentes. Ele quer mais prisões e menos recursos para a educação. Ele quer reforçar a segurança sem analisar os problemas sociais que são, em grande parte, a raiz da ‘insegurança”, detalha D. André de Witte. O candidato à presidência se deixa fotografar, ao lado de crianças, com armas de fogo: “mostrando para as crianças a maneira de manejar um fuzil… Ele incita à violência contra o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, apoiando os grandes proprietários de terra. É um programa perigoso para a sociedade”.

    Apoiado por evangélicos conservadores, entre os quais o ‘bispo’ Edir Macedo, líder da multinacional “Igreja Universal do Reino de Deus” – IURD e proprietário do Grupo Record e da Rede Record, a segunda maior do Brasil, Bolsonaro se beneficia do poderoso instrumento de propaganda. Ele manipula setores da Igreja católica se dizendo a favor da vida, contra o aborto e partidário da família tradicional contra o casamento de gays.

    “Mas não é mais que um discurso”, diz D. André de Witte, lamentando que a campanha eleitoral não contribuiu para a reflexão. Trata-se, antes de tudo, de uma atitude antissistema: “não se quer mais o Partido dos Trabalhadores, o PT, que é acusado de todos os males, principalmente de fazer propaganda nas escolas em favor da homossexualidade. Os partidários de Bolsonaro difundem nas redes sociais uma multidão de ‘fake news’, de informações falsas, como, por exemplo, a distribuição de um kit gay nas escolas. Este kit nunca existiu!”

    O bispo de Ruy Barbosa lamenta que os grandes meios de comunicação, como a Rede Globo, não fazem corretamente o seu trabalho. “Não temos meios de comunicação que informem corretamente, que analisem, que coloquem os temas em perspectiva, formem as consciências, alertando para o risco dos perigos que estão por vir. Talvez não seja algo voluntário, mas uma omissão que, no entanto, pode se tornar uma cumplicidade. Ainda espero, antes que seja tarde, que toda a sociedade acorde face ao grande perigo que se anuncia!”.

    Foto: REUTERS/Adriano Machado

     

  • Dom Mauro Morelli sobre Bolsonaro: ‘Desequilibrado e vulgar’

    Dom Mauro Morelli sobre Bolsonaro: ‘Desequilibrado e vulgar’

    Da Rede Brasil Atual
    AGRESSÃO À CNBB
    São Paulo – Dom Mauro Morelli, bispo emérito da Diocese de Duque de Caxias (RJ), reagiu a declarações ofensivas de Jair Bolsonaro (PSL) contra a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “O candidato Bolsonaro agrediu gravemente e de forma gratuita a Igreja Católica, taxando a CNBB de parte podre da Igreja. De sua boca jorram asneiras e impropérios, revelando um homem desequilibrado e vulgar”, afirmou dom Mauro. “Se eleito acabará defenestrado em pouco tempo”, completou.

    Nesta quarta-feira (17), apoiadores do ex-capitão difundiram um vídeo em que em que o candidato a presidente da República insulta a CNBB, dizendo que “são a parte podre da Igreja católica”.

    Dom Mauro observou que a entidade não nasceu de uma “visão ideológica”, mas por exigência da teologia da comunhão na dimensão, por exemplo, da “sinodalidade”. A expressão vem da palavra “sínodo”, que significa “caminhar juntos”. “O bispo não age isolado, sua Igreja é sujeito de sua vida e missão. A CNBB comemorou 60 anos de vida e missão a serviço da vida com dignidade e esperança”, afirma.

    A CNBB, acrescenta, “reúne os bispos titulares das Dioceses da Igreja Catolica Apostólica Romana, para cuidar da Ação Pastoral da Igreja e de sua Missão Evangelizadora”. “O ministério pastoral exercido de forma colegiada garante a unidade no pluralismo.”

    O bispo declarou voto em Fernando Haddad, fazendo ressalvas. “Não votarei no programa do candidato do PT, mas no seu equilíbrio e capacidade de diálogo. Se eleito, farei cooperação crítica ou oposição.” Ele lembrou que ajudou a eleger Luiz Inácio Lula da Silva em 2003 e foi “o primeiro crítico de seu governo nos primeiros dias de governo”. E observou que sempre manteve diálogo com Gilberto Carvalho, ex-ministro dos governos Lula e Dilma.

    Em 1974, dom Mauro foi nomeado bispo auxiliar de São Paulo. Recebeu a sagração do então cardeal-ardebispo, dom Paulo Evaristo Arns. Em 1981, tornou-se o primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde permaneceu até 2005. O religioso presidiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, criado durante o governo Itamar Franco, que havia recebido sugestão nesse sentido de Lula. Ao lado do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, Dom Mauro conduziu uma campanha nacional pela cidadania e contra a fome e a miséria.

    “Cooperei com Itamar na Presidência da República e com os Governadores de MG de Itamar a Pimentel, nunca coloquei a Igreja em maracutaias e nem me envolvi em disputas eleitorais e partidárias. A Igreja não deve ser aliada do poder mas cooperar com o bem comum e a defesa da Vida”, escreveu o religioso, que também preside o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (Consea-MG).

    Povo contra povo

    No início da semana, pastorais sociais e outras entidades divulgaram nota alertando para um “movimento antidemocrático” na atual campanha, que “apela  ao ódio e à violência, colocando o povo contra o povo”.

    “A Constituição sai ferida com esta intolerância que nega a diversidade do povo brasileiro, estimula preconceitos e incentiva o conflito social”, diz ainda a nota.

    “O candidato deste movimento quer se valer de eleições democráticas em sentido contrário para dar legalidade e legitimidade a um governo que pretende militarizar as instituições, garantir impunidade aos abusos policiais, armar a população civil e reduzir ou cortar programas de direitos humanos e sociais. Em poucas palavras, é o abandono do Estado Democrático de Direito.”

    Assinam a nota: Cáritas Brasileira, Comissão Brasileira Justiça e Paz, Centro Cultural de Brasília, Conselho Indigenista Missionário, Comissão Justiça e Paz de Brasília, Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Comissão Pastoral da Terra, Conferência dos Religiosos do Brasil, Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, Observatório De Justiça Socioambiental Luciano Mendes De Almeida, Pastoral Carcerária Nacional, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral Operária e Serviço Pastoral do Migrante.

    Dom Mauro com o Papa Francisco em 2013: Igreja não deve ser aliada do poder, mas cooperar com o bem comum e defender a vida
  • Fernando Haddad visita a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

    Fernando Haddad visita a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

    Fernando Haddad, candidato à presidência da República pela coligação “O povo feliz de novo”, reuniu-se nesta quinta-feira (11/10), em Brasília, com Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).  Ele enumerou cinco temas trazidos pela CNBB como importantes para os católicos: compromisso com a democracia e instituições democráticas; atuação do estado para combater a cultura da violência no país; fortalecimento dos órgãos de combate à corrupção – Ministério Público, Polícia Federal e Poder Judiciário, com orçamento, autonomia e independência; proteção ao meio ambiente; e compromisso com a preservação da vida.

    “Nosso programa de governo prevê ações todas alinhadas com esses princípios e recebendo novos subsídios estaremos aprimorando nosso plano de governo, nessa mesma linha, porque os princípios estão todos de acordo com o que nós imaginamos ser uma sociedade civilizada, da paz e dos direitos”, discorreu Haddad sobre sua conversa com Dom Leonardo.

    Haddad ainda relatou a preocupação da CNBB com o teto de gastos e a reforma trabalhista e reafirmou sua posição de revogar essas medidas.

    O candidato do PT disse, também, que pediu a Dom Leonardo para que recomendasse às pessoas um cuidado maior com as notícias de internet, porque as pessoas estão sendo bombardeadas com informações falsas e, antes de propagar, é necessário checar se é verdade ou mentira.

    “Meu adversário me acusa nas redes sociais de distribuir material impróprio para crianças de seis anos. Em primeiro lugar isso nunca aconteceu e, em segundo lugar, é um desrespeito às professoras do Brasil. Imagina se uma professora vai receber um material impróprio sobre sexualidade e ela vai usar esse material sem questionar?”, disse.

    Para Haddad, as mentiras têm que ser combativas e usar que usá-las para ganhar voto não é recomendável em um estado democrático de direito. “Temos que ganhar a eleição por meio do melhor argumento e não atacando a honra das pessoas com informações falsas”, enfatizou.

    Bolsa família
    Durante entrevista coletiva, Haddad disse aos jornalistas que seu adversário Jair Bolsonaro tenta dar um contraditório cavalo de pau ao anunciar uma décima terceira parcela para o Bolsa Família para tentar atrair votos do Nordeste: “se tem alguém que criticou o Bolsa Família e, de certa maneira, humilhou os beneficiários. ao longo dos últimos dez anos, foi o meu adversário. Aí não é fake news, basta ver na internet as frases que ele pronuncia sobre nordestinos que recebem Bolsa Família”.

    “Por que depois de 15 anos batendo no programa e falando do jeito dele, que a gente conhece, sempre uma maneira muito agressiva de se referir às pessoas que recebem o benefício, vem com esta ideia? […] Ele está há 28 anos na Câmara e só vota contra o trabalhador. Tudo o que ele faz é votar contra o trabalhador. Votou contra a pessoa com deficiência, votou contra o trabalhador na reforma trabalhista, votou contra o cidadão no teto de gastos. Sempre vota contra o trabalhador. Nunca aprovou nada de relevante em 28 anos de mandato e agora quer dar um cavalo de pau e dizer que defende os pobres?”, questionou Haddad.

    Sobre o debate, o candidato petista disse: “eu sou leigo, mas me parece contraditório uma pessoa poder dar uma entrevista que é um debate com jornalista e não poder debater com um adversário. Eu penso que o Brasil merece um debate”.

    Ao final, ao ser questionado sobre o resultado da última pesquisa eleitoral, Haddad explicou que é candidato há apenas 30 dias e “quem saiu dos 4% de intenções de voto para saltar aos 42% também vai chegar aos 50%. Temos duas semanas de trabalho para conseguir esses 8%”.

    Veja também a nota da CNBB sobre o encontro com o candidato Fernando Haddad:

    Nota Pública da CNBB sobre a visita do candidato à presidência Fernando Haddad

    Na manhã desta quinta-feira, 11 de outubro, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, recebeu, na sede da entidade, em Brasília (DF), o candidato à presidência da República, Fernando Haddad. Em Nota Pública, emitida após a reunião, o secretário-geral explicita os temas e assuntos abordados com o candidato. No documento, dom Leonardo reafirma que a CNBB é uma instituição aberta ao diálogo com pessoas e grupos da sociedade brasileira e que é comum, em período eleitoral, que candidatos de diversos partidos e grupos políticos solicitem agenda e sejam recebidos pela entidade.

    Na reunião, o candidato expôs suas propostas de governo e sua preocupação com o Brasil. O secretário-geral, por sua parte, abordou com o candidato assuntos que preocupam os bispos do Brasil, como por exemplo, a não legalização do aborto, a defesa da democracia e o combate rigoroso à corrupção, entre outros. Dom Leonardo também apresentou ao candidato o trabalho realizado pela CNBB durante a Campanha da Fraternidade deste ano que tratou, de forma profunda, a mobilização pela superação da violência.

    Acesse aqui a íntegra da Nota Pública.

    NOTA PÚBLICA

    Sobre a visita do candidato Fernando Haddad

    Recebi, na manhã desta quinta-feira, 11 de outubro, o candidato à presidência da República, Fernando Haddad. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é uma instituição aberta ao diálogo com pessoas e grupos da sociedade brasileira. É comum, em período eleitoral, que candidatos de diversos partidos e grupos políticos solicitem agenda e sejam recebidos, sem a presença da imprensa.

    O candidato não veio pedir apoio e a CNBB não tem partido e nem candidato.  O candidato expôs suas propostas de governo e sua preocupação com o Brasil. Da minha parte, abordei com o candidato assuntos que preocupam os bispos do Brasil: a não legalização do aborto, a proteção do meio ambiente, atenção especial à questão indígena e quilombola, a defesa da democracia e o combate rigoroso à corrupção. Também lembrei ao candidato o trabalho realizado pela CNBB durante a Campanha da Fraternidade deste ano que tratou, de forma profunda, da mobilização pela superação da violência.

    Brasília-DF, 11 de outubro de 2018

     

    Dom Leonardo Ulrich Steiner
    Bispo auxiliar de Brasília
    Secretário-Geral da CNBB

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