Jornalistas Livres

Categoria: Religião

  • Reunião ministerial ou sindicato do crime? A Ditadura camuflada

    Reunião ministerial ou sindicato do crime? A Ditadura camuflada

    Por Humberto Mesquita*

    A reunião ministerial do dia 22 de abril, que veio a lume nesta sexta (22/5), não trouxe novidades sobre o Poderoso Chefão. Tudo o que ele disse ali já faz parte, há muito tempo, do seu repertório. É uma figura problemática que criou e chefia o gabinete do ódio e, todos os dias verbaliza impropérios, que desrespeita as instituições, homenageia torturadores e se sente senhor absoluto da verdade. Com ele tudo se amplia na escuridão das trevas.

    Era uma reunião para discutir o Brasil. Foi uma reunião para destruir o Brasil.

    Ninguém se preocupou com a pandemia. Muito pelo contrário, usou-se o desespero que causa o vírus e o foco da imprensa nesse assunto, para articular todo tipo de arbitrariedades.

    O BolsoCorleone, todos nós já conhecíamos pelo seu passado e pelo seu presente. Mas essa reunião serviu para mostrar toda a gangue, da qual fazia parte também o ministro que foi demitido.

    Aliás, a incompetência de Sérgio Moro se mostrou mais uma vez. Ele quis atingir o seu ex-chefe e lhe deu, como alguém já disse, a melhor peça publicitária. A denúncia do Marreco de Maringá não vai dar em nada, porque ela é vazia, como vazia é a cabeça do seu autor. Ele nunca foi bom de provas e com ajuda da Globo procurou um palco para se projetar. Mas vai morrer no esquecimento –mesmo com a ajuda da emissora que precisa fazer dele um novo mito.

    A bomba de efeito devastador me parece ser o empresário Paulo Marinho, que conhece com detalhes toda a trajetória da família do Bozo, e suas possíveis ligações com a Milícia.

    Reunião ministerial minúscula

    Mas voltemos ao circo de 22 de abril, a reunião que desmascarou o ministério mais minúsculo que eu conheci em toda minha trajetória jornalística.

    Guedes, “o melhor ministro”, segundo o Capo di tutti capi (“chefe de todos os chefes”, em italiano), disse que era a grande oportunidade para vender o Banco do Brasil.

    O cara que cuida da educação metralhou o STF chamando seus membros de “vagabundos que deveriam ser presos”.

    O do Turismo defendeu a abertura de cassinos, quem sabe, em Fernando de Noronha.

    Aquela que viu Cristo num pé de goiabeira disse que iria mandar prender governadores e prefeitos.

    O responsável pelo meio ambiente, foi além dos limites e deu um conselho ao chefão: aproveitar a preocupação da imprensa com o corona, e “vamos passando tudo, aprovando tudo do nosso interesse”. Mudar as regras enquanto a atenção da mídia está voltada para a Covid-19. Na moita, como fazem ladrões de carteirinha.

    O chefe concorda com tudo e no entusiasmo do momento propugna armar o povo, certamente com armas dos seus amigos da Taurus.

    Uma grande palhaçada, concordam os esclarecidos. Mas isso não acrescenta nada, a não ser a nossa certeza de que existe uma enorme corrente no Congresso, no Judiciário, na sociedades civil e no povo em geral que recua ante as agressões diárias que sofre a nossa Democracia.

    E os militares de pijama e alguns outros da ativa estão de olho nessa “boquinha” generosa. Já tem mais de trezentos mamando nas tetas da República.

    E qual é a solução perguntam em voz trêmula os amedrontados brasileiros ? Vamos torcer pelo Joe Biden. De lá do Hemisfério Norte vêm sempre as decisões para golpear ou para destruir as ditaduras no Brasil. Foi assim no passado e continuará sendo agora.

     

    *Humberto Mesquita é jornalista e escritor, repórter e apresentador de debates na TV.

     

    Leia mais de Humberto Mesquita, nos Jornalistas Livres:

    URGENTE: Por uma Frente Ampla para evitar que Bolsonaro nos leve para o abismo

     

  • Podcast com fé, que não costuma falhar

    Podcast com fé, que não costuma falhar

    Podcast Vida em Quarentena
    Ep. 04 – Quarentena com Fé

    Como você mantém a paz de espírito nesta quarentena? É com esta questão que o episódio “Quarentena com fé” vai contar as histórias de nove pessoas de sete religiões diferentes. Pra muita gente a fé tem sido uma forma de viver esse período. Esperança de um futuro diferente, sem vírus, sem desigualdade, sem mortes. Esses são alguns dos relatos que encontramos ao longo destas histórias. O que católicos, umbandistas, muçulmanos, anglicanos, espíritas, budistas e ateus têm em comum? Coloque o fone de ouvido e mergulhe nas histórias do Vida em Quarentena, um podcast feito dentro de casa por muitas vozes!

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    Foto: Srinagar, Caxemira, 2004, http://www.mediaquatro.com
    Foto: Srinagar, Caxemira, 2004, http://www.mediaquatro.com
  • Movimento Nacional de preservação da vida, nesta Páscoa com Covid

    Movimento Nacional de preservação da vida, nesta Páscoa com Covid

     

    Para nós Cristãos, hoje é o sábado de aleluia, dia que aprendemos na nossa cultura, que Jesus ressuscita para renascer de novo.

    Tudo isso ocorre na nossa liturgia presencial e para nós é muito forte e importante, nas procissões temos a cerimônia da crucificação de Cristo e no sábado a ressurreição, imagem criada pelo catolicismo, ramo do judaísmo.

    A ressurreição traz a ideia da recuperação de um corpo mutilado, torturado e assassinado como preso político.

    Hoje o Brasil de forma análoga enfrenta e vê seu povo assassinado por uma pandemia que é quase uma intencionalidade, é quase uma extinção, é quase uma condenação à morte, é quase uma necrofilia.

    É contra essa necrofilia intencional, é contra esse malthusianismo, e distinção das classes populares: negros, mulheres, idosos e porque não dizer dos profissionais da área de saúde, que estou fazendo esta fala.

    Acredito ser necessária neste momento, a criação de um movimento nacional em defesa da vida, movimento nacional em defesa da saúde do povo brasileiro, contra a necrofilia que é o nome que melhor define a eugenia, o genocídio dos negros. 

    As autoridades brasileiras tentam transformar nosso país em um navio negreiro, desautorizando as orientações da Organização Mundial de Saúde, propagando o fim do confinamento, o fim da vigília, o fim a reclusão preventiva. Num pais onde não existem análises, não existem testes que nos permitam ter conhecimento do número de pessoas que de fato contraíram a doença. Pessoas estão sendo enterradas com atestados de óbitos sem definição e em valas comuns. 

    Exortamos a necessidade da criação de um movimento: nacional, suprapartidário, supra religioso, em defesa da vida e em defesa do povo brasileiro. Esse movimento não deve ter protagonismo exclusivo, de mandatos, de partidos, mas um movimento comum e horizontal que permita que em qualquer parte do território nacional as pessoas possam se organizar.

     

    Movimento Nacional de preservação da vida, nesta Páscoa sagrada de 2020!!

    Ele foi traído por um amigo, julgado em dois tribunais iníquos: o religioso de Caifás e o político militar de Pilatos. Foi torturado e assassinado. Pedro o negou três vezes e os demais discípulos fugiram, salvo Maria a mãe e as outras discípulas e João.
    Nós vivemos um tempo quaresmal. Temos desigualdades sociais, fome, torturas e assassinatos; tribunais iníquos religiosos, políticos e militares. Temos o coronavírus que atinge prioritariamente os mais frágeis: idosos e doentes, pobres que não têm como se protegerem no isolamento social por condições de moradias pequenas e insalubres, sem água e desfigurados pela fome.
    Há os que são solidários como o Simão de Cirene.

    Sexta da paixão, dor e morte. Mas não é  o fim da história, a última palavra. O Senhor ofereceu sua vida, seu sangue, sua história por nós. Há uma chama de esperança que fumega à espera do Domingo da Vida.

     

  • Quilombola é Alcântara! Alcântara é quilombola!

    Quilombola é Alcântara! Alcântara é quilombola!

    NOTA: ENTIDADES REPRESENTATIVAS E MEMBROS (AS) DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-BRASILEIRAS CONTRA RESOLUÇÃO N. 11 DE 26 DE MARÇO DE 2020

    As entidades representativas e membros(as) de religiões de matriz africana e afro-brasileiras signatárias desta nota vem a público manifestar repúdio à Resolução nº 11/20 (GSI-PR), que institui a remoção forçada de 800 famílias e 30 comunidades quilombolas da cidade de Alcântara-MA, no conjunto de medidas tomadas no âmbito do Acordo de Salvaguarda Tecnológica firmada entre o Brasil e os Estados Unidos em 2019.

    Na matriz de responsabilidades dos órgãos envolvidos no Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, o documento informa que mais de 12 mil hectares serão utilizados pelo Centro de Lançamento, além da área atual da base, afetando ainda mais as comunidades que ocupam aquele território desde o século XVII.

    Além desses pontos que em si representam uma grande tragédia humana e violação da dignidade coletiva dos quilombolas de Alcântara, o documento, em seu art. 6º, VIII, “a” e “b”, prevê “a implantação de espaços religiosos e a recomposição de áreas e instalações compatíveis com as existentes nos espaços hoje habitados pelos quilombolas, para a prática de atos religiosos”, e a implementação de “projeto de um museu dedicado aos aspectos históricos e culturais das comunidades quilombolas”.

    Entendemos que os territórios quilombolas representam acima de tudo espaços civilizatórios de ancestralidade africana, de reterritorialização e de resistência secular às opressões sem medida perpetradas pela sociedade e pelo Estado em solo brasileiro. Sendo assim,reiteramos que os processos de deslocamentos e alterações de nossos espaços sagrados, no que tange as práticas religiosas de matriz africana, são efetuados mediante consultas aos nossos oráculos, sistemas adivinhatorios próprios e o consentimento de nossos ancestrais regentes de nossas casas de axé. Portanto, remeter essa tarefa ao aparato de Estado expõe nossa religiosidade ao risco de violação do nosso sagrado, ao mesmo tempo que nos aponta a possibilidade de termos a atenção voltada às outras denominações religiosas, tais como igrejas evangélicas e católicas e a negação das nossas religiões de Matriz Africana, como forma de dizimar nossa ancestralidade.

    As religiões de matriz africana e afrobrasileiras concebem o zelo e a proteção dos lugares sagrados para além dos espaços físicos das casas de axé. O acesso ao mar, aos lagedos, as pedreiras, aos mangues, aos rios e as florestas, são vitais para sua sobrevivência. Tudo isso está ameaçado e não há como transportar caso haja remoção. Deste modo, não há que se falar em museu, implantação de espaços religiosos ou recomposição de áreas e instalações como suposta forma de reparação pelos danos materiais e imateriais causados à memória ancestral e coletiva daquelas comunidades, agravados com este novo processo de desterritorialização representado pela Resolução nº 11/20.

    Em verdade, a resolução fere frontalmente a Convenção nº 169 da OIT, ao inviabilizar qualquer processo de consulta livre, prévia e informada às comunidades envolvidas; a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, que estabelecem o pleno respeito aos modos de criar, fazer e viver de comunidades tradicionais e grupos formadores da sociedade brasileira; e ao artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que assegura direitos às comunidades quilombolas ao reconhecimento da propriedade definitiva dos seus territórios.

    Ressaltamos que o documento é sorrateiramente imposto em um momento de grave crise global provocada pela pandemia do COVID-19. A medida do governo federal agrava mais ainda a situação de vulnerabilidade e insegurança a que estão sujeitos os quilombolas de Alcântara após a assinatura do Acordo de Salvaguarda. Assim, mobilizamos toda a solidariedade em favor das comunidades quilombolas atingidas pela medida para manifestar nossa profunda discordância com o teor do documento e exigir sua imediata revogação.

    Assinem e divulguem!

     

    https://secure.avaaz.org/po/community_petitions/gabinete_de_seguranca_institucional_da_presidencia_nao_a_remocao_das_comunidades_quilombolas_de_alcantara_e_seus_espacos_sagrados/?ltlqOob

  • COVID-19. Quando a fé contamina

    COVID-19. Quando a fé contamina

    Texto e fotos: Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres. Colaboração: Sato do Brasil

     

    Embora uma das orientações mundiais para evitar a disseminação do vírus COVID-19 seja de isolamento social, o Tribunal da Justiça Federal derrubou a liminar que suspendia cultos e missas por conta da COVID-19.

    Quem descumprisse com a ordem poderia pagar multa ou ter o local interditado. Esta ordem entende que estes espaços são, em maioria, ambientes fechados com pouquíssima circulação de ar e alta aglomeração de pessoas, aumentando a disseminação do vírus.

    “Infelizmente, a queda dessa liminar premia a inconsequência e mau-caratismo de líderes como Malafaia, e coloca em risco a vida de milhares de pessoas, já que os cultos, missas e diversos encontros religiosos são carregados de demonstrações de afeto e proximidade, salvo raras exceções. O que vamos colher disso é mais desgraça para um povo já sofrido e enganado por esses falsos líderes”, disse em entrevista, José Barbosa Junior, teólogo, escritor e um dos pastores da Comunidade Cristã da Lapa, Rio de Janeiro.

    É bom lembrar que recentemente, na Coreia do Sul, um padre cristão pediu desculpas de joelhos, após sua igreja ter sido considerada o grande foco de disseminação do COVID-19, quando se negou a suspender seus cultos.

    A igreja de Silas Malafaia, localizada no Rio de Janeiro, tinha suspendido os cultos por conta da liminar, porém aumentou para até 12 horas de atendimento dentro de suas igrejas. Mesmo depois de vários órgãos responsáveis do Governo Federal terem pedido e orientado diariamente a suspensão imediata dos cultos e missas, alguns pastores como Silas Malafaia (pastor e líder da Assembléia de Deus) e Edir Macedo (fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record e da RecordTV, a terceira maior emissora de televisão do Brasil) se negaram e entraram com essa ação de suspensão da liminar da justiça.

    Igreja Universal do Reino de Deus
    Igreja Pentecostal Deus É Amor

    O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em uma entrevista ao canal SBT, mostrou indignação pela suspensão dos cultos e missas, mesmo em tempo de pandemia mundial do COVID-19. No Brasil já são 2.201 infectados registrados e 46 mortes. Última atualização de quarta, 25 de março de 2020, 12h56, com dados do Ministério da Saúde: https://saude.gov.br/.

    Dentro dessas colocações problemáticas, uma delas que não foi citada acima é que Bolsonaro comparou a COVID-19 à uma chuva, que basta colocar uma capa pra se proteger. Além da metáfora desnecessária, Bolsonaro desafia o poder público ao afirmar que o pastor ou o padre deveriam decidir sobre suspender ou não os cultos e missas, como se as igrejas estivessem acima das leis comuns ao restante das pessoas, do país e do mundo.

    “É lamentável que num momento como esse , a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade”, afirma o pastor José Barbosa Junior.

    Agora é uma questão de tempo para que as pessoas procurem desesperadamente estas igrejas como refúgio. Entendemos que pastores, padres, igrejas e espaços religiosos no geral servem para além da religião como acalento em meio ao desespero e medo, uma força intensa de fé e ajuda. O problema é que estes espaços podem e vão continuar sendo centros de propagação do COVID-19 uma vez que continue o fluxo de pessoas. Inclusive, muitos pastores colocaram em seus sermões que existe salvação somente dentro da igreja.

    “As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena contra o COVID-19. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade”, continua o pastor José Barbosa Junior.

    Porque não fechar e manter a convivência online? Ou por ligação telefônica? Orar em casa e estratégias para que continuem utilizando de sua fé sem que se coloque em risco a sua vida e das outras pessoas. Os pastores, padres e disseminadores da fé, deviam estar orientando o isolamento social como uns dos métodos primordiais para saúde de seus seguidores.

    “(…) A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.(…)”, conclui o pastor José Barbosa Junior.

    Para além de todas essas contradições de alguns religiosos, ainda existem padres, pastores e outros líderes religiosos que nos servem de bom exemplo neste momento caótico. O Padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral Povo da Rua ofereceu acolhimento para moradores de rua com suspeita de COVID-19 em São Paulo. Também abriu uma petição para pressionar a Prefeitura Municipal de São Paulo e outros órgãos para que forneçam o material básico para higiene e proteção da população em situação de rua. Link da petição: http://change.org/PovoDeRuaSemCorona.

    Homem se protege do COVID-19

    Segue a entrevista completa com o pastor José Barbosa Junior.

    1. Como você vê esse momento de pandemia do COVID-19 especificamente no Brasil?
    Um momento muito difícil. Creio que é a primeira vez que a nossa geração enfrenta uma pandemia tão devastadora e o Brasil está tendo que aprender “na marra” como lidar com isso.

    2. Ontem o presidente Jair Bolsonaro teve uma fala no programa do Ratinho que contradiz o que a Justiça do Estado de São Paulo determinou com uma liminar que proíbe missas e cultos por conta da disseminação do Coronavírus ou COVID-19, mas o presidente agiu como se os pastores que tivessem que decidir sobre fechar ou não suas portas para cultos. Como você vê essa atitude do presidente Bolsonaro?
    É lamentável que num momento como esse, a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade.

    3. Alguns pastores como Silas Malafaia, Edir Macedo e outros se negaram a seguir as orientações do Ministério Público para que igrejas evitem cultos com grandes aglomerações. Porque você acha que pastores se negaram a seguir as orientações?
    Esses pastores citados já abandonaram há tempos o Evangelho. Não são pastores, são negociantes da fé, empresários da espiritualidade. Logo, suas igrejas são enormes comércios e visam somenteno lucro financeiro. Não me espanta manterem abertas as suas igrejas, por dois motivos: sabem que igreja cheia geralmente corresponde a boa arrecadação e se alimentam de brigas e polêmicas para posarem de “defensores da fé contra os inimigos”. São espertos e sabem que essa “cruzada” lhes favorece em seus projetos de poder.

    4. A ciencia sempre teve um papel fundamental que nenhum outro orgão consegue substituir. No entanto, a gente vê o desdém de planos de governo que realizou cortes e de algumas religiões que negam o entendimento científico. Porque algumas religiões tem medo da ciência?
    Esse governo que aí está é, desde a campanha, anticientífico. E o fundamentalismo religioso também o é, logo, há um casamento perfeito entre o mau caratismo governamental e a ignorância ensinada e fortalecida na maioria das igrejas, infelizmente. Algumas religiões, erroneamente, acham que fé e ciência são antagônicas. Nada mais distante da verdade. A verdadeira fé é suprarracional e não irracional. Caminha com a ciência e os conhecimentos. Vai além (daí ser fé), mas sem negar a caminhada em conjunto.

    5. Como as igrejas podem ajudar nesse momento a população? Qual deve ser a principal atitude, ao seu ver, de um pastor ou padre nesse momento?
    As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade.

    6. Como a população pode ajudar? Quais são as principais medidas de prevenção do coronavírus dentro de sua igreja?
    A população deve obedecer aos apelos de se resguardar, ficar em casa. A Comunidade Cristã da Lapa suspendeu as atividades por tempo indeterminado. E nós, pastores, continuamos nosso trabalho nas redes sociais.

    7. E pra finalizar, o que estamos aprendendo socialmente com esta pandemia mundial até agora?
    Acho que a principal lição é a de que o que acontece com um é problema de todos. Uma pandemia serve para nos mostrar isso. É quase um “efeito borboleta”. E isso nos traz o pleno sentido de humanidade. A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.

  • IGREJA UNIVERSAL: UM REINO ACIMA DE TODOS

    IGREJA UNIVERSAL: UM REINO ACIMA DE TODOS

     Por Márcia Mendes de Almeida * | resenhista dos Jornalistas Livres

     

    Formidável este livro reportagem de Gilberto Nascimento, a ser premiado, é lógico. Sejam fatos ou depoimentos, todos tem sua respectiva referência. O texto é equilibrado, sereno, contrastando com as realidades e opiniões . Um assunto tabu de nossa medrosa imprensa como um todo, a saber, as fabulosas negociatas das drogas, também não escapa, para bons entendedores. A partir de 1985, as fraudulências do pequeno grande homem – o supremo Edir Macedo – e da Universal ( IURD ),  contaram com o auxílio luxuoso de uns quarenta escroques, diferentes no tempo e no espaço. Enfrentando um “colosso de acusações e de denúncias”, como esmiúça Nascimento.

    Até as pedras sabem (diz Mino Carta) que nada é mais eficiente para lavar dinheiro da corrupção e do narcotráfico do que associar-se a uma igreja evangélica bem azeitada, com imunidade tributária e pouca fiscalização. Além disso, bancos e empresas offshore agradecem penhoradas. Ora, o atual conglomerado de noventa e sete empresas ligadas à Universal, em 35 anos, não poderia ser fruto exclusivo dos sacrificados dízimos de seus fiéis, cuja renda durante décadas não ultrapassou dois salários mínimos.

    Eis o colosso das denúncias, cada qual narrada pelo autor em suas tortuosas tramas: charlatanismo, curandeirismo, sequestro de bens, vilipêndio, incêndio criminoso, ataque a homossexuais, racismo, incitação ao crime, preconceito religioso, calúnia e difamação, exploração da boa-fé do povo, corrupção ativa, remessas ilegais e lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, estelionato, sonegação fiscal, falsidade ideológica, sonegação de bens, crimes outros contra a ordem tributária, empréstimos para empresas fantasmas, gestão temerária. Sempre empalmando o comando, o todo-poderoso bispo Macedo tratou desde cedo de se proteger via um vasto laranjal, não aparecendo nominalmente como sócio da maioria das empresas do grupo. Era e é tido como magnata das comunicações assim como tycoon da Universal, a multinacional da boa-fé dos infindáveis incautos, ignorantes e desvalidos –por exemplo, os presidiários e dependentes químicos em busca de salvação. Biltre empedernido, o bispo Macedo, pseudo ungido por um Deus oportunista, alimentou com capricho a mistificação de sua excelsa personalidade. Proclamou no início do século XXI:


    “ Todo santo dia eu oro por todos os servos de Deus ( … ) Eu peço a Deus não só pelos meus ( sic ) pastores, os pastores que estão conosco, como os pastores de outras igrejas, porque (…) eu estou trabalhando para o Reino de Deus ”


    Foi refutado de imediato, mas era daqueles que dizia mentiras que não podia provar e, encontrando resistência, cuidava de “melhorar a imagem”, acentua Nascimento. Num ataque de sincericídio, confessou ao pastor Caio Fábio que cada um pescava como podia, até com fezes, como ele:


    “Tem gente que só gosta do que eu ofereço. O povo que eu quero não vai te ouvir. É gente que ninguém quer. Eu quero. É o pessoal que eu consigo pescar do meu jeito”


    Salvo engano, não há pesquisas que avaliem a escala de evasão dos evangélicos neopentecostais, é segredo de Estado. No início dos anos 80, Edir Macedo arvorou-se em organizar a formação teológica dos pastores. Desistiu incontinente, alegando que precisava de pastor “com boa conversa, que saiba argumentar, convencer as pessoas, comandar uma boa sessão de milagres e exorcismo e fazer a coleta”.  Em um de seus inúmeros livros que não escreveu, mas leu e assinou, definiu como fúteis todos os ramos da teologia. 

    “Não passam de um emaranhado de ideias que nada dizem ao inculto; confundem os simples e iludem os sábios (…) nada fazem pelo homem senão talvez aumentar sua capacidade de discutir e discordar”. 

     

    Sempre ficou claro, para pastores e bispos, que todos deviam tratar Macedo com subserviência e curvar-se às suas ordens, pois como líder “era um ente superior, um ser divino, acima do entendimento humano” como o autor pondera. Pois bem, a Universal (IURD) através de Edir Macedo pronunciou-se a favor do aborto, em caso de gravidez indesejada ou extrema pobreza, salientando que a legalização do aborto diminuiria a violência, e mais:  “O que é menos doloroso: aborto ou ter crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades, sem infância, sem saúde, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor ?” Irretocável não?

    Envolvente na dissimulação, Edir Macedo declarou-se contra a homossexualidade, mas não contra os gays, por respeitar o direito de escolha, aí incluídos os vários parceiros do mesmo sexo (!). Estaria pensando, talvez, nas polpudas coletas para a Universal ?

    Os inimigos de dentro da IURD –pastores, bispos, executivos– em muitas e muitas ocasiões foram habilmente manipulados pelo bispo Macedo, zeloso de seu absoluto poder e para que a teologia da prosperidade se restringisse a ele, seus familiares e uns poucos escolhidos a dedo, homens de sua confiança. Ao longo dos anos instaurou-se a confusão entre o que era patrimônio da igreja, do bispo e de sua família. Macedo, um santo, convicto de que colocava o dinheiro a serviço da obra de Deus, teve sucesso em engabelar, como se tudo da Universal fosse dele também. Recebeu salários exorbitantes – por exemplo, em Portugal – e em 2013 adquiriu um jato particular, permitindo viagens diretas de Nova York a Tóquio, ou do Brasil à Ásia, com uma só escala. Tinha e tem, à sua disposição e da família, apartamentos luxuosos em Miami.

    Os pastores e bispos, uns traindo os outros, abocanhavam e disputavam as migalhas da magnificência de Macedo, incessante. A capacidade de arrecadar era a principal condição para ascender e ser recompensado em porcentagens na coleta – de 2% a 10% – prêmios em dinheiro, bons salários, carros modernos, roupas de grife e moradias aprazíveis. Havia porém os que sem cumprir as metas, se davam mal. Eram punidos com “prêmios negativos”, tinham bons descontos em seus rendimentos. 

    O modus operandi  usual do bispo Macedo era lançar na política alguém de quem queria livrar-se no dia a dia da Universal, que sabia muito e conquistava poder. Os melhores bispos emergentes ou os laranjas contrafeitos de suas empresas – em descomunal crescimento – o solerte Macedo deslocava para postos estratégicos no exterior: Portugal, Angola, Moçambique, Espanha, Los Angeles, Argentina e Chile. O que vinha muito a calhar para seus projetos futuros. O autor não nos informa se tais expedientes mudaram.

    Assim o bispo colecionou dissidentes, arquirrivais, inimigos fidagais ou não declarados, assistindo a muitas defecções na feroz guerra interna da Universal. É só prestar muita atenção na carreira de Roberto Lopes, Carlos Magno de Miranda, Mario Justino, bispo Carlos Rodrigues, Ronaldo Didini, Waldir Abrão, Marcelo Pires, Alfredo Paulo Filho, João Batista Ramos da Silva, entre outros.

     

    Os métodos sumários do reino

     

    A Universal experimentou até um dos clássicos métodos dos hoje banais milicianos, em que se especializaram igualmente membros do tráfico de drogas, as PMs e os assassinos de aluguel em geral.

    Em 2003, o pastor e deputado estadual Valdeci Paiva de Jesus, carismático pastor das multidões, mas “rebelde”, foi executado com dezenove tiros por quatro homens. Em 2009, o vereador João R. Monteiro de Castro foi executado da mesma forma, num carro blindado. O ex-vereador e ex-dirigente da Universal e laranja da TV Record, Waldir Abrão foi encontrado em sua casa com um ferimento na cabeça e, após dois dias de hospital, não resistiu e morreu aos 81 anos. A polícia abriu inquérito, que não prosperou, e tratou o caso como suspeita de homicídio. Abrão dias antes registrara um documento oficial junto a seus advogados, com denúncias graves, após ser pressionado e humilhado durante bom tempo.

    Como brincou Edir Macedo, para seus desígnios, até “gol com a mão” valia, apesar de ter o desplante de criticar certa vez “a podridão do sistema no país “

    Até hoje nada impede que, de má-fé, a Universal utilize em suas práticas que são um pastiche religioso, elementos do catolicismo, do kardecismo e do (venerado) judaísmo. De maneira torpe, apropriou-se de rituais do candomblé e da umbanda, apesar dos ataques contínuos contra os cultos afro-brasileiros.

    O duvidoso batalhão de advogados defensores de Edir Macedo, da TV Record e da Universal não é muito citado por Nascimento. Diga-se que se pode bem supor terem  sido necessários oceanos de dinheiro para que as denúncias se arrastassem por anos. Os crimes prescreveram, muitos culminando em arquivamento por falta de provas. A Justiça brasileira, em sua  crescente venalidade e leniência, condenou bem pouco o contumaz bispo Macedo e a Universal. Quando o bispo buzinou impávido que cedo ou tarde a Justiça chegaria, fazendo acontecer o que tinha de ser feito, certamente não se referia ao Brasil e à Universal, e ao seu irreconciliável embate contra a lei.

     

    Ficha técnica : NASCIMENTO, Gilberto.
    O reino: a história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal.
    Companhia das Letras, 2019

     

    Marcia Mendes de Almeida é jornalista e resenhista, tendo colaborado com a revista Senhor, o Jornal da Tarde e com a Carta Capital.
    O projeto de resenhas de livros para os Jornalistas Livres vai incluir não apenas lançamentos, mas também livros interessantes disponíveis em sebos virtuais.

     

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