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Categoria: Golpe

  • Golpistas levam menos gente para manifestações: Lula vira alvo nas ruas e na tela da Globo – exported from Medium

    Golpistas levam menos gente para manifestações: Lula vira alvo nas ruas e na tela da Globo – exported from Medium

     

    Repete-se a tática de março: manifestações, mesmo esvaziadas, Brasil afora servem como “esquenta” para o ato em São Paulo na parte da tarde. Mas nem os takes fechados são capazes de disfarçar que os protestos são pífios

    As primeiras cenas, ainda de manhã, provocam desânimo entre âncoras e repórteres da Globo. No intervalo do programa esportivo, perto de 10 horas da manhã, entra o link de Brasilia: “são 500 pessoas na Esplanada dos Ministérios…”, diz o repórter. A imagem mostra um imenso vazio. Claro que logo começa um incrível atropelo de números: 2 mil, 5 mil, logo 25 mil pessoas. E segue a imagem do vazio.

    De repente, na transmissão de Brasília, o áudio da Globo falha, a câmera treme, e do estúdio o apresentador tenta salvar a situação: chama agora imagens de Belém (PA), e ali parece haver mais gente. A Globo trabalha com takes fechados durante toda a manhã. Repete-se a tática de março: manifestações, mesmo esvaziadas, Brasil afora servem como “esquenta” para o ato em São Paulo na parte da tarde.

    Em Salvador, o take mais aberto derruba a estratégia da Globo: pouca gente na rua

    Mas nem os takes fechados são capazes de disfarçar que em Belo Horizonte, Maceió, Salvador e no Recife os protestos são pífios. No Rio, há mais gente na praia do que no asfalto de Copacabana — onde se repete o discurso de ódio e os apelos por intervenção militar.

    Logo fica claro que a decisão da Globo de poupar Dilma e o governo, para evitar o desarranjo da economia, não significa recuo nos ataques a Lula e ao PT.

    No Recife, o cinegrafista da Globo passeia pela manifestação, e encontra cartazes pedindo a prisão de Lula. O enquadramento muda rápido para um plano mais geral (o profissional deve ter achado que aquilo estava demais). Mas a câmera logo volta aos cartazes, agora em take bem fechado: Lula atrás das grades.

    A impressão foi de que alguém deu a instrução, pelo “ponto”: foca no barbudo.

    Logo depois, Alex Escobar (narrador esportivo medíocre) tenta “narrar” a manifestação de Belém. Ele lê para o telespectador uma faixa agressiva contra Lula e Dilma. E conclui: “um claro protesto contra a corrupção.”

    Não, caro Alex: o protesto não é contra a corrupção. Mas contra o PT. Se fosse contra a corrupção, Aécio não teria se sentido tão à vontade para desfilar no também esvaziado ato de BH. E Cunha não teria sido poupado. Aliás, uma faixa aberta em BH chegava a afirmar (em lapso freudiano): “somos milhões de Cunhas”. Aí, tudo ficou mais claro.

    Cunha poupado. E todo ódio centrado em outro personagem: Lula, Lula, Lula. Esse era o nome. Era isso que importava.

    Se esse dia de manifestações mais fracas por todo o país teve um toque diferente foi o fato de Lula ter sido transformado em alvo central. Tanto nas ruas quanto nos comentários de quem estava no estúdio.

    Outro exemplo: a equipe da Globo mostra manifestação de apoio ao ex-presidente, em frente ao Instituto Lula em São Paulo. Manifestantes gritam: “mexeu com Lula, mexeu comigo”. Cristiana Lobo, no estúdio, comenta: “é… mas a sociedade vai querer mexer sim com o Lula.”

    Hum… Qual sociedade, Cristiana? Ela procura falar em nome da sociedade. Mas fala mesmo em nome dos patrões.

    Nada, na Globo, se faz sem a decisão tomada nas reuniões do “comitê” (que reúne João Roberto Marinho e os dirigentes dos principais veículos da família: jornais, TV, rádio, internet). Cristiana Lobo se traiu no ar: a decisão é levar Lula para o canto do ringue. E depois, se possível, para a cadeia. Com ou sem provas. A decisão já está tomada. Isso está claro.

    Este blogueiro passou no fim da tarde pela manifestação petista em frente ao Instituto Lula, e ouviu exatamente essa análise de duas pessoas próximas ao ex-presidente: “a Globo não vai aliviar para o Lula, vai partir pra cima. Temos informações claras sobre isso.”

    – Guerra de Imagens–

    Um boneco de Lula, com roupa de presidiário e marcado com o número 13, foi o principal “fato” do dia na guerra de imagens. A figura apareceu no esvaziado protesto de Brasília. E deve povoar as capas de jornais nesta segunda-feira.

    O Lula “presidiário” cumpre a clara tarefa de dar fôlego à narrativa de que a prisão do ex-presidente é algo desejável e “natural”.

    As manifestações do dia 16 tiveram mais uma vez cartazes absurdos, com pedido de golpe e intervenção militar. Em quase todo o país, o número de participantes foi muito inferior ao que se viu em março. Em São Paulo, também, menos gente foi às ruas; mas a queda não foi tão grande. E de toda forma mais de 100 mil pessoas estiveram na Paulista — segundo o “DataFolha”.

    Este blogueiro passou por lá, conversou com muita gente, e pode dizer que a maioria absoluta era formada por anti-petistas raivosos. Gente que sempre detestou Lula e o PT, e agora se sente mais à vontade pra manifestar esse ódio. O povão que votou em Dilma, e está ressabiado com o governo, este não foi pra rua — de novo.

    – Aécio derrotado –

    Mãos ao alto: Aécio saudado em BH, pelos manifestantes do protesto “apartidário”

    As manifestações terminam também com um claro derrotado: Aécio Neves. Ele precisava de um “estouro da boiada” nas ruas, para pressionar Globo e grandes empresários a centrar fogo em Dilma, e “bombar” de novo o impeachment. Com menos gente na rua do que em março, o delírio golpista de Aécio fica inviabilizado.

    Parece ganhar força no PSDB a ala mais moderada, que aposta em manter Dilma cambaleando no governo, ao mesmo tempo em que se sangra a figura pública de Lula — ara evitar sustos em 2018.

    Ninguém deve se enganar: o tom da cobertura na Globo mostra que Lula agora é o alvo central.

    As condições para uma eventual prisão do ex-presidente não estão dadas. Juridicamente, não há nada concreto contra ele. Mas o jogo começou.

    – A narrativa midiática –

    A essa altura, o que se procura é construir uma narrativa midiática que permita — ainda que com indícios absolutamente frágeis — submeter Lula a um constrangimento absoluto, sob a condução do juiz Sergio Moro na Lava-Jato.

    Ninguém deve ter dúvidas: Moro vai tentar. Ninguém deve ter dúvidas: a operação já começou. E ninguém deve ter dúvidas: a operação de caça a Lula conta com apoio decidido dos principais meios de comunicação do país, especialmente a Globo.

    Dilma ganhou tempo pra respirar (sobre isso, clique aqui para ler o texto de Renato Rovai). E Lula ganhou a certeza de que é o alvo da operação jurídico-midiática que tenta, já em 2015, antecipar o resultado e liquidar a fatura da eleição de 2018.

     

  • ♥ O coração é vermelho ♥

    ♥ O coração é vermelho ♥

     

    Foto: Márcia Zoet

    ♥ O coração é vermelho ♥

    por Tatiana Pansanato, para os Jornalistas Livres

    Dia 12 de abril, no coração da Avenida Paulista, decidimos realizar uma intervenção artística em pleno território inimigo. Caracterizadas como manifestantes e paramentadas com a camisa da CBF, nosso objetivo era entregar corações vermelhos para os participantes daquilo que parecia uma micareta, Nosso propósito? Saber se a turma verde-amarela ficaria chocada com a cor do coração.

    Foto: Márcia Zoet

    Nossa ação basicamente era abordar os passantes enquanto se manifestavam e pedir licença para colar corações vermelhos do lado esquerdo do peito. Vermelho?

    Começamos pelo bloco da Intervenção Militar. Ali estava concentrada a terceira idade, saudosa dos anos em que os governos dos milicos fizeram calar milhares — e pararam, de verdade, alguns corações na tortura. Conseguimos colar corações nas senhoras, que ficaram orgulhosas da nossa atitude e diziam que somente os jovens poderiam mudar esse país. Onde estavam os jovens? Aqueles que na ditadura foram perseguidos, torturados e mortos? Aí foi a primeira grande contradição que ouvimos, e foi assim que nos demos conta do que nos esperava.

    Foto: Márcia Zoet

    Seguimos com nossa intervenção pela Paulista, rumo à Consolação, provocando com nossos corações e começou a negação à cor vermelha. Quando abordávamos as pessoas, dizíamos que era uma intervenção por uma manifestação sem hostilidade e, por isso, estávamos nessa função de entregar tais adesivos de coração. A pergunta que não conseguia ficar presa na garganta da grande maioria era: “E por que vermelho?” É realmente interessante essa aversão que as pessoas da micareta verde-amarela têm pela cor do sangue, pela cor que representa o amor, a paixão. Nossa resposta era simples: “Mas o coração é vermelho, não é?” Como respostas ouvimos de tudo: “meu coração é verde-amarelo”, “até aceito esse coração vermelho, mas meu coração fica na direita”; uns diziam que isso era coisa do PT e por aí seguia a imaginação.

    Foto: Márcia Zoet

    Uma parte que recebia nossos corações de peito aberto, geralmente famílias com seus filhos, tomando sorvete e comendo pipoca, como se estivessem na saída da matinê do carnaval do interior. Entregamos muito para “os marias vai com as outras” que viam que estávamos distribuindo corações e se aglomeravam para conseguir um, mas quando viam que era vermelho entravam em conflito, mas acabavam aceitando, claro, uma vez que esses “maria vai com as outras” são sem opinião. Nesse momento chegamos ao maior bloco de todos os carnavais, digo, de todas as manifestações, o bloco Vem pra Rua. Estava cheio de patricinha e mauricinho (como diz meu pai) e para esses que vinham com o abadá completo foi impossível a missão de entregar corações. Paramos próximo ao trio elétrico e ouvimos por uns instantes o que determinado representante da OAB pronunciava e tivemos que sair às pressas porque esquecemos que estávamos na terra do inimigo e começamos a gritar palavras contrárias as que todos estavam repetindo. Gostaria de ressaltar que nesse momento a companheira Maira teve seu celular roubado e a fotógrafa Márcia que acompanhava nossa intervenção ficou sem sua lente, detalhe importante é que as duas estavam com seus objetos dentro da bolsa.

    Foto: Márcia Zoet

    A partir desse momento ficamos indignadas e, mesmo assim, seguimos por uma Paulista já dispersa. Diante dos carros de som, já não se aglomerava quase ninguém e os que o faziam já não se expressavam. Era tamanha a desorganização, tanta gente falando, que imagino que as pessoas perderam suas referências, já não sabiam se estavam ali pelo fora Dilma e/ou se estavam para festejar o dia nacional da coxinha. Terminamos com os corações entregues e os nossos próprios corações partidos, por ver parte dos cidadãos e cidadãs gerando ódio e tornando-se cada vez mais fascistas sem saber e manipulados sem querer.


    Assista o vídeo realizado pelos Jornalistas livres