Nessa segunda-feira, 25, Alessandra Makkeda, um dos nomes mais importantes para o movimento LGBT do Rio de Janeiro, deveria ter embarcado para Washington para apresentar um projeto relacionado à década dos afro-descendentes no Congresso dos Estados Unidos.
Fundadora do Fórum Nacional de Trans Negras, do Instituto Transformar, colaboradora dos Jornalistas Livres e integrante do Setorial LGBT do PSOL, Alessandra havia recebido convite do parlamentar negro do Partido Democrata, Harry “Hank” Johnson, dentro de um esforço pioneiro de sua agenda legislativa para impulsionar o marco simbólico criado pela ONU, a fim de dar atenção especial à comunidade afrodescendente pelo mundo.
Porém, a companhia American Airlines impediu o embarque de Alessandra no aeroporto, já que o nome que constava nos seus documentos não correspondia ao bilhete emitido. Ficou configurado, então, o não reconhecimento do nome retificado de Alessandra em relação ao seu nome de registro – mesmo havendo em mãos uma cópia da sentença judicial que afirmava se tratarem da mesma pessoa.
Em nota, o Setorial LGBT do PSOL do Rio de Janeiro afirmou que situações como essa são inaceitáveis, embora ainda sejam comuns. “Infelizmente, ainda faltam protocolos das companhias aéreas para se adequarem à realidade da diversidade de gênero. Entende-se que nem sempre se trata de má-fé ou repentino sentimento de ódio por parte de um ou outro indivíduo, mas que a transfobia envolvendo o caso está arraigada na cultura da sociedade brasileira como uma ignorância que se reproduz quase sempre sem reflexão”, destacou.
“Somos solidários a ela, acima de qualquer debate sobre as responsabilidades individuais e coletivas relacionados ao caso de constrangimento ilegal e dano irreparável a nossa camarada”, acrescentou o Setorial. “Declaramos veementemente que Alessandra é uma mulher negra e trans com distinta dignidade e competência para atuar em defesa de toda comunidade LGBT”, acrescentou. “Se neste momento há uma enorme frustração pela perda de uma oportunidade ímpar de atuar junto a proeminentes ativismos negros que, agora, modificam o cenário politico nos EUA, a nossa convicção é que em breve não faltarão oportunidades melhores para Alessandra, com quem nos comprometemos a atuar como aliados incansáveis na luta contra o racismo e a transfobia que ainda tentam bloquear seu caminho”.
Diante da situação, o Setorial LGBT decidiu planejar uma manifestação pública de repúdio. “Para nós, não basta que sejam dadas desculpas pontuais, mas é necessário que haja uma união que impeça a ocorrência de novos casos semelhantes. Fazemos um chamado para nos reunirmos por Alessandra e todxs pessoas trans que tiveram sonhos impedidos”, acentuou.
As ruas do baixo centro de Belo Horizonte receberam ontem o cortejo “Carnaval das Minas”. Organizado pelo Bloco Bruta Flor, o cortejo traz a mensagem do empoderamento feminino e da defesa dos direitos das mulheres todos os anos para o carnaval da capital mineira!
O desfile foi puxado por mulheres de diversos blocos de carnaval da cidade, onde todas podem aprender e contribuir com a festa. O Bloco Bruta Flor foi fundado em 2015, formado exclusivamente por mulheres. Empoderamento, representatividade e fortalecimento embasam as ações do grupo, que hoje compreendem a formação de um repertório autoral com músicas de Cantautoras residentes em Belo Horizonte, rodas de conversa e oficinas.
Baiana, Carol Barreto teve seu nome defendido por instituição para ocupar posto deixado por Donata Meirelles, socialite flagrada em festa de aniversário racista
Yuri Silva
O Coletivo de Entidades Negras (CEN), instituição nacional do movimento negro brasileiro, com capilaridade em 17 Estados do País e em três nações latinas, além de representação nos Estados Unidos, está viralizando na internet um abaixo-assinado online para emplacar o nome da estilista negra baiana Carol Barreto (festejada por suas coleções ativistas, inspiradas na cultura afro-brasileira) no cargo de diretora da Vogue Brasil. Para assinar, é preciso clicar aqui.
Na ocasião, sentada em uma cadeira de ‘sinhá’, a agora ex-diretora da Vogue brasileira foi fotografada cerca de mulheres negras vestidas de ‘escravas mucamas’. O caso ganhou repercussão internacional, o que tornou insustentável a permanência dela no cargo.
Agora, ativistas negros defendem que uma mulher negra deve ocupar a direção da revista de moda, conhecida por seu conteúdo racista e eurocentrado. “Donata feriu a imagem dos privilegiados quando posou de sinhá e ostentou as negras que lhes serviam. Ultrapassou o limite do ‘aceitável’”, diz o texto da petição, criada na plataforma Avaaz.
No documento, o CEN propõe “tomar as riquezas da Casa Grande”. Carol Barreto, o nome defendido pela entidade, é Designer de Moda Autoral, Colunista da Revista RAÇA e Professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia.
Oriunda de Santo Amaro da Purificação – BA, trabalha com a relação entre Moda e Ativismo Político, construindo um trabalho de visibilidade internacional nas passarelas de Dakar, Paris, Luanda, e em galerias de arte em Chicago, Toronto, Nova York, Cidade do México, Williamsburg, Rio de Janeiro e Salvador.
“A Vogue Brasil, ao obrigar a saída de Donata Meirelles da cadeira de diretora de estilo, pode agora fazer com que aquelas que são herdeiras da ancestralidade negra do Brasil retomem seus assentos”, diz o texto da instituição do movimento negro.
“Essa cadeira pertence às negras e negros que construíram e constroem as riquezas do Brasil e que, em virtude do racismo, não participam dos dividendos”, afirmam.
Caroline Barreto de Lima – conhecida no mundo da moda como Carol Barreto após trabalhos icônicos envolvendo a temática racial – também é membro do Colegiado do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), atrelada ao do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), órgão suplementar da UFBA.
Doutora pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – PosCultura, também na UFBA (2015), mestre em Desenho, Cultura e Interatividade pela UEFS (2008) e Especialista em Desenho pela UEFS (2007), possui graduação em Licenciatura em Letras com Inglês pela UEFS (2004).
É integrante da linha de pesquisa Gênero, Cultura e Arte do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), tem experiência na área dos estudos de Gênero, Sexualidade, Relações étnico/raciais e Moda, atuando principalmente nos seguintes temas: aparência, cultura, gênero e suas interseccionalidades.
Desenvolve, ainda, trabalhos relacionados aos processos de redesenho na moda, averiguando as relações entre a linguagem, moda, o vestuário e a construção dos caracteres do gênero e das identidades sexuais. É colaboradora no programa de pós-graduação em Desenho, Cultura e Interatividade da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e graduada em Design de Moda da Unime.
Texto e fotos por Duda Xavier / Jornalistas Livres
Durante o final de semana do dia 14 a 16 de dezembro, Belo Horizonte recebeu o Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária, realizado pelo movimento dos/as trabalhadores/as rurais sem terra (MST). O evento agregou além de uma infinidade de atrações artístico-culturais, uma troca constante de histórias e saberes relacionados à terra.
E se da terra é possível tirar o sustento, moradia e alimento, para muitas mulheres que integram o movimento também provém da terra a cura. Para dona Rogéria, integrante do MST há mais de 15 anos, a cura através da medicina natural surgiu não como uma opção mas uma necessidade devido a escassez de recursos médicos nos lugares que habitou. As lições que hoje ela aplica nos xaropes, florais e sabonetes foram transmitidas gradativamente entre as mulheres da família e somadas ao conhecimento científico que adquiriu nos cursos de medicina natural dos quais participou.
Dona Rogéria
Assim como dona Rogéria que acredita que “as plantas, poucas delas são daninhas, para nós são plantas companheiras”, Rita de Cássia e Edna Borges empregam ativamente a relação de colaboração com as plantas desde o plantio agroecológico, até a comercialização e aplicação das medicinas extraídas em seus respectivos locais de vivência. Relação essa secularmente conhecida pelos povos originários da América e África.
Deste modo falar de medicina natural é falar sobre a força e resistência da ancestralidade que sobreviveu a genocídios e apagamentos identitários disfarçados de sincretismos religiosos. Além das fogueiras inquisitórias que incendiavam mulheres que através de seus conhecimentos praticavam a tão escassa cura.
O conhecimento da medicina que provém da natureza portanto, não pode estar dissociado às discussões de gênero, etnia e política. Gênero relacionando a atuação histórica das mulheres no plantio, colheita e preparo das plantas. Atuação que confere poder a aquelas que detêm os conhecimentos capazes de curar seus povos e a si próprias. Que na dinâmica política da escassez que alimenta a atual estrutura da desigualdade social, o acesso a saúde é um privilégio de classes, gêneros e etnias dominantes.
Para Josimara, enfermeira e acampada a cerca de oito meses no assentamento Edson Luís em Macaé, “quem tinha direito a saúde pública eram os ricos, os pobres procuravam os curandeiros”. Atuante na frente de saúde do MST, Josimara acredita ser possível e necessário a colaboração da medicina natural com a ocupacional, principalmente como ferramenta para garantir mais do que a sobrevivência, mas promover de forma popular a qualidade de vida.
Por fim dentre as diversas questões que o Movimento dos trabalhadores rurais sem terra engloba, é com força ancestral e feminina que concluí-se que a luta pela terra é também uma luta pelo direito à saúde.
Feito para ser o #maiorterreirodomundo, o Festival Percurso 2018 – De Jardim a Jardim ocorre no próximo dia 09 de dezembro na Praça do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo (SP), com entrada gratuita para as mais de 40 diferentes atrações programadas para todo o dia. Também haverá um pré-festival de boas-vindas, o Perifa Talks, no dia anterior, sábado 08 de dezembro, das 10h às 17h30 no Cantinho de Integração de Todas as Artes (CITA), na Praça do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo.
A organização do evento espera cerca de 10 mil pessoas no domingo e oferece uma programação que abrange crianças, jovens, adultos e idosos. A proposta é levar ao público atividades educacionais, de entretenimento e de geração de renda.
Rincon Sapiênicia no Festival Percurso, no domingo, na Praça do Campo Limpo. Só vem! (Foto: Andreh Santos)
Dividido por tendas, o festival é organizado pela Agência Popular Solano Trindade, que neste ano se une ao movimento DeJardim a Jardim, por meio da parceria com a associação C de Cultura. Essencialmente horizontal e feito há muitas mãos – com mulheres, jovens, idosos, artistas, pequenos empresários e profissionais de diferentes áreas –, o Festival Percurso acontece desde 2013 e prestigia talentos, fomenta a cultura e os negócios locais. Mas não só.
O alcance do evento vai além da periferia e promove o encontro com públicos das regiões centrais da cidade. Todas as atividades serão realizadas num único local, a Praça do Campo Limpo, local de fácil acesso (bem ao lado do terminal de ônibus do Campo Limpo e numa reta só da avenida Prof. Francisco Morato e Estrada do Campo Limpo). Palco histórico de atividades culturais da Zona Sul, o local é berço histórico de saraus, eventos literários e de artistas como Racionais MCs, Criolo, entre tantos outros.
A quinta edição do Percurso, cujo tema é #omaiorterreirodomundo, traz programação que reúne a ancestralidade dos povos de terreiro e indígenas à nova geração de visionários da periferia e fora dela. A arte e a cultura, assim, acabam por promover pontes sociais. Também fomentam a economia local.
Thiago Vinicius, da Agência Solano e um dos organizadores do evento, ressalta que o Festival Percurso é a união de vários propósitos da Agência Solano, que tem como missão fortalecer a arte e a economia da região dos bairros do Campo Limpo, Capão Redondo e arredores da periferia da zona Sul de São Paulo.
“O Festival traz a união das relações de produção, consumo e comercialização de serviços locais com a arte e a cultura da periferia e das regiões centrais. Tudo isso em harmonia com a sabedoria e os ensinamentos dos nossos mestres e ancestrais. Ao reverenciar nossos sábios também prestigiamos a caminhada que segue pelas novas gerações”, diz Thiago.
O evento recebe neste ano atrações como Rincon Sapiência, Xaxado Novo, Tião Carvalho – comemorando os 40 anos de carreira – Bia Ferreira, Curumin, De Jardim a Jardim, Abôrigens, Mãe Bethde Oxum, de Recife (PE), Slam das Minas SP, Graja Minas e o Maracatu Nação de Kambinda, do Embu das Artes, homenageando a escritora, artista plástica, coreógrafa e folclorista brasileira, Dona Raquel Trindade.
Haverá ainda um show que mescla três apresentações no mesmo palco para celebrar os encontros transformadores entre as periferias e o centro. A música “De Jardim a Jardim” fará a ponte entre o hip hop da banda Abôrigens, a Abô, da produtora cultural e social A Banca – que promove ações de impacto nas quebradas por meio da música – com o cantor, compositor e multiinstrumentista Curumin. A canção, uma composição colaborativa, é resultado de um intercâmbio de saberes e fazeres entre jovens de diferentes origens socioeconômicas de São Paulo promovido pela associação C de Cultura. No espetáculo, Abô traz a mistura do Dub, Rap, Reggae e Rock. Curumin, por sua vez, apresenta o repertório de “Boca”, seu elogiado quarto disco.
A tradicional roda de samba Ajayô Samba do Monte vai celebrar seus 10 anos no festival e levará ao palco Raquel Tobias, uma das pioneiras a levar o protagonismo feminino ao samba, e representantes históricos da velha guarda das escolas de samba de São Paulo. Entre eles, estarão Seu Carlão, conhecedor das origens do jongo e do congado e um dos fundadores da Unidos do Peruche; e o compositor Silvio Modesto, da Pérola Negra, que já foi gravado por Bezerra da Silva e ainda acompanhou Cartola na gravação de seu último show ao vivo.
“O lema do Festival Percurso é Juventude Periférica, gerando renda, trabalho e desenvolvimento local, o que significa que a nossa visão de geração de renda está ligada ao desenvolvimento comunitário”, contou Alex Barcellos, produtor cultural da Agência Solano.
De Jardim a Jardim
C de Cultura
O Festival Percurso abre as portas para o movimento De Jardim a Jardim, iniciativa promovida pelo C de Cultura, cujo objetivo é celebrar os encontros entre o centro e as margens da cidade. É um convite a um importante deslocamento, não apenas geográfico, mas cultural e de trocas humanas.
“Nossa prioridade não é criar novos projetos nessas regiões, mas sim apoiar para promover o crescimento dos que já existem”, diz o psicólogo, músico e educador Ricardo Leal, atual presidente e sócio-fundador do C de Cultura. “Entendemos que quem já está lá trabalhando, vivendo e pensando aquele território tem muito mais a ensinar para nós. É um grande processo de troca”, completa Léo Mello, diretor da associação que também é pesquisador da cultura popular.
Pensado para ser o #maiorterreirodomundo, o Festival na prática, vai fomentar a união que passa entre os povos através de diferentes vertentes musicais, culturas ancestrais e na economia, trazendo a ‘re-união’ do que há de mais bonito no Brasil: o conceito de agrupamento, de aquilombamento, transformando a Praça do Campo Limpo em um chão abençoado por mestres de religiões de matrizes africana e indígena. Nessa confraternização, o bastão dos sábios griôs será passado para as mãos da nova geração.
O conceito “De Jardim a Jardim” nasce da metáfora sobre a necessidade de encontro e troca entre as pessoas, independente do bairro onde moram e da realidade de vida de cada um, a arte será sempre capaz de aproximar todos, afinal, sempre há o que se aprender e ensinar, de ambos os lados.
Confira a programação de algumas tendas e atividades
PERIFA TALKS
No sábado, dia 8, a partir das 10h da manhã, o Festival Percurso promove o Perifa Talks com uma série de relatos de personagens inspiradores. Na Tenda dos Povos, que fica no Espaço Cita (Cantinho Integrado de Todas as Artes), na própria Praça do Campo Limpo, será possível presenciar os depoimentos sobre a vida, obra e a trajetória empreendedora de grandes referências em projetos de negócios, alimentação saudável, saúde mental, uso de ervas medicinais, empreendedorismo negro, protagonismo feminino, hip hop etc. Além das falas dos convidados, o diálogo estará aberto para a interação.
Entre os participantes, estão Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta e a MC e a articuladora Nayra Lays, de 21 anos, que tratará da nova geração de mulheres artistas que estão emergindo das margens e ocupando todos os espaços. Mestre Aderbal Ashogun apresentará a importância da preservação e manutenção da cultura brasileira principalmente dos povos e comunidades de matriz africana.
Ainda no sábado, logo após o Perifa Talks, às 19h, haverá a intervenção artística do Projeto Omodé, com música percussiva de atabaques, ganzás e agogôs tocados por jovens moradores da periferia da Zona Sul. A cultura afrobrasileira também estará presente na exposição fotográfica “O axé visível dos terreiros” que vai além da exibição de imagens. A exposição traz a provocação do que se pode ou não ser registrado dentro dos terreiros espalhados pelo Brasil. Os fotógrafos Fernando Solidade, Nego Júnior e Rogerio Pixote fundem a experiência do olhar fotográfico documental das periferias com registros feitos nas casas de axé.
Também sábado, das 19h30 às 21hs, a Juventudo dos Terreiros estará reunida nos “Dialógos para o futuro”. Na sequência, o DJ Eduardo Brechó fará discotecagem da festa “Do tambor ao toca discos”.
TENDA DAS YABÁS
A Tenda das Yabás homenageia as mães-rainhas e os orixás femininos, exaltando a força artística das mulheres da periferia. Está confirmada a presença do coletivo União Popular de Mulheres, que desde a década de 1960 promove a emancipação e conquista plena dos direitos da mulher. Também está confirmada a presença da Aldeia Tenondé Porã, com intervenção artística do Coral Guarani, ao som de rabeca e violão.
O espaço recebe também a Associação de Kung Fu Garra de Águia Lily Lau, de Taboão da Serra, apresentando o espetáculo Dança de Leão, do folclore chinês, para espantar maus espíritos e trazer sorte e prosperidade. A programação ainda inclui apresentação teatral com a companhia Satyros, apresentação musical e artística com Funk de Griffe, Graja Minas e poesia com o Slam das Minas SP.
TENDA DOS ERÊS
Pela primeira vez o evento conta também com a Tenda dos Erês, um espaço lúdico com o propósito de oferecer alegria, integração, cultura e valores humanísticos para o público infantil. Haverá jogos cooperativos, pintura indígena, oficinas artísticas, brincadeiras antigas e populares de povos do mundo, contação de histórias e clown.
A atividade “Gestar, Parir e Cuidar em Percurso” ocorre a partir das 9h30 com diálogos sobre a gestação, assistência ao parto humanizado, pós-parto e perspectivas de atuação no atual contexto político. Haverá participação de doulas, profissionais de unidades de básicas de saúde, obstetriz, além de oficinas de dança materna, sling, cultura da amamentação e pintura de barriga. Entre outros convidados estarão, Ayê Coletiva, representantes do centro de parto humanizado Casa Ângela e o coletivo Mãe na Roda.
Neste espaço ocorre também a exposição da fotógrafa Lela Beltrão, sobre partos naturais que em 2016 já esteve no Salão de Arte Contemporânea, no Carrossel Du Louvre, em Paris.
TENDA DOS POVOS
A Tenda dos Povos vai reunir uma comitiva de mais de 20 mestras e mestres de povos de terreiro, representantes da juventude camponesa, quilombolas e indígenas Guarani e Pataxó. A curadoria do encontro é do Mestre Aderbal Ashogun, sacerdote do candomblé, professor, artista, escritor e coordenador da rede Omo Aro Cia Cultural, que desde 1992 tem como prioridade a manutenção e o resgate do complexo cultural dos povos tradicionais de terreiros.
Às 9 horas da manhã do domingo, haverá na tenda uma “roda de cura” chamada “Cânticos para a Mãe Terra”, conduzida por Mãe Beth de Oxum e o ogan Luiz Bangbala, o mais velho do candomblé do Brasil. O ritual do plantio de uma árvore de baobá será outro momento importante. A tenda recebe a presença de Raniere Costa, capoeirista, filho do Mestre Môa do Katendê. Ao meio-dia, um cortejo de afoxé percorrerá toda a praça para, então, abrir uma roda de capoeira que vai até as 13hs quando os tambores se aquecem para o Ajayô Samba do Monte.
Feira Paul Singer
O espaço de empreendedoras e empreendedores do Festival leva o nome professor Paul Singer, que fundamentou os princípios da economia solidária. A famosa feira da @agsolanotrindade ficará na Praça do Campo Limpo das 10h às 19h do domingo com novidades da moda, acessórios, artesanatos, produtos para decoração, etc. É um convite a quem quer adiantar as compras de Natal e ao mesmo tempo fortalecer a economia solidária.
Alimentando Pontes
O espaço “Alimentando Pontes” vai reunir no domingo, das 10h às 19h, chefs das periferias com chefs da região central de São Paulo na tenda Alimentando Pontes. Os encontros não serão apenas culinários mas, principalmente, de troca de experiências de vida e opiniões sobre a democratização do ato de comer bem. Ao som dos artistas da cultura periférica, em um ambiente descontraído, está confirmada a presença da chef Bel Coelho, do premiado restaurante Clandestino e apresentadora do programa Receita de Viagem (TCL Discovery). A chef Tia Nice, da Cozinha Criativa da Agência Solano Trindade, e o Mestre AderbalAshogun, sacerdote do candomblé, também vão cozinhar na tenda. O evento recebe também os chefs Edson Leite, do Gastronomia Periférica, a vegana Laila Mengardae Luciano Nardelli, da premiada Carlos Pizza.
“Os chefs convidarão o público para uma experiência deliciosa, com um bom papo, apreciando uma cerveja artesanal da roça, o que é garantia de bom rango”, anunciou a organização.
Gastronomia da periferia
O Festival Percurso traz também mais de 30 tipos de empreendimentos gastronômicos de quituteiras de mão cheia, restaurantes e projetos relacionados à cultura alimentar. Além dos tradicionais tutu de feijão, baião de 2 e acarajés, a feira vai oferecer pastéis de panc (plantas alimentícias não convencionais), sorvetes e compotas gourmet e cervejas artesanais.
Feira Campo & Perifa
A conexão entre a roça e a periferia estará nas barracas de alimentos orgânicos vindos direto dos produtores, na venda de queijos, geleias, antepastos, mel, cosméticos naturais ou mesmo na troca de sementes. Mas não só. O espaço foi criado para difundir princípios de respeito e interação sustentável do ser humano com a natureza. Os expositores, alinhados à sabedoria da agricultura familiar e às boas práticas da permacultura, são especialistas no gerenciamento integrado dos ecossistemas naturais e vão estar disponíveis para interagir com o público.
Serviço
FESTIVAL PERCURSO 2018 – DE JARDIM A JARDIM
Pré-festival dia 8.12 (sábado) das 10h às 22h
Festival dia 9.12 (domingo) , a partir das 8h
Praça do Campo Limpo: Dr. Joviano Pacheco de Aguirre, 30 – Jardim Bom Refúgio. Na zona sul de São Paulo, fica a 5 minutos do Terminal de ônibus Campo Limpo.
COMO CHEGAR:
De ônibus: Vários terminais de ônibus da cidade têm rotas que se conectam ao Terminal Campo Limpo. Exemplos: do Terminal de ônibus Pinheiros pegue a linha 809P-10 para chegar ao do Campo Limpo. Ao sair do Terminal Campo Limpo, siga à direita e caminhe por 500 metros.
De metrô: Pela linha 5 do metrô, desça na estação Campo Limpo. A praça fica a 15 minutos do local pelas linhas de ônibus 343, 178 ou 245 ou 056 ou 178BI1 ou 587BI1.
De carro: Da Zona Oeste da cidade, siga numa reta só pela Avenida Prof. Francisco Morato e depois pela Estrada do Campo Limpo. Pela Marginal Pinheiros, siga as indicações para Campo Limpo/Jd São Luís/Itapecerica, permaneça na Avenida João Dias até a Estrada da Itapecerica e Estrada do Campo Limpo.
Trinta e oito anos depois, na noite desta sexta-feira, 9, a partir das 18 horas, será reeditado na Praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte, o ato ‘Quem Ama Não Mata’, para denunciar a violência contra a mulher e o feminicídio. O evento será marcado por muita música, performance, dança, poesias, rappers, DJs, apresentadoras profissionais etc., com direção do ator Adyr Assumpção e produção da promotora de eventos Nely Rosa.
“Neste ano, diante do recrudescimento da violência contra as mulheres – dados comprovam um aumento de mais de 100% nos últimos dez anos -, e, no meu caso, pelo assassinato da advogada do Rio Grande do Sul, Tatiane S. , novamente nos unimos e resolvemos ‘fazer algo’. Aí o Ato de 1980 foi novamente nossa inspiração. Aquele ato, tão simples, continua com uma potência enorme. O slogan “Quem ama não mata” é muito poderoso. Só que o ato de agora, naturalmente, está adaptado aos dias de hoje”, contou a jornalista Mirian Chrystus de Mello e Silva.
“Antes, nós feministas falávamos pelas mulheres trabalhadoras rurais, pelas prostitutas. Agora elas estão lá no Ato, falando por si mesmas. O feminismo negro está lá de forma muito crítica ao feminismo hegemônico branco – aquele nosso de 1975. Agora as pessoas não têm paciência de ouvir discursos, então, eles serão muitos, cerca de 17, mas cada um com dois minutos”, prosseguiu Mirian.
O primeiro ato aconteceu em 18 e agosto de 1980, nas escadarias da Igreja São José, no centro de Belo Horizonte. Foi originado dentro da TV Globo local, da indignação de três jornalistas (Dagmar Trindade, Antonieta Goulart e Mirian) pela morte, no espaço de duas semanas, de duas mulheres assassinadas por seus maridos: Heloísa Ballesteros e Maria Regina Souza Rocha. O primeiro por desconfiança de traição.
“No julgamento, me marcou ele descrever a última noite, anterior ao assassinato, em que ele percebeu sinais de ‘esfriamento’ por parte dela durante o ato sexual. Ali ela assinou a sua morte, naquela ‘frieza’. O segundo, por não aprovar os novos hábitos dela, que ‘tinha dado para fumar’. Foi morta ainda com o uniforme de ginástica, ao voltar da academia para casa”, observou Mirian.
“Cobraram de nós, jornalistas, que mulheres pobres eram assassinadas todos os dias nas favelas; nós sabíamos, éramos jornalistas. Mas sabíamos também que duas mulheres de classe média e alta assassinadas davam uma boa pauta. Não éramos ingênuas. O ato que ficou conhecido como Quem Ama Não Mata (originado da frase anônima, pichada em muros de BH, “Se se ama não se mata”) foi muito simples. Mas original para os padrões da época, porque foi em plena ditadura”, lembrou a jornalista.
“Reuniu cerca de 400 mulheres que seguravam velas e rosas vermelhas (doadas pela dona do Sobradão da Seresta, no bairro Santa Tereza). Falaram umas seis ou mais pessoas, entre elas, o deputado Genival Tourinho, a poetisa Adélia Prado, que veio de Divinópolis, Maria Campos, pela Liga das Mulheres Católicas, uma feminista do Rio e eu, que li um manifesto que escrevi de uma vez só. E que começava com um poema anônimo, lido por mim na revista Senhor, provavelmente em 1968 ou 1969, no Colégio Estadual Central. O único poema que guardei de cabeça: ‘Senhora, aqui está vossa chave para vos abrirdes quando quiserdes e com quem quiserdes porque maior que a dor de vos perder é a dor de vos deixar presa nesses ferros’.
Em Minas, mil anos depois, prosseguia eu, os homens matam as mulheres que querem a separação… etc, etc. E reivindicávamos a redemocratização do país alertando que a democracia tinha que começar ‘dentro das nossas casas’. Dali nasceram a frase ‘Quem ama não mata’ (que virou série da Globo) e o Centro de Defesa da Mulher, que iniciou pesquisa sobre o tema “violência contra a mulher” e promoveu o atendimento de mulheres que sofriam violência doméstica e reivindicava a criação de delegacias especializadas no atendimento a mulheres (que foram criadas por todo o país a partir de 1985).” Enfim, será um ato feminista, cultural, político, no sentido amplo, porque é suprapartidário. Os Jornalistas Livres vão cobrir o evento ao vivo pelo Facebook.