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Categoria: Marielle Franco

  • 8 de março: feministas enchem as ruas de todo o país e exigem “Fora Bolsonaro”

    8 de março: feministas enchem as ruas de todo o país e exigem “Fora Bolsonaro”

    Enfrentando o autoritarismo e o conservadorismo que ascenderam no Brasil, assim como em diversos países da América Latina e de outras partes do mundo, fomos às ruas no Dia Internacional de Luta das Mulheres, 8 de março, para denunciar a política de Bolsonaro e exigir mais democracia, mais direitos, trabalho digno e justiça para Marielle.

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Conectando o enfrentamento a essa conjuntura, em que a vida das mulheres se precariza cada dia um pouco mais, com as lutas permanentes do feminismo, pelo fim do capitalismo e do patriarcado, nos manifestamos em todos os cantos desse país, marcando nossa diversidade e irreverência.

    O 8 de março foi, também, data do lançamento da 5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Por todo o mundo e em cada território, as mulheres organizaram atividades públicas, retomando a história do movimento e pautando os motivos para estar em marcha hoje. Com o lema “Resistimos para viver, marchamos para transformar”, a Ação Internacional celebra 20 anos desde que a Marcha foi às ruas pela primeira vez, dizendo não ao neoliberalismo e às políticas econômicas que atentam contra a vida das mulheres.

    O 8 de março abre uma intensa agenda de mobilizações no país. Só neste mês, já estão agendadas manifestações nos dias 14 (por justiça para Marielle no marco dos dois anos de seu assassinato) e 18 (por democracia sob o mote “ditadura nunca mais!”). Sonia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres de São Paulo, fez uma convocação durante o ato de ontem: “quem foi que matou Marielle? Nós sabemos, mas queremos justiça! Então, chamamos todas para o dia 14. E, depois, porque somos mulheres, feministas, trabalhadoras, estaremos todas no dia 18, fazendo uma grande manifestação por democracia. Ditadura nunca mais! Fora Bolsonaro! Cada uma aqui deve convidar sua amiga, garantir a presença da sua organização. É só luta até pôr esse lixo autoritário para fora!”

    O calendário da Ação Internacional da MMM também segue depois de março: em 24 de abril, por todo o mundo, a Marcha fará suas 24h de Solidariedade Feminista, denunciando as empresas transnacionais que exploram o trabalho e a vida das mulheres; e, entre 28 e 31 de maio, acontece uma grande ação nacional em Natal (RN), com presença de delegações de todos as regiões do Brasil.

    Agora, confira como foram as mobilizações nos estados.

     

    Rio Grande do Norte
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    Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, as mulheres da MMM participaram do ato que teve como mote “Mulheres em resistência: pela vida e por direitos”, que saiu da Praça das Flores e caminhou até a Praça dos Pescadores. Ao final, elas também lançaram a 5ª Ação Internacional da Marcha.

    Já em Mossoró, A Caravana da Marcha Mundial das Mulheres percorreu os bairros da cidade dizendo que as mulheres querem trabalho digno, liberdade, democracia, Justiça para Marielle e fora Bolsonaro e toda a sua a sua política antipovo.

    No Rio Grande do Norte, as mulheres se preparam para receber as militantes da MMM de todo o Brasil, que irão em maio para Natal, durante a Semana de Luta Anti-imperialista, para participar do momento nacional da 5ª Ação Internacional da Marcha.

     

    Ceará

    photo5130143581451954213Dez mil mulheres estiveram presentes ontem (8) no Festival 8 de Março – Pela vida das Mulheres Contra o Fascismo, Machismo, Racismo e LBTfobia – Em Defesa dos Direitos e da Democracia, em Fortaleza.

    Mulheres do movimento feminista, da periferia, do campo, mulheres estudantes, sindicalistas, partidárias e tantas outras estiveram presentes na atividade, que contou com debates, oficinas, caminhada pelas ruas da praia de Iracema e se encerrou na Praça do Centro Dragão do Mar com um ato político-cultural.

    Com faixa, batucada, palavras de ordem e pirulitos, a Marcha Mundial das Mulheres do Ceará exibiu um grande Fora Bolsonaro em suas mensagens.  “Quem está nesse governo está fazendo uma política de desmonte para a mulheres, é a política do capital”, afirmou Mitchele Meire, da MMM, durante o ato político.

     

    Distrito Federal
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    Em Brasília, as mulheres fizeram uma grande mobilização no dia 8, com a presença de diversos movimentos. A batucada puxou o ato, junto com uma grande faixa com o lema da 5ª Ação. O ato começou logo cedo, às 8h, com o mote “Pela vida de todas as mulheres contra o racismo, o machismo e o fascismo”. Uma hora antes, aconteceu o lançamento da 5ª Ação. Hoje (9), as mulheres do MST ocuparam o Ministério da Agricultura, denunciando as políticas violentas de Bolsonaro para o campo, como a privatização de terras, a liberação de agrotóxicos e os cortes em programas públicos.

     

     São Paulo

    Na capital paulistana, as atividades começaram já pela manhã, com o lançamento da 5ª Ação Internacional, na Avenida Paulista, onde aconteceu um piquenique agroecológico e intervenções culturais. Estavam presentes delegações de mais de dez cidades, como Registro, Barra do Turvo, Peruíbe, Campinas, Ubatuba, Sumaré, Diadema, São Bernardo, Guarulhos.

    Em seguida, as mulheres se juntaram às mais de 40 entidades, movimentos, coletivos e partidos que organizaram o ato “Mulheres contra Bolsonaro! Por nossas vidas, democracia e direitos! Justiça para Marielle, Claudias e Dandaras!”. A chuva não impediu a presença de milhares de mulheres afirmando que queremos outro país e o fim da política de morte desse governo.

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    Em Campinas, o ato aconteceu no sábado (7) e também levou muitas mulheres para as ruas para manifestar a indignação coletiva com esse governo. Foram mais de 50 entidades construindo coletivamente a mobilização. As militantes da Marcha fizeram várias atividades preparatórias para o dia 8. Houveram panfletagens, oficinas de materiais e coleta de assinaturas em espaços públicos.

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    Em Ubatuba, as marchantes fizeram juntas uma atividade dinâmica de construção da linha do tempo da luta das mulheres brasileiras destacando, mais ou menos umas 20 mulheres, desde Dandara, liderança quilombola, até os tempos atuais de Dilma e Marielle. Também houve caminhada pela cidade.

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    São muitas pautas: em defesa da educação e saúde públicas, de denúncia das reformas trabalhista e da previdência, por uma vida livre da violência, contra as privatizações, pela autonomia sobre nossos corpos e sexualidades, pelo direito à moradia, pelo direito dos povos tradicionais caiçaras, quilombolas, indígenas, por trabalho com direitos, pela democracia, contra o fascismo etc.

     

    Rio de Janeiro
    WhatsApp Image 2020-03-08 at 13.58.53No Rio de Janeiro, o ato unitário do 8 de março acontece nesta segunda-feira (9), às 17h, na Candelária, na região central da cidade. No domingo (8), as militantes da MMM se reuniram para um ensaio da batucada feminista.

    A batucada é um instrumento político de luta que expressa nossa ação feminista. Com a batucada, buscamos democratizar a fala nas ruas. Latas, mulheres, tambores e baquetas em ritmo contra o machismo. Os instrumentos da batucada são feitos prioritariamente de materiais reciclados ou que fazem parte do nosso cotidiano.

     

    Espírito Santo
    No Espírito Santo, as mulheres fizeram uma caminhada pelo centro de Vitória na sexta (06), junto com outros coletivos de mulheres, com o tema “Basta de violências: Mulheres nas ruas por direitos!”. O ato foi marcado pelo posicionamento contrário ao machismo e ao governo Bolsonaro. A atividade contou com algumas intervenções culturais e panfletagem de convites para o ato cultural que aconteceu no Parque Moscoso, no centro da cidade, neste 8 de março.

     

    Bahia

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    Dias antes do 8 de março, as militantes da MMM de Salvador já preparavam as latas para a batucada feminista que daria o tom do ato, que foi realizado na manhã deste domingo (8). “Resistência tem nome de mulher! Assédio não! Retirada de direitos não!” foi o mote da manifestação que levou uma multidão para o Farol da Barra.

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    Minas Gerais

    WhatsApp Image 2020-03-08 at 20.44.49A Marcha Mundial das Mulheres em Belo Horizonte construiu o 8 de Março em articulação com as organizações da Frente Brasil Popular e com os blocos de carnaval. Essa unidade vinha sendo tocada desde os atos do Ele Não na cidade. “Só da luta brota liberdade” foi o lema do ato, que começou pela manhã na Ocupação Pátria Livre. Em Juiz de Fora (MG), o ato unificado “É pela vida das mulheres” aconteceu no dia 7, com o Festival Marielle Franco, que contou com uma feira de economia solidária e feminista. O dia 8 ficou para o lançamento, com piquenique e batucada. Em Simonésia, teve manifestação no final da tarde, reunindo mulheres no centro da cidade. Em Viçosa, as mulheres organizaram uma apresentação artística, cultural e política.

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    Rio Grande do Sul
    No Rio Grande de Sul, houveram mobilizações em diversas cidades. Nova Prata, Canoas, Caxias do Sul, Viamão, Osório, Encruzilhada do Sul, Santa Maria e Porto Alegre, além de um ato binacional, da fronteira de Santana do Livramento e Rivera (Uruguai). Em consonância com as articulações nacionais, as mulheres se manifestaram contra o atual governo e também lançaram a 5ª Ação Internacional da MMM. Em Porto Alegre, o lançamento da Ação foi na Praça em frente à orla do Guaíba, junto com bloquinhos de carnaval. Em Santa Maria, as mulheres fizeram um evento junto às artesãs da economia solidária, e denunciaram a situação de desemprego e superexploração através de um “jogo da vida real”.

    Marchantes em Canoas
    Marchantes em Canoas
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    Atividades em Porto Alegre

     

    Pernambuco

    b9192bad-c7c2-4596-8429-ee833d937f8e (1)Em Recife, o ato unificado está marcado para segunda-feira (9). As mulheres da Marcha aproveitaram o 8 para fazer uma pré-mobilização em Brasília Teimosa, com batucada na rua e panfletagem. Em Caruaru, o lançamento aconteceu no Armazém do Campo, com show de Gabi da Pele Preta. O ato será no dia 12, com o lema “Nem ca mulésta!”. E a preparação está intensa: elas estão preparando cartazes elencando tudo aquilo que as mulheres não aceitam. Nem ca mulesta a ditadura, o conservadorismo, o feminicídio, a LGBTfobia, o racismo, o capitalismo… “Resistimos aos ataques do capital, ao conservadorismo, a violência, a opressão. E marchamos para transformar esse cenário social, político e econômico”, sintetizou a militante Ranuzia Netta.

     

    Maranhão
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    O lançamento da 5ª Ação Internacional em São Luís foi na Feirinha Benedito Leite, no Centro Histórico da cidade. Em um palco cheio de apresentações culturais feministas, a batucada entoou canções de luta.

     

    Paraíba
    Em João Pessoa, o lançamento da 5ª Ação aconteceu com um festival político-cultural, intitulado “Basta de violações! Juntas por direitos!”, que se estendeu pela tarde. Durante o festival, as mulheres fizeram uma homenagem a Paula Adissi, militante da Marcha que faleceu há poucos meses e deixou saudade nas companheiras. Em Cajazeiras também teve lançamento, com música e decoração de cartazes.

     

    Paraná
    WhatsApp Image 2020-03-08 at 09.37.46Em Curitiba, as mulheres foram às ruas. Nos cartazes, se evidenciou o tema da democracia e o rechaço aos golpes de Estado. “Contra os ataques da aliança neoliberal e conservadora”, presente em um dos cartazes, foi um destaque do chamado à 5ª Ação Internacional da MMM. 

     

     

    Sergipe
    As mulheres participaram da construção e da condução do ato em Aracaju, que se concentrou no terminal de ônibus na praia de Atalaia. Nas faixas e cartazes, além do lema da Ação, as frases: “pela vida das mulheres! Ditadura nunca mais” e “vivas por Marielle”.

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    Tocantins
    WhatsApp Image 2020-03-08 at 17.48.41Em Palmas, a luta foi na Feira do Aureny I. As mulheres estiveram na Feira dialogando com as/os feirantes e moradores do setor sobre as reivindicações neste 8 de março. O lançamento da 5ª Ação Internacional também foi por lá. “Levamos nossa batucada, linguagem e irreverência feminista pra feira”, disse, satisfeita, a militante Carol Azevedo. Em Araguaína, a Marcha lançou sua 5ª Ação Internacional no decorrer da manifestação, reivindicando “a construção de um feminismo anticapitalista e antirracista concreto e em movimento na nossa cidade”, além de saúde, moradia, educação, soberania popular e uma vida sem violência.

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    Alagoas
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    Em Maceió, as feministas organizaram um festival cultural de mulheres, com o nome “Mulheres unidas pelo direito de viver sem violência”. Na ocasião, elas promoveram diversas discussões, que aconteceram entre apresentações artísticas e falas políticas, marcadas pelo enfrentamento aos governos Bolsonaro, assim como estadual e municipais. Elas reafirmaram a denúncia a Braskem e fizeram um jogral da Marcha com todo ato.

     


    Santa Catarina

    WhatsApp Image 2020-03-08 at 15.30.37Em Florianópolis, o lançamento da 5ª Ação foi realizado durante o 1º Encontro Nacional das Mulheres Indígenas Guarani Yvyrupa. Em uma tenda, as mulheres organizaram uma programação de falas, atividades culturais, música e batucada feminista. Do Encontro, saiu um manifesto das mulheres guarani. Em Blumenau, as marchantes fizeram uma manifestação junto às demais organizações feministas, sindicais e populares. Teve brechó, pintura de camisetas e batucada. Na cidade de Lages, também teve lançamento: na praça, junto a uma feira de economia solidária, com roda de conversa e exposição de cartazes.

  • ELISA LUCINDA: Em Portugal, com o Brasil a doer no coração

    ELISA LUCINDA: Em Portugal, com o Brasil a doer no coração

    Elisa Lucinda na terra de Eça de Queiroz, onde participou do Encontro Internacional Literário Correntes D’Escritas - foto: Jonathan Estrella
    Elisa na terra de Eça:  “o mundo está assistindo nossa dor” – foto: Jonathan Estrella

    Estou em Póvoa de Varzim, terra de Eça de Queiroz, lindo lugar que pertence ao distrito do Porto, lançando o livro “A fúria da beleza” por uma editora luso cabo-verdiana, Rosa de Porcelana… Uma beleza. Somos muitos autores neste Encontro Internacional Literário bem chamado de Correntes D’Escritas. O país que nos colonizou vai muito bem, respeitando as artes e as ciências humanas e exibindo escolas públicas de altíssima qualidade. Pois vai muito bem mesmo este nosso Portugal. (não se preocupem não vou morar aqui… rsrs). É nutrição de esperança ver Portugal brilhando como esquerda europeia. O pequeno imenso país vai mesmo muito bem.

    Meu coração brasileiro é que não.

    Tenho vergonha do desmonte lá de casa. Vim representar um país cujo governo o despreza e o ataca diariamente. Para ele, fodam-se os índios, os pretos, a diversidade de gênero, a Amazônia, nossos metais valiosos, nossos museus, nossas universidades, nossa ciência, nossa pesquisa, nossa sustentabilidade, a soberania nacional. A elite brasileira não perdoa um governo que olhe para o povo. Por isso o ministro da justiça Sérgio Moro não luta mais contra corrupção; notaram? Se esqueceu da possível armação rachadinha do Queiroz, faz vista grossa para milícias e tudo que possa ferir o poder que alcançou negociando cargo em plena gestão de suas condenações da lava jato. Moro parece só pensar agora em ser o próximo presidente, e não tem tempo para a justiça. Tampouco se explica ao país. O poder é mais um dos seus brinquedinhos, coisa de menino rico que só sabe ser o dono da bola e ganhar sozinho o jogo. Nada pra ele é do coletivo. Não está nem aí pro genocídio da juventude negra pois, em sua balança cega para os que dela precisam, pesa a desigualdade. A cada hora uma criança perde a vida no Rio de Janeiro na chamada guerra contra o crime. E só é assassinada criança preta e pobre. Os petroleiros estão em greve. A cada hora um trabalhador perde ainda mais sua possibilidade de trabalho na constante desindustrialização do país por parte deste governo. Também, fodam-se os trabalhadores pois o ministro da economia quer o dólar alto por que não quer saber desta farra de domésticas viajando pra Disney sem parar, já que, a sonhada bobagem de grandes bonecos de Mickey e Pateta, é simbologia branca da classe média, e de quem tem dinheiro. Não é pra pobre não, senão vira bagunça. O presidente é racista, homofóbico, misógino e publicamente sem qualquer pudor, desrespeitador das mulheres e de várias vastas “minorias”. Tenho vergonha dele. Aqui ainda me sinto mais mal. Trago um Brasil doente no peito. Na internet do mundo rola o fedor da nossa roupa suja. O pessoal aqui tá sabendo. O ataque baixo do presidente à jornalista Patricia Campos Mello, ao jornal Folha de S.Paulo e a toda imprensa independente que o está criticando, todo mundo tá sabendo. Que horror! Socorro! Estou num festival de letras representando um país cujo presidente não me representa, não acredita nas letras e que, em nome de deus quer que o pobre continue pobre e não tenha dignidade nem saída. Estou representando um país cujo presidente se tornou internacionalmente metáfora de coisa ruim. Referência de despotismo, de fascismo, de atraso. Todos o sabem. Perguntam-me nas ruas daqui estarrecidos. Na lanchonete o rapaz que faz o sanduíche me questiona: “O que aconteceu ao Brasil? O homem só faz estragos! Só diz asneiras! E a Regina Duarte, será que não vê isto, oi?”

    Por isso, declaro aos presentes aqui: Sei que o mundo está assistindo nossa dor.

    Nossa democracia sofre duros e sucessivos golpes numa nocauteante sequência. Estava num bom caminho e nitidamente desandou aos nossos olhos e aos olhos do mundo que sinceramente tinham o Brasil num imaginário de um notável país, amante da liberdade e em desenvolvimento que, reduziu a fome, ostentou o SUS como melhor atendimento de saúde pública do mundo, zerou o analfabetismo, foi referência no combate à Aids. Fez o dinheiro circular e o trabalhador começou a poder andar de avião. Diminuiu com forte impacto a população abandonada e moradora das ruas das grandes cidades. Preto, indígena e pobre ocupando lugares nobres nas PUCs e outras importantes Universidades, LGBTQI+ avançando nitidamente ao seu lugar legítimo de cidadania.

    De repente, o tempo virou.

    Rapidamente o Brasil sai deste lugar pra virar constrangimento? Para citar e namorar os conceitos nazistas em pleno 2020? Enquanto as universidades do mundo estudam e aplicam o método Paulo Freire de ensino o presidente o ataca, ofende sua memória, importância e saber, na cara de quem o estudou? O presidente se volta contra a literatura, o cinema, os artistas, os professores, os direitos humanos? Enquanto os terreiros de candomblé e umbanda são atacados e vilipendiados por neo fundamentalistas, a Damares faz de seu ministério um templo, defende abstinência sexual para os jovens e o Estado, que era laico, faz culto evangélico na assembleia do Rio???!!!! O racista Sérgio Camargo insiste em assumir a Fundação Palmares, criada para defender os direitos dos negros! O cara está sendo imposto como um lobo destinado a cuidar das chapeuzinhos. Ele tem sede. É capitão do mato. É como designar um pedófilo para coordenar uma creche. Mas venho avisar a este mundo que estamos lutando. O senhor Sérgio não nos representa e não vai ocupar a presidência que leva o nome do Quilombo mais poderoso de que já se teve notícia. Quem trai Zumbi não ocupará Palmares. Este presidente não nos representa. Falo em nome dos que nunca acreditaram neste governo e também dos que por ele foram traídos e só agora estão entendendo. E parabenizo os nossos constitucionalistas, os ativistas, os bravos parlamentares, os professores, os estudantes, os petroleiros, povos da floresta, povos das favelas, povos quilombolas, ambientalistas, aqueles que de suas trincheiras não cansam de lutar. Bolsonaro não tem partido nem tem o congresso. Se cercou de militares, e não aceita que nem todo seu desejo possa virar decreto. A lei o atrapalha. O congresso e a constituição complicam sua vida.

    O Brasil se revelou na sua hipocrisia:

    Está mais assumidamente racista, perdido nas fake news, vendo atrocidades em nome de Deus, da pátria e da família. Mas está cada vez menos explicado: de qual Deus, de que pátria e de qual família fala o presidente? E quem entrou pelo sistema de cotas na universidade está entendendo sim e explicando pro seu pessoal, esclarecendo, conscientizando. Agora temos mais advogados pretos, temos rede social filmando as barbáries, desafiando e esfregando na cara da sociedade a realidade que ninguém quer e ninguém queria ver. O mundo mudou. O país é novo e complexo. Por isso advogados rapidamente se apresentaram diante do abuso sofrido por Raull Santiago. Sempre foi assim pros pretos. Desde o nosso holocausto que durou 400 anos. Há muito nos matam por lá. Por isso o governo Lula criou a Secretaria Especial da Igualdade Racial que este governo fez questão de acabar. Mas agora todo mundo vê. Lê. A fofoca é geral. Salva, comenta e compartilha. Estamos mais articulados do que nunca e, embora mais silencioso do que o conjunto de seus algozes, o quilombo contemporâneo se avoluma. A minoria está ficando do tamanho da maioria que é. É ao vivo, em tempo real, sem edição. Haverá revolução.

    Agradeço a esse encontro das Correntes D´Escritas, lugar onde a palavra é celebrada, em que várias vezes o Brasil foi citado como uma preocupação mundial. Sei que vocês sabem que o Brasil não é um caso isolado, e a retrógrada e insana mão da extrema direita ameaça o mundo. Por isso o Brasil percebe a solidariedade de todas entidades do planeta comprometidas com a igualdade, sabedora de que a desigualdade não produzirá a paz. Aproveito para compartilhar uma das lições que a nossa democracia duramente está recebendo: Nós da esquerda temos que nos livrar de costumes separatistas, preconceituosos que engendramos e praticamos em nossa política do cotidiano, e dos quais se aproveitam as forças conservadoras. Enquanto formos machistas, racistas e homofóbicos na vida íntima ou coletiva, mais estaremos vulneráveis ao nazismo e ao fascismo. Agradeço a este país que me recebe de braços abertos, aos escritores e poetas do mundo que cá estão, e faço questão de vos lembrar as palavras de Martin Luther King: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”. Há um país que não aceita mais o racismo explícito do jornalista William Waack ou do Rodrigo Bocardi e que, apesar de sofrer toda a peste da evangelização tóxica em toda parte a dominar as mentes com seus moralismos, há um país cuja população adulta é filha da liberdade, e seus filhos mais ainda. Há uma país que não abrirá mão desta liberdade, que não a negociará, e que não vai parar de fazer amor, nem de exigir saber quem mandou matar Marielle!

    Póvoa de Varzim, Inverno em fevereiro, 2020

     

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  • Editorial: Conhecereis os fatos e a verdade aparecerá

    Editorial: Conhecereis os fatos e a verdade aparecerá

    O jornalismo, assim como a ciência, não se pretende detentor da “verdade”. Nossa matéria-prima são os fatos. E os fatos bem apresentados a leitores, ouvintes e telespectadores são fundamentais para cidadãos tomarem decisões políticas. Jornalistas sérios, como a colega Patrícia Campos Mello, apuram, documentam e relatam fatos importantes para a compreensão da realidade cotidiana. Foi exatamente isso que ela fez na premiada série de reportagens que demonstrou, com dados, fatos e documentos, a contratação de empresas de “marketing” para o ilegal e milionário disparo em massa de mensagens de WhatsApp destinadas a favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro e outros políticos de extrema direita  nas eleições de 2018. Como atestaram entidades do porte da Organização dos Estados Americanos, o Brasil foi o primeiro caso documentado em que as fake news (MENTIRAS, em bom português) distribuídas massivamente por celulares tiveram papel decisivo nas eleições majoritárias de uma grande democracia. Mais tarde, reportagem do jornal britânico The Guardian trouxe uma pesquisa provando que 42% de mais de 11 mil mensagens virais utilizadas durante a campanha eleitoral no Brasil traziam conteúdo falso (MENTIRAS) que favoreciam o então candidato de extrema direita à presidência.

    Os fatos, portanto, são que campanhas de extrema direita por todo país, incluindo a presidencial, se utilizaram de recursos ilegais e fake news para eleger seus candidatos. Os fatos são que os órgãos de fiscalização das eleições, como o Tribunal Superior Eleitoral, viram isso acontecer e não tomaram, à época, as atitudes que deveriam tomar. Os fatos são que o homem que ocupa a presidência e seus asseclas se elegeram e governam por meio de mentiras e ilegalidades. O fato é que por meio dessas mentiras, o governo caminha rapidamente para um fascismo aberto e ataca diariamente todas as instituições democráticas brasileiras, especialmente as que trabalham com fatos, como o jornalismo. E os fatos são que, apesar de gostarem de usar um versículo bíblico associando verdade e liberdade, o que se tem são mentiras e agressões diárias contra pessoas que trabalham com fatos, como cientistas e jornalistas.

    Ontem, o Brasil viu estarrecido a escalada de um novo patamar nas mentiras, baixarias, calúnias e difamações, apoiadas e divulgadas pelo governo, contra uma jornalista e, portanto, contra toda a imprensa séria nacional. Patrícia Campos Mello foi alvo, em pleno Senado da República, não somente de mentiras sobre sua atuação profissional impecável no caso, mas também de calúnias de conteúdo sexual, o que demonstra, mais uma vez com fatos, que esse governo não apenas é fascista e mentiroso, como também machista e misógino. A Patrícia, toda a nossa solidariedade e apoio, tanto pessoal como profissional.

    É passada a hora de a imprensa brasileira dar um basta nas mentiras e agressões desse governo que tomou posse há mais de um ano num evento grotesco em que os jornalistas foram confinados longe dos políticos e ameaçados de serem baleados se tentassem se aproximar. Não é possível que os colegas da mídia hegemônica sigam aceitando as “coletivas” da porta do Palácio do Planalto em que o homem que ocupa a presidência os xinga, manda calarem a boca, destrata os veículos para os quais trabalham e foge cada vez que é feita uma pergunta diferente da que ele quer responder. É urgente que jornais, rádios, TVs e portais noticiosos PAREM de tratar esse governo como “normal” e usem as palavras corretas para designar os fatos. Mentiras são mentiras. Fascismo é fascismo. Extrema direita é extrema direita. Retirada de direitos é retirada de direitos. Autoritarismo é autoritarismo. Corrupção é corrupção. Milícia é milícia. E bandidos são bandidos.

    A sociedade e os democratas brasileiros devem exigir das autoridades que ainda não foram totalmente cooptadas por esse governo fascista que façam funcionar as instituições democráticas. Os mentirosos e caluniadores precisam ser processados. Os crimes, inclusive de morte como da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, precisam ser investigados e punidos. Os políticos que se beneficiaram de esquemas de corrupção, financiamento ilegal de campanhas e difusão em massa de mentiras precisam ser cassados, ainda que se faça necessário anular as eleições de 2018.

    Não é a mentira manipulada com o uso versículos bíblicos para enganar a população de boa fé que vai nos libertar. Nossa libertação como nação virá da VERDADE proveniente dos FATOS. E para isso, uma imprensa forte e independente é fundamental.

  • Balanço e perspectivas: 2019 foi ruim? Prepare-se para 2020

    Balanço e perspectivas: 2019 foi ruim? Prepare-se para 2020

    Por Ricardo Melo, especial para os Jornalistas Livres

     

    Não cabe se alongar muito neste balanço. O Palácio do Planalto foi tomado de assalto por uma famiglia de criminosos. Os métodos são conhecidos pela maioria: um impeachment fraudulento, um processo ilegal contra o candidato favorito nas eleições, uma enxurrada eletrônica de mentiras financiada a peso de ouro daqui e lá de fora para turvar a vontade popular. Jair Bolsonaro é um presidente ilegítimo.
    Os fatos corroboram esta conclusão desde primeiro de janeiro de 2019. Nem é preciso relembrar a trajetória do capitão expulso do Exército acusado de tentar explodir quartéis e adutoras. Depois, a defesa da morte de “30 mil”, o ataque à comunidade LGBT, a apologia da tortura e do estupro.

    Jair Bolsonaro é o chefe de uma quadrilha de malfeitores que construiu sua “carreira” roubando dinheiro público mediante rachadinhas e um pomar de laranjais. É sabidamente muy amigo de milicianos acusados de crimes hediondos como o assassinato da vereadora Marielle e do motorista Anderson. Empregou em seu gabinete a filha do infame Fabricio Queiroz, a qual recebia em Brasília, mas entregava o ordenado aos chefes em Brasília apesar de despachar como personal trainer de celebridades no Rio de Janeiro.

    O resto do clã nada mais fez que seguir a trilha do pai. Flavio Bolsonaro é um mentiroso de ofício. Cínico. Com a ajuda do presidente do Supremo Tribunal Federal, José Toffoli, transformou chocolates em dinheiro vivo, e vice-versa. Eduardo Bolsonaro é um fanfarrão cujo intelecto (?) mal consegue fritar um hambúrguer ao ponto. Quanto a Carlos Bolsonaro, a parcimônia recomenda algum silêncio. Não passa de um meliante suspeito de manipular registros de condomínio para tentar salvar o pai da guilhotina, descontadas outras malfeitorias.
    Este é o Brasil de hoje. Como esperado, a quadrilha montou um ministério à sua imagem e semelhança. Um condenado no ½ ambiente, uma desmiolada como Damares, um pré-símio na Educação, um alucinado no Itamaraty, um garoto propaganda de travesseiros na área de Ciências.

    Na Cultura, então, nem se fale. O tal Roberto Alvim, para quem não o conhece, é um antigo adepto de drogas que hoje ele considera “indignas”. Enquanto tropeçava entre mesas de lugares badalados, professava ideias que ele imaginava de “esquerda”. Nesta época, sua presença em bares cariocas exibindo sua aversão à sobriedade era motivo de constrangimento mesmo para quem se achava progressista, para não dizer dos garçons. Mas nada que o dinheiro não compre, como se vê atualmente.

    E chegamos a Paulo Guedes. Um especulador barato, truculento, acusado de tramoias com fundos de pensão, incapaz de escrever um paper ou apostila citados por qualquer acadêmico. Sua fama, ou infâmia, vem do tempo em que se transformou em pinochetista de carteirinha. No Chile, deu no que deu. Agora, Guedes tenta transportar sua alquimia para o Brasil, após provocar suicídios em massa de idosos chilenos sem condições de viver com migalhas de aposentadoria “capitalizada”. Falando sério: o que pensar de alguém que propõe taxar desempregados para criar “empregos”? Nem o lixo merece isso.

    (Opa, ia esquecendo do Moro. Além de ignorante contumaz, o marreco de Maringá é um CRIMINOSO assumido. Grampeou um ex-presidente e uma presidenta sem ter autorização para isso. Convive com a corrupção como uma gazela inocente. Um bandido da pior espécie, que nem Al Capone aceitaria em suas fileiras tamanha sua capivara. Sustento isto em qualquer tribunal, inclusive na vara de Curitiba, valhacouto de delinquentes. Basta me chamar.)

    Mas é esse o país que nos espera em 2020. A permanecer como está, 2019 foi apenas um ensaio. Assassinatos de políticos; chacina em Paraisópolis; massacre de indígenas; perseguição nas universidades e escolas; violência contra os movimentos LGBT; faroeste nas ruas, no campo e nas estradas; truculência contra os movimentos por moradia; licença para policiais matarem inocentes como baratas; atentado fascista contra o grupo “Porta dos Fundos”.

    Na vida cotidiana de quem rala para ganhar a vida, a situação não é melhor, muito pelo contrário. Essa história de criação de empregos é MENTIRA. Qualquer um disposto a enxergar percebe, após as tais “reformas trabalhistas”, a multiplicação desenfreada de mendigos transformados em “empregados informais”. Arriscam a vida em bicicletas para entregar sanduíches, negociam panos alvejados como “microempreendedores”, vendem cafés e bolos de nada madrugada afora para pagar o aluguel em cortiços. Quando têm um pouquinho de reservas, alistam-se nos Uber da vida sem direitos ou garantias mínimas de sobreviver. Aposentadoria, nem pensar –para eles e para a massa de trabalhadores.

    Muito se apostou com a saída de Lula da cadeia. Não livre, apenas solto. Poucos se dão conta da campanha e das iniciativas dos poderosos para recolocarem-no de novo atrás das grades.

    É inegável que a liberdade, mesmo provisória, de Lula ofereceu um ânimo espetacular aos que pretendem liquidar esse período de trevas. Porém é injusto colocar sobre suas costas a responsabilidade de inverter tamanho desastre.

    Lula é a maior liderança popular que o país já produziu. Mas uma andorinha apenas não faz verão. O PT, maior e mais importante partido do Brasil, está sendo chamado a sair da toca e colocar em prática os discursos memoráveis do ex-presidente após sua libertação provisória.

    O fato é que o PT hoje está contaminado por uma aristocracia burocrática, que se digladia por cargos e disputa a condição de “quem é mais amigo de Lula”. Uma tragédia. A diferença, contudo, está em quem é mais amigo do povo, daqueles que, na chuva ou no sol, nunca deixaram de lutar pela liberdade incondicional do ex-presidente sobretudo pelo que ele representa na defesa dos pobres e desvalidos.

    Socialismo ou barbárie, esta é a opção. Por enquanto a barbárie está várias casas à frente. Inverter este jogo vai depender muito do próprio PT e, junto com ele, das forças democráticas sinceras. Não das que hoje posam de viúvas dos Bolsonaros que ajudaram a eleger.

     

    Leia mais Ricardo Melo

     

    Lula está solto, mas ainda não livre

     

  • “Não há democracia enquanto o Estado não responder quem mandou matar Marielle”

    “Não há democracia enquanto o Estado não responder quem mandou matar Marielle”

    A decisão de realizar a manifestação desta sexta, no Rio de Janeiro, foi tomada depois de o Jornal Nacional associar o nome do presidente da República à investigação do homicídio

    “Não há democracia enquanto o Estado brasileiro não responder quem mandou matar Marielle”, disse a arquiteta e ativista Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco (PSOL), covardemente assassinada em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro.

    Mônica divulgou um vídeo em suas redes sociais convocando um ato de protesto para esta sexta (1º de novembro), às 17 hs, na Cinelândia. A manifestação pretende pressionar as autoridades para que apontem os mandantes das mortes da parlamentar e do motorista Anderson Gomes.

    A convocação acontece no momento mais grave da investigação. Na última terça-feira (29/10), o principal telejornal da Rede Globo, o Jornal Nacional, citou o presidente da República, Jair Bolsonaro, na trama que teria culminado na execução da parlamentar.

    Segundo a reportagem, o porteiro do condomínio do presidente, que na época era deputado federal, revelou que o ex-PM Élcio Queiroz, acusado pelos homicídios, se apresentou na guarita dizendo que visitaria Bolsonaro. Élcio se reuniu com outro acusado pela execução, Ronnie Lessa, sargento aposentado da PM, que morava na casa 68, do mesmo condomínio. A reunião se deu horas antes dos assassinatos; e os dois estão presos.

    Como informou o JN, o porteiro revelou no inquérito que “o seu Jair”, da casa 58, havia autorizado, por telefone, a entrada de Élcio. O telejornal noticiou ainda que o então deputado, naquele horário, teve sua presença registrada no plenário da Câmara.

    Em viagem à Arábia Saudita, Bolsonaro gravou uma resposta nervosa, longa, crivada de ataques à Globo, considerada por ele “canalha”. E disse que não haverá “um jeitinho” no processo de renovação da concessão da Rede Globo. No vídeo, o presidente acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de vazar para o JN detalhes da investigação do assassinato de Marielle, que corre em segredo de Justiça. No dia seguinte, o Ministério Público fluminense declarou que o porteiro deu informação falsa ao citar Jair Bolsonaro na investigação do crime.

    Na semana conturbada, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, cuidou de ampliar a crise com uma ameaça à democracia brasileira. Disse, em entrevista, que “se a esquerda radicalizar”, uma das medidas do governo seria uma espécie de reedição do Ato Institucional número 5, o famigerado AI-5, um dos piores instrumentos usados pela ditadura militar para violentar não só os seus opositores, mas a nação inteira. Bolsonaro desqualificou a declaração do filho, desautorizando-o a falar no retorno do AI-5. Neste clima, será realizado o ato da Candelária, encabeçado, entre outros militantes, por Mônica Benício, que escreveu em seu Instagram: “…completam-se 597 dias sem resposta. Sem justiça. Sem saber quem mandou matar Marielle. Se você também está do lado da democracia, se você também quer ver um Brasil mais justo, vem pra rua com a gente. Estaremos juntas, juntos e juntes ocupando as ruas por ela e por nós.”

    Em São Paulo, a manifestação está marcada para dia 5, terça-feira, às 18 hs, no vão do Masp, na avenida Paulista. A convocatória carrega as frases: “Ditadura nunca mais”; “Basta de Bolsonaro”, “Justiça por Marielle”.

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  • A Polícia precisa ser controlada pela sociedade, ou vira Milícia!

    A Polícia precisa ser controlada pela sociedade, ou vira Milícia!

    Ouvidor da Polícia, Benedito Mariano

    O ouvidor da Polícia de São Paulo, sociólogo Benedito Domingos Mariano, tornou-se “persona non grata” dos deputados integrantes da chamada Bancada da Bala na Assembleia Legislativa de São Paulo. Não houve um único dia nesta semana em que um desses deputados não proferisse discurso violento contra Mariano, chamado sempre de “Inimigo da Polícia”. Para culminar a ofensiva, nesta sexta (12/4), o Diário Oficial publicou projeto de lei do deputado estadual Frederico D’Ávila, do PSL, o partido de Jair Bolsonaro, que pretende simplesmente extinguir a Ouvidoria da Polícia e, portanto, o posto de Mariano.

    O que deixou os deputados major Mecca, coronel Nishikawa, coronel Telhada, Conte Lopes e Frederico D’Ávila especialmente furiosos foi o fato de Benedito Mariano ter divulgado uma estatística assustadora: em março de 2019, a polícia militar matou 46% mais pessoas do que em 2018! Se, em 2018 foram 52 mortes causadas por PMs, em 2019 esse número saltou para 76!

     

     

    Foram 76 pessoas mortas depois de SUPOSTAMENTE

    terem atacado ou atirado em policiais.

     

     

    A palavra supostamente foi grafada em letras maiúsculas porque o mais provável é que a maioria dessas mortes nunca seja devidamente investigada.

    Veja que absurdo: 3 em cada 100 mortes em supostos confrontos com PMs são investigadas pela Corregedoria da Polícia. A esmagadora maioria (97%) dos inquéritos, porém, corre dentro dos Batalhões em que os PMs envolvidos com mortes trabalham. Ou seja, são os amigos e companheiros mais próximos que investigarão se a conduta policial foi correta ou não. Isso, obviamente, facilita a impunidade.

    Benedito Mariano defende que todos os casos deveriam ser investigados pela Corregedoria, já que ela dispõe de técnica, procedimentos e recursos necessários para isso.

    Os deputados da Bancada da Bala não podem nem ouvir falar em punição a PMs violentos. Ao contrário, defendem que os policiais tenham uma espécie de “Licença para Matar”.

    Esses deputados, defensores da tese segundo a qual “Bandido Bom é Bandido Morto”, ganharam poderosos aliados com a eleição de Bolsonaro e Doria, que em campanha disse que o policial deve “atirar para matar” e que os policiais que matarem devem ter, pagos pelo estado, “os melhores advogados” disponíveis.

    Criada em 1995 pelo governador Mario Covas (PSDB), a Ouvidoria da Polícia de São Paulo é o único órgão de que a sociedade dispõe para controlar a atividade policial. É com a Ouvidoria que a população pode contar para obter informações sobre a ação da polícia, conseguir encaminhamento para denúncias contra maus policiais, cobrar providências. Independente da hierarquia da Secretaria de Segurança Pública, da PM e da Polícia Civil, a Ouvidoria é a representante da sociedade diante da instituição policial.

    Defender a Ouvidoria e o Ouvidor Benedito Mariano é defender o direito de a Sociedade saber o que se passa dentro dos quartéis e delegacias. É defender um mínimo de transparência em uma instituição tão poderosa quanto a Polícia.

    O Rio de Janeiro, Marielle e Anderson, além de tantas vítimas anônimas, sofreram e sofrem os efeitos trágicos de policiais atuando descontroladamente e sem prestar contas de seus atos à Sociedade. Vira milícia. Daí, tudo pode. Inclusive, virar bandido!