Jornalistas Livres

Categoria: Internacional

  • Todos os Homens de Trump: os EUA vão viver Watergate novamente?

    Todos os Homens de Trump: os EUA vão viver Watergate novamente?

    No último dia 06 de janeiro, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, esteve em uma reunião com chefes da comunidade de inteligência americana (FBI, NSA, CIA, etc)  para discutir relatórios já divulgados ao público atestando que a Rússia de Vladimir Putin interferiu no processo eleitoral americano. O relatório confirmava que agentes russos hackearam o Comitê Nacional do Partido Democrata, vazando e-mails de Hillary Clinton e seus coordenadores de campanha via WikiLeaks, além de coordenarem uma campanha de divulgação de notícias falsas via Facebook.

    Pouco depois de tal reunião, Trump usou o Twitter para assegurar seus eleitores de que o relatório não confirmava que tais ações tiveram impacto real no resultado das eleições em si. “As urnas não foram tocadas”, escreveu o presidente eleito, subitamente ignorante à possibilidade de que uma campanha de desinformação poderia ser tão eficiente em influenciar os votos americanos quanto o ato de hackear as urnas. A preocupação com a semântica de Trump se tornaria o de menos, no entanto, na quarta-feira (10), quando um vazamento do supracitado relatório de inteligência revelou detalhes mais graves da história.

    A CNN trouxe em primeira mão a notícia de que o relatório apresentado à Trump continha um resumo detalhado de uma série de documentos alegando que o governo russo tinha informação comprometedora sobre o novo presidente dos EUA, que pretendia usar (ou já esteve usando) para chantageá-lo. Entre as tais informações comprometedoras, conforme mais tarde revelado pelo Buzzfeed, um escandaloso relatório de que Trump teria contratado prostitutas para praticar o ato conhecido como “chuva dourada” a fim de “vandalizar” um quarto de hotel que o então candidato sabia ter sido ocupado anteriormente por Barack Obama.

    Detalhes de transações ilegais da empresa multimilionária comandada por Trump também estariam nos relatórios russos, obtidos por um investigador do MI-6, agência de espionagem britânica. Tanto a reportagem da CNN quanto a do Buzzfeed admitem que, por hora, essas são apenas alegações, e usam fontes anônimas de dentro do governo americano, ainda comandado por Barack Obama (que, como atual presidente, teria recebido o mesmo relatório de inteligência que Trump), para tecer suas reportagens.

    Comentando toda essa história em seu programa na tradicionalmente republicana Fox News, Bill O’Reilly finalmente fez a ligação que todos, dentro de suas cabeças, já estavam fazendo: “Desde Richard Nixon a imprensa americana não parece tão empenhada em derrubar um presidente”. Para O’Reilly, apoiador de Trump, essa comparação talvez tenha sido um tiro no pé – mas como detalhamos a seguir, ela não poderia ser mais apropriada.

    Dustin Hoffman e Robert Redford em Todos os Homens do Presidente (1976)

    Todos os Homens de Nixon

    Na noite do sábado, 17 de junho de 1972, cinco homens foram presos ao tentar invadir o Comitê Nacional do Partido Democrata em Washington (EUA), em um complexo de prédios conhecido como Watergate. Na época, Richard Nixon, do partido republicano, estava preparado para derrotar o democrata George McGovern nas eleições e começar seu segundo mandato como presidente dos EUA. No final daquele mesmo ano, foi exatamente isso que ele fez – mas seu segundo termo como presidente não duraria muito.

    O envolvimento da administração Nixon com a invasão e tentativa de grampeamento do comitê democrata acabou sendo a ponta do iceberg, revelando um leque de ações ilegais planejadas para sabotar o partido rival, incluindo fabricação de notícias (soa familiar?) e um fundo eleitoral totalmente dedicado a pagar os profissionais envolvidos nessas atividades. No primeiro julgamento da invasão à Watergate (em 30 de janeiro de 1973), apenas os cinco homens que foram pegos no edifício receberam condenação. Um ano e meio depois, em 8 de agosto de 1974, Richard Nixon renunciou ao cargo de presidente dos EUA.

    Os verdadeiros Bob Woodward e Carl Bernstein

    O que aconteceu nesse meio período? Bob Woodward e Carl Bernstein. A epopeia dos dois jornalistas do The Washington Post está contada no filme Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula, 1976), protagonizado por Robert Redford e Dustin Hoffman. O filme, vencedor de 4 Oscar, mostra como os dois repórteres utilizaram fontes difíceis, que quase nunca topavam ter seus nomes publicados por medo de retaliação, para construir sua investigação. O hoje célebre informante Garganta Profunda é apenas uma dessas fontes – por curiosidade, em 2005 foi revelado que se tratava de Mark Felt, que na época de Watergate era o segundo em comando no FBI.

    Woodward e Bernstein não são perfeitos. Há de se argumentar que a forma como Felt eventualmente lhes cedeu informação vital foi mais baseada em interesse próprio do que patriotismo, e é interessante pensar na ética da publicação dessas informações. Todos os Homens do Presidente não finge que esse é o trabalho de jovens idealistas e heroicos – pelo contrário, é o trabalho de jornalistas ambiciosos e humanos, que cometem erros e buscam a história tanto pela justiça de sua publicação quanto pelo benefício profissional.

    Jason Robards levou o Oscar por sua encarnação do ícone jornalístico americano Ben Bradlee, editor do Post na época. Seu personagem serve como uma espécie de termômetro para o filme, mostrando ao espectador as elasticidades do que é permitido ou não permitido dentro do jornalismo. O mito do jornalismo como ciência exata é destruído e sua edificação como exercício de ética e moralidade acontece simultaneamente durante o filme, mais encarnada em Robards do que em qualquer outra performance (por mais que Redford seja pra lá de agradável de se olhar).

    Jason Robards como Ben Bradlee em Todos os Homens do Presidente (1976)

    Watergate 2?

    Assistindo a Todos os Homens do Presidente, é fácil fazer uma ligação com a situação enfrentada pelos EUA agora que Donald Trump está prestes a assumir o cargo de maior poder do país. A desconfiança na mídia é talvez mais acentuada do que aquela que Woodward e Bernstein enfrentaram, mas o filme faz questão de mostrar que eles tiveram sua oposição também, em um país que apoiava Nixon de forma esmagadora.

    O uso de fontes anônimas é o mesmo lá em Watergate e agora, com as alegações de interferência e chantagem russa pairando sobre Trump – a CNN e o Buzzfeed citam “vários oficiais do governo” (vejam bem, não só um) como os provedores de informação, assim como Woodward e Bernstein buscaram confirmação de múltiplas fontes anônimas para publicar aquilo que, essencialmente, já sabiam.

    A falácia de perseguição da mídia, de que esse “não é um bom momento para desestabilizar o país”, é a mesma que a equipe de Nixon fez durante a década de 1970. De fato, desde aquela época a mídia não trabalhava tão duro para derrubar um oficial eleito de forma democrática, mas é preciso lembrar que, naquela vez, 40 anos atrás, a mídia estava certa. Se essas acusações forem abafadas e condenadas como “notícias falsas” ou “não substanciadas”, nunca saberemos se eles estão certos mais uma vez.

    A questão que os americanos encaram é quase existencial: escapar de um novo Watergate, por mais profunda que seja a ferida política envolvida nesse caso, é mais importante do que impedir um homem chantageado por Vladimir Putin de chegar ao poder? Em um ambiente que colocou Donald Trump na Casa Branca para começo de conversa, é difícil de saber.

    *Caio Coletti é um jornalista de Itatiba (SP), formado na PUC-Campinas. Colaborador do Taste of Cinema e do Jornalistas Livres.

  • “Morreria amanhã”: Carrie Fisher, Debbie Reynolds e o maior amor de 2016

    “Morreria amanhã”: Carrie Fisher, Debbie Reynolds e o maior amor de 2016

    “O que você faria se eu morresse hoje?”, pergunta o protagonista Hubert (Xavier Dolan) em Eu Matei Minha Mãe, filme franco-canadense de 2009.

    “Morreria amanhã”, responde Chantale (Anne Dorval), mãe do personagem no filme, quando ele já não está mais perto o bastante para ouvir.

    Eu Matei Minha Mãe é sobre o amor de uma mãe por um filho, por mais que seja também sobre os preconceitos, inseguranças, silêncios e conflitos que definem esse relacionamento. A cena, espetacularmente terna, é também sombria – acima de tudo, porque sentimos a verdade nas palavras de Chantale, em sua devoção pelo filho mesmo frente à desconexão que enfrenta com ele. É de quebrar o coração, como os últimos dois dias foram para qualquer apaixonado por cinema.

     

     

    Na terça-feira (27) pela manhã, Carrie Frances Fisher faleceu aos 60 anos. Na quarta-feira (28) à noite, foi a vez de Debbie Reynolds, nascida Mary Frances Reynolds, aos 84 anos. Duas atrizes que marcaram épocas diferentes e foram muito mais do que seus papeis mais famosos, embora muita gente possa não saber. Duas personalidades opostas, complementares e gigantescas, que deixaram marcas para muito além de seus trabalhos em frente às câmeras. Acima de tudo isso, no entanto, eram mãe e filha.

    As dificuldades do relacionamento das duas estão todas registradas em Lembranças de Hollywood (1990), filme roteirizado por Fisher a partir de seu próprio livro autobiográfico. Meryl Streep interpreta Fisher, enquanto a lendária Shirley MacLaine assume o papel da igualmente icônica Reynolds. O filme faz crônica de um tempo difícil na vida de Fisher, quando ainda lutava contra o vício em drogas pesadas (cocaína e heroína incluídas) e voltava a morar com a mãe graças às poucas oportunidades de carreira.

     

    Carrie Fisher assistindo sua mãe, Debbie Reynolds, no palco (1963)
    Carrie Fisher assistindo sua mãe, Debbie Reynolds, no palco (1963)

    Reynolds foi o símbolo maior da inocência feminina na Era de Ouro de Hollywood, mas o fez com uma pitada de subversão. Em 1952, sem experiência de canto e dança nenhuma, foi escalada ao lado do grande astro musical Gene Kelly em Cantando na Chuva, um dos maiores clássicos do gênero – por qualquer métrica, Reynolds brilhou ainda mais que seu colega mais famoso, compondo a inesquecível Kathy Selden com pompa, ousadia e doçura, em uma interpretação radiante que a transformou em estrela.

    Após alguns outros papeis, se casou com o cantor Eddie Fisher e teve Carrie, em 1956 – o casamento, no entanto, não duraria muito, já que Fisher a deixou por outra atriz, Elizabeth Taylor, três anos depois. Ela não parou de atuar enquanto enfrentava a vida de mãe solteira em Hollywood, e conquistou sua primeira (e única) indicação ao Oscar em 1964, por A Inconquistável Molly Brown. No filme, aos 32 anos, interpretava uma garota pobre que saía da fazenda da família para se provar digna de uma vida melhor.

    A partir dos anos 70, Reynolds passou a aparecer apenas esporadicamente nos cinemas, marcantemente como a voz da aranha Charlotte em A Menina e o Porquinho (1973), a hilária mãe de Albert Brooks em Mãe é Mãe (1996), a animada Vovó Aggie nos filmes da série Halloweentown (1998, 2001, 2004, 2006), e a mãe de DebraMessing na sitcom de tema LGBT Will & Grace (1999-2006). Por esse último papel, levou indicação ao Emmy, e em 2016 finalmente ganhou seu Oscar, ainda que honorário, pelas causas humanitárias para as quais contribuía.

     

    A carreira de Fisher não poderia ser mais diametralmente oposta a da mãe. Após apenas um papel em Shampoo (1975), foi escalada para estrelar um “pequeno filme” chamado Star Wars, onde interpretava a Princesa Leia, a heroína de ficção científica que abriu caminho para todas as outras. Sem ela, esqueça um mundo de Ripley (Alien) e Sarah Connor (Exterminador do Futuro) – desde a primeira cena, Fisher mostrou que o humor sardônico e a garra eram seu forte no retrato de Leia, que, no retorno da franquia em 2015 (em O Despertar da Força) deixou de ser Princesa para ser General.

    Em muitos sentidos, a carreira de Fisher nunca superou o “espectro” de Leia. As muitas deficiências do roteiro de George Lucas para a personagem, incluindo a infame cena em que Leia aparece com um biquíni revelador de aço, a fizeram um ícone pop, posição na qual ela nunca se sentiu muito confortável. Talvez daí tenha vindo o senso de humor autodepreciativo e deliciosamente negro de Fisher – exercitado em filmes como Hannah e Suas Irmãs (1986) e Harry & Sally (1989), mas principalmente na carreira literária.

    Sim, a grande e verdadeira paixão de Fisher eram as palavras. Além de Lembranças de Hollywood, fez crônica de sua própria vida em WishfulDrinking (2008), onde revelou mais de sua luta contra o vício em álcool e drogas (o livro virou peça da Broadway e especial da HBO, para quem quiser procurar por aí); Shockaholic (2011); e The PrincessDiarist (2016), em que revelou ter mantido um caso de amor com Harrison Ford durante as filmagens do primeiro Star Wars. Outros livros de ficção e trabalhos de consultoria de roteiro não creditados entraram para o currículo de Fisher, tornando-a uma das escritoras mais requisitadas de Hollywood.

    https://www.youtube.com/watch?v=dE90H-9BgB4

    O relacionamento complexo entre essas duas mulheres de temperamentos e imagens opostas não é só um espelho de milhões de relacionamentos entre pais e filhos no mundo todo, mas também um retrato de como há muitas maneiras de se tornar um ícone. Reynolds iluminava a tela quando estava nela, e embora tenha representado um ideal de doçura feminina ultrapassado por boa parte de sua carreira, encontrou uma maneira de transcender esse estereótipo para encarnar algo muito mais profundo – uma revolução (a conta-gotas) através da gentileza.

    Enquanto isso, Fisher, mulher de seu tempo e exemplar garota revoltada, foi a pessoa que encarnou o heroísmo feminino em Hollywood com a maior e mais essencial sinceridade. Em seu senso de humor, sua celebração de si mesma, e mais tarde na vida seu ativismo nas causa da saúde mental (Fisher foi diagnosticada com transtorno bipolar), ela brilhou tanto quanto a mãe, de sua própria e inesquecível forma.

     

    Cruel como só ele sabe ser, 2016 nos privou de Fisher e, por consequência, de Reynolds, que morreu de coração partido. “Eu quero estar com Carrie”, teriam sido as palavras finais de Reynolds para o outro filho, Todd Fisher. Dá para imaginar o tipo de luto que Todd e Billie Lourd, filha de Carrie, estão passando nesse momento?

    É uma situação doentia, mas o mais triste talvez seja pensar que Carrie Fisher poderia tirar uma piada sarcástica desse momento, e Debbie Reynolds algumas palavras calorosas. Não é algo que muita gente conseguiria fazer. Eu, certamente, não consigo.

    Com essas duas perdas, o mundo entrará em 2017 mais pobre de humor, luz, entretenimento e arte, o tipo de arte significativa e simbólica de uma geração, mas também de toda a natureza da humanidade. General Leia e Kathy Selden, assim como Fisher e Reynolds, não viverão para sempre apenas pela imortalização de seu sucesso nos cinemas, mas porque são expressões essenciais de  algo que existe dentro de cada um de nós. Por meio da arte, mãe e filha tornaram realidade o maior dos clichês: mesmo mortas, vivem dentro dos nossos corações.

    Carrie Fischer com o irmão Todd no colo da mãe, Debbie Reynolds
    Carrie Fischer com o irmão Todd no colo da mãe, Debbie Reynolds

     

    *Caio Coletti é um jornalista de Itatiba (SP), formado na PUC-Campinas. Redator no site Observatório do Cinema e colaborador do Taste of Cinema e do Jornalistas Livres.

  • Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano

    Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano

    Milhões de cubanos reuniram-se ao longo deste sábado (3) nas ruas de Santiago de Cuba para dar o ultimo adeus ao líder da revolução de 1959. A carreata com os restos mortais de Fidel Castro chegaram pela carretara central, a principal rodovia do País, por volta das 12h30. Ao todo foram 900 kms percorridos desde Havana até Santiago, cidade onde descansarão as cinzas ao lado do seu mentor, José Martí.
    A comitiva responsável pela segurança era formada por dois carros da policia, um furgão, duas motocicletas, um caminhão do exército e dois jipes, sendo que o último carregava o ataúde com as cinzas de Fidel. A primeira parada em Santiago foi o Parque Céspedes, local em que no dia 24 de novembro de 1958 Fidel chegou acompanhado de seu irmão Raúl, Ramiro Valdez, Armando Acosta e outros guerrilheiros em sua campanha pela liberação do País.


    Um pouco antes da comitiva chegar ao parque uma leve chuva caiu por aproximadamente cinco minutos. Não era difícil ouvir o povo falando que tratava-se do céu chorando a morte do seu comandante.
    “Fidel não estará sozinho, sempre terá alguém com ele. Pode anotar o que eu estou dizendo, as pessoas farão visitas ao seu túmulo a partir do momento em que o cemitério Santa Ifigênia abrir e então nunca ficará só”, afirmou Maria Tavaréz, de 52 anos, moradora de Santiago.
    Ela era apenas uma das milhares de pessoas que acompanhavam emocionadas o “último tributo ao comandante”. Assim como o músico Hélio Torres, de 64 anos, que veio prestar sua homenagem a Fidel. “Para mim sempre foi um exemplo com um objetivo infinito de ajudar os cubanos a evoluírem. Não é coincidência que depois de tanto tempo várias gerações pensem o mesmo”, disse embaixo de um sol de mais de 30 graus.
    Questionado sobre a quantidade de pessoas presentes no Parque Céspedes neste dia histórico, Torres disse que, neste caso, trata-se de uma visita de Fidel como outra qualquer. “Igual como sempre esteve quando entrava na Praça. Hoje não há mais nem menos pessoas que vieram para vê-lo quando estava vivo. Era sempre uma energia muito positiva”, comentou.

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    Mas Fidel não foi a única referência cubana a ser saudada neste sábado no Parque. O que convencionou-se a chamar de “Os cinco”, um grupo preso pelos Estados Unidos acusados de espionagem estavam no prédio onde funciona a prefeitura da cidade. Eles foram saudados, tiraram fotos e distribuíram autógrafos para a população. “Eles foram condenados a prisão perpétua, poderiam estar lá ainda”, avaliou Rider López, de 37 anos. Mas o que eles significam exatamente para Cuba? “São líderes, heróis e exemplos de Cuba. Foram presos injustamente pelo império e o povo lutou junto ao seu comandate até que os liberaram. Mas não foi só isso, foram vários países que lutaram pela sua liberdade, somando a nossa luta de Cuba, até que conseguimos. Por isso representam tanto. Cuba, no final, sempre vence”, disse com sorriso na boca e também no olhar.
    Após deixar o Parque Céspedes a comitiva seguiu até Moncada, onde os restos mortais foram transladados até a ida para a Praça da Revolução, onde um grande ato teve início a partir das 19 horas, mas desta vez acompanhada de delegações de diversos países. Na comitiva brasileira, destacaram-se as presenças de Lula e Dilma, sempre lembrados pelos cubanos pelas parcerias estabelecidas entre ambos os países durante as gestões dos ex-presidentes.

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    Ao contrário da homenagem em Havana, onde os chefes de estado foram o destaque, em Santiago lideranças locais ligadas ao governo cubano e aos movimentos sociais precederam o discurso de Raul Castro. Na cerimônia, também mais curta do que na capital, o chefe de governo do País recordou a história da revolução, destacou as qualidades do irmão falecido e listou conquistas que a ilha alcançou nos últimos anos. “Ele nos mostrou que sim era possível derrotar os racistas sul africanos, salvando a integridade territorial de Angola e conquistando a independência de Namibia. Nos mostrou que era possível transformar Cuba uma potência médica reduzindo a mortalidade infantil com as taxas mais baixas do terceiro mundo e depois do mundo rico”, exemplificou.
    Castro reforçou que o legado de Fidel é mostrar ao povo cubano que tudo é possível para os moradores da ilha. “Ele nos mostra que sim é possível fazer e que é possível continuar fazendo, superando os obstáculos para construir o socialismo em Cuba e defender a soberania da pátria”, enfatizou em suas últimas palavras antes de encerrar o último evento aberto ao público.
    No dia seguinte, às sete horas da manhã, em um evento reservado para família e poucos convidados no cemitério Santa Ifigênia, onde os cubanos reuniram-se para a última homenagem ao seu líder. Pessoas discursavam enquanto jornalistas reuniam-se para gravar e tomar depoimentos. Entre choro e alegria ao lembrarem os que chamam de ensinamentos de Fidel, o último adeus deixou menos dúvidas do que se esperava. “Nada vai mudar” era a resposta mais ouvida quando questionava-se o que acontecia com Cuba após a morte de Fidel Castro.

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  • Papa Francisco sobre morte de Fidel Castro: “Sentimento de tristeza”

    Papa Francisco sobre morte de Fidel Castro: “Sentimento de tristeza”

    O Papa Francisco se manifestou com pesar acerca da morte de Fidel Castro, neste sábado (26). O pontífice enviou um telegrama ao líder cubano, Raúl Castro, lamentando a partida do irmão mais velho do atual presidente de Cuba.

    “Meu sentimento de tristeza para sua excelência e sua família”, escreveu o Papa Francisco em um trecho.

    A Santidade Católica visitou Fidel em setembro de 2015, durante viagem à Cuba, e parece que pegou um carinho especial pelo revolucionário. Isso porque foi o próprio Papa quem assinou o telegrama, o que quebra o protocolo do Vaticano de quem deveria realizar o envio – no caso, o Secretário de Estado.

    Francisco ainda ofereceu uma oração a Fidel e disse que confia a “todo o povo cubano a intercessão materna de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira do país”.

     

    Confira o texto na íntegra:

    “EXCELENTÍSIMO SEÑOR RAÚL MODESTO CASTRO RUZ

    PRESIDENTE DE LOS CONSEJOS DE ESTADO Y DE MINISTROS

    DE LA REPÚBLICA DE CUBA

    LA HABANA

    AL RECIBIR LA TRISTE NOTICIA DEL FALLECIMIENTO DE SU QUERIDO HERMANO, EL EXCELENTÍSIMO SEÑOR FIDEL ALEJANDRO CASTRO RUZ, EXPRESIDENTE DEL CONSEJO DE ESTADO Y DEL GOBIERNO DE LA REPÚBLICA DE CUBA, EXPRESO MIS SENTIMIENTOS DE PESAR A VUESTRA EXCELENCIA Y A LOS DEMÁS FAMILIARES DEL DIFUNTO DIGNATARIO, ASÍ COMO AL GOBIERNO Y AL PUEBLO DE ESA AMADA NACIÓN.

    AL MISMO TIEMPO, OFREZCO PLEGARIAS AL SEÑOR POR SU DESCANSO Y CONFÍO A TODO EL PUEBLO CUBANO A LA MATERNA INTERCESIÓN DE NUESTRA SEÑORA DE LA CARIDAD DEL COBRE, PATRONA DE ESE PAÍS.

    FRANCISCO PP.

  • Parlamento Europeu condena situação dos Guaranis-Kaiowá do MS

    Parlamento Europeu condena situação dos Guaranis-Kaiowá do MS

    Parlamento Europeu considera ” que estão em curso algumas iniciativas para a reforma, interpretação e aplicação da Constituição Federal do Brasil e que estas eventuais alterações poderão pôr em risco os direitos dos indígenas reconhecidos pela Constituição Federal do Brasil “

    No dia 23 de novembro, os grupos parlamentares europeus aprovaram por maioria a moção apresentada pelo grupo Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde GUE/NGL sobre a situação dos Guaranis-Kaiowá no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul. Confira abaixo a tradução das propostas feitas deputada europeia, francesa, do grupo GUE/NGL, Marie-Christine Vergiat.

    A proposta apresentada na terça-feira 22 de novembro de 2016, levantava 17 pontos ao Parlamento Europeu. Entre eles, os assassinatos dos líderes indígenas, Simião Vilharva e Clodiodi de Souza em junho de 2016; a criminalização, agressão e hostilidade contra defensores de direitos humanos além da invasão, com tiros, pela policia militar da escola Florestan Fernandes e as detenções, sem mandato, de 2 militantes. Também condena o corte em 40% do orçamento da FUNAI.

    A proposta condenava entre outros pontos, o golpe institucional que destituiu a presidente eleita Dilma Rousseff e instituiu o governo ilegítimo de Michel Temer. O grupo GUE/NGL se apresentava preocupada com indicação dos deputados Alceu Moreira e Luiz Carlos Heinze, no dia 9 de novembro 2016 à presidência da CPI FUNAI e INCRA, considerando que ambos foram denunciados pela Aty Guassu (Grande Assembleia Guarani) e pelo conselho do povo Terena. Os deputados, próximos das bancadas ruralistas, foram registrados em Vicente Dutra (RS) fazendo declarações incitanto a violência contra essas organizações indígenas.

    A Resolução aprovada na quinta-feira, 24 de novembro, ressalta vários pontos; relembrando, em primeiro lugar, os assassinatos de Simeão Vilharva e Clodiodi de Souza em junho de 2016. A resolução destaca que nos últimos 14 anos, 400 indígenas e 14 líderes indígenas foram assassinados segundo a Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI) e pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul (DSEI-MS) até 2015. A resolução também observa que a falta de prestação de cuidados de saúde, principalmente com tema da subnutrição, além de educação e serviços sociais tem fortes repercussões na taxa de suicídio de jovens e mortalidade infantil : nos últimos “15 anos, pelo menos 750 pessoas, na sua maioria jovens, cometeram suicídio e mais de 600 crianças com menos de 5 anos de idade morreram, na maior parte dos casos por doenças tratáveis e facilmente evitáveis”; considerando estudos recentes da FIAN Brasil e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

    Considerando os elementos acima, o Parlamento Europeu resolve que :

    1.  Reconhece a parceria de longa data entre a UE e o Brasil, baseada na confiança mútua e no respeito de princípios e valores democráticos; felicita o Governo brasileiro pelos progressos realizados em domínios como o papel construtivo da FUNAI, uma série de decisões do Supremo Tribunal Federal para evitar despejos, diversos esforços visando a prestação de serviços diferenciados nos domínios da saúde e da educação, os importantes progressos em matéria de demarcação de terras na região da Amazônia, a organização da primeira Conferência Nacional de Política Indigenista e a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista;

    2.  Condena veementemente os atos de violência perpetrados contra as comunidades indígenas do Brasil; deplora a situação que a população Guarani-Kaiowá enfrenta em termos de pobreza e direitos humanos em Mato Grosso do Sul;

    3.  Apela às autoridades brasileiras para que tomem medidas imediatas para proteger a segurança dos povos indígenas e garantir a realização de inquéritos independentes sobre os assassinatos e os ataques de que os povos indígenas têm sido vítimas por tentarem defender os seus direitos humanos e territoriais, de modo a que os responsáveis sejam levados a tribunal;

    4.  Recorda às autoridades brasileiras a responsabilidade que lhes incumbe de manter e aplicar integralmente à população Guarani-Kaiowá as disposições da Constituição brasileira relativas à proteção dos direitos individuais e aos direitos das minorias e dos grupos étnicos indefesos;

    5.  Recorda às autoridades brasileiras a sua obrigação de respeitar o direito internacional no domínio dos direitos humanos no que diz respeito às populações indígenas, tal como estabelecido, em especial, pela Constituição Federal Brasileira e a Lei 6.001/73 sobre «o Estatuto do Índio;

    6.  Reconhece o papel do Supremo Tribunal Federal do Brasil na prossecução da proteção dos direitos originais e constitucionais dos povos indígenas e convida o Conselho Nacional a desenvolver mecanismos e medidas que protejam melhor as necessidades das populações vulneráveis;

    7.  Apela às autoridades brasileiras para que implementem integralmente as recomendações formuladas pela Relatora Especial das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas na sequência da sua missão ao Brasil em março de 2016;

    8.  Apela às autoridades brasileiras para que desenvolvam um plano de trabalho visando dar prioridade à conclusão da demarcação de todos os territórios reivindicados pelos Guarani-Kaiowá e criar as condições técnicas operacionais para o efeito, tendo em conta que muitos dos assassinatos se devem a represálias no contexto da reocupação de terras ancestrais;

    9.  Recomenda que as autoridades brasileiras assegurem um orçamento suficiente para as atividades da FUNAI e a reforcem dotando-a dos recursos necessários para prestar os serviços essenciais de que dependem os povos indígenas;

    10.  Manifesta a sua preocupação em relação à proposta de alteração da Constituição 215/2000 (PEC 215), à qual os povos indígenas brasileiro se opõem ferozmente, visto que, se for aprovada, irá ameaçar os seus direitos à terra, permitindo que interesses opostos aos dos índios, relacionados com a indústria madeireira, a agroindústria, a exploração mineira e o setor da energia, bloqueiem o reconhecimento dos novos territórios indígenas; está firmemente convicto de que as empresas deveriam prestar contas por qualquer dano ambiental e por quaisquer violações dos direitos humanos por que sejam responsáveis e que a UE e os Estados-Membros deveriam consagrar esta condição como princípio fundamental, tornando-o uma disposição vinculativa em todas as políticas comerciais;

    11.  Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução ao Conselho, à Comissão, à Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, aos Governos e Parlamentos dos EstadosMembros, ao Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, ao Presidente e ao Governo do Brasil, ao Presidente do Congresso Nacional do Brasil, aos Co-presidentes da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana e ao Fórum Permanente das Nações Unidas para questões relacionadas com os povos indígenas.

    Proposta 22/11

    http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?type=MOTION&reference=B8-2016-1274&language=FR

    Resolução 24/11

    http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?type=TA&reference=P8-TA-2016-0445&language=PT&ring=P8-RC-2016-1260

    Vídeo:

    Por iniciativa, do GUE/NGL, Marie-Christine Vergiat.

    Obrigada Senhor Presidente, o povo Guarani-Kaiowá é um dos símbolos da luta dos povos indígenas. Há dezenas de anos que lutam contra a espoliação de suas terras ancestrais e pagam caro por isso. A demarcação do seu território reconhecido em 1988 continua não sendo uma realidade. As terras amazônicas despertam o apetite de vários: deflorestação, invasão e ocupação das terras para o benefício das empresas agroalimentares, energéticas, florestais, mineradoras, de criação intensiva de gado e imensas barragens já destruíram um terço da floresta amazônica. Por serem um escudo de defesa contra as mudanças climáticas, são as primeiras vítimas via o frenesi com agro-combustíveis (biocombustíveis).

    A UE é uma parceira comercial do Brasil, a sua primeira aliás, e tem por isso responsabilidades. Ela não pode fechar os olhos e não enxergar os custos humanos e meio ambientais das politicas que ela fomenta e dos produtos que ela importa. Ela tampouco pode se livrar da sua responsabilidade com as multinacionais europeias. É tempo de agir!

  • Hail Trump

    Hail Trump

    Historicamente a imprensa tem um papel fundamental nas sociedades ao escolher, separar, resumir e explicar os acontecimentos mais importantes à maioria da população. Somos historiadores do cotidiano e nossa obrigação principal é, ou deveria ser, fazer a Comunicação Social, ou seja, mostrar o que acontece nos vários setores da sociedade: as demandas, as vitórias, as ideias… Mais que isso, temos a obrigação de analisar os movimentos políticos e sociais e investigar para desnudar os interesses dos vários grupos que se chocam. Mas pelo que se vê pelo mundo hoje, estamos fracassando nessa missão. Tanto o jornalismo hegemônico como as mídias alternativas temos urgentemente de rever nossa atuação, nossos métodos, nossa empáfia. E especialmente no que tange ao jornalismo político, pois o mundo segue célere (também devido à nossa ação ou inação) para uma nova onda de fascismo que pode nos varrer a todos.

    Ao lado dos "carecas", grupo que defende a supremacia branca no Brasil, manifestante pela intervenção militar ostenta o logotipo do DOPS na camiseta - São Paulo 15/03/2014 - foto: www.mediaquatro.com
    Ao lado dos “carecas”, grupo que defende a supremacia branca no Brasil, manifestante pela intervenção militar ostenta na camiseta o logotipo do DOPS, órgão da repressão a esquerdistas e jornalistas durante a ditadura civil-militar de 1964 a 1985 – São Paulo 15/03/2014 – foto: www.mediaquatro.com

    O exemplo mais emblemático disso é a recente eleição nos Estados Unidos, onde apesar da maior parte da imprensa ser crítica à sua candidatura, mais uma vez (como aconteceu na disputa entre Al Gore e Bush Jr em 2000) uma minoria dos votos populares elegeu um presidente pelo Colégio Eleitoral. A campanha do magnata do mercado imobiliário e apresentador de TV Donald Trump já demonstrava que ele poderia contar com os votos dos racistas, homofóbicos e xenófobos. Mas após as eleições, grupos ainda mais radicais como a Ku Klux Klan e os Supremacistas Brancos têm saído às ruas sem qualquer pudor de expor seus perigosos preconceitos. É o caso do Alt-Right, braço do National Policy Institute. No vídeo abaixo, divulgado pelo site The Atlantic, o líder do movimento, Richard B. Spencer, abre seu discurso para mais de 200 participantes da conferência anual da entidade, no último dia 19 de novembro, com a saudação nazista: “Hail Trump, hail our people, hail victory!” (“Salve Trump, salve nosso povo, salve a vitória!”).

    https://www.facebook.com/TheAtlantic/videos/10154823525748487/

    Outros trechos do discurso, lido e não de improviso, disponíveis no vídeo deixam claro que não se trata de qualquer descuido. Ele sabe exatamente o que está fazendo. Assim como os brasileiros que foram às ruas com camisas da seleção brasileira pedir “nosso país de volta”, ele afirma categoricamente: “America was until this past generation a white country designed for ourselves and our posterity. It is our creation, it is our inheritance, and it belongs to us.” (“Os Estados Unidos eram até a última geração um país branco desenvolvido para nós e nossos descendentes. É nossa criação, nossa herança e pertence a nós”).  O racismo fica evidente quando ele diz que “To be a white is to be a striver, a crusader, an explorer, and a conqueror. We build, we produce, we go upward and we recognize the central lie of the American race relations. We don’t exploit other groups, we don’t gain anything from their presence. They need us not the other way around”. (“Ser branco é ser um lutador, um cruzado, um explorador e um conquistador. Construímos, produzimos, vamos para cima e reconhecemos a mentira central das relações raciais americanas. Nós não exploramos outros grupos, não ganhamos nada com sua presença aqui. Eles precisam de nós e não o contrário”.)

    Assim como nos EUA, senhores brancos exigem "seu"país de volta. Marcha com Deus e a Família em 2014 tinha todos os elementos das manifestações pelo golpe em 2015 e 2016 - - São Paulo 15/03/2014 - foto: www.mediaquatro.com
    Assim como nos EUA, senhores brancos exigem “seu”país de volta. Marcha com Deus e a Família em 2014 tinha todos os elementos das manifestações pelo golpe em 2015 e 2016 – São Paulo 15/03/2014 – foto: www.mediaquatro.com

    Quando fala da imprensa, Spencer se aproxima ainda mais do nazismo, usando duas expressões em alemão: ‘Lugenpresse’ (imprensa mentirosa, usada nos anos 1940 pra se referir à mídia crítica à ascensão do Nacional Socialismo) e ‘Golem’ (ser mítico da cabala judaica que ganha vida a partir de coisas inanimadas). “The mainstream media, or perhaps we should refer to them in the original German ‘Lugenpresse’ […] It’s not just they’re leftists and cucks. It’s not just many are genuinely stupid. Indeed, one wonders if these people are people at all, or instead soulless ‘Golem’ animated by some dark power to repeat whatever talking point John Oliver stated the night before.” (“A grande mídia, ou talvez devêssemos nos referir a eles no original alemão ‘Lugenpresse’ […] Não são apenas esquerdistas e idiotas. Não se trata de muitos serem apenas genuinamente estúpidos. De fato, deveríamos nos perguntar se essas pessoas são realmente pessoas, ou, em vez disso, algum ser sem alma, um ‘Golem’ animado por algum poder negro para repetir qualquer opinião que John Oliver –apresentador do programa sobre jornalismo Last Week Tonight da HBO – tenha dito na noite anterior.”).

    O símbolo do sigma em preto no círculo branco sobre o fundo vermelho era usado pelos integralistas de Plínio Salgado, versão brasileira do nazismo - São Paulo 15/03/2014 - foto: www.mediaquatro.com
    O símbolo do sigma em preto no círculo branco sobre o fundo vermelho era usado pelos integralistas de Plínio Salgado, versão brasileira do nazismo – São Paulo 15/03/2014 – foto: www.mediaquatro.com

    E ele continua, demonstrando claramente nossa culpa nesse estado de coisas: “The press has cleary decided to double down and wage war against the legitimacy of Trump and the continued existence of White America. But they are really opening the door for us.” (“A imprensa claramente decidiu nos abater com uma guerra contra a legitimidade de Trump e a contínua existência da América Branca. Mas na verdade o que fizeram foi abrir as portas para nós.”). Veja a matéria completa em inglês sobre o episódio em https://www.theatlantic.com/politics/archive/2016/11/richard-spencer-speech-npi/508379/?utm_source=atlfbcomment

    Aqui no Brasil, a mídia hegemônica nacional ou apoiou abertamente ou não conseguiu desconstruir os falsos discursos moralistas e de eficiência empresarial que levaram (sem uma contrapartida efetiva da mídia independente) a eleições como a de Curitiba num sujeito que vomita na presença de pobres, no Rio de Janeiro de um pastor racista e homofóbico e em São Paulo de um ex-presidente da Embratur expulso no governo Sarney por corrupção (!) cuja esposa acha que o problema da pobreza é ser obrigada a contratar funcionárias desnutridas que não sabem fazer o serviço ou já vêm com “vícios” de outras patroas.

    Cerca de 200 pessoas se concentram na Plaza de Oriente de Madrid para recordar e homenagear o ditador Francisco Franco quando se completam 41 anos de sua morte. Foto: EFE/Zipi - Fonte: http://www.publico.es/politica/activista-lagarder-agredido-200-nostalgicos.html
    Cerca de 200 pessoas se concentram na Plaza de Oriente de Madrid para recordar e homenagear o ditador Francisco Franco quando se completam 41 anos de sua morte. Foto: EFE/Zipi – Fonte: http://www.publico.es/politica/activista-lagarder-agredido-200-nostalgicos.html

    Para mostrar que o movimento não se restringe aos Estados Unidos ou o Brasil, vejam o a matéria em espanhol do jornal Público sobre as manifestações pela volta do regime franquista na Espanha no último domingo 20 de novembro (http://www.publico.es/politica/activista-lagarder-agredido-200-nostalgicos.html). Apesar de um ativista sem teto ter sido agredido, não há notícia de nenhum manifestante detido e processado, da mesma forma como ninguém foi preso pela invasão do plenário o Congresso brasileiro na semana passada por saudosos da ditadura de 1964 (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/11/16/Grupo-pr%C3%B3-interven%C3%A7%C3%A3o-militar-invadiu-a-C%C3%A2mara.-Como-reagiu-quem-foi-eleito-para-estar-ali). Os partidários da “intervenção militar constitucional”, aliás, foram os verdadeiros ideários das manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef, como pode ser facilmente comprovado em nossa matéria cobrindo a reedição da Marcha Com Deus e Família em 15 de março de 2014, portanto exatamente um ano antes da primeira grande manifestação em São Paulo. As fotos brasileiras que ilustram esse artigo vêm dela, disponível em https://brasilmais40.wordpress.com/2014/03/26/a-volta-dos-que-nao-foram/.

    Urge mudarmos a nós e a nossa imprensa para voltarmos a fazer do jornalismo um bem público para o bom desenvolvimento cultural, social, intelectual e econômico de TODAS as pessoas, especialmente as mais necessitadas.