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Categoria: Cuiabá

  • Militância do PT/Mato Grosso quer candidatura própria contra o agronegócio

    Militância do PT/Mato Grosso quer candidatura própria contra o agronegócio

    Gibran Lachowski, jornalista e professor universitário em Mato Grosso, especial para os Jornalistas Livres

     

    O debate sobre se o PT vai ter candidatura própria ao governo em Mato Grosso está pegando fogo. A discussão rola internamente há meses, mas no sábado (23), em Cuiabá, durante reunião ampliada do Diretório Estadual, houve um lance ousado no jogo de tabuleiro. A petista histórica, professora universitária e gestora governamental, Edna Sampaio, foi lançada como pré-candidata do partido por significativa parcela da militância presente na sede da CUT.

     

    Reunião ampliada do Diretório foi na sede da CUT – foto: Ailton Segura

    Confira o cenário a seguir e ao final leia artigo assinado por ela, em que se apresenta ao público geral e defende linha-motriz de candidatura.

     

    O fato ocorreu a cerca de um mês do Encontro Estadual de Tática Eleitoral, agendado para 28 de julho e que decidirá que rumo o PT vai tomar nas eleições. Outros nomes já haviam sido cogitados para provocar a ideia de pré-candidatura, quais sejam, o professor universitário e também militante histórico do partido, Domingos Sávio, e o ex-presidente do PT/MT, William Sampaio, esposo de Edna, porém com menos impacto.

    Edna e o marido, William, ao lado – foto: Ailto Segura

    Já no domingo (24) textos, notícias, comentários e fotos foram compartilhados via Facebook e Whatsapp de grupos de integrantes do partido e militantes de movimentos sociais numa espécie de disputa de narrativas.

     

    De um lado, materiais de veículos da mídia comercial tentaram arrefecer os planos de defesa de pré-candidatura, ressaltando que o PT deve priorizar um arco de alianças com siglas que sustentem a bandeira Lula Presidente, baseados inclusive na resolução que o partido aprovou no sábado (http://www.ptmt.com.br/site/?p=12547).

     

    Entre os possíveis aliados estão: o PR, do senador Wellington Fagundes, que foi base de Lula e Dilma, mas no fim votou a favor do impeachment sem crime de responsabilidade; e o PSD do líder sojeiro Carlos Fávaro, que até meses atrás era vice de Pedro Taques (PSDB), que pleiteia a reeleição. Outro parceiro de destaque, este contumaz, é o PC do B, que, no entanto, busca aproximação com Fagundes, pois Manoel Motta, presidente estadual da sigla, é seu segundo suplente no Senado. E os comunistas devem lançar a ex-reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Maria Lúcia Cavalli Neder, à senatória.

    Ex-vereadora Enelinda Scala se coloca como pre-candidata ao Senado – foto: Ailto Segura

    De outro lado, uma rápida ofensiva pró-candidatura própria também se viu, a partir de iniciativas da militância, setores sociais próximos ao PT, da mídia alternativa (http://www.jornaldoboa.com.br/noticias/conteudo/radicalizando-militancia-do-pt-fecha-com-candidatura-de-edna-sampaio-ao-governo/31393) e do Partido da Causa Operária (PCO). Esse tipo de material equilibrou a disputa de discursos, assim como animou a elaboração de manifestos, uns mais voltados aos simpatizantes (http://paginadoenock.com.br/edna-sampaio-num-quadro-de-pre-candidaturas-de-homens-brancos-todos-representantes-dos-interesses-do-agronegocio-e-socios-do-golpe-pt-precisa-garantir-palanque-para-lula-em-mt/) e outros, de apresentação de Edna Sampaio ao público geral.

     

    É bom ressaltar que os defensores da candidatura própria também desejam dialogar com o PC do B. O PSOL há várias eleições concentra suas forças quase que inteiramente no Procurador Mauro (Procurador da Fazenda Nacional Mauro César Lara de Barros), adotando uma postura de isolamento em relação a outros partidos, inclusive de esquerda e centro-esquerda. Foi candidato a governador, senador, teve expressiva desenvoltura para deputado federal em 2014 (84.208 votos, mas não obteve quociente eleitoral) e por pouco não vai para o segundo turno na eleição para prefeito em 2016.

     

    A tendência é o assunto estimular o debate interno e extravasar para a pauta geral, dada a insatisfação da militância, o bate-cabeça dos candidatos que aparecem melhor cotados nas pesquisas (Taques, Mauro Mendes/DEM, ex-prefeito de Cuiabá, e Fagundes, nenhum deles chegando a 20%). E, obviamente, a temática permanente da preferência popular por Lula, que abre espaço para a construção de um projeto de governo em Mato Grosso que valorize políticas sociais, agroecologia, soberania alimentar, democracia participativa, entre outros.

    PT deve ter candidatura ao governo de Mato Grosso

    *  Por: Edna Sampaio

    Como militante histórica do PT, forjada nas lutas cotidianas do sindicato, na Universidade, nos movimentos sociais e, tendo sido convocada por diversos companheiros e companheiras que estão na mesma luta, resolvi colocar meu nome à disposição do meu partido para candidatura ao Governo do Estado de Mato Grosso.

    Eu sou Edna Luzia Almeida Sampaio, mulher negra, 51 anos, filha da Professora Noêmia, alfabetizadora, e de Lídio, motorista de caminhão. Sou mãe de Rafael (28 anos), Henrique (25) e Luanna (19). Casada com Willian César Sampaio há 30 anos.

    Minha militância começou na Pastoral da Juventude nos anos 80. Participei do movimento estudantil, principalmente no CA de Serviço Social, curso em que me graduei. Tornei-me professora da UNEMAT/Cáceres nos anos 90, instituição em trabalho até hoje e onde fundei o Centro de Referência em Direitos Humanos Profa. Lúcia Gonçalves.

    Também fiz mestrado em Ciência Política e doutorado em Ciências Sociais. Nos anos 2000 fui aprovada em concurso público para Gestora Governamental do governo estadual. Fui candidata à reitoria da UNEMAT em 2010 e neste ano, quando obtivemos 35% dos votos em menos de um mês de campanha, enfrentando um grupo que dirige a Universidade há mais de 20 anos. Também atuei como dirigente sindical à frente da Associação dos Docentes (ADUNEMAT) nos anos 90 e na gestão 2016/2017.

    Então, num quadro de candidaturas de homens brancos, todos representantes dos interesses do agronegócio e sócios do golpe, o PT precisa garantir o palanque para Lula em Mato Grosso. A indisponibilidade de lideranças caras como os companheiros Ságuas, Abicalil, Lúdio não pode significar ausência de protagonismo do PT no estado.

    Nesse quadro, é preciso ter consciência de que as eleições de 2018 podem ser a legitimação final do golpe, caso os golpistas consigam eleger maioria de seus representantes para os governos e casas legislativas. As forças populares precisam enfrentar e vencer eleitoralmente as candidaturas do golpe e assim reverter o retrocesso contra os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.

    Pois vivemos um Estado de Exceção. O golpe contra o governo do povo, representado pela primeira mulher Presidenta da República, além de misógino, foi o símbolo mais violento do ardil construído ao longo dos anos contra o governo popular. Entre os golpistas estão muitos daqueles que, mesmo cerrando fileiras na base de nosso governo, nunca representaram os interesses da classe trabalhadora.

    O massacre midiático ao PT, a criminalização de lideranças e a prisão de Lula mostram o vale-tudo das elites para se apropriar do Estado e atingir seus interesses. Por isso Lula é preso político, condenado sem provas num processo jurídico fraudulento.

    Mas os golpistas enfrentam a grandeza e resistência do PT e de militantes sociais, intelectuais, artistas que se opuseram ao governo do retrocesso. Esse movimento impediu os golpistas de consagrarem a vitória sobre nossa luta. O resultado é expresso nas pesquisas: metade da população acredita que houve golpe e Lula segue disparado na preferência do povo, visto como candidato com melhores condições de enfrentar a crise.

    Como o PT é feito de muitos braços na luta, me coloco com o apoio de ampla parcela do partido que anseia por candidatura própria. Caso seja entendimento do Diretório do PT/MT, estou pronta para assumir este desafio e sustentar o palanque de Lula Presidente como candidata a Governadora deste estado, onde nasci, cresci e criei minha família.

    * Professora da Unemat, 51 anos, gestora governamental e doutora em Ciências Sociais

  • Estudantes da UFMT na Luta para garantia de Direitos  — Alimentação como permanência Universal na Universidade Pública

    Estudantes da UFMT na Luta para garantia de Direitos  — Alimentação como permanência Universal na Universidade Pública

    No dia 9 de Fevereiro de 2018, a Administração Superior da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) convocou os Diretório de Central dos Estudantes dos 5 campi do estado, para apresentar uma Política de Alimentação Estudantil na Universidade. No dia 20 de Fevereiro essa proposta foi apresentada no site da UFMT. A Política anterior — e vigente até o momento — proporciona que estudantes de graduação presencial paguem R$ 0,25 no café da manhã e R$ 1,00 no almoço/jantar. Com a primeira proposta os subsídio de 90% cobertos pela Instituição seriam de responsabilidade cada estudante, a menos que comprovasse renda de até 1,5 salário mínimo per capita.
    Após o anúncio do aumento das refeições, começaram as movimentações estudantis de todos os campi. Na UFMT em Cuiabá foram feitas vários Conselhos de Base Estudantil (CEB) e protestos, em diversos espaços da Universidade, principalmente no Restaurante Universitário (RU) que alertavam o provável aumento das refeições.

    Estudantes ocupam Conselho Diretor UFMT. Fonte: DCE Cuiabá

    Inicialmente não parecia muito nítido que o Movimento Estudantil (ME) conseguiria se reerguer, unindo grande parte dos estudantes da Instituição. No entanto, com força ainda maior, mais de 20 cursos ocuparam seus blocos e mais de 27 cursos deflagraram Greve Estudantil. E por fim, no dia 08 de maio é deflagrado Greve Geral Estudantil no Campus Cuiabá.
    No interior as greves iniciaram ainda antes, com grande parte dos campi em greve e ocupados pelos estudantes. Os campi com maiores movimentos são Araguaia, Sinop e Rondonópolis.

    Protesto no campus Araguaia. Foto: DCE Araguaia

    Por parte da Administração Superior da UFMT foram feitas Audiências Públicas em cada campus na tentativa de justificar os reajustes. Em Cuiabá, por exemplo, estavam presentes apenas a Pró-reitora de Planejamento (PROPLAN) Tereza Christina Mertens Aguiar Veloso e a Pró-reitora de Assistência Estudantil (PRAE) Erivã Garcia Velasco. Muitos questionamentos foram feitos pelos discentes, contudo, poucas respostas foram apresentadas pela Mesa que regia a Audiência.

    Audiência Pública na UFMT Cuiabá. Foto: Anne Martins

    A justificativa da mudança no valor do RU é feito pela redução do orçamento da Instituição. Segundo a PROPLAN da UFMT, em 2017, o Governo Federal fez um corte de mais 37 milhões. Já em 2018, o corte foi de 5 milhões. Segundo a Administração Superior os custos com alimentação chegam a 15 milhões por ano. Com a nova Política de Alimentação a UFMT atenderia mais estudantes com gratuidade na alimentação, aos que comprovarem renda inferior a 1,5 salário mínimo.
    Ao longo dos protestos dos estudantes, depois de ocupações de guaritas, blocos e deflagração de Greve Estudantil a Reitoria decide “começar o diálogo” com os estudantes. No entanto, ainda com muitas dificuldades, como por exemplo não comparecer a reunião marcada com os estudantes. Foi necessário mais resistência estudantil. Marchando para sede da Reitoria conseguiram que fossem atendidos por Myrian Serra — reitora da Universidade.

    O QUE OS ALUNOS REIVINDICAM?

    Problemas das propostas: atualmente a Universidade não atende todos alunos com bolsas de assistências estudantil. O número de alunos assistidos pela Pro-reitoria de Assistência estudantil não passa de 2 mil alunos, sendo que todo ano, o número de alunos que necessitam das bolsas cresce.
    Segundo estudos realizados por um grupo estudantes da UFMT que envolve alunos dos cursos de Saúde Coletiva, Biologia e diversas Engenharias, baseado no Relatório Anual de Gestão (RAG), o orçamento total da universidade em 2017 foi mais de 1 bilhão de reais. Além disso, denunciam que os corte estão sendo diretamente em auxílios estudantis, como bolsas do PIBID que, em 2015, atendiam 647 bolsistas, já em 2018 não há previsão de abertura a novos bolsistas.
    E principalmente não aceitam que a empresa Novo Sabor, pertencente ao empresário Alan Malouf, continue lucrando mais de 9 milhões de reais por ano só com o contrato com a Universidade.
    Os estudantes reivindicam a construção de uma Política de Alimentação que seja construída com toda comunidade acadêmica, que seja auto gerida. Acusam que os recursos da Universidade está sendo destinada ao lucro de empresas privadas que visa aumentar seus lucros.
    “Dizemos não aos cortes na Educação. Dizemos que Universidade Pública não serve para dar lucro a empresas privadas. E sim fortalecer Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade através dos atuação dos estudantes no Restaurante Universitário” afirmam os estudantes.
    Um grande questionamento dos estudantes frente a Reitora é: Qual é a relação com a empresa Novo Sabor e a atual Gestão da UFMT? Sendo o proprietário envolvido em grandes esquemas de corrupção em Mato Grosso.

    DIÁLOGO E AÇÃO?

    A promessa eleitoral da atual Gestão da Administração Superior da UFMT é “Diálogo e Ação”. No entanto, é fácil perceber que a Reitora utilizou esses dois termos apenas para campanha eleitoral — algo frequente no Brasil. Foram várias as tentativas dos estudantes para começar um diálogo com a Gestão da Universidade, porém, em todas as vezes houve sabotagem, implosão dos espaços e, como sempre, criminalização aos estudantes.

    E POR ISSO A RESISTÊNCIA CONTIUNA

    Mesmo após mais de quatro meses de resistência, os discentes demostram que a Luta por uma democracia direta e efetiva é possível. Sempre lembrado que GREVE NÃO É FÉRIAS, os estudantes realizam Assembleias, Plenárias, Oficinas, Palestras e outras atividades todos os dias, fortalecendo e construindo a Luta.

    Foto: CG UFMT Cuiabá

    Os estudantes seguem mobilizados em Greve e Ocupando o prédio da Reitoria da UFMT. Mesmo sendo pressionados e criminalizados pela Administração Superior da UFMT, os estudantes se esforçam para continuar a mobilização. Os mesmos exigem que a Reitora Myrian Serra assine um termo de compromisso de manter o RU a R$ 1,00 Universal até o final de sua gestão em 2020. E nesse período de mandato se busque através de Estudos, GTs, Fóruns e demais, um novo modelo de gestão do Restaurante. Com o propósito de garantia do valor possibilitando a permanência dos estudantes da Universidade.

    Foto: Olhar Direto

  • Greve estudantil e ocupação na Universidade Federal de Mato Grosso

    Greve estudantil e ocupação na Universidade Federal de Mato Grosso

    Decisão de aumento de 500% de Restaurante Universitário é adiada para dezembro de 2018: o que ainda não foi dito!

    Por: Ocupados do Instituto de Linguagens e Faculdade de Comunicação e Artes

    “Diálogo e Ação” é o mote que sustentou a campanha da Professora Myrian Serra, atual reitora da Universidade Federal de Mato Grosso, no seu processo de eleição para o cargo. Fazendo uma breve e simples interpretação do texto, isso significa que, supostamente, a referida reitora proporcionaria um diálogo mais democrático com a comunidade acadêmica no intuito de direcionar suas ações. Mas o que aconteceu de fato com os alunos da UFMT, que, ironicamente, alegam diversos descuidos por parte da Reitoria no que diz respeito ao diálogo entre o mandato de Myrian e os estudantes?

    O fato é que desde o dia 9 de fevereiro deste ano, sem nenhuma consulta aos estudantes e toda a comunidade acadêmica, foi recebido um comunicado dizendo que a Universidade faria cortes de gastos e por isso aconteceriam algumas reformas nas políticas de assistência estudantil. Juntamente com essas reformas, o aumento de 500% no valor da refeição do Restaurante Universitário (de um real para cinco reais).

    No dia 08 de maio de 2018, através de Assembleia Geral promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) foram deflagradas greve estudantil e ocupação unificada com mais de mil votos a favor. Mais tarde, após muita luta e resistência, no dia 14 de maio de 2018, foi suspenso o Calendário Acadêmico, legitimando a greve dos estudantes, por meio da paralisação das aulas da graduação.

    Por que enfatizamos essas conquistas? Primeiramente, Fora Temer! Segundo, porque se levarmos em conta que o movimento de luta em defesa do Restaurante Universitário (RU) a R$1 e universal – a principal pauta dos estudantes – ocorre desde fevereiro de 2018, essas decisões são assaz tardias. Esse atraso se deve ao emparelhamento da Reitora com o DCE, causando impasses no diálogo com os demais estudantes. Independentemente do DCE, os alunos têm se mobilizado antes mesmo da deflagração oficial de greve estudantil, por meio de movimentos independentes que, primeiramente, promoveram ocupações nas guaritas de acesso ao Campus, e, mais tarde, estenderam-se para as demais dependências da Universidade.

    Nesse ínterim, foi emitida uma nota do DCE declarando isolada a ação de ocupações das guaritas, uma ação judicial de reintegração de posse (??????) contra os ocupantes, e realizada, de última hora, uma reunião entre a Reitora e o Diretório Central dos Estudantes, sem a convocação do Comando de Greve que já havia sido instituído durante o movimento de ocupação. Na reunião citada, foi encaminhada a “suspensão do reajuste no valor do Restaurante Universitário na Universidade Federal de Mato Grosso [apenas] até dezembro de 2018”, conforme a nota publicada no site da UFMT. Uma vez que essa é uma medida paliativa, tal suspensão busca a desmobilização do movimento iniciado nas ocupações.

    Apesar desse cenário, persistem as atividades como o estudo do Relatório Anual de Gestão (RAG), aulas públicas, oficinas, saraus e torneios, cujos objetivos são o de incentivo à participação política de todos os estudantes na luta por uma universidade pública e acessível e a integração da comunidade externa aos acontecimentos internos do Campus. Dessa forma, também, é possível que todos continuem a usufruir do espaço públicos e dialoguem mais conjuntamente, reforçando o movimento de luta a favor da manutenção do RU a um real e universal.

    Acompanhem as mobilizações dos estudantes na UFMT na página da TOCA – Agência Experimental de Comunicação em: https://www.facebook.com/tocaexperimental/?hc_ref=ARRzmwgn6OVzejymmzukhC5we9baovH4DZpdtt0Tk8obFdFm2mpNuUgLOpOdWzXefWU&fref=nf

  • Justiça do Mato Grosso não sabe a diferença entre docentes e discentes

    Justiça do Mato Grosso não sabe a diferença entre docentes e discentes

    Fotos: Pedro Mutzenberg Filho – Especial para os Jornalistas Livres

    Os estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT estão há quase um mês em luta contra o aumento de quase 500% no preço que pagam pelas refeições nos Restaurantes Universitários – RUs. A instituição paga a uma empresa terceirizada (contratada primeiro sem licitação e que depois teria vencido uma concorrência e conquistado pelo menos quatro aditivos no contrato) cerca de R$ 1 milhão por mês apenas no Campus Cuiabá. O custo por refeição passa de R$ 10,00, mas os alunos pagam apenas R$ 1,00 para almoço ou jantar, com a Universidade arcando com o restante dentro da política de garantir a permanência de estudantes de famílias de baixa renda. Em uma vitória parcial na semana passada (veja aqui https://jornalistaslivres.org/2018/04/alunos-da-ufmt-conquistam-primeiras-vitorias-na-luta-contra-aumento-no-restaurante-universitario/), os discentes conseguiram adiar o aumento por pelo menos um mês. Mas na noite dessa sexta-feira (04/05) foram surpreendidos com uma decisão judicial de reintegração de posse dos cinco blocos de salas de aula e da guarita ocupados.

    Somente a Guarita 2 está ocupada, mas os pedestres podem passar sem problemas – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    A decisão expedida pelo juiz Raphael Casella de Almeida Carvalho, da Justiça Federal, Seção Judiciária de Mato Grosso SJMT-TRF1, no entanto está repleta de erros e imprecisões. Para começar, apesar do cabeçalho trazer como réus “discentes não identificados”, no texto inteiro diz que a Autora (Fundação Universidade Federal de Mato Grosso FUFMT) narra da seguinte forma os fatos: “DOcentes não identificados estão bloqueando o acesso da UFMT, prejudicando o acesso de servidores e professores àquela IES, bem como dos demais usuários daquela instituição e moradores daquela região. Inclusive tais docentes ocuparam a Reitoria, tendo deixado o local apenas após conversa mantida com o Reitor”. Ora, o movimento, até agora, tem sido apenas dos alunos. O sindicato dos professores chamou uma assembleia extraordinária para terça-feira 08/05, às 7:30, para discutir os fatos e talvez deliberar uma greve, já que a categoria não chegou a uma decisão a esse respeito na assembleia geral ordinária de sexta-feira 04/04.

    Apesar da greve estudantil já atingir mais de 20 cursos da universidade, poucos blocos estão efetivamente ocupados – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    A decisão, segue em erro ao afirmar que os acessos à universidade estão bloqueados. Existem duas guaritas principais para a entrada de automóveis, mais uma somente para pedestres e outro portão utilizado em geral para saída mas que eventualmente é aberto também para a entrada de carros. O movimento estudantil ocupa a Guarita 2, mas não impede o trânsito de pessoas em nenhum local e nem o de veículos nas demais entradas. Assim, até a tarde dessa sexta, os cursos que não estavam em greve estudantil (até o momento 20 decidiram por paralização) continuavam com suas atividades normais.

    Um dos primeiros blocos ocupados no final de abril foi o Didático II, pelos estudantes de Várzea Grande, que além de pagarem pelo cara deslocamento desde a cidade vizinha, agora estão ameaçados pelo aumento do RU – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    Além disso, o próprio texto da decisão judicial (que traz ainda erros de concordância verbal), expressa que a tentativa de ocupação da reitoria foi resolvida com diálogo direto entre o então reitor em exercício, o vice-reitor Evandro Silva, e os alunos. Desse modo, causa estranheza que o juiz oficie à “Polícia Federal e ao Comando Geral da Polícia Militar/MT para que um contingente acompanhe o oficial de justiça no cumprimento da decisão , bem como mantenha a ordem no local”, o que aos ocupantes soa como uma ameaça de ação violenta contra os alunos na reintegração prevista para as 16:00.

    Possibilidade de violência policial na reintegração de posse preocupa estudantes inclusive porque alguns levaram os filhos pequenos para as ocupações – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    Em resposta, os estudantes lançaram na manhã desse sábado, 05/05, uma nota oficial conforme íntegra abaixo:

    Os estudantes da UFMT do campus Cuiabá estão ocupados desde 24 de abril de 2018 e os estudantes do Campus Várzea Grande, desde o dia 26 de abril. O movimento de ocupação se iniciou na guarita 1 e se alastrou por 27 cursos.

    Ocupamos para pressionar a administração superior a barrar a proposta de aumento do valor do restaurante universitário.
    Entendemos que a nova política atende a um projeto de universidade que visa a educação como um espaço de expandir seus lucros.

    Hoje, estamos lidando com uma reintegração de posse da guarita 2, onde estamos ocupados, aguardando o tão esperado diálogo com a reitora.

    É muito triste que os estudantes tenham que lidar com essa pressão psicológica, enquanto lutam por seus direitos!

    Essa atitude de Myrian Serra, reitora da UFMT, não nos surpreende. Em 2013, enquanto pró-reitora de assistência estudantil, utilizou da mesma tática arbitrária contra a luta por moradia estudantil, em conjunto com a então reitora Maria Lúcia Cavalli, atual candidata a senadora.

    Atualmente, nos deparamos com retiradas de direitos e a repressão é a medida utilizada pelo governo golpista contra as pessoas que lutam para defende-los.

    Convocamos a comunidade a prestar solidariedade à nossa luta em defesa dos estudantes e da universidade pública.

    Decisão Judicial – Reintegração de Posse da UFMT