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Categoria: Cidadania

  • Discriminação: concurso para Polícia Militar no RN destina apenas 6% das vagas para mulheres

    Discriminação: concurso para Polícia Militar no RN destina apenas 6% das vagas para mulheres

    Por Rafael Duarte, da Agência Saiba Mais 

    O primeiro edital para a Polícia Militar divulgado após 13 anos sem concurso público na instituição discrimina as mulheres do Rio Grande do Norte. Das 1.000 vagas disponibilizadas para ocupar os postos de soldado, cabo, sargento e subtenente na Corporação, 938 são destinadas aos homens e 62 às mulheres, o equivalente a apenas 6% do total.

    As inscrições começam nesta segunda-feira (16) e seguem até 13 de agosto. As provas estão marcadas para 23 de setembro nas cidades de Natal, Mossoró e Caicó. A taxa de inscrição custa R$ 100.

    O último censo do IBGE, divulgado em 2010, confirmou maioria da população feminina no Estado, com 51,11%. Porém, apenas 3% do efetivo das Polícias Militar, Civil e do Corpo de Bombeiros são do sexo feminino, num universo de aproximadamente 16,5 mil profissionais.

    Os números colocam o Rio Grande do Norte na última posição, proporcionalmente, do ranking nacional de participação feminina na PM. O perfil dos Estados e dos Municípios Brasileiros 2014, também divulgado pelo IBGE, apontou que dos 8.926 policiais militares do RN, apenas 209 eram do sexo feminino, um percentual de 2,3%.  Há, inclusive, uma Companhia Feminina da PM no Estado com apenas 34 agentes femininas que cobrem as quatro zonas da capital potiguar e também os municípios da Grande Natal.

    Não existe lei ou norma que estipule ou limite quantidade de homens e mulheres no preenchimento de vagas em concursos públicos para as polícias. O último edital do Corpo de Bombeiros, divulgado em maio por exemplo, não limitou a presença feminina entre os concorrentes.

    Irregularidades

    O polêmico edital da Polícia Militar 2018 chegou a ser cancelado pela Justiça no início do ano, por recomendação do Ministério Público, e foi republicado em julho. O cancelamento, porém, não tinha relação com a paridade entre homens e mulheres.

    Entre as irregularidades apontadas pelo MPRN, o edital não previa exigência de nível superior para o ingresso dos praças, o que afrontava a lei do Quadro de Praças Policiais Militares do Estado, que entrou em vigor em abril deste ano, período em que o certame ainda estaria ocorrendo.

    O grupo Policiais Antifascistas do RN, formado por agentes da PM que lutam em defesa da humanização da instituição no Estado, divulgou nota à população criticando duramente o edital, em especial a discriminação às mulheres.

    Segundo o grupo, as mulheres são tratadas “como força de trabalho acessória e estética” pelo Governo do Estado:

    – Mesmo após 28 anos da presença feminina na Instituição, o edital ratifica como os “gestores” tratam as Policiais Femininas como força de trabalho acessória e estética, pois mesmo após 13 anos sem concurso público disponibilizam apenas simbólicas e vergonhosas 62 vagas para exercer a valorosa e importante função policial enquanto mulher.

    O grupo também destacou os índices de violência contra a mulher no Estado, incluindo os casos de feminicídios, cujos registros apontam, em média, quase 30 assassinatos por ano:

    – A situação se agrava pelo fato do RN ter índices alarmantes de violência contra mulheres, inclusive com média de quase 30 feminicídios por ano, o que traz a urgente necessidade de expansão do quadro feminino para que elas tratem da temática da violência contra a mulher com o mesmo olhar do gênero violentado, e possam trazer, com empatia, propostas de políticas segurança para conter mais essa tragédia social no RN.

    Ex-vereadora de Natal, a policial militar Mary Regina também saiu em defesa de maior abertura na PM para a presença feminina na Corporação. Pré-candidata à deputada estadual pelo PT, ela ressaltou que a maioria da população potiguar é formada por mulheres, logo a relação entre homens e mulheres deveria ser paritária:

    – Você ter um Estado como o Rio Grande do Norte, onde a maioria da sua população é de mulheres, e você vê um concurso da Polícia Militar, onde são reservadas apenas 62 vagas, que equivale a 6%, apenas isso para mulheres, é realmente um absurdo. Acredito muito no trabalho da policial feminina, como policial feminina que sou. E existe uma grande importância no trabalho das mulheres para a sociedade e até para humanizar a instituição. 

    Comandante geral da PM diz que percentual de vagas obedece à decreto, mas documento não fixa efetivo

    Procurado pela agência Saiba Mais, o comandante da Polícia Militar no RN José Osmar Maciel de Oliveira justificou, por meio da assessoria de imprensa, que as 62 vagas destinadas para mulheres se referem ao percentual de fixação do efetivo da PM, que prevê apenas uma companhia feminina.

    A Companhia Feminina da PM no Estado foi criada em 7 de outubro de 1992, via decreto, na gestão do então governador José Agripino Maia. Segundo o documento (aqui), a Companhia deveria ser composta de três pelotões, “implantados de forma gradativa de acordo com as necessidades do serviço”.

    Um pelotão possui entre 20 a 50 soldados e é a menor unidade militar comandada por um oficial.

    Segundo o decreto, porém, não há percentual fixo do efetivo de mulheres destinado à Companhia Feminina.

  • NO BECO QUE A CIMEIRA NÃO VIU

    NO BECO QUE A CIMEIRA NÃO VIU

    Após 20 anos da Chacina do Beco do Candeeiro, em Cuiabá, o assassinato de três adolescentes entre 13 e 16 anos continua impune. Ato em memória das vítimas e por JUSTIÇA acontece hoje, 10 de julho, a partir das 17h, no Beco do Candeeiro, na praça Senhor dos Passos. Por Johnny Marcus

    “14 anos, quinze tiros de fuzil, as vísceras esfoladas, expostas, coagulando. O sol assiste em fogo o sonho de viver que ainda pulsa nos miolos”.

    Esse verso dantesco é de autoria do poeta Edson Veóca e faz parte de um projeto de inclusão social chamado “Literatura Marginal”, idealizado e publicado pelo escritor Ferrez, em 2000, em parceria com a revista “Caros Amigos”, da qual é colunista.

    Ferrez é morador da favela de Capão Redondo, na Grande São Paulo, e autor de diversos romances. Os mais conhecidos são “Capão Pecado” (2000) e “Manual Prático do Ódio” (2003). Tive a felicidade de ler ambos tão logo foram publicados.

    Assim que deitei os olhos nas palavras de “No beco que a cimeira não viu”, no ano 2000, senti uma tristeza profunda e foi inevitável não pensar na chamada Chacina do Beco do Candeeiro, ocorrida dois anos antes em Cuiabá.

    Em 10 de julho de 1998, os adolescentes Adileu Santos, o Baby, 13, Edgar Rodrigues de Arruda, o Indinho, 14, e Reginaldo Dias Magalhães, o Nado, 16, foram executados com tiros à queima roupa, na rua 27 de Dezembro, popularmente conhecida como Beco do Candeeiro, no centro histórico da capital.

    O caso ganhou grande repercussão na mídia local e nacional, e gerou grande comoção social. Contudo, as investigações conduzidas pelo Ministério Público levaram a um único suspeito, o ex-policial militar Adeir de Souza Guedes Filho, 49, que acabou absolvido por falta de provas, após submetido a júri popular, em 2014.

    Até hoje, vinte anos depois, as mães dos meninos assassinados buscam por justiça. No local das execuções foi erguida uma estátua, esculpida pelo artista plástico Jonas Côrrea, ao mesmo tempo tributo aos jovens e promessa de que os crimes jamais seriam esquecidos.

    Os autos do processo, com mais de mil páginas, sugerem inépcia por parte do Ministério Público para a elucidação do caso. A investigação trabalhou, primordialmente, com três vertentes: os homicídios teriam sido cometidos por um pistoleiro profissional a mando dos comerciantes da região, supostamente inconformados com sucessivos assaltos, ou como ação de um processo de eugenia implantado na capital e até mesmo como vingança do cabo Hércules de Araújo Agostinho, o pistoleiro de João Arcanjo Ribeiro, porque uma das crianças teria roubado um cordão de ouro de sua esposa enquanto ela voltava de ônibus para casa.

    Cômico se não fosse trágico, essa linha de investigação não pôde ser comprovada porque os cartuchos recolhidos na cena do crime foram “perdidos” dentro do Fórum da Capital, o que inviabilizou um laudo de balística com a arma de Hércules, uma pistola 765, semelhante a arma usada pelo policial militar Sandro Márcio Martines para matar Alinor Santana Pereira, em 1999.

    Toda essa situação não resolvida sempre mexeu comigo e, por conta do peso dos vintes anos passados, resolvi produzir um livro-reportagem sobre o caso. O provável título será “Beco Sem Saída – A Chacina do Beco do Candeeiro 20 anos depois”.

    Pretendo inicialmente mostrar como esses meninos chegaram às ruas. E aqui cabe um esclarecimento importantíssimo: nenhum deles era de fato “menino DE rua”. Ainda que passassem vários dias perambulando pelo centro histórico, eles sempre voltavam às suas respectivas casas.

    O Baby, por exemplo, nem em Cuiabá morava. Residente em Cáceres, estava na capital há uma semana, onde veio passear porque a escola pública onde estudava estava em greve. Quem esclarece a situação é sua mãe, dona Maria Santos.

    Também conversei com dona Albina Rodrigues de Arruda, mãe de Indinho. Segundo ela, o filho estava de férias da escola quando foi assassinado. Ainda não consegui contato com a mãe de Nado. De acordo com relatos, ele não foi criado pela mãe biológica.

    O mais importante desse projeto literário-jornalístico é resgatar a humanidade dessas crianças. Contar suas histórias, relembrar seus sonhos. Em segundo plano está o desejo de esmiuçar ao máximo as investigações conduzidas pelo Ministério Público através de análise dos autos do processo e depoimentos das autoridades competentes.

    Há cerca de um mês tive a felicidade de conhecer o “Psicanálise na Rua”, coordenado pela professora Adriana Rangel, do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso. O projeto social atende pessoas em situação de vulnerabilidade no centro histórico de Cuiabá e marcou para hoje, 10 de julho, um ato em memória da chacina do Beco do Candeeiro.

    Desde a manhã estão ocorrendo intervenções, como limpeza do Beco, maquiagem das moças e ensaio fotográfico. As fotos serão expostas a partir das 17h, no próprio Beco, quando haverá apresentações artísticas. Dona Albina, mãe de Edgar, e dona Maria, mãe de Adileu, vieram de Lucas do Rio Verde e Cáceres, respectivamente, exclusivamente para participar do ato.

    A companheira Gabriela Rangel, antropóloga e filha da professora Adriana, é quem está à frente da organização. Ela conta que o tributo de hoje vai além da chacina ocorrida há vinte anos e é “uma forma de dar espaço a essas pessoas que de alguma se excluíram ou foram excluídas do meio social. Será um dia de intervenção para dar um presente a essa população de rua como representantes e herdeiros desses meninos chacinados”.

    Também fazem parte deste coletivo a Associação dos Familiares Vítimas da Violência (AFVV), a União de Negros pela Igualdade (Unegro), Instituto Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), A Lente, Outros 300, entre outros parceiros.

    A sua participação é importantíssima. Venha trocar uma ideia com a gente. Vamos discutir essa questão. Ela diz respeito a todos nós.

    Reforçando que o ato acontece hoje, 10 de julho, a partir das 17h, no Beco do Candeeiro, na praça Senhor dos Passos.

  • Intervenção Militar na Maré faz mais vítimas do que a TV mostra

    Intervenção Militar na Maré faz mais vítimas do que a TV mostra

    “‘Meu filho ontem perdeu o baço, ele perdeu os rins, ele tomou pontos no estômago e os estilhaços acabaram com tudo dele. Eu não tenho o que doar do meu filho’, desabafou Bruna Silva, exibindo o uniforme ensanguentado de Marcos Vinícius, de 14 anos. O adolescente estava a caminho da escola quando foi atingido por uma bala perdida, durante operação na Maré. ‘Foi essa polícia homicida que dilacerou o coração de outra família’, disse Bruna.”

    O Relato publicado na edição de hoje do jornal Extra, no Rio de Janeiro, é um triste retrato do que significa de fato a Intervenção Militar no estado. Passados mais de 100 dias (e hoje se completam exatamente 100 dias da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes sem resposta das autoridades), a operação não trouxe qualquer resultado positivo dentro dos objetivos alegados em fevereiro. Ao contrário, subiram todos os índices de violência, especialmente aqueles que atingem as pessoas pobres, pretas e periféricas.

    Além de Marcos Vinícius e de mais seis vítimas imputadas pela polícia como “suspeitas” na operação de quarta-feira em que NENHUM dos 23 mandatos de prisão expeditos foi cumprido, existem relatos de dezenas de outras mortes.

    Segundo Virginia Berriel, uma das representantes da Central Única dos Trabalhadores na Comissão Popular da Verdade, criada para investigar e denunciar as violações dos direitos humanos, em decorrência da Intervenção Militar no Rio, “NAS FAVELAS”:

    Nossa atuação tornou-se visível e grande desde a vinda do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel e de Danny Glover ator e ativista de Direitos Humanos da ONU e nós, membros da Comissão, composta por diversas entidades, criada a partir de reuniões da FBP Frente Brasil Popular. Traçamos linhas de estratégias e ações, com visitas às favelas em parceria com a Defensoria Pública e outras entidades para acompanhamento das ações do Exército, das Polícias Civil e Militar. As ações do Exército com Core, Bope, Caveirão explodiram em massacres, chacinas e violações. Uma guerra de verdade.

    A mídia divulga muito pouco, menos de 50% do que está efetivamente acontecendo.

    Nesta quarta-feira, 20/06, foi a gota d’água: As Operações nas favelas da Maré, no Pavão e Pavonzinho, Cantagalo e Morro da Coroa, foram de pleno extermínio. Uma guerra contra os pobres, pretos e favelados. Na Maré: um caveirão aéreo, quatro caveirões de solo e vários blindados…

    O caveirão aéreo em vôos rasantes, disparou contra a favela sua metralhadora aleatória. Numa só quadra parte de um quarteirão foram encontradas marcas de 59 tiros. Incontáveis todos os tiros disparados de cima para baixo sobre as casas.

    Eles dizem que foram mortos seis traficantes. É o que dizem, mas, na verdade, foram muito mais. E vários e vários feridos. UMA MENINA DE 14 ANOS também foi atingida e veio a falecer no hospital. Ela não foi levada para a UPA. A família, por medo, recusou-se e recusa-se divulgar o nome da menina.

    “Muitos óbitos são classificados como morte natural”

    Numa outra casa, já que muitas foram invadidas, os policiais espancaram dois adultos e jogaram seus corpos. Da mesma casa executaram à queima roupa outros três jovens. De outras casas invadidas roubaram pertences como celulares e televisores. Os moradores NÃO denunciam por medo. Atiraram em vários carros, casas e disseram que era para vingar a morte de policiais.

    Terror total

    Moradores em choque e pânico. Ainda proibiram o acesso de ambulâncias para retirada dos feridos. No Pavão Pavãozinho e Coroa também foram mortos tantos outros moradores. Ontem, 21/06, esse foi o relato de defensores de direitos humanos, que residem na Maré, numa reunião na Defensoria Pública. Foi de doer, de chorar por horas…

    Dia 25/06 visitaremos com a Defensoria a Favela da Mangueirinha e dia 29/06 a do Chapadão. Estamos solicitando audiência para os dias 02 ou 03 com o Interventor, por intermédio da Defensoria Pública e no mesmo dia à tarde faremos uma coletiva de imprensa para denunciar todas as violações, a partir de um dossiê que está sendo preparado. Muita impotência diante da barbárie da Intervenção Militar no Rio. Os Governos Federal, Estadual e Municipal, entregaram o Rio à barbárie e à própria sorte. Todos estão com as mãos sujas de sangue.

    NÃO SOU A FAVOR DO BANDITISMO, nem do tráfico, nem da milícia, muito menos da Polícia e Exército do extermínio. SOU E SEREI SEMPRE A FAVOR DA JUSTIÇA.

    É por conta de tudo isso que seguimos contando os mortos e exigindo a apuração. Periodicamente, na página dos Jornalistas Livres no Facebook, teremos esse triste placar atualizado. Afinal, a escalada da violência no Brasil não será detida com mais violência, com “bandido bom é bandido morto”, com intervenção militar. Ela só pode ser combatida com mais JUSTIÇA. E para isso é fundamental investigar quem comete e quem promove a violência.

    Estamos contando quanto tempo estão sem solução/punição esses crimes:

    1 dia – Marcos Vinícius, de 14 anos, morto com uniforme de escola em operação da polícia e exército na Maré e todos os demais, identificados ou não

    55 dias – atentado contra o Acampamento Marisa Letícia, em Curitiba

    87 dias – atentado contra a caravana de Lula no Sul do país

    89 dias – chacina de Maricá, com execução de cinco jovens artistas

    100 dias – execução da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes 

    1 ano da Chacina de Colniza (MT), 9 executados com facão e tiros calibre 12

    12 anos – Crimes de Maio, pelo menos 564 assassinatos em menos de duas semanas

    22 anos – Massacre do Carandiru, pelo menos 111 mortos pela polícia

    25 anos – chacinas de Vigário Geral (21 mortos) e Candelária (8 mortos)

  • Abraço convoca ativistas a lutarem pelas rádios comunitárias

    Abraço convoca ativistas a lutarem pelas rádios comunitárias

    Companheiros e companheiras,

    Neste dia 19 de junho de 2018 acontecem duas agendas importantes para o nosso movimento de rádios comunitárias em nosso país. A primeira agenda será no plenário 9, do anexo II da Câmara Federal quando acontecerá a audiência pública para debater a atual situação das rádios comunitárias no Brasil e discutir medidas para o fortalecimento do setor. Esse evento é promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal presidida pelo Deputado Federal Luiz Couto (PT-PB) e a Abraço Brasil foi convidada para participar com direito a fala.

    O segundo evento ocorrerá no plenário do Senado Federal quando estará em discussão na pauta do dia o PLS 513/17 que trata do aumento de potência e criação de mais canais por municípios. Todos sabem que esse projeto foi votado e aprovado por unanimidade na Comissão de Ciência e Tecnologia – CCT e seria enviado diretamente para a Câmara dos Deputados. Infelizmente 13 senadores assinaram um recursos para que o PLS 513 fosse ao plenário para discussão e aprovação ou não.

    Em nosso site (www.abracobrasil.org.br) temos vários documentos e inclusive uma Carta Aberta aos Senadores para que as entidades e militância enviem para aos senadores antes da votação no dia 19 de junho. Enviem por email ou por WhatsApp.

    A mobilização é importante nesse momento em que estamos sendo atacados pela entidade Associação Brasileira de Rádios e TVs Comerciais – ABERT que prega abertamente mentiras contra nós e está tentando inviabilizar a aprovação do projeto pelos senadores. Mentiras que chegam ao cúmulo do absurdo quando dizem que vamos inviabilizar as pequenas rádios comerciais quando queremos aumentar a potência e poder vender espaço para publicidade. São argumentos que mostram o quanto é difícil neste país tratar de democratização da comunicação.

    Esquecem os mentirosos de dizer que quem faz a verdadeira prestação de serviços junto à população são as rádios comunitárias e que teimam em sobreviver depois de 20 anos sem a sustentabilidade financeira garantida na lei. Para nós, que fomos taxados durante 20 anos de “rádios piratas” e que “derrubavam avião”, não estranha mais esse tipo de atuação de um setor que se acha dono do Brasil, mesmo que a concessão da comunicação seja PÚBLICA.

    Para mostrarmos nossa força e unidade estamos orientando as entidades para o seguinte encaminhamentos:
    a) transmissão pelas rádios comunitárias da audiência pública da Câmara Federal a partir das 14 horas através do nosso site (www.abracobrasil.org.br) e pelo canal no facebook (@abracobrasil). Vamos priorizar na nossa programação da tarde do dia 19 apenas o assunto RÁDIOS COMUNITÁRIAS;
    b) se começar a votação do PLS 513/17 no plenário do Senado Federal, as rádios devem passar a transmitir essa votação por ser mais importante neste momento. Uma pena que os eventos coincidiram a data!
    c) estamos enviando uma carta aberta aos senadores explicando o que significa a provação do PLS 513/17 para o futuro das rádios comunitárias em nosso país.

    Convocamos os dirigentes da Abraço Brasil, das Abraços Estaduais e das Rádios Comunitárias a só descansarem apenas quando tivermos nossas tarefas cumpridas no próximo dia 19 de junho.

    Vamos à luta pois só conquista quem luta!!

  • O que eles querem ver?

    O que eles querem ver?

    Por Mauro da Silva com o apoio de Miriã Bonifácio para o Jornal A Sirene (jornalasirene.com.br)

    Em Mariana, o “casarão” da Fundação Renova/Samarco, localizado na Praça Gomes Freire, está continuamente servindo como ponto turístico da cidade, onde são expostas maquetes referentes ao local de reassentamento de Bento Rodrigues e repassados conhecimentos sobre o processo de reparação das comunidades atingidas a partir do ponto de vista da fundação/empresa. Também foi iniciado o programa VimVer, vinculado à área de atuação de Diálogo Social da Renova/Samarco, em que são oferecidas visitas monitoradas com especialistas dessa fundação/empresa nas áreas atingidas de Bento, Paracatu e Gesteira. Tendo em vista isso, foi encaminhada uma carta da Comissão dos(as) Atingidos(as) de Mariana à Renova/Samarco solicitando o transporte e a alocação das maquetes para a Casa dos Saberes. Isso porque se entende que, com tais medidas, a empresa usa ações obrigatórias de reparação para fazer propaganda de si mesma. E, ainda, utiliza recursos e espaços em desigualdade com o dos(as) atingidos(as) para criar a sua versão da história. Diante disso, reafirma-se que toda e qualquer informação que diz respeito a estes territórios deve ter o consentimento das pessoas proprietárias destas terras (e memórias).

    “VimVer o quê?” O que a Renova ou a Samarco estão fazendo? Esse é um projeto muito audacioso por parte da fundação/empresa, de entrar em um território que, embora ela tenha todo um interesse, não lhe pertence, nem à Vale ou à BHP Billiton, e sim ao povo, no caso de Bento, um povo sofrido que, durante três séculos, lutou para ter o seu lugar. Eu sou de uma geração que vem dos fundadores de Bento Rodrigues. Portanto, sou testemunha de que a Samarco sempre pleiteou esse espaço. Agora, por meio desse programa, a gente vê que ela se sente dona do que diz respeito à nossa comunidade, e está querendo se sentir dona também de Paracatu e das demais áreas que foram atingidas por essa tragédia-crime.

    “Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as).”

     

     

    Então, esse Projeto VimVer é uma afronta à nossa dignidade, uma falta de respeito com o sentimento daqueles que perderam tudo, que perderam seus entes queridos. E ainda é um projeto que visa criar uma cortina de fumaça sobre aquilo que foi feito até agora em se tratando da nossa reparação. A Renova/Samarco, ao invés de reparar os danos que sofremos, vem causando violações ainda maiores. Eu, então, pergunto, como tive a oportunidade de questionar o Roberto Waack (Presidente da Fundação Renova) durante reunião realizada no dia 4 de maio, em que ele nos disse que esse não é um projeto voltado inteiramente para o turismo, que é um programa que vai levar estudantes, pesquisadores e aquela conversa de sempre, mas que, na verdade, vemos como algo que estou batizando de “turismo da desgraça”: “VimVer o quê?”. Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as). Isso que estão fazendo está nos ferindo de morte. Estamos resistindo e lutando pelo tombamento dos nossos espaços, porque acreditamos que é isso que vai resguardar que esse território continue pertencendo a quem é de direito. E que não se enganem, pois, na versão do bandido, ele sempre é a vítima.

    Leia a matéria em seu site original: http://jornalasirene.com.br/manifestos/2018/06/13/o-que-eles-querem-ver

  • MANIFESTO DO LULA AO POVO BRASILEIRO

    MANIFESTO DO LULA AO POVO BRASILEIRO

    Há dois meses estou preso, injustamente, sem ter cometido crime nenhum. Há dois meses estou impedido de percorrer o País que amo, levando a mensagem de esperança num Brasil melhor e mais justo, com oportunidades para todos, como sempre fiz em 45 anos de vida pública.

    Fui privado de conviver diariamente com meus filhos e minha filha, meus netos e netas, minha bisneta, meus amigos e companheiros. Mas não tenho dúvida de que me puseram aqui para me impedir de conviver com minha grande família: o povo brasileiro. Isso é o que mais me angustia, pois sei que, do lado de fora, a cada dia mais e mais famílias voltam a viver nas ruas, abandonadas pelo estado que deveria protegê-las.

    De onde me encontro, quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em nosso povo. Juntos, soubemos superar momentos difíceis, graves crises econômicas, políticas e sociais. Juntos, no meu governo, vencemos a fome, o desemprego, a recessão, as enormes pressões do capital internacional e de seus representantes no País. Juntos, reduzimos a secular doença da desigualdade social que marcou a formação do Brasil: o genocídio dos indígenas, a escravidão dos negros e a exploração dos trabalhadores da cidade e do campo.

    Combatemos sem tréguas as injustiças. De cabeça erguida, chegamos a ser considerados o povo mais otimista do mundo. Aprofundamos nossa democracia e por isso conquistamos protagonismo internacional, com a criação da Unasul, da Celac, dos BRICS e a nossa relação solidária com os países africanos. Nossa voz foi ouvida no G-8 e nos mais importantes fóruns mundiais.

    Tenho certeza que podemos reconstruir este País e voltar a sonhar com uma grande nação. Isso é o que me anima a seguir lutando.

    Não posso me conformar com o sofrimento dos mais pobres e o castigo que está se abatendo sobre a nossa classe trabalhadora, assim como não me conformo com minha situação.

    Os que me acusaram na Lava Jato sabem que mentiram, pois nunca fui dono, nunca tive a posse, nunca passei uma noite no tal apartamento do Guarujá. Os que me condenaram, Sérgio Moro e os desembargadores do TRF-4, sabem que armaram uma farsa judicial para me prender, pois demonstrei minha inocência no processo e eles não conseguiram apresentar a prova do crime de que me acusam.

    Até hoje me pergunto: onde está a prova?

    Não fui tratado pelos procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo TRF-4 como um cidadão igual aos demais. Fui tratado sempre como inimigo.

    Não cultivo ódio ou rancor, mas duvido que meus algozes possam dormir com a consciência tranquila.

    Contra todas as injustiças, tenho o direito constitucional de recorrer em liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora, pelo único motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva.

    Por isso me considero um preso político em meu país.

    Quando ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem provas, decidi ficar no Brasil e enfrentar meus algozes. Sei do meu lugar na história e sei qual é o lugar reservado aos que hoje me perseguem. Tenho certeza de que a Justiça fará prevalecer a verdade.

    Nas caravanas que fiz recentemente pelo Brasil, vi a esperança nos olhos das pessoas. E também vi a angústia de quem está sofrendo com a volta da fome e do desemprego, a desnutrição, o abandono escolar, os direitos roubados aos trabalhadores, a destruição das políticas de inclusão social constitucionalmente garantidas e agora negadas na prática.

    É para acabar com o sofrimento do povo que sou novamente candidato à Presidência da República.

    Assumo esta missão porque tenho uma grande responsabilidade com o Brasil e porque os brasileiros têm o direito de votar livremente num projeto de país mais solidário, mais justo e soberano, perseverando no projeto de integração latino-americana.

    Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde 2002, não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o direito dos eleitores de votar

    em quem melhor os representa.

    Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é diferente: é o compromisso da minha vida. Quem teve o privilégio de ver o Brasil avançar em benefício dos mais pobres, depois de séculos de exclusão e abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para a nossa gente.

    Sei que minha candidatura representa a esperança, e vamos levá-la até as últimas consequências, porque temos ao nosso lado a força do povo.

    Temos o direito de sonhar novamente, depois do pesadelo que nos foi imposto pelo golpe de 2016.

    Mentiram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita. Mentiram que o país iria melhorar se o PT saísse do governo; que haveria mais empregos e mais desenvolvimento. Mentiram para impor o programa derrotado nas urnas em 2014. Mentiram para destruir o projeto de erradicação da miséria que colocamos em curso a partir do meu governo. Mentiram para entregar as riquezas nacionais e favorecer os detentores do poder econômico e financeiro, numa escandalosa traição à vontade do povo, manifestada em 2002, 2006, 2010 e 2014, de modo claro e inequívoco.

    Está chegando a hora da verdade.

    Quero ser presidente do Brasil novamente porque já provei que é possível construir um Brasil melhor para o nosso povo. Provamos que o País pode crescer, em benefício de todos, quando o governo coloca os trabalhadores e os mais pobres no centro das atenções, e não se torna escravo dos interesses dos ricos e poderosos. E provamos que somente a inclusão de milhões de pobres pode fazer a economia crescer e se recuperar.

    Governamos para o povo e não para o mercado. É o contrário do que faz o governo dos nossos adversários, a serviço dos financistas e das multinacionais, que suprimiu direitos históricos dos trabalhadores, reduziu o salário real, cortou os investimentos em saúde e educação e está destruindo programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, Luz Pra Todos, Prouni e Fies, entre tantas ações voltadas para a justiça social.

    Sonho ser presidente do Brasil para acabar com o sofrimento de quem não tem mais dinheiro para comprar o botijão de gás, que voltou a usar a lenha para cozinhar ou, pior ainda, usam álcool e se tornam vítimas de graves acidentes e queimaduras. Este é um dos mais cruéis retrocessos provocados pela política de destruição da Petrobrás e da soberania nacional, conduzida pelos entreguistas do PSDB que apoiaram o golpe de 2016.

    A Petrobrás não foi criada para gerar ganhos para os especuladores de Wall Street, em Nova Iorque, mas para garantir a autossuficiência de petróleo no Brasil, a preços compatíveis com a economia popular. A Petrobrás tem de voltar a ser brasileira. Podem estar certos que nós vamos acabar com essa história de vender seus ativos. Ela não será mais refém das multinacionais do petróleo. Voltará a exercer papel estratégico no desenvolvimento do País, inclusive no direcionamento dos recursos do pré-sal para a educação, nosso passaporte para o futuro.

    Podem estar certos também de que impediremos a privatização da Eletrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa, o esvaziamento do BNDES e de todos os instrumentos de que o País dispõe para promover o desenvolvimento e o bem-estar social.

    Sonho ser o presidente de um País em que o julgador preste mais atenção à Constituição e menos às manchetes dos jornais.

    Em que o estado de direito seja a regra, sem medidas de exceção.

    Sonho com um país em que a democracia prevaleça sobre o arbítrio, o monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação.

    Sonho ser o presidente de um País em que todos tenham direitos e ninguém tenha privilégios.

    Um País em que todos possam fazer novamente três refeições por dia; em que as crianças possam frequentar a escola, em que todos tenham direito ao trabalho com salário digno e proteção da lei. Um país em que todo trabalhador rural volte a ter acesso à terra para produzir, com financiamento e assistência técnica.

    Um país em que as pessoas voltem a ter confiança no presente e esperança n

    o futuro. E que por isso mesmo volte a ser respeitado internacionalmente, volte a promover a integração latino-americana e a cooperação com a África, e que exerça uma posição soberana nos diálogos internacionais sobre o comércio e o meio ambiente, pela paz e a amizade entre os povos.

    Nós sabemos qual é o caminho para concretizar esses sonhos. Hoje ele passa pela realização de eleições livres e democráticas, com a participação de todas as forças políticas, sem regras de exceção para impedir apenas determinado candidato.

    Só assim teremos um governo com legitimidade para enfrentar os grandes desafios, que poderá dialogar com todos os setores da nação respaldado pelo voto popular. É a esta missão que me proponho ao aceitar a candidatura presidencial pelo Partido dos Trabalhadores.

    Já mostramos que é possível fazer um governo de pacificação nacional, em que o Brasil caminhe ao encontro dos brasileiros, especialmente dos mais pobres e dos trabalhadores.

    Fiz um governo em que os pobres foram incluídos no orçamento da União, com mais distribuição de renda e menos fome; com mais saúde e menos mortalidade infantil; com mais respeito e afirmação dos direitos das mulheres, dos negros e à diversidade, e com menos violência; com mais educação em todos os níveis e menos crianças fora da escola; com mais acesso às universidades e ao ensino técnico e menos jovens excluídos do futuro; com mais habitação popular e menos conflitos de ocupações nas cidades; com mais assentamentos e distribuição de terras e menos conflitos de ocupações no campo; com mais respeito às populações indígenas e quilombolas, com mais ganhos salariais e garantia dos direitos dos trabalhadores, com mais diálogo com os sindicatos, movimentos sociais e organizações empresarias e menos conflitos sociais.

    Foi um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na história.

    Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz. E pode avançar muito mais do que conquistamos juntos, quando o governo era do povo.

    Para alcançar este objetivo, temos de unir as forças democráticas de todo o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida. Tenho certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada.

    Daqui onde estou, com a solidariedade e as energias que vêm de todos os cantos do Brasil e do mundo, posso assegurar que continuarei trabalhando para transformar nossos sonhos em realidade. E assim vou me preparando, com fé em Deus e muita confiança, para o dia do reencontro com o querido povo brasileiro.

    E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar.

    Até breve, minha gente

    Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva o Povo Brasileiro!

    Luiz Inácio Lula da Silva

    Curitiba, 8 de junho de 2018