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Categoria: Ação Humanitária

  • Operação elogiada por Bolsonaro na ONU despeja venezuelanos em Boa Vista (RR)

    Operação elogiada por Bolsonaro na ONU despeja venezuelanos em Boa Vista (RR)

    Em meio a uma pandemia que já matou mais de um milhão de pessoas no mundo todo, a Operação Acolhida do Exército Brasileiro anunciou no último dia 17 de setembro o despejo de 850 pessoas da comunidade Ka’Ubanoko de imigrantes venezuelanos indígenas e crioulos.

    Por Martha Raquel e Jeisse Carvalho, do Brasil de Fato

    “Desde que soubemos que teremos que sair, estamos vivendo muita pressão psicológica e social. Estamos vendo mulheres que não bebiam e começaram a beber, mulheres que têm chorado, crianças com medo”, relata Leannys Torres, indígena Warao e liderança da coordenação indígena da Ka’Ubanoko.

    :: “Não queremos ser explorados, nem marginalizados”: indígenas Warao pedem autonomia ::

    A Operação foi citada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante seu discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), quando afirmou que “no campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no estado de Roraima”.

    A comunidade Ka’Ubanoko cujo significado em português é “Meu espaço para dormir”, fica localizada na cidade de Boa Vista, capital de Roraima, e ocupa o espaço do antigo Clube do Trabalhador – uma obra que ficou abandonada há anos e abriga, desde o ano passado, crioulos e indígenas Warao, Eñepà, Kariña e Pemon. 

    Alejandrina Cortez tem 5 filhos, sendo um recém-nascido, e agora vive diariamente a angústia de não saber o futuro de sua família. 

    :: Indígenas Warao sofrem com péssimas condições de vida no abrigo público de Belém ::

    “Me sinto mal, estou preocupada, não durmo bem, penso nos meus filhos. Não por mim, mas por eles que são pequenos. Agora eu tenho meu lugar. Meus filhos gostam de jogar [no quintal]. Será que eu não posso ter paz? Eu estou morando aqui. Estamos todos. Meus filhos gostam de brincar e estão acostumados com isso”, completa. 

    Tanto a coordenação crioula quanto a coordenação indígena da comunidade escreveram uma carta à Operação Acolhida do Exército explicando a situação e pedindo que o despejo não seja efetuado sem diálogo. 

    “Estamos cansados a ser pisoteados. Não nos negamos a deixar um terreno que sabemos que não é nosso, mas nós temos direitos e sabemos que há outras soluções. Queremos falar, dialogar, mas nos tratam como animais. Nos impõem, querem pensar por nós”, explica a Cacique Eñepa. 


    Regras da Comunidade autogerida Ka’Ubanoko, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel / Brasil de Fato 

    O local atual é dividido em cinco áreas, entre espaços reaproveitados da construção do parque, casinhas de madeira, barracas e redes.

    Os indígenas e crioulos convivem como uma comunidade, organizada por setores. Os moradores se dividem através de coordenações responsáveis por alimentação, saúde, esporte, infraestrutura, segurança, proteção da mulher, educação, cultura e limpeza.

    Quando decidem por nós, estão violando os nossos direitos, de construir nosso futuro, de sermos protagonista 

    Para Leannys Torres, da forma como está sendo conduzida a Operação Acolhida há um desrespeito com os direitos dos povos indígenas.

    “Não somos migrantes, somos indígenas de toda a América e isso é algo que eles precisam aprender a respeitar. E quando decidem por nós, estão violando os nossos direitos, de construir nosso futuro, de sermos protagonistas. Estamos indignados”, ressalta.

    :: Como é o atendimento à migração venezuelana durante a pandemia? ::

    A alternativa apresentada pela Operação Acolhida é realocar as mais de 850 pessoas nos abrigos geridos pelo próprio Exército, onde é realizado um trabalho de interiorização das famílias quando são enviados para trabalhar em diversos estados do Brasil. 


    Abrigo oficial do Exército São Vicente 2, no bairro São Vicente, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel/Brasil de Fato

    Um ser humano não merece viver a vida que eles nos oferecem em um abrigo 

    Alguns moradores da comunidade explicam que já viveram nos abrigos e não gostariam de passar novamente por essa experiência.

    “Não há privacidade. Um ser humano não merece viver a vida que eles nos oferecem em um abrigo. Viver com calor, comer na hora que eles nos entregam a comida. Não teremos o direito de escolher o que vamos comer pela manhã, ao meio dia e à noite”, protesta Deirys Ramos, Cacique Eñepa, pertencente à etnia Warao.

    :: Indígenas venezuelanos sofrem com a covid-19 e a fome no Recife (PE) :: 

    Com base em experiências passadas nesse tipo de instalação, ela afirma que as condições de moradia apresentadas são insalubres.

    “Querem ter-nos como animais, mas nem os animais se tratam assim. É um lugar onde não há árvores, não há brisa, em que estaremos fechados por todo o dia. Faz muito calor, todos estaremos amontoados”, ressalta.

    Torres ressalta que o espaço dos abrigos limita a prática dos costumes tradicionais desses povos.

    “Nos abrigos não teremos a liberdade de expressar nossas ideias, nossos costumes. A vida dos Warao está ligada à terra e ter terra é ter vida. Ficarmos fechados num abrigo nos limitaria bastante, é como estar em um campo de concentração”, explica. 


    Uma das construções da ocupação Ka’Ubanoko, que abriga indígenas venezuelanos em Boa Vista (RR) / Martha Raquel/Brasil de Fato

    Educação prejudicada 

    Para a Cacique Deirys, a vida em abrigos impacta também no processo de educação da comunidade.

    “É um lugar que nem sequer nos asseguram a educação, que pra nós seria não só bilíngue, mas que deveria ser trilíngue porque nós falamos diferentes idiomas. Não somos só um povo indígena, somos quatro povos indígenas”, ressalta. 

    Entre os crioulos, 80% falam português e todos falam a língua nativa, o espanhol. Entre as quatro etnias indígenas, algumas pessoas falam apenas o idioma originário e outros aprenderam o espanhol.

    :: “Não queremos ser explorados, nem marginalizados”: indígenas Warao pedem autonomia ::

    Yidri Torrealba, coordenadora-geral da comunidade e representante dos crioulos explica que a educação diferenciada para as crianças sempre foi uma prioridade dentro da comunidade. 

    “Entre a população indígena e a população crioula aprendemos a viver em comunidade, implementando a educação diferenciada para as crianças, já que mais de 50% que não conseguiram vagas nas escolas”, conta.


    Crianças da Comunidade autogerida Ka’Ubanoko, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel / Brasil de Fato

    Na última quarta-feira (30), representantes do Defensoria Pública da União (DPU), do Ministério Público Federal (MPF) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) estiveram na comunidade Ka’Ubanoko para dialogar sobre a situação. 

    Segundo Luís Ventura, coordenador do Cimi, no próximo 14 de outubro uma reunião deve acontecer entre MPF, DPU, Operação Acolhida e representantes de entidades internacionais. A reunião também irá contar com a presença de um procurador da República de Brasília (DF), representante da área da Defesa do Cidadão, e também Renan Sotto Mayor, presidente Conselho Nacional dos Direitos Humanos

    Eles apresentarão uma petição para que se suspenda a operação do despejo da Comunidade Ka’Ubanoko e solicitar outro prazo, garantindo diálogo, consulta prévia e que as reivindicações dos ocupantes sejam consideradas.

    Segundo o coordenador do Cimi essa é uma medida extrajudicial para convencer a Operação Acolhida e, se não atendida, as entidades acionarão judicialmente a operação acolhida. 

    Questionados por e-mail sobre a operação, os diálogos realizados, as alternativas para os imigrantes,as condições nos abrigos e as formas de fiscalização utilizada para que os refugiados não sejam enviados para lugares em que sejam obrigados a trabalhar em situação análoga à escravidão, a Operação Acolhida não respondeu e disse que a Casa Civil da Presidência da República deveria ser acionada.

    A equipe do Brasil de Fato tentou contato com a instituição, mas também não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

  • Vítimas da  Covid-19 e seus familiares  recebem homenagem e solidariedade

    Vítimas da Covid-19 e seus familiares recebem homenagem e solidariedade

    Em Campinas, interior de SP, coletivo se organiza contra o apagamento da memória  das verdadeiras vítimas da pandemia

    Hoje,  05 de setembro, aconteceu pela  manhã  no centro da cidade  o “Ato Vidas Interrompidas” promovido  pelo   Coletivo 1000vidas. O  ato foi planejado para evitar aglomeração e foi transmitido ao pela página https://tv.socializandosaberes.net.br,    com  falas e intervenções artísticas  que iniciaram no Largo do Rosário .

    Ato Vidas Interrompidas – Campinas-05-09-2020 Foto: Fabiana Ribeiro

    Na sequência, os participantes seguiram em cortejo para a Praça Bento Quirino . Na praça – marco zero da cidade – está localizado o monumento-túmulo de Carlos Gomes, que  recebeu uma instalação artística com o intuito de homenagear às vítimas do Covid-19. Dessa forma foram colocados mil laços de fitas representando cada vida perdida para a doença, na cidade de Campinas.

    Ato Vidas Interrompidas – Campinas-05-09-2020 Foto: Fabiana Ribeiro

    Na  semana passada, Campinas superou as 1000 mortes confirmadas, sendo o 11º município brasileiro com mais óbitos causados pela Covid-19.
     Campinas ainda tem mais óbitos pela doença que 15 capitais de estado do Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, entre elas Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre, que são mais populosas e que têm 969, 944 e 663 mortes confirmadas, respectivamente.

    Ato Vidas Interrompidas – Campinas-05-09-2020 Foto: Fabiana Ribeiro

    O coletivo

    O Coletivo 1000vidas nasceu da indignação de algumas pessoas com o apagamento da memória de amigos, familiares, conhecidos e cidadãs/ãos que estão morrendo ou sofrendo com o Covid-19 sob um manto de apatia de governantes e de parte da imprensa que nos têm tratado como estatísticas de adoecimentos e mortes aceitáveis frente às necessidades da economia e do mercado.  Movido pelo sentimento incômodo da indignação, o  coletivo propõe ações  que desvelem as narrativas   das famílias e as dores de suas perdas e pretende realizar diversas outras  atividades , uma das propostas é um Memorial Virtual  na forma de uma página na internet dando voz e prestando  homenagens, a quem partiu e a quem sofre por estas vidas interrompidas prematuramente. O memorial conta com apoio do Conselho Municipal de Saúde de Campinas.

     Integram o coletivo mais de 40  movimentos organizados de trabalhadores, sociais, culturais e outros.

    Mais retomada de atividades e número de vítimas continua crescendo

    No dia 02 de setembro, o Prefeito de Campinas – Jonas Donizette (PSB) assinou o decreto que autoriza a retomada de atividades culturais, como museus, cinemas e teatros, além de permitir eventos, convenções e serviços de bufê adulto, a partir de 04 de setembro .

    A Prefeitura de Campinas (SP) informou, neste sábado (5), que foram confirmadas mais 10 mortes por novo coronavírus, além de outros 344 casos. Com isso, a cidade chegou a 1.069 óbitos provocados pela covid-19, e 29.327 moradores infectados.

  • Baixo Tapajós: campanha distribui mais de 20 toneladas de kits de higiene e proteção

    Baixo Tapajós: campanha distribui mais de 20 toneladas de kits de higiene e proteção

    • Combate à Covid-19
    • Ação de ONGs vem ajudando a reduzir o avanço da Covid-19 entre as comunidades ribeirinhas e indígenas na região do baixo Tapajós
    • Distribuição de mais de 20 toneladas de kits de higiene, limpeza e proteção contra o novo coronavírus, ao longo do Rio Arapiuns, afluente do Rio Tapajós, Santarém-PA

    Fotos: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

    Às 6h30min da manhã da última sexta-feira (21), em Santarém-PA, as equipes dos barcos do Projeto Saúde e Alegria (PSA) e Gaia se preparam para mais uma jornada de distribuição de kits de limpeza, higiene pessoal e proteção para as comunidades espalhadas ao longo do Rio Arapiuns, importante afluente do Rio Tapajós. Waltinho e Ana, jovens  coordenadores da expedição, conferem as tabelas com os kits a serem distribuídos em cada comunidade.

    Ana e Waltinho lideraram a expedição, que ocorreu entre os dias 21 e 23 de agosto – Foto: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

    Waltinho é indígena do povo Kumaruara; Ana é da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. As tripulações dos barcos separam arduamente os produtos antes de cada parada. Os protocolos de segurança são rígidos e cumpridos à risca: antes de embarcar, cada membro da equipe tem de fazer o teste para detectar anticorpos para o novo coronavírus. Todos têm de usar máscara , e há fartura de álcool em gel nas embarcações. Apenas dois ou três tripulantes desembarcam em cada parada, para entregar os kits. Mais de 2500 famílias, espalhadas ao longo do Rio Arapiuns e Lago grande serem atendidas, em 3 dias de viagem.

    Pouco antes de atracar, o comandante de cada barco aciona a buzina, avisando os moradores que os kits estão chegando. As equipes geralmente são recebidas por lideranças comunitárias e por um punhado de moradores, que ajudam a carregar os pacotes. A expressão nos semblantes dessas pessoas é sempre de expectativa. Com a ausência ou insuficiência dos serviços de Estado, essas comunidades têm dependido de ações da sociedade civil organizada, que tem feito doações e atendimento médico localmente, a fim de evitar que essas populações se desloquem até Santarém ou outras cidades com alguma estrutura, em busca de atendimento médico –  e para comprar mantimentos –  diminuindo assim o contato com o vírus. 

    Sob o mote #ComSaudeAlegriaSemCorona, ao todo, desde que as ações de mitigação dos efeitos da pandemia começaram, já foram distribuídos mais de 6 mil  kits familiares de higiene, limpeza e proteção, atendendo centenas de comunidades. O PSA e parceiros também vêm distribuindo, desde o início da pandemia,  cestas básicas para as comunidades ribeirinhas, além e apetrechos de pesca para os Munduruku. Mesmo com essas ações, relatos indicam que a pandemia chegou forte em muitas comunidades, sem que haja o registro oficial dos casos covid-19. 

    Foto: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

    Certamente há uma enorme subnotificação, e os casos oficialmente registrados pela Secretaria de Saúde entram no cômputo geral de casos e mortes do município, sem que haja separação por comunidade. Oficialmente, segundo a última atualização da prefeitura de Santarém, até o último domingo (23), o município totalizava, 8.559 casos de covid-19 e 366 óbitos.

    Foto: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

    Não se sabe ao certo a situação da pandemia nas populações que vivem ao longo dos rios Tapajós, Arapiuns e afluentes, o que se sabe é que, não fossem as ações da sociedade civil organizada, a situação seria bem pior.

  • Marcados para morrer: invasores sobem tom de ameaça ao povo Pankararu

    Marcados para morrer: invasores sobem tom de ameaça ao povo Pankararu

    Contrariando a justiça, ex-posseiros avançam sobre território indígena em Pernambuco e perseguem lideranças; Funai segue de braços cruzados

    Sob constantes ameaças de invasores de suas terras, há tempos o povo Pankararu não sabe o que é viver em paz. Eles temem pela segurança da comunidade e reivindicam providências do governo federal. A cada novo caso de violência, lideranças acionam autoridades e indicam o risco iminente de confronto. No final de julho, uma placa instalada dentro do território demarcado acendeu um alerta: nela estavam expostos mais de 10 nomes de indígenas marcados para morrer.

    O conflito tem raízes no processo de desintrusão da terra. Situada nos municípios de Jatobá, Petrolândia e Tacaratu, no sertão pernambucano, a demarcação da Terra Indígena Pankararu é uma luta que perpassou gerações. “Foram mais de 70 anos lutando na justiça por nosso território. Nós vencemos em todas as instâncias, mas existe um grupo de posseiros que não aceita a soberania da decisão judicial”, salienta um indígena que prefere não se identificar.


    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) acompanha a situação desde 1982. “Muitos dos posseiros que invadiram as terras indígenas moravam às margens do Rio São Francisco e foram vítimas da barragem de Itaparica. Nós do Cimi, junto a outras organizações, sempre trabalhamos para que os posseiros tivessem seus direitos assegurados, fossem indenizados e saíssem do território”, sustenta Ângelo Bueno, da equipe de Pernambuco do Cimi Nordeste.

    E foi o que aconteceu: os invasores receberam indenização do Estado. No entanto, algumas famílias se recusaram a sair do território. A expulsão deste último grupo de invasores foi realizada em 2018 pela Polícia Federal. Os indígenas guardam o acontecimento com pesar. “Era para ser uma retirada de boa, mas eles não aceitaram de jeito nenhum. Foi muito feio e triste. Nós não queríamos isso. Na época, até divulgamos uma nota lamentando a truculência da polícia“, recorda outra indígena.

    “A gente acorda e encontra nossas plantações destruídas, as frutíferas e árvores sagradas no chão. Eles deixam bilhetes nos amedrontando”, destaca liderança indígena

    De lá para cá, os Pankararu tem enfrentado um cotidiano que qualificam como “terrorismo psicológico”. Práticas como a derrubada de árvores, cortes de cercas e devastação de hortas têm sido comuns. “A gente acorda e encontra nossas plantações destruídas, as frutíferas e árvores sagradas no chão. Eles deixam bilhetes nos amedrontando. Já tivemos casas alvejadas com tiros nas nossas aldeias. É uma situação muito ruim. A gente não tá bem. A gente vive atormentado. Esperamos que a justiça seja feita e possamos, finalmente, ter sossego”, lamenta a indígena.

    As lideranças receiam o derramamento de sangue. “Eles andam livremente pelos nossos territórios. E nós sabemos que ele têm armas de fogo. Uma hora isso vai explodir. Sempre que sofremos uma violência, registramos mais um Boletim de Ocorrência na polícia. Recentemente, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação, cobrando a responsabilidade do governo federal na proteção das nossas terras e das nossas vidas”, sustenta um dos indígenas que teve seu nome grifado na placa.

    Luta por justiça
    No início de junho, à pedido do Pankararu, o procurador da República no município de Serra Talhada, André Estima de Souza Leite, assinou um despacho cobrando a atuação da Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal (PF) no caso. “A Funai precisa prestar assistência aos indígenas e fiscalizar o território. Ao Ibama cabe verificar o dano ambiental. E a PF tem o papel de apurar os crimes”, detalha Souza leite.

    “É preciso estar alerta aos sinais de violência, para que não se agravem. Eu sou sertanejo e conheço o histórico de disputas por terra na região”, salienta procurador do MPF

    De acordo com o procurador, a PF instaurou um inquérito – que corre sob sigilo. “É preciso estar alerta aos sinais de violência, para que não se agravem. Eu sou sertanejo e conheço o histórico de disputas por terra na região, sei como é a questão de vingança, o uso de armas. Estamos acompanhando de perto o trabalho que a PF vem fazendo e cobrando as instituições responsáveis”, garante o procurador.

    Ângelo reitera a urgência do caso, sob o risco de as ameaças de morte se efetivarem. “Já existem nove lideranças Pankararu no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos aqui em Pernambuco. Nós sempre lutamos para que os direitos dos posseiros também fossem assegurados e isso já aconteceu. Eles não podem mais ficar criando esta situação de violência e insegurança na região. Isso não pode continuar assim. Isso tem que acabar”.

    POR NANDA BARRETO, DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CIMI

  • Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

    Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

    Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

    Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

    Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

    Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

    Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

    Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

    Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

    Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

    Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

  • RN cria rede de solidariedade após relato dramático de trans potiguar em situação de rua em SP

    RN cria rede de solidariedade após relato dramático de trans potiguar em situação de rua em SP

    Por Kamila Tuênia, da agência Saiba Mais 

    “Eu tô com o cabelo curto porque eu entrei em depressão, pra ninguém me caçar, me bater ou me matar. Hoje eu estou aqui em São Paulo pra poder ficar viva, estava trabalhando, sou cabeleireira, mas chegou esse vírus e eu não consegui pagar minhas contas, o aluguel e eu tô aqui, na rua”. Esse é o relato de Jéssica, mulher transexual, natural de Natal, Rio Grande do Norte, que foi para São Paulo desde a morte de sua irmã, também trans, Luana, em 2019.

    Jéssica é uma das muitas trabalhadoras brasileiras vítimas não só da pandemia que pegou o país desprevenido, mas de uma sociedade preconceituosa, transfóbica e que marginaliza muitas Jéssicas diariamente.

    No vídeo, que teve alta repercussão nas redes sociais, Jéssica aparece com uma peruca loira e depois a tira ao relatar que esconde sua feminilidade da sociedade. “Porque se esconder da sociedade? Porque mataram minha irmã apedrejada no RN”, diz.

    O vídeo foi publicado no perfil do Projeto Existimos, iniciativa que visa ajudar e dar visibilidade a pessoas transexuais e travestis em situação de rua na maior cidade do Brasil.

    “Eu gosto de me cuidar, as pessoas nem pensam que eu moro na rua. Mas eu tô aqui, quem puder me ajudar, me dar uma oportunidade em algum salão, que o meu dom sempre foi esse. Quero deixar pra vocês que não é um erro, nós não escolhemos ser assim e pela memória da minha irmã Luana, eu sei que eu vou sair dessa, vou deixar meu cabelo crescer, minha identidade. Vivo de doação, uso peruca, se vocês puderem me ajudar com uma peruca, com uma barraca (…)”, desabafa.

    Jéssica conta, no vídeo, que o episódio da morte de sua irmã foi muito forte e relata que ela mesma encontrou o corpo de Luana. A cabeleireira chora e manda um abraço para a mãe, que continua morando em Natal. “Te amo mãe, um dia eu vou te buscar, eu não te abandonei não, é pra não me matarem”, diz emocionada.

    De acordo com a Rede Trans Brasil, que faz o mapeamento de assassinatos de pessoas T, a transexual conhecida como Luana Piovani foi encontrada morta dia 15 de setembro, nua, com sinais de violência e foi assassinada a pedradas em Elói de Souza, município do interior do Rio Grande do Norte distante 61 quilômetros de Natal.

    O relato da potiguar em situação de rua em São Paulo comoveu muitas pessoas, sobretudo muitos conterrâneos, que se mobilizaram para ajudar a Jéssica. Os amigos João Lucas e Francisco Gustavo decidiram contribuir arrecadando doações para Jéssica assim que viram o vídeo.

    “Guto tentou entrar em contato com o Projeto Existimos, para enviar uma peruca para Jéssica e aí tivemos a ideia de estender a ação e divulgar nas redes sociais que iríamos ajudar para que outras pessoas também pudessem contribuir. Pensamos em enviar o presente para Jéssica para que ela percebesse que não existem só pessoas que querem lhe fazer mal, mas sim aquelas que querem vê-la bem e fora das ruas”, conta João.

    Gustavo conta que o vídeo lhe ‘derrubou’ e lhe deixou muito comovido por ser um caso explícito do preconceito e da transfobia em todo o Brasil.

    “Nós já conseguimos algumas doações e queremos mandar para Jéssica, para que possamos minimizar esse sofrimento que ela está. A ideia é mandar uma caixa de coisas para ela se cuidar. A transfobia é algo que precisamos combater, além da questão da situação de rua que precisamos combater também”, disse Gustavo.

    De acordo com João Lucas, as doações serão arrecadadas e enviadas para Jéssica levando em consideração que ela não pode guardar muita coisa, por estar na rua.

    “Algumas pessoas oferecem doações de comida, nós aceitamos mas por ser perecível, mas não enviaremos para São Paulo e sim para o coletivo Atransparência, que faz um trabalho social com pessoas trans no Rio Grande do Norte. Também estamos aceitando roupas de frio, peruca, maquiagem, produtos de beleza e outras coisas que as pessoas possam ajudar doando“, explica.

    Centenas de Jéssicas

    O vídeo de Jéssica sensibilizou muita gente para tentar lhe conseguir um emprego, dinheiro e um lugar para morar. De acordo com Rebecka de França, ativista da Atransparência RN que procurou informações sobre o caso, Jéssica já conseguiu uma passagem aérea para voltar para Natal, um lugar para morar e um emprego, através de articulação do Fórum LGBT Potiguar com o Centro de Referência em Defesa da Diversidade de São Paulo.

    A ativista potiguar relembra ainda que existem diversas Jéssicas precisando de ajuda no Rio Grande do Norte. Desde que a pandemia começou, a Atransparência tem ajudado com cestas básicas diversas pessoas trans em situação de vulnerabilidade.

    “A gente não pode esquecer que existem milhares de Jéssicas em todo o Brasil, inclusive aqui no RN, então a gente coordenou uma campanha de doações para essas pessoas. Queria dizer que quem realmente se sensibiliza com o caso da Jéssica, não deixe de fazer doações para a nossa campanha, pois a gente leva uma cesta básica a diversas Jéssicas todos os dias, que estão nas periferias, sem trabalho. Jéssica foi uma voz de muitas que existem nessa situação e precisamos ajudar a todas”, solicita Rebecka.

    Entrega de cestas básicas pela ONG Atransparência. Foto: Reprodução/Instagram

    No Rio Grande do Norte, pelo menos 50 pessoas trans estão em situação de vulnerabilidade diante da pandemia, de acordo com o primeiro levantamento da Atransparência RN para localizar e ajudar essas pessoas. Das 50 pessoas que responderam o formulário, 26 são travestis, 22 são transexuais e 2 se identificaram como pessoa não binária, com idades de 18 a 64 anos.

    Entre as profissões apontadas pelo levantamento, 20% tem a prostituição como fonte de renda. Cabeleireiros, diaristas, trabalhadores autônomos e estudantes também preencheram o cadastro.

    Mês do Orgulho LGBTQIA+

    O relato de Jéssica explicita a violência sofrida por muitos e muitas pessoas LGBTs apenas pela sua orientação sexual. No Brasil e no mundo, 28 de junho é o Dia do Orgulho LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e outros grupos minorizados). A data tem origem em uma reação, em 1969, a sucessivas batidas policiais ao bar Stonewall Inn, em Nova York.

    51 anos depois a realidade mostra alguns avanços mas mantém seus retrocessos, como a marginalização dessas pessoas, a violência e o preconceito. Para Rebecka de França, o T é uma das últimas letras lembradas e das que mais precisa lutar por reconhecimento a identidade.

    “A gente continua nessa luta por visibilidade, uma coisa que a gente lutou por tanto tempo foi o direito a um nome, imagina que tudo no universo tem direito a um nome menos nós travestis e transexuais”, conta.

    Para João Lucas, que também é militante da causa LGBT+, é duro observar a desigualdade dentro do próprio movimento, que precisa de atenção e visibilidade para todas as letras.

    “Há um tempo venho chamando a atenção de amigos Gays para a pauta Trans, mesmo não sendo meu local de fala, para que eles observem que existe dentro de uma comunidade não só homens gays, cis, que sim, sofrem LGBTfobia, mas ainda assim com privilégios. E existem Jéssicas, vítimas de uma violência brutal e obrigadas a ficar longe de sua mãe apenas por serem quem é”, afirma.

    Doações 

    Confira como você pode ajudar a Jéssica, ao Projeto Existimos ou a ONG Atransparência RN.
    Doações para Jéssica
    Conta para depósito:
    Conta: Poupança Banco do Brasil
    Ag: 3525-4
    Conta: 29152-8
    Variação: 51
    Igor Rogério Dantas da Silva
    Contato: 84 98108-1883 – João Lucas
    Doações para o Projeto Existimos 
    Para contribuir com o projeto, basta acessar o site da Vaquinha Online, disponível para doações.
    Doações para a ONG Atransparência
    Atransparência RN: Av. Bernardo Vieira, 1487, Alecrim/Natal

    Dados bancários – Banco do Brasil
    Agência: 2847-6
    Conta: 224979-0
    Contato: 84 98861-1763 – Rebecka de França