Nota da Rede de Defesa e Resistência Democrática a respeito da execução de policial no Rio Grande do Norte
Policial fundador do movimento antifascismo em RN é executado
O fundador do grupo “Policiais Antifascismo” do Rio Grande do Norte, João Maria Figueiredo da Silva, 36 anos, foi assassinado com quatro tiros na cabeça, na Grande Natal, na tarde desta sexta-feira, 21. De acordo com a polícia militar, o caso tem características de execução. A moto em que o policial estava e seus documentos ficaram no local do crime. Apenas a arma foi levada pelos bandidos.
A motivação do crime ainda não foi esclarecida, mas de acordo com a PM, dois homens a pé abordaram Figueiredo, quando o mesmo passava de motocicleta. Ele tentou fugir, mas foi acertado pelos disparos.
O caso aconteceu um dia antes de uma confraternização de policiais de esquerda do Rio Grande do Norte.
Ainda por meio de nota, a Polícia Militar lamentou pela morte do soldado Figueiredo, e disse que, “apesar do sentimento de luto, os integrantes da Polícia Militar não estão medindo esforços para levar os responsáveis à Justiça”.
O policial ingressou na instituição no ano de 2009 e atualmente estava lotado no pelotão da PM do município de Taipu. Ele trabalhava voluntariamente na segurança da governadora eleita, Fátima Bezerra.
Figueiredo era ligado a movimentos sociais e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Em março deste ano, o policial participou do Fórum Social Mundial realizado em Salvador como palestrante da mesa cujo o tema era violação dos direitos humanos nas corporações e falou sobre o risco de vida que poderia passar. “Antes foi a Dorothy [Stang, missionária], ontem foi a Mariele, amanhã pode ser eu”, enfatizou.”
Fernanda Queiroz é Jornalista e Assessora de Imprensa voluntária da Rede Nacional de Defesa e Resistência Democrática
Já perdemos as contas de quantas vezes o vereador Eduardo Suplicy (PT) entra em cena para proteger manifestantes legítimos de violência da GCM (Guarda Civil Metropolitana) em ação de mobilização política. Ontem no final da tarde, durante sessão extraordinária após audiência pública na Câmara dos Vereadores, em São Paulo sobre o PL621/2016, mais conhecido como “Sampaprev”, Suplicy teve que intervir fisicamente com luta corporal com a GCM para proteger a integridade física e moral da servidora pública Claudete Alves, que acompanhava tudo pacificamente de dentro do plenário. O PL trata da previdência municipal e pretende confiscar salários e aposentadorias, além de privatizar e capitalizar recursos.
Momento em que Suplicy protege a servidora pública de agressões da GCM em plena audiência na Câmara. Foto: Elineudo Meira
Os policiais da GCM tentaram retirar a servidora do local com um golpe “mata-leão”, de enforcamento. Demais vereadores de oposição da esquerda, como a Juliana Cardoso (PT), também tentaram impedir, mas a GCM usou laser e um deles acabou acertando um soco no vereador Antonio Donato (PT).
A vereadora Juliana Cardoso também intervem em defesa dos servidores, que protestam contra o Sampaprev. Foto: Elineudo Meira
Para completar as cenas de terror, o vereador Fernando Holiday (DEM), “partiu pra cima” do vereador Toninho Vespoli (PSOL) com bastante violência. O DEM e a base governista de Bruno Covas estavam especialmente empenhados em aprovar a qualquer custo a PL, sem que houvesse ampla participação dos servidores e uma discussão democrática, que é o mínimo a respeito dos trâmites normais em qualquer projeto, quiça de direitos de trabalhadores.
Demais vereadores da esquerda também tentaram impedir, mas a GCM continuou com a violência no plenário. Foto: Elineudo Meira
O presidente da sessão, Gilson Barreto (PSDB), assim como o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), deu aso a tamanha covardia e pausou a sessão somente após a cena de violência com uma trabalhadora que está exercendo a sua cidadania e o direito de lutar pelos seus direitos, causando um grande tumulto em plenário, fato inconcebível num Estado Democrático de Direito.
Servidora pública protesta em defesa de aposentadoria e demais recursos para a Previdência. Foto: Elineudo Meira
Mais tarde, o plenário esquentou novamente com o vereador Holiday confrontando, com abuso de violência e covardia, a vereadora Juliana Cardoso. Ela desaprova o Sampaprev e representa com propriedade e muita resistência a mulher trabalhadora servidora pública que luta por seus direitos. “Tentamos dar obstrução total na casa, com substitutivos, várias intervenções, mas nada foi suficiente, porque eles (a base governista) trouxeram inclusive secretários municipais para virem votar e eles terem uma folga”, declara a parlamentar.
Momento de abuso de violência à vereadora Juliana por parte do vereador Holiday. Foto: Elineudo Meira
Cerca de 10 mil servidores públicos municipais protestaram em frente a Câmara ontem, das 10h até as 22h, para tentar derrubar o “SampaPrev”. Numa manobra às vésperas do recesso de fim de ano, a votação terminou por volta da 0h55 de hoje, sábado, com 31 votos favoráveis ao Projeto de Lei por parte da base governista, que pretende confiscar 14% dos salários dos servidores.
Segundo a vereadora Juliana, a resistência dos servidores continuará mobilizada para tentar derrubar o PL numa segunda votação no próximo dia 26, quarta-feira pós Natal. “Infelizmente a gente não venceu a batalha, mas ainda podemos vencer a guerra. Estejam todos (servidores) aqui, em frente à Câmara no dia 26, às 10h, para impedirmos essa votação e aprovação do Sampaprev”, finaliza a parlamentar.
Cerca de 10 mil servidores públicos protestaram em frente à Câmara dos Vereadores contra o Sampaprev. Foto: Elineudo Meira
Grupos de aplicativos de conversa como Whatsapp e Telegrame redes sociais de parte da militância progressista,mas principalmente a petista, amanheceramneste 18 de dezembro pipocando mensagens sobre a entrevista um tanto polêmica que Vagner Freitas, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), concedeu ao El País Brasil, e que foi publicada ontem à noite no site do jornal.
Com o título “Trabalhadores votaram em Bolsonaro. A CUT vai procurar o Governo para negociar”e a linha fina “Presidente da maior central sindical do país, Vagner Freitas diz que CUT não considera presidente eleito ilegítimo e prega “oposição propositiva” ao capitão reformado do Exército”,a entrevista feita pelo jornalista Ricardo Della Colettaviralizou echocou a militância que não reconhece este governo, mesmo eleito, como legítimo.
Principalmente, a que estava ou assistiu o discurso de Vagner Freitas durante coletiva de imprensa, que inclusive o Jornalistas Livres cobriu, após o ex-presidente Lula depor sobre o processo do “Sítio em Atibaia”, em Curitiba, no dia 14 de novembro deste ano, quando o presidente da CUT afirmou não reconhecer o Governo Bolsonaro. “Todos sabem que Lula seria eleito em primeiro turno, por isso está preso. Logo, que fique muito claro que nós não reconhecemos o senhor Bolsonaro como presidente da República.”
Vagner Freitas em frente ao prédio da Justiça Eleitoral, quando o ex-presidente Lula depôs sobre o caso do “Sítio em Atibaia”
Mesmo com Freitas começando a entrevista afirmando que “o Governo Bolsonaro foi eleito com uma proposta que iludiu muito os brasileiros e parcela dos trabalhadores, com fake news e utilizando estratégias vindas de outras eleições”, grande parte da militância seguiu tentando assimilar a notícia o dia todo, sem muito sucesso de compreensão da declaração. Principalmente no trecho seguinte da declaração:
“Mas é verdade que o Governo [Bolsonaro] foi eleito por 57 milhões de pessoas e que ele vai tomar posse no dia 1º de janeiro. A CUT vai procurar o Governo para negociar os interesses dos trabalhadores. Diferentemente do que fez com o [presidente Michel] Temer, que nunca foi eleito, o senhor Jair Bolsonaro, com todas as críticas que eu possa fazer, foi eleito presidente da República. E,portanto, nós vamos tratá-lo assim, como quem foi eleito, e vamos levar a nossa pauta de reivindicação dos trabalhadores para ser negociada. Nós vamos defender os trabalhadores de qualquer ataque que possa acontecer, mas é diferente da nossa visão em relação ao Temer. Nós não considerávamos o Temer presidente eleito.”
Para grande parte dessa militância, reconhecer o Governo Bolsonaro como legítimo é contraditório do ponto de vista estratégico da realidade do campo progressista que acredita e luta contra um golpe político imperialista que vem sendo executado no Brasil desde 2006, com o Mensalão e a prisão de José Dirceu, voltando com força em 2015 e 2016 com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e a prisão e impugnação da candidatura do presidente Lula, respectivamente em 7 de abril e 31 de agosto deste ano.
Além do golpe, como legitimar um governo que foi eleito com denúncia de campanha financiada com Caixa 2, conforme matéria publicada pela Folha de SP, da repórter Patrícia Campos Mello, que apurou ter mais de 120 milhões de contas de whatsapp compradas para bombar fake newse manipular uma população nem toda fascista, mas ignorante política? Como legitimar um presidente com requintes de fascismo, que não é do campo democrático, o que é o mínimo para a Política brasileira, e que afirmou que a Ditadura deveria ter matado mais de 30 mil, incluindo inocentes? Que enaltece torturador como o Ulstra e faz apologia a tortura e morte por fuzilamento da “petralhada”? Como, sendo considerado fascista até pela mídia internacional e políticos inclusive de extrema direita?
Outra grande preocupação geral nos chats e comentários, a partir do reconhecimento do Governo Bolsonaro por parte do presidente da CUT, é como acontecerão essas negociações e como será a luta por direitos dos trabalhadores depois desse posicionamento. Por que Vagner Freitas acha que reconhecendo esse Governo e propondo negociações propositivas, o ministério da Justiça e Segurança Pública de Sergio Moro, que acampou a pasta do Trabalho e Previdência, irá permitir qualquer vitória dos trabalhadores, principalmente os sindicalizados?
A CUT tem atualmente 3. 806 entidades filiadas, 7.847.077 trabalhadoras e trabalhadores associados e 23.981.044 trabalhadoras e trabalhadores na base. Como será essa negociação entre a Central, sindicatos, sindicalizados, a base e o Governo Bolsonaro, junto com Moro, quando propuserem e colocarem em pauta a votação da Reforma da Previdência? E quando esse governo começar as privatizações das Empresas Públicas? Serão milhares de trabalhadores servidores públicos demitidos.
Como reconhecer legitimidade, se Bolsonaro e Moro já deixaram claro que irão criminalizar os movimentos sociais, sindicais e estudantis, ou seja, a CUT e seus sindicatos? “As pessoas têm liberdade de expressão, de manifestação, e não é diferente com movimentos sociais. No entanto, quando existem situações relativas à lesão de direitos de terceiro, invasão de propriedade privada – às vezes nem com motivações sociais, mas com motivações político-partidárias –, quando existem danos ou lesões a pessoas, não pode tratar esses movimentos como inimputáveis”, disse Moro em entrevista coletiva no dia seis de novembro desse ano.
O campo oprimido não pode abrir espaço para o lado opressor e dar nenhum passo para trás. Porque assim o opressor só ganha espaço, força política e mais poder. A situação atípica de golpe institucionalizado, segundo a militância, não obriga reconhecimento de governo fascista. Pelo menos não deveria.
A jovem jornalista Patrícia Lélis, 23, que denunciou em agosto de 2016 o deputado federal Marco Feliciano(ex-PSC, atual Podemos) por estupro, cárcere privado, sequestro e danos morais, publicou no último 1ºde dezembro em seu Facebook que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos escolhida por Jair Bolsonaro, Damares Alves, sempre soube destes supostos crimes, anexando, ao post, prints de uma conversa entre as duas por Whastapp. A jovem a acusa de querer esconder o estupro e todos os crimes supostamente cometidos por Feliciano, assim comoos do senadorMagno Malta (Partido da República), a quem Damaresprestou assessoria parlamentar durante os seus mandatos, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), ex-namorado de Patrícia, que a ameaçaram para se calar sobre o caso.
De acordo com a postagem, por diversas vezes, a agora ministra, que também é pastora e advogada, pediu para que Patrícia não contasse a ninguém sobre o estupro. “Na Polícia Federal, falei sobre todos que sabiam do meu caso, e também deixei o celular para perícia. E digo mais: Ela não sabe apenas do meu caso, sabe de muitos, mas como sempre tenta silenciar as vítimas. Esses são os cidadãos de bem do governo Bolsonaro. Aos pais que frequentam a igreja e colocam pastores acima de tudo, eu só peço que tenham cuidado e escutem mais seus filhos, eles podem estar sofrendo assédio, estupro e ameaças para ficarem calados”, alertou Patrícia.
A futura ministra,que ainda nem assumiu o cargo, já marca presença nas mídias tradicionais com frases como essa:
“Hoje, a mulher tem estado muito fora de casa. Costumo brincar como eu gostaria de estar em casa toda a tarde, numa rede, e meu marido ralando muito, muito, muito para me sustentar e me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal da sociedade. Mas, não é possível. Temos que ir para o mercado de trabalho…”
Ela fala como se as mulheres que o trabalho doméstico não fosse um tipo de trabalho (pesado, por sinal). Fala como se o trabalho fora de casa não tivesse nenhuma relação positiva com liberdade e emancipação, capacidades e igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.
Para Patrícia, Damares enviou uma mensagem com o intuito de constrangê-la e calá-la sobre os estupros:
“Patrícia, pense um dia em usar sua visibilidade para também dar voz a elas (às crianças). Precisamos de todo apoio para aprovar nossa lei. Li uma matéria triste sobre você. Saiba que meu silêncio em relação a você é necessário. Mas, de longe, estou acompanhando tudo e quero o melhor para você e sua mãe. Oro para que tudo isto acabe logo. Entrei nesta história quando a Marisa mandou você me procurar. Não pude fazer nada na época por você senão orar. Continuo orando. Se cuida, Patrícia. Se cuida. Deus é Deus, nunca se esqueça disso. Esta fase vai passar.”
Indignada com a resposta omissa da advogada e assessora parlamentar, Patrícia se posicionou contra a religiosidade oferecida pela ministra:
“Espero de coração que essas crianças fiquem bem, pois elas não tem culpa de onde nasceram, ou do que passam na vida delas. O que é lastimável. Porém, mesmo com todo meu desejo que essas crianças fiquem bem, também desejo que elas fiquem longe de qualquer tipo de religiosidade, e também de pessoas religiosas. Jamais me manifestarei novamente sobre algo, pedindo orações, pois sinceramente senti na pele que de nada resolve, e no meio cristão estão as piores pessoas, e também as mais sem caráter. A começar por Feliciano, Marisa Lobo, e Sara Giromini. Sobre o seu silêncio, não cabe a mim dizer nada, cada um age da forma que mais lhe convém.”
Na sequência, a ministra fala sobre as crianças indígenas suspostamente estupradas, assim como Patrícia e as demais mulheres da igreja.
“Patrícia, eu amo as crianças indígenas e elas são a razão da minha vida, eu as amo muito e oro por elas. Outra coisa: no meio religioso tem gente boa e gente ruim. Como tem em todo lugar. Você, com certeza, no meio religioso encontrou gente boa ao longo de sua vida. Gente que te amou e te ama. Gente que torce por você. Eu encontrei pessoas que te elogiaram muito dentro de uma igreja, mas muito mesmo. Você era muito talentosa na igreja. Patrícia, quanto a mim e a você, esta é uma história para depois. Mas se tu soubesses o que estou passando por ter ficado do seu lado. Se tu soubesses de tudo que já sofri e olha que fiz tão pouco por você. Eu apenas te ouvi duas vezes e depois ouvi sua mãe. Não fiz nada mais que meu coração de mãe e mulher mandou fazer naquele momento que era lhe ouvir e ouvir sua mãe. Talvez tivesse que ter feito mais. Muito mais.”
Em outro trecho, ela diz:
“Sua resposta pra mim soou como hostil.Não achava que você tivesse triste comigo ou guardasse mágoa de mim. Pelo contrário. Achei que você tivesse visto em mim alguém que orava por você e torcia pra que tudo isto acabasse logo. Mas tudo bem. Vamos caminhar. Já sofri demais com esta história também. Continuo aqui se você precisar. Deus a abençoe. Tudo isto vai passar.”
A jovem se defende:
“Não fui hostil, não entenda assim. Eu tenho raiva de todas as pessoas que sabiam, e se mantiveram omissas e não me ajudaram. Sobre eu ser talentosa na igreja, bom…sempre fui boa em tudo que faço, e sinto um ódio profundo por ter nascido nesse meio tão podre e moralista! A igreja me adorava enquanto eu fazia o que me era imposto, o que era ‘bonito aos olhos dos irmãos’. Mas, quando decidi pôr um ponto final em tudo que o Feliciano me fazia, todos me viraram as costas. Quando te procurei, sinceramente, era um momento em que o Feliciano colocava o Bauer atrás de mim, e tudo que eu queria era ficar longe dele! E se você passou por algo ao me defender, imagina o que eu passo todos os dias. É uma soma de tentar me defender + provar na Justiça que não peguei dinheiro + tentar esquecer que fui abusada e agredida pelo Feliciano. Já pensou sobre isso? Sinceramente jurei que você me ajudaria, pois várias pessoas me disseram que, por você ser assessora do Magno Malta, poderia me ajudar. E tudo o que tive em troca foi omissão. Você mesma disse a mim que sabia de casos absurdos do Feliciano, e como você se tornou omissa a tudo isso? Olha pelo que eu passei e estou passando! Mais uma vez tenho a certeza que pessoas evangélicas não se importam com vítimas de crimes, mas sim com dinheiro, fama, holofotes e uma suposta moral da igreja.”
Na mesma semana, Patrícia também publicou em seu perfil do Facebook uma conversa em vídeo entre ela, sua mãe e uma pastora da mesma igreja de Marco Feliciano conhecida por Dani Alexandria, que confirma ter sido amante dele, além de cúmplice nas ocultações dos estupros e coações, já que era ela mesma quem oferecia dinheiro às vítimas para que se calassem, não denunciando o deputado, assim como ofereceu à Patrícia. Assista ao vídeo na íntegra aqui. https://www.facebook.com/927456067309372/posts/1981449791909989/
Em entrevista exclusiva aos Jornalistas Livres, feita por Viviane Ávila, Patrícia Lelis conta como conheceu a ministra Damares Alves, a pastora Dani Alexandria, e fala sobre a relação delas com Marco Feliciano, Magno Malta, a igreja neopentecostal e suas vertentes.
Jornalistas Livres: Como começou sua relação com a pastora Damares Alves?
Patrícia Lelis: Eu conheci a Damares dentro do PSC e sempre tive um bom relacionamento com ela. Quando parei de ir trabalhar na câmara por conta do estupro, logo nos primeiros dias ela me procurou, porque a Marisa Lobo, então psicóloga do Feliciano, já sabia do caso e pediu a ela para que conversasse comigo. Na mesma semana em que ela me procurou eu fui até o gabinete do Magno Malta, onde ela trabalhava, e conversamos. Mostrei todas as conversas, inclusive cheguei a atender uma ligação do Feliciano na frente dela. Ele me ligava com muita frequência, pois as pessoas na Câmara já estavam estranhando a minha ausência repentina. Foi então que ela me disse que tinha certeza sobre o estupro e que não duvidada da minha palavra e dos fatos, pois ela e a Marisa Lobo sempre ajudavam mulheres mais ou menos da mesma idade que a minha que também tiveram “problemas”, leia-se: estupro, com o Feliciano. Desde que ficou sabendo, a Damares me ligava todos os dias, segundo ela, para saber se eu estava bem. Também ligava para minha mãe para saber se eu tinha contado algo a minha família. Desde o início, ela me pediu para não contar nada, porque não poderíamos escandalizar a igreja e muito menos dar assunto para esquerda falar sobre os atos da então direita política e dos pastores. Eu ficava devastada a cada ligação que ela fazia e me perguntava se eu estava bem, mas logo em seguida ela me perguntava se eu tinha contado ou mostrado as provas para alguém.
Jornalistas Livres: E qual a sua relação com a outra pastora, Dani Alexandria, do vídeo que você publicou no Facebook no último dia 2? Como se conheceram? Eram da mesma igreja? Patrícia Lélis:A pastora Dani era da mesma igreja do Feliciano, em São Paulo. Ela me procurou via mensagem no Instagram, disse que tinha várias provas contra o Feliciano e que queria denunciar. Inicialmente eu achei que se tratava de outra vítima de estupro.
Jornalistas Livres: Mas, de acordo com o vídeo, a pastora Dani era amante dele e recebia dinheiro para manter segredo sobre o caso deles e ainda oferecia dinheiro a mando de Feliciano para meninas que eram estupradas se calarem… Por quem essas meninas eram estupradas? Por membros da igreja ou por ele mesmo? Patrícia Lélis:Exato. Eles eram amantes, Feliciano dava uma “mesada” a ela….e quando ele queria ter relações sexuais com outras mulheres, ela o ajudava a chegar nessas mulheres e, quando elas recusavam, o Feliciano abusava, estuprava. E a pastora Dani vinha logo depois oferecendo dinheiro para essas meninas não contarem o que ocorreu, e sempre com o mesmo papo de “não foi estupro, ele é um homem de Deus…”.
Jornalistas Livres: Quantos processos você move contra Feliciano e por quais razões? Patrícia Lélis: Um processo criminal, que é sobre o estupro, cárcere privado e sequestro, e um de danos morais.
Jornalistas Livres: Você também move processo contra Eduardo Bolsonaro, não é? Vi matéria sobre ameaças que ele teria lhe feito pelo whatsapp…
Patrícia Lélis:O processo de ameaça do Eduardo Bolsonaro foi aberto pela própria PGR logo após perícia no meu celular. Desde o dia em que o Eduardo, assim como outras pessoas do PSC ficaram sabendo do estupro do Feliciano, todos, sem exceção, tentaram me coagir a receber dinheiro em troca do silêncio, e quando viram que eu não aceitaria dinheiro, começaram as ameaças. Com o passar do tempo, eu fui tomando consciência do que estava acontecendo e comecei a não aceitar mais essas ameaças e então fui registrando ocorrência, e desde então pararam.
Jornalistas Livres: Ainda sobre o vídeo com a Dani, você o anexou como prova em algum processo? Pode dizer em qual processo ou se abrirá um novo? Patrícia Lélis: Minha defesa anexou todos os vídeos e conversas no processo contra o Feliciano sobre o estupro.
Jornalistas Livres: Quais as suas expectativas com relação às investigações e andamento dos processos? Patrícia Lélis:Sinceramente, nenhuma. Eu duvido que exista Justiça nesse tipo de caso e, com um STF que podemos questionar sua conduta, ainda mais agora com o Moro como ministro…
Jornalistas Livres: Você está morando fora do Brasil? Desde quando? Quais seus planos para o futuro próximo? Patícia Lélis:Tenho proteção, sim. Eu vim logo após o segundo turno. Meu marido é americano, e inicialmente pensamos em continuar morando no Brasil, porém, com a eleição de Jair Bolsonaro, o Mark achou que seria extremamente perigoso e também teríamos ainda mais gastos com segurança. Então resolvemos morar aqui e recentemente comecei meu mestrado.
Jornalistas Livres: Como você lida psicologicamente com toda essa situação?
Patrícia Lélis: Atualmente, eu estou bem, mas ainda não é fácil. A cada dia que se passa, eu tenho me tornado mais forte. Eu fiz a escolha de lutar todos os dias contra as pessoas que se acham acima da lei. A minha escolha foi permanecer viva, resistente e sempre contar aos quatro cantos do mundo o que é a direita política e principalmente a bancada evangélica. Jornalistas Livres: Cite as principais notícias falsas a seu respeito relacionadas a estes casos.
Patrícia Lélis: Nossa, essa é boa…São tantas. Mas as principais são: O laudo de mitomania, que já foi desmentido na Justiça, porque eu nunca me consultei com a Marisa Lobo e provei isso. E uma das mais absurdas também é sobre um suposto câncer no cérebro. Gente, isso é tão absurdo. Eu nunca tive câncer na vida, graças a Deus.
Jornalistas Livres: Quem é a Patrícia Lélis hoje, depois dessas violências todas?
Patrícia Lélis:Eu posso dizer que eu renasci e o feminismo me garantiu a liberdade do renascimento. Eu vivia em um mundo quadradinho, onde nunca podia falar minha opinião, e hoje eu entendo o que é o feminismo. O feminismo me trouxe novos sonhos, hoje eu posso não apenas sonhar, mas também acredito que eu posso realizar uma infinidade de coisas porque o mundo não é apenas dos homens. E o principal: O feminismo me ensinou que tudo que viola meu corpo, é estupro. E eu vou lutar até o fim contra toda a violência que sofri, não só por Justiça a mim, mas para incentivar todas as mulheres violentadas, seja de qualquer forma, a denunciarem.
Deputados Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro se abraçam e Eduardo Bolsonaro filma. Foto: Lula Marques/Agência PT
Outro Lado
Jornalistas Livres tentaram contato com a ministra Damares Alves, sem sucesso. Espaço será garantido à ministra para que manifeste suas convicções sobre este episódio e sobre os assuntos relativos a sua pasta.