Jornalistas Livres

Autor: Rogerio de Souza

  • ENEM 2017: conteudista, exaustivo e excludente

    ENEM 2017: conteudista, exaustivo e excludente

    Desde 2009, quando o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) foi reformulado e tornou-se instrumento para o ingresso nas universidades e institutos federais do país, sua prova passou a ser mais conteudista se comparada às experiências anteriores. Neste ano não foi diferente, observando-se o primeiro dia de prova (05/11/2017).

    Várias questões exigiram domínio de leitura, interpretação, capacidade de relacionar assuntos e o conhecimento contextualizado, tal como preconiza as orientações do exame. Muitos itens da disciplina de História tiveram nos textos âncoras para uma cobrança interpretativa das questões. Sociologia e Filosofia contaram com uma menor presença de perguntas que nas provas anteriores, embora com temas já conhecidos cobrados no certame (democracia, diversidade, moralidade, mundo do trabalho, liberdade, direitos, cultura, etnia, tecnologia, arte, participação da mulher na política, judicialização da política). No entanto, muitas questões demandaram conhecimentos específicos, especialmente nas áreas de Geografia e Filosofia, conforme selecionado abaixo:

    Questão 54 da prova amarela.

     

    Essa tendência, acentuada este ano, aproxima o ENEM dos vestibulares conteudistas como o da FUVEST para o ingresso na USP. Com isso, aqueles estudantes que tiveram melhores condições socioeconômicas e familiares para a preparação (estudaram em boas escolas e foram incentivados e auxiliados pelos pais), largaram na frente e certamente fisgarão as vagas dos cursos mais disputados, especialmente medicina, direito, arquitetura, engenharias, administração, etc. Mesmo o tímido sistema de cotas (50% das vagas destinadas aos egressos da rede pública de educação básica) não consegue dirimir tal injustiça persistente no sistema educacional brasileiro: os filhos das classes populares cursam a educação básica na precária escola pública (com raríssimas exceções), porém, muitos não atingem a nota mínima para ingressar nos cursos mais concorridos.

     

    Prova exaustiva

    A escolha do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) em dividir a aplicação do ENEM em dois finais de semana foi acertada e dialogou, de certa forma, com os resultados da consulta pública realizada no início do ano acerca da aplicação da prova (63,7% optaram pela mudança do exame para dois dias e 42% pela aplicação em dois domingos). Resolver 180 questões e elaborar uma redação em um período de 24 horas é insano e antipedagógico. Contudo, estabelecer que no primeiro dia os estudantes respondessem as questões de Linguagens e seus Códigos, Ciências Humanas e suas Tecnologias e produzissem uma redação, não se mostrou uma boa escolha. Aliás, esta não fez parte da consulta pública e ficou por conta da burocracia e dos técnicos do MEC, que, sem sensibilidade para se colocar no lugar dos estudantes, entenderam que mudar o texto dissertativo-argumentativo para o primeiro dia seria uma medida acertada. Muitos participantes saíram da prova reclamando de cansaço mental devido às leituras extenuantes dos enunciados dessas duas áreas de conhecimento.

    Na seção de Linguagens, os textos de apoio foram bem selecionados e diversificados (embora os de língua estrangeira fossem longos), no entanto, a leitura destes somada às questões de Ciências Humanas fatigaram os participantes prejudicando a feitura da prova. Pedagogicamente inadequada, a estratégia prejudica o desempenho cognitivo dos estudantes, um dos preceitos do exame nacional.

     

    Redação com tema específico

    Desta vez a redação não provocou a gritaria conservadora dos últimos anos, acusada de esquerdista, progressista e feminista. O tema escolhido insere-se no campo da inclusão, da invisibilidade social e trata de problemática pertinente à realidade brasileira. No lugar, entretanto, de discutir a inclusão do deficiente no sistema educacional brasileiro ou na sociedade de maneira geral, optou-se por indicar um assunto específico, raro em muitas licenciaturas do Brasil e comum apenas no segundo ou terceiro ano da graduação em Pedagogia. Assim, a nova banca do ENEM errou em exigir esse grau de conhecimento dos estudantes do Ensino Médio, não pela falta de importância da discussão, mas pela especificidade temática, pouco discutida, apesar de vivenciada e envolta em inúmeros problemas nas escolas do país.

     

    Novos / velhos rumos do ENEM

    Criado em 1998 e apresentado pelo MEC como auxiliar da escola para a construção do conhecimento do aluno, o ENEM surge num contexto internacional de valorização das avaliações padronizadas atreladas às políticas de responsabilização. O objetivo inicial do exame era a avaliação das competências e habilidades desenvolvidas pelos estudantes do Ensino Médio. Assim, a prova tinha como concepção ser um instrumento para mudanças curriculares, de acordo com o ideário de um mundo em transformação. Para isso, não exigia conhecimentos específicos e “decorebas”, recorria a interpretação, raciocínio lógico, conhecimentos contextualizados, interdisciplinaridade, etc.

    Desacreditado no início, o seu crescente sucesso levou muitas escolas a adotarem os seus eixos/áreas de conhecimento como referência. Com a transformação do ENEM em “instrumento funil” para ingressar no ensino superior público, essa prática se generalizou e hoje não encontramos muitos estabelecimentos de Ensino Médio que não se estrutura a partir do exame nacional.

    No entanto, o estilo do exame teve seus objetivos modificados ao longo do tempo e passou a ser uma grande estratégia no que diz respeito à “indústria” de escolas e cursinhos particulares e sistemas de ensino apostilado. Assim, criou novas demandas de conhecimentos por meio da avaliação nacional, induzindo uma transformação nos estabelecimentos escolares brasileiros, isto é, o ENEM se vestibularizou.

    Em outras palavras, o Exame Nacional do Ensino Médio metamorfoseou-se em uma prova que beneficia os estudantes que têm o “privilégio” de cursar escolas que recorrem aos sistemas apostilados e decorebas, que não precisam trabalhar durante o período da educação básica e recebem estímulos familiares para “vencer” através dos estudos. Portanto, o ENEM transformou-se em uma prova excludente e que se distancia cada vez mais da realidade escolar do país, desigual e para poucos.

     

    Agnes Cruz de Souza, professora no IFSP.

    Rogério de Souza, professor no IFSP.

  • OS 108 ANOS DOS INSTITUTOS FEDERAIS: desafios e incertezas

    OS 108 ANOS DOS INSTITUTOS FEDERAIS: desafios e incertezas

    Há 108 anos, no dia 23 de setembro de 1909, era assinado, pelo então presidente Nilo Peçanha (1909-1910), documento de criação da experiência escolar atualmente denominada Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT). Batizada naquele momento pela alcunha de Escola de Aprendizes e Artífices, a RFEPCT assistiu, nesses mais de 100 anos, expressivas transformações que podem ser percebidas pelas mudanças na sua designação: Liceu Industrial, Escola Industrial, Escola Técnica Federal, Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e finalmente Institutos Federais.

    A partir de 2008, com a lei 11.892, a RFEPCT viveu uma verdadeira revolução, expandindo-se para centenas de cidades brasileiras (principalmente nos municípios do interior), chegando a atender, em 2016, quase 1 milhão de estudantes. Atualmente a Rede é composta por 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (644 unidades), CEFET’s, Colégio Pedro II, Escolas Técnicas vinculadas a Universidades Federais e Universidade Federal Tecnológica do Paraná.

    Dos diversos estabelecimentos da Rede, aqueles que recebem a denominação de Institutos Federais (IF’s) passaram, nos últimos anos, por profundas transformações, principalmente no número de campus. Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, a RFEPCT limitava-se a 140 campi, hoje são 644 unidades organizadas em 38 Institutos Federais.

    Fonte: MEC/2016

    Uma das particularidades dos IF’s é a verticalidade de ensino, ou seja, uma mesma unidade oferta cursos técnicos de nível médio (Educação básica), cursos superiores (Tecnólogo, Bacharelado e Licenciatura) e pós-graduação. Assim, os estudantes de diferentes faixas etárias utilizam-se da mesma estrutura educacional para o desenvolvimento do seu processo de ensino aprendizagem. Além disso, o corpo docente se vê diante do desafio pedagógico de trabalhar com distintas modalidades de ensino. Os diversos estudantes também compartilham as salas de aula, biblioteca, auditório, laboratórios, etc.

    Portanto, num ambiente escolar inovador, o discente da Educação básica assiste aula com o mesmo docente que se responsabiliza por componentes curriculares nos cursos de graduação e pós-graduação. Pretende-se, assim, que a comunidade interna não se limite a solicitar dos IF’s apenas o ensino aprendizagem, mas, encorajados pelos diferentes cursos do ensino superior e a verticalidade, todos os discentes interessados, independente da modalidade, desenvolvam pesquisa e extensão.

    Para organizar a quantidade de alunos em cada nível de ensino, na lei de criação dos Institutos Federais adotou-se a regra que ficou conhecida como 50/20/30: 50% das vagas destinadas aos cursos técnicos de nível médio, preferencialmente para os cursos integrados; 20% das vagas para as licenciaturas e/ou formação de professores; e 30% para outros. Além disso, os IF’s deverão ofertar vagas para a modalidade PROEJA. Também preocupado com a política de acesso aos seus bancos escolares e seguindo a legislação de inclusão educacional, os Institutos Federais adotaram o sistema de cotas (racial e social), destinando 50% das suas vagas para os egressos da rede pública de ensino, negros e indígenas.

    Os primeiros frutos dessa inovadora experiência educacional iniciada em 2008, mas alicerçada nos antigos estabelecimentos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) desenvolvidos no país, já podem ser mensurados a partir dos resultados dos sistemas massivos de avaliação. O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aponta que os estudantes dos Institutos Federais têm índices acima da média nacional em Ciências, Leitura e Matemática.

     

    Comparação das notas da Rede Federal com as de países avaliados no teste. Arte: CONIF

    No ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), as escolas da Rede Federal figuram entre as melhores do país, ranqueadas em relação àqueles estabelecimentos privados de ensino que cobram mensalidades inacessíveis a 97% da população brasileira. Portanto, os IF’s constituem-se em uma rede de Educação pública e de qualidade.

     

    Fonte: MEC/INEP. ENEM 2014*

    Mesmo diante de números expressivos, a existência dos Institutos Federais não é consensual no Ministério da Educação (MEC) e frequentemente autoridades esbravejam frases contra os antigos CEFET’s. A principal acusação é que os IF’s seriam caros e ineficientes. Essa queixa é proliferada principalmente pela secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro. “Aliás, nem sei ainda que países têm universidades públicas plenamente gratuitas para todos, independente da situação socioeconômica. O Brasil não pode ficar fora do mundo real”, disse Castro em fevereiro do ano corrente em reunião com a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituição Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (PROIFES).

    Além de ouvir a acusação, em alguns momentos com dedo em riste, de que são caros e ineficientes, os Institutos Federais correm o risco de assistir a deformação do seu projeto pedagógico. Um dos pressupostos educacionais dos IF’s é a formação integral do educando e, para isso, compreende-se o trabalho como princípio educativo e a multilateralidade como condição para se alcançar um processo de ensino aprendizagem global. Dessa maneira, a partir da categoria trabalho e desenvolvendo-se de forma interdisciplinar as dimensões técnica, científica, cultural e política, busca-se um egresso formado/formando para o mundo do trabalho e não apenas para determinado emprego.

    No entanto, a reforma do denominado “Novo Ensino Médio” e a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) colocam, no limite, a proposta pedagógica dos Institutos Federais em suspenso, isto é, no campo da incerteza. Com a imposição para que todos os secundarias brasileiros recebam 1.800 horas de formação comum (atualmente são 2.400) e que após esse período “escolham” um dos cinco itinerários formativos (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Sociais e Formação Técnica e Profissional), os IF’s e/ou todos os estabelecimentos da RFEPCT podem ser impelidos a ofertar cursos técnicos concomitantes para as escolas públicas que não apresentarem condições para isso.

    Diante dessas incertezas, ventilou-se a transferência dos Institutos Federais para a alçada do Sistema S, mais especificamente o SESI/SENAI, ou a transformações dos IF’s em estabelecimentos que ofertariam exclusivamente cursos de graduação e pós-graduação, descaracterizando o projeto inicial de verticalidade e cursos técnicos integrados. “Os dirigentes indicaram que as entidades [Confederação Nacional da Indústria, Confederação Nacional do Comércio, Senai e SESC] podem bancar os cursos e toda a estrutura dos Institutos Federais de Ensino, os chamados IFs, e ajudar o Governo a construir as creches em parcerias com prefeituras” (encontro em 2015 entre dirigentes do Sistema S e o governo federal).

    Paralelamente a essa discussão de fora para dentro, os Institutos Federais, como quaisquer outros estabelecimentos de ensino, enfrentam questões locais: estrutura física aquém da necessária, diminuição dos recursos destinados à sua manutenção, dificuldade para cumprir a regra 50/20/30, problemas para ofertar cursos na modalidade PROEJA, discussão sobre a duração dos cursos técnicos integrados ao ensino médio (4 ou 3 anos) e dificuldade para definir a sua identidade.

     

    Instituto Federal de São Paulo

    No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) encontramos muitos dos problemas apontados acima, com alguns agravantes. Em meados da década passada, o IFSP limitava-se a 3 campi e atualmente são 36 unidades espalhadas pelo Estado. Assim, num período curto, o antigo CEFET-SP tornou-se o maior Instituto Federal do país com mais de 40 mil estudantes. Diante disso, adensa-se a tese que esse IF precisa se dividir para melhorar a sua capacidade gerencial. No final de 2015 e início de 2016, antes do processo de impeachment, a reitoria divulgou um documento que solicitava, junto à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), a divisão. Como este processo é moroso, envolve significativa quantia de dinheiro (criação de inúmeros cargos) e o atual governo congelou os gastos e investimentos na esfera pública, a partilha do IFSP é incerta.

     

    ***

    Uma instituição centenária que desenvolve uma Educação básica de qualidade e pública, como todos os índices revelam, encontra-se hoje na berlinda e corre o risco de naufragar próximo à praia. Espera-se, todavia, que o governo federal siga a legislação e respeite a autonomia dos estabelecimentos vinculados a RFEPCT e não interrompa projeto em pleno desenvolvimento.

    Diante de tantas incertezas, teme-se que a experiência dos Institutos Federais sofra consequências, apesar do caminho certeiro e resultados inquestionável. Dessa forma, urge a mobilização e, no limite, a resistência daqueles envolvidos diretamente e/ou atendidos em algum momento pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

     

    • O desempenho dos Institutos Federais no ENEM/2015 não foi divulgado inicialmente pelo MEC/INEP, dificultando uma comparação com as demais escolas.
  • A resistência do Quilombo do Carmo em São Roque por direitos e justiça

    A resistência do Quilombo do Carmo em São Roque por direitos e justiça

    O Quilombo do Carmo está localizado no espaço rural de São Roque, nos limites com Cotia e a pouco mais de 70 quilômetros de São Paulo. Pressionado econômica, política e socialmente pela expansão urbana e da especulação imobiliária, seu território é suprimido a cada dia pelos interesses unilaterais de políticos locais em aliança com incorporadores de terras. O que culminou com a ocupação quilombola de novas terras no local, acentuando as tensões entre a população remanescente, órgãos federais, a municipalidade, moradores de condomínios de classe média e latifundiários.

    Conforme dados levantados pelo projeto do Instituto Federal de São Paulo (2016) “Remanescentes quilombolas do Carmo: a luta por memória na terra de direitos”, houve grave redução do território quilombola do Carmo entre os períodos de 1919 a 2009, sendo que os 2.175 alqueires iniciais foram reduzidos a 6,6 alqueires, tendo a população da comunidade vivenciado na prática a perda de 99,72% do território original. Além disso, o que resta, está em litígio pela não demarcação e titulação.

    Mesmo se tratando de uma comunidade remanescente quilombola, nacionalmente reconhecida pelo Ministério da Cultura por meio da Fundação Palmares, com amplo acervo documental, que comprova sua trajetória histórica e de resistência, a morosidade na demarcação e titulação da propriedade definitiva pelo INCRA tem provocado diversos problemas e dificuldades. Destes, a perda de importantes referenciais ligados a sua ancestralidade com o território, o racismo institucional, a dificuldade de autonomia produtiva, alimentar e profunda exclusão social.

    Diante destes fatos, organizados e mobilizados, os remanescentes quilombolas decidiram, ao final do mês de março de 2017, pela ocupação de uma gleba de terras adjacentes ao bairro do Carmo, onde acampam atualmente 25 famílias, já fazendo uso do espaço por meio do plantio de hortaliças e o estabelecimento de hortas, instalando moradias e espaços comunitários. Conforme explica uma das mulheres quilombolas no local, “chegamos a segunda metade de abril mais fortes e organizados do que nunca”.

     

     

    Foto: Somos todos Quilombo do Carmo #titulaçãojá – 08/04/2017

    Apesar do relato, há simultaneamente uma insegurança cotidiana, considerando, entre outros fatores, o episódio da prefeitura de São Roque perpetrar pedido de reintegração de posse no Tribunal de Justiça de São Paulo (Processo: 1001459-18.2017.8.26.0586) da área ocupada pela comunidade. Fato que resulta numa contínua insegurança e maior possibilidade de conflito. Em carta aberta a população de São Roque e região, os moradores explicaram que “[…] depois de anos lutando através de associações e por diversos meios legais entramos nos seguintes entendimentos: iria se passar mais e mais anos e infelizmente estaríamos sem respostas, nossas terras comprovadas através de estudos antropológicos feito pelo MPF, simplesmente nas mãos de terceiros, e eles grandes fundiários de terras fazendo diversos condomínios com elas e nossos filhos nascendo. Sem nossa luta seria ainda mais difícil recuperar nossas terras, hoje somente com mato por cima dela, seu uso está difícil, imagina com grandes empreendimentos em cima dela, seria praticamente impossível.”

     

    Foto: Rafael Oliveira (IFSP) – 08/04/2017

    A área ocupada pelos quilombolas estava até então sem uso social da terra, somente com uma construção abandonada da companhia telefônica nos limites da área e instalações irregulares de um relógio de força do condomínio vizinho. Segundo um dos moradores locais, trata-se de uma forma indébita e estratégica legalmente de apropriação do território coletivo quilombola por agentes privados com o apoio político municipal.

    Além dos estudos, acervo documental, laudos do ministério público federal, do reconhecimento pelo MinC/Fundação Palmares, que comprovam, reconhecem e dão sustentação administrativa para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes do Quilombo do Carmo, esta ocupação torna-se ainda mais legítima por reverberar às novas demandas da população, que cresceu e carece de autonomia, sobretudo ser capaz de reprodução física, social, econômica e cultural, como institui o Decreto 4887/2003.

    Foto: Luca Bonando (URE) – 08/04/2017

     

    A ocupação “Somos todos Quilombo do Carmo – Titulação Já” resiste às pressões policiais, jagunços e capangas que apertam os arames das propriedades locais e aos políticos que articulam a saída e dissolução da ocupação. No entanto, o movimento de luta também vai gradativamente ganhando apoio regional, destacando-se a contínua presença da Frente Popular e União Regional dos Estudantes de São Roque (URE), o Instituto Federal de São Paulo, o Ministério Público Federal, além da população civil organizada, conscientes da necessidade de justiça social e o pleno desenvolvimento das populações quilombolas junto a seus direitos e o fortalecimento das políticas étnico-raciais.

    Os interessados em ajudar a ocupação poderão entrar em contato com o movimento através da página: https://www.facebook.com/search/top/?q=quilombolas%20do%20carmo

     

     

    Rafael Fabrício de Oliveira, professor do IFSP.

    Rogério de Souza, professor do IFSP.

  • HOJE A AULA É NA RUA: dia de luta em São Roque

    HOJE A AULA É NA RUA: dia de luta em São Roque

    Neste 31/03, dia caracterizado pelo Golpe de 1964 e, a partir de agora, por manifestações em todo o país contra as medidas do governo de Michel Temer, a cidade de São Roque (SP) promoveu uma série de atos pelas ruas do município.

    Convocada por diferentes entidades atuantes na região – Frente Popular de São Roque, Sindicado dos Professores das Escolas Públicas Municipais (SIPROEM), Sindicado dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), União Regional dos Estudantes (URE), Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) e Intersindical -, as atividades contra as Reformas da Previdência e Trabalhista e a Lei de Terceirização iniciaram às 10h30. Mesmo sob ameaça de sofrer sanção de falta injustificada (circular emitida pelo poder local), docentes da Rede Municipal compareceram e votaram pela adesão à Greve Geral agendada para o dia 28 de abril. Em alto e bom som, o recado às autoridades é o de que haverá luta e esta não se restringirá ao dia de hoje.

    Estudantes e professores da Rede Estadual juntaram-se ao grupo e panfletaram pelas ruas da região central conversando e explicando à população as consequências das reformas e leis pretendidas e aprovadas pelo governo Temer. A atenção e interesse da população são-roquense surpreendeu alguns dos jovens e rapidamente ecoou-se um “Fora Temer”. Parte dos transeuntes, indignados com as medidas do governo federal que prejudicam especialmente os mais pobres também gritaram “Fora Temer”.

    Na praça central (da Matriz), os professores e estudantes das Redes Municipal e Estadual foram recepcionados pelos alunos do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Assim, mais de duzentos manifestantes saíram pelas ruas da cidade esclarecendo sobre os malefícios causados pelas reformas e leis de Temer.

    Após 45 minutos de caminhada, os manifestantes reuniram-se no Centro Cultural e Educacional Brasital, uma antiga fábrica construída no final de século XIX. Em uma Assembleia provocada pela URE, os presentes lembraram que além dos problemas nacionais (Reformas da Previdência, Trabalhista, do Ensino Médio, PEC 55 e Lei de Terceirização), questões locais precisariam ser discutidas, principalmente a perseguição aos servidores públicos que participam de manifestações contra a tentativa de usurpar os direitos dos brasileiros; a qualidade e falta das merendas oferecidas nas escolas públicas; a qualidade do transporte público; e a interrupção dos cursos culturais da Brasital. Dessa forma, concordaram que aquele protesto deveria pressionar os vereadores para esses problemas serem sanados.

    Sob sol forte e desbravando as conhecidas ladeiras da Terra do Vinho, os manifestantes caminharam até a Câmara de Vereadores de São Roque. Lotando o plenário, foram recebidos, às 15h, por quatro vereadores. Estes ouviram atentamente as reivindicações e se comprometeram a dar uma devolutiva, o mais rápido possível, aos movimentos sociais da cidade.

    A determinação da juventude e o grau de conhecimento sobre as medidas do governo Temer se destacaram. Um dos vereadores tentou intimidar um dos jovens expositores questionando sobre as consequências da Reforma da Previdência. O estudante, de maneira brilhante, expôs a dificuldade das novas gerações contribuírem por 49 anos consecutivos para pleitear a aposentadoria integral; a injustiça de determinar a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres (vítimas da jornada dupla) se aposentarem; e o fato que algumas grandes empresas sonegarem o pagamento da Previdência Social.

    Esses manifestantes, especialmente os jovens, deram uma aula de cidadania e demonstraram que no mundo atual a rua é, em alguns momentos, a melhor sala de aula. Portanto, “hoje a aula é na rua”.

     

    Vídeo dos manifestantes na Câmara de Vereadores de São Roque:

    http://https://www.youtube.com/watch?v=lWmkSnWQI_s

  • Lollapalooza 2017: bons shows, desorganização e discurso político

    Lollapalooza 2017: bons shows, desorganização e discurso político

    O Lollapalooza 2017, um dos maiores festivais musicais de massa que ocorre no país, foi marcado por manifestação contra a presidência da república (“Fora Temer”), melodia da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, “Olé, Olé, Olé, Olá, Lula, Lula”, repúdio ao discurso machista, costumeiro ecletismo cultural, bons shows e muita desorganização.

    A desorganização e desrespeito ao público foram verificados nas gigantescas filas nos bares (até 1 hora de espera), a pane no sistema Lolla Cashless e problemas no abastecimento de cerveja (sábado). Passou-se a impressão que os organizadores não esperavam um público de 190 mil pessoas, recorde no Lollapalooza Brasil.

    O ecletismo cultural pôde ser notado, mais uma vez, nos diferentes estilos musicais das apresentações, de Metallica a Maschemello, passando por Rancid, Duran Duran, Tegan and Sara, entre outros. O público também era variado, dos adolescentes fãs de música pop com flores na cabeça a famílias inteiras vestidas de preto, especialmente com a camisa do Metallica. Aliás, o show do Metallica foi um grandíssimo espetáculo. Apresentou as músicas do novo álbum, mas não deixou de tocar as suas canções clássicas, levando o público ao delírio. A simpatia dos metaleiros e disposição no palco chamaram a atenção dos mais de 90 mil fãs.

    Mesmo caracterizado por um público tão dispare, os participantes demonstraram relativa sintonia quando o assunto era preconceito e a tentativa de extinguir direitos arduamente conquistados pela população brasileira. No show da banda brasileira Baiana System, ouvimos sonoros “Fora Temer”, e o vocalista não se conteve e estourou: “A voz do povo é a voz de Deus”. Reafirmando o seu engajamento político, o grupo estendeu uma bandeira contra a reforma da previdência.

    Esse discurso político também foi registrado no palco principal com o grupo Cage The Elephant, quando a banda entoou a melodia da canção de uma das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva, “Olé, Olé, Olé, Olá, Lula, Lula”. O público rapidamente identificou a música e começou a gritar: “Olé, Olé, Olé, Olá, Lula, Lula”. Alguns podem concluir que o público cantou, na realidade, “Lolla, Lolla”. Mas muitos presentes, surpreendidos com a melodia, celebraram “Lula, Lula”.

    No show de Criolo o “Fora Temer” tornou-se uma espécie de mantra que em diferentes momentos o público empunhou contra o atual mandatário do país. Sem pronunciar o esperado “Fora Temer”, o rapper, após mais uma participação calorosa da plateia, soltou: “Manda esses caras saírem das trevas. Chega de desigualdade”. Com seu habitual ar professoral, Criolo lembrou para os presentes que “Qualquer mulher que você mexer no rolê é um ato de violência. Diga não à cultura do estupro”. O discurso anti-machista foi aplaudido por todos, menos pelos organizadores do evento que convidou o artista Borgore, caracterizado por vociferar uma visão misógina, como lembrou a apresentadora Titi Müller.

    Antes de terminar a sua apresentação, Criolo reafirmou a sua visão sobre o que vem acontecendo no Brasil. Resgatou o rap “Colarinho branco” de Duck Jam e Nação Hip Hop e repetiu o refrão “Colarinho branco dá o golpe no Estado, no Estado, no Estado”, enfatizando “o golpe”, “o golpe”, “o golpe…”

    O público do Lollapalooza 2017, formado principalmente por jovens de classe média (os ingressos custavam R$ 450,00 e o pacote para os dois dias girava próximo a R$ 900,00), confirmou um sentimento que aumenta em diferentes regiões do país, independente da condição social, o repúdio ao governo Temer. Associando-se o fato às esvaziadas manifestações convocadas pelo MBL e Vem Pra Rua deste domingo, pode-se concluir que a classe média, que serviu de esteio para o processo de impeachment de Dilma Rousseff, está pulando fora do barco desgovernado por Michel Temer.

    Foto: Agnes Cruz de Souza

    Vídeo do Cage The Elephant

     

    Lula, Lula (Cage The Elephant)

  • Aula pública em São Roque sobre a Reforma da Previdência

    Aula pública em São Roque sobre a Reforma da Previdência

     

    Diante das incertezas geradas pelo projeto que propõe a Reforma da Previdência, distintas organizações da região – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus São Roque (IFSP/SRQ), Sindicato dos Professores de Sorocaba e Região (SIPROEM/APE-SR), Frente Popular de São Roque, União Regional dos Estudantes (URE), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) e Intersindical – uniram-se para realizar o evento intitulado “Aula Pública sobre a Reforma da Previdência”, no dia 16 de março de 2017, às 19h30 horas, na Câmara dos Vereadores de São Roque (localizada na rua São Paulo, 355 – Centro, São Roque – SP).

     

    A cidade de São Roque tem se destacado na luta contra a tentativa do governo Temer de retirar direitos arduamente conquistados pela população brasileira. No segundo semestre de 2016, o município de 85 mil habitantes registrou uma grande passeata pelas principais rodovias e ruas da cidade; aulas públicas na região central; ocupação do campus do IFSP pelos estudantes e panfletagem nos principais bairros mostrando as consequências da PEC 241/55 (PEC do Fim do Mundo) e da Reforma do Ensino Médio.

    Para discutir os pontos negativos e positivos do texto encaminhado pelo governo Federal ao Congresso Nacional que versa sobre mudanças no sistema previdenciário brasileiro, os organizadores convidaram o Prof. Me. Alequexandre Galvez Andrade (IFSP) e Prof. Dr. Nelio Fernando dos Reis (IFSP), estudiosos do tema.

    O evento é aberto a todos. Não é necessário realizar inscrição prévia e será emitido certificado.

     

    Prof. Me. Alequexandre Galvez Andrade (IFSP): Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo (FECAP), Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté, Especialização em Controladoria pelo Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa, Especialização MBA em Gestão de Negócios em Controladoria e Finanças pelo Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa, Especialização MBA em Gestão de Negócios pelo Centro Universitário de Maringá, Especialização MBA Executivo Internacional pelo Centro Universitário de Maringá.

     

    Prof. Dr. Nelio Fernando dos Reis (IFSP): Possui Pós-Doutorado em Engenharia de Produção, Doutorado em Engenharia de Produção e Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Paulista (UNIP), MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, MBA em Finanças e Controladoria pelo Centro Universitário Padre Anchieta e Bacharelado em Administração com Habilitação em Finanças pela Universidade São Francisco (2001). Possui certificação profissional em Investimentos Avançados – série 20 pela ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. Possui diversas pesquisas e trabalhos publicados em periódicos internacionais em Administração e Engenharia de Produção. É autor da obra Cenários Empresariais: a construção lógica de futuros possíveis nas empresas, 2013.