Jornalistas Livres

Autor: Leonardo Milano

  • A fé que move o povo: Tradição, (re)existência e vivência cultural do Çairé de Alter do Chão (PA)

    A fé que move o povo: Tradição, (re)existência e vivência cultural do Çairé de Alter do Chão (PA)

    Por Tainá Aragão, Fotos: Leonardo Milano Jornalistas Livres

    “Salve a criança que está dentro de ti”, esse é um dos significados da palavra Çairé, que nomeia a festa tradicional de mais de 300 anos no Oeste do Pará, especificamente, Alter do Chão, Vila do município de Santarém. O grande festejo se inicia com a procissão fluvial, que percorre o rio Tapajós até o Lago Verde, pela busca de dois mastros, troncos de madeira que sustentam, do início ao fim, o sentido estruturante da festa: distribuir abundância para toda comunidade.

    Geralmente, o Çairé abrange cinco intensos dias com festejos que se mesclam entre o divino e profano, neste ano, devido à pandemia, a festa se concentrou em dois dias, entre 17 e 18 de setembro, focada principalmente no rito religioso. Com a adaptação da festa para o atual contexto, a comunidade conseguiu reforçar o significado real da celebração, que está atrelado à fé e sincretismo luso-indígena. O grupo comunitário que organiza a festa, conhecido por “Corte do Çairé”, é formado pelos seguintes componentes: Juiz, Juíza (“donos da festa”), os mordomos e mordomas, procuradores, rezadeiras, o grupo de Folia – Espanta Cão e a Saraipora: que carrega o símbolo do Çairé.

    Osmar Vieira, jovem juiz do Çairé deste ano e já nomeado para o festejo de 2021, herdou a tradição da festa pelos seus avós, e explica que o Çairé realizado durante essa pandemia, apesar de todas as dificuldades financeiras e boa parte da programação ser inviabilizada, se aproximou como poucas vezes, da festa celebrada antigamente.

    “Essa festa religiosa é que realmente tem mais 300 anos, o lado profano que é representado pelos Botos é mais recente, começou após 1996. Esse ano tivemos a oportunidade de mostrar o que realmente é o rito religioso. O rito religioso é muito grande, é a fé o que faz o Çairé acontecer. Como eu aprendi vivendo o Çairé pelos meus avós, digo que é fundamental termos feito essa festa, porque não se trata de somente preservar, nós estamos vivendo. Viver não é apresentar uma festa, é assumir o cargo e lutar pela tradição”, explica.

    Cada momento, da busca à derrubada no mastro, representa um convite ao encontro coletivo para atrair e agradecer a abundância tanto material quanto imaterial da comunidade. Os elementos e símbolos que compõe a festa representam uma espécie de louvor ao Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. Apesar da forte presença da matriz religiosa-cristã, a festa ficou proibida por parte da Igreja Católica por 30 anos, a partir de 1943, e só voltou a ser celebrada pela grande insistência das mestras\es do Çairé.

    Mesmo com a reconciliação da Igreja com a festa, o Çairé não deixou de preservar suas matrizes indígenas Borari. Os elementos indígenas aparecem, principalmente, através das danças tradicionais: quebra-macaxeira, desfeiteira e o macucauá e com a distribuição do Tarubá, bebida indígena produzida através da fermentação da mandioca, momento no qual a Corte do Çairé e todos os visitantes brindam o fechamento de mais um ciclo de celebração.

    Espanta Cão

    Espanta-Cão é a folia do Çairé composta por oito homens de Alter do Chão, o grupo musical é responsável por conduzir o ritmo da festa, da alvorada ao encerramento. Diariamente, a festa começa com um cântico de madrugada: “Alvorada é Alvorada, de manhã ou de madrugada”, cantada na penumbra das 5h da manhã no barracão de palha tecido pelos comunitários especialmente para a festa.

    O nome do grupo se deve a forma de tocar a rabeca, que reproduz o gestual de uma cruz. Acredita-se que com essa forma de tocar o instrumento, o grupo possui o poder de afastar as coisas ruins que rondam a festa. “Espantar o cão” e trazer a alegria são as principais obrigações dos músicos. O grupo transita entre o divino e profano do Çairé, como explica o mais jovem folião, Hermes Caldeira.

    “O Espanta-cão foi montado nos anos 70 com a retomada do Çairé, somos músicos de ouvido, não estudamos, aprendemos com os mestres e tocamos em todos os momentos da festa. No rito religioso, acompanhamos as ladainhas do Divino e da Santíssima Trindade, cantadas em latim, no momento profano, que encerra a festa, tocamos o lundu, macucauá, o quebra-macaxeira, nesse momento, somos a folia.”

    (Re)existir

    A ressignificação da festa de 2020 trouxe uma espécie de apropriação comunitária mais integral do Çairé, que nos anos anteriores contava com forte apoio comercial da Secretaria de Cultura de Santarém. Neste ano, com a falta do apoio financeiro, a participação de jovens que nunca haviam se interessado diretamente pela preservação do rito religioso, foi essencial para a festa acontecer. A jovem Maria Eulália, que compôs a comissão organizadora deste ano, explica a importância de ter feito parte da construção do Çairé 2020.

    “Foi muito emocionante, principalmente para nós jovens, pois é a nossa história, é em defesa do nosso povo, não é uma festa qualquer. Por isso, o tema deste ano foi “A fé que move o povo”, nada melhor que contar a nossa história com essa palavra: a fé. Mais uma vez a fé veio e se estabeleceu na comunidade. Independente da crença, é uma só fé”, diz Eulália.

    Em meio a uma pandemia, na qual a desesperança mareja os dias de luto intermitente que o país vivencia, o resgate da fé popular é capaz de reavivar as esperanças de uma comunidade. As ruas e as casas de Alter do Chão se enfeitaram com fitas de cetim, bandeirinhas e símbolos para receber com beleza e abundância esse sentimento unificador: a fé no povo.

  • Çairé 2020: beleza, sincretismo e o “novo normal”

    Çairé 2020: beleza, sincretismo e o “novo normal”

    Por: Leonardo Milano, em parceria com O Boto

    Com mais de 300 anos de tradição e comemorado no mês de setembro, o Festival Çairé é uma grande manifestação folclórico-religiosa, de encontro entre a cultura indígena amazônica e a religião católica, introduzida com a chegada dos jesuítas. De origem indígena, a festa foi sendo modificada pelos portugueses ao longo dos anos e, hoje, todos os ritos e ladainhas são cantados em latim. Em 2005, a prefeitura de Santarém determinou que a palavra Çairé passasse a ser escrita com “s”, para se adequar à língua dos colonizadores.

    Devido à Covid-19, o Çairé desde ano acontece de forma reduzida, para evitar aglomerações. Na última quinta-feira (10), o festival iniciou sua programação, com a Missa em Ação de Graça, seguida da Procissão Fluvial e da Carreata pelas ruas de Alter do Chão. Com o “novo normal”, trazido pela pandemia, as máscaras de contenção passaram a fazer parte do figurino dos participantes. 

    A programação do Çairé de 2020 segue no dia 17 e se encerra no dia 19/09, com distribuição de Tarubá – bebida típica indígena – e a apresentação do grupo Espanta Cão. Confira a programação completa do Çairé deste ano, e as fotografias do primeiro dia do festival. 

    Saiba mais em Sairé: a verdadeira resistência

  • Invasores são eles, diz líder indígena sobre nota da Funai

    Invasores são eles, diz líder indígena sobre nota da Funai

    Por Tatiana Scalco |Parceria com Ciranda net

    No dia 05 de maio de 2020, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) publicou nota assinada pela sua assessoria de comunicação onde diz que “nos últimos anos a política indigenista brasileira restringiu-se ao assistencialismo subserviente e ao paternalismo explicito com aplauso das ONGs (…)”
    As declarações contidas na nota repercutiram. O Movimento Indígena se posicionou, repudiando-a. No dia 06 de maio a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) publicou nota pública rebatendo veementemente as acusações falaciosas da FUNAI (link http://apib.info/2020/05/06/nota-publica-contra-as-falaciosas-acusacoes-da-funai/).
    A APIB destaca que ao contrário do que está escrito na nota, “a Constituição Brasileira de 1988, especialmente em seus Artigos 231 e 232 rompeu com a lógica tutelar, assimilacionista, integracionista, portanto genocida e etnocida, vigente desde o ano de 1500 na relação do Estado brasileiro para com os povos originários de nosso país”.

    “Quem são os estranhos a essa terra são eles” Kahu Pataxó (MUPOIBA)

    O coordenador executivo do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Kahu Pataxo, repudiou a declaração da FUNAI em nome dos povos indígenas. Kahu fala que o repudio se dá primeiro pela FUNAI por chamar os indígenas de invasores. “(…) Invasores são eles! Quem são os estranhos a essa terra são eles”, reforça. Ele continua destacando que há muito tempo acontece a luta dos indígenas pelo seu território. “Aqui (o Brasil) se dizia parte da Coroa Portuguesa e nós já existíamos enquanto movimento e já fazíamos a resistência”, diz. E completa, “o que temos visto aqui é uma luta muito mais religiosa, do que de fato por entendimento do direito estabelecido pela Constituição. A gente repudia esse posicionamento”.

    Kahu continua comentando que o Mupoiba estuda entrar com uma ação contra a FUNAI. Pois consideram que a posição apresentada pelo órgão na nota “é uma posição extremamente discriminatória contra os povos indígenas. Chamar os índios de invasores é exatamente fazer aquilo que os de fora e aqueles que são contra os povos indígenas têm feito”. Ele continua destacando que essa forma de ação da FUNAI “se posicionado contra os povos indígenas” demonstra que “ela não tem cumprido o papel dela”. E conclui dizendo que “essa nota da FUNAI é uma nota descarada, sem vergonha e sem respeito nenhum aos povos indígenas”.

    Para a APIB o “governo Bolsonaro é subserviente aos interesses das grandes corporações empresariais transnacionais do agronegócio e da mineração, afronta o texto Constitucional de nosso país e tenta impor a ideologia da tutela, do assimilacionismo, inclusive religioso, do integracionismo, a negação dos direitos fundiários, a negação do direito de usufruto exclusivo das terras, favorecendo as invasões, a grilagem e a exploração das mesmas por terceiros não-indígenas.”

    A cacica Maria Pataxó repudia as palavras do presidente da Funai. Ela destaca que “queremos respeito”. Sobre o atual presidente da FUNAI fala que “nós não precisamos que alguém (…) que vêm desfazendo dos nossos direitos (e) não respeita os direitos dos nossos tradicionais”. Xawâ Pataxó, jovem liderança indígena, complementa que a nota publicada é um “ato enganoso desse presidente militar, que não tem algum sobre as pessoas. Que não tem pensamento algum, competência alguma, para estar a frente de um órgão como a Funai”

    Agnaldo Tupinambá, coordenador regional do MUPOIBA na região Sul, também reforça o repudio às declarações feitas na nota publicada pela FUNAI. Destacando que “iremos reagir a altura, dentro da justiça, procurar os mecanismos legais para fazer a defesa dos nossos direitos”.

    “essa declaração do atual presidente da Funai, apesar da absurda, não nos surpreende mais” Vladimir Correa (DRDH/BA e ANADEF)

    O Defensor Regional de Direitos Humanos na Bahia (DRDH/BA) e vice-presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais (ANADEF), Vladimir Correa, comenta que “essa declaração do atual presidente da Funai, apesar da absurda, não nos surpreende mais. Pois temos visto (que) no atual governo, principalmente, os órgãos que visam defender direitos humanos e populações tradicionalmente excluídas são ocupados por pessoas despreparadas. Ou melhor, pessoas que são contrárias até a própria causa que o órgão que elas se enquadram procuram defender”.

    “a nota da Funai é um reflexo do governo Bolsonaro” Marcelo Bloizi (UFBA).

    Segundo o prof. Marcelo Bloizi da Universidade Federal da Bahia “a nota da Funai é um reflexo do governo Bolsonaro”. Bloizi destaca a importância da participação dos atores sociais responsáveis pelo aperfeiçoamento e criação da política pública indigenista (ou seja, os indígenas). E completa dizendo que eles (indígenas) não estão protagonizando essa discussão. E finaliza perguntando: quem são os indígenas que estão participando desta construção (no atual governo federal)?

    Resposta do CIMI às denúncias feitas pela NOTA da FUNAI

    Procurado pela reportagem, o secretário executivo do CIMI, Antônio Eduardo C. Oliveira declarou que:

    “A nota da FUNAI é desprovida da verdade, sem cabimento, sem sentido algum. A FUNAI tenta se eximir da responsabilidade, nesse período da Pandemia. Responsabilidade essa que cabe a ela dar assistência às comunidades indígenas, proteger os direitos indígenas e proteger os territórios indígenas. Isso ela tem que fazer.

    (A FUNAI) recebeu os recursos para poder comprar as cestas básicas para as comunidades indígenas e até hoje não deu retorno, não deu resposta, como está sendo gasto esse dinheiro, como está sendo ofertado às comunidades indígenas, esse direito básico para essas comunidades que estão isoladas e se protegendo do Coronavírus. Ela deveria se colocar para a sociedade dando essa satisfação, e principalmente para os povos e comunidades indígenas.”

    Áudio 1: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

     

    Ele continua comentando sobre o descompromisso da atual gestão da FUNAI em relação ao interesse público, na defesa da própria FUNAI, dos direitos indígenas e da soberania do povo brasileiro. Oliveira fala que essa gestão da FUNAI se pauta por um discurso colonialista, retrogrado e assimilacionista, sem compromisso com a verdade, a ética e os direitos conquistados em favor dos povos indígenas.

    Áudio 2: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

    Em relação às denúncias e a citação à CPI, o coordenador executivo do CIMI, fala que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) citada aconteceu no Mato Grosso anos atrás. Ele comenta que era uma “CPI era contra a FUNAI e o INCRA. E o CIMI foi denunciado nessa CPI”. Continua explicando que por serem órgãos federais (Incra e Funai) a Assembleia Legislativa do Mato Grosso não tinha competência para ser instalada e por isso foi extinta pela justiça. Ele lembra que o atual presidente da FUNAI Marcelo Augusto Xavier Da Silva na época da CPI “atuava a favor dos ruralistas, contra a FUNAI”.

    Oliveira informa que “as denúncias feitas não foram provadas” e ressalta que o CIMI à época “se colocou à disposição da CPI, e (…) também a favor dos povos indígenas, dos direitos indígenas e das comunidades indígenas, porque várias lideranças indígenas foram também criminalizadas nessa CPI. Nós temos orgulho, de naquela época e hoje, estamos a favor dos povos indígenas e não contra os povos indígenas, não mudamos de lado”.

    Áudio 3: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

    Antônio Oliveira conclui destacando que “O CIMI vai continuar sua luta no sentido de dar apoio aos povos e comunidades indígenas. Vai continuar no controle social do órgão indigenista oficial do governo federal. Enfim vamos continuar na nossa por um Brasil melhor. Na nossa por uma sociedade onde exista um respeito às leis vigentes no país. Vamos continuar nos somando à sociedade civil organizada, nos somando a todos aqueles que lutam por uma sociedade melhor.”

    Áudio 4: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

    A importância e contribuição da ação do CIMI em apoio à causa indígena foi comentada:

    “O CIMI tem dado apoio jurídico para a nossa luta, além do apoio político”, Kahu Pataxo – coordenador executivo do MUPOIBA
    “Nós vamos lutar sempre a favor dos nossos direitos, e vamos estar sempre em parceria com a sociedade civil do nosso país, e por isso o Conselho Missionário está de parabéns pela defesa que faz dos nossos povos, repudiamos a nota publicada pelo ASCOM da FUNAI”, Agnaldo Tupinambá, coordenador regional sul do MUPOIBA

    Vídeo 1: Agnaldo Tupinambá

    “Não é hoje que vamos nos deixar dominar pelo CIMI ou demais ONG. As forças se juntam, então a gente não pode ir para um lado que a gente vê que é contra a gente. No caso esse governo maldito. Esse governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Mas o CIMI sempre elevou os povos indígenas através do direito ao seu território”, Xawâ Pataxó.
    “Não aceitamos essas palavras que ele vem colocando contra nós, contra o CIMI”, cacica Maria Pataxó
    “O CIMI tem um papel histórico aqui no Brasil, no fortalecimento e construção dos direitos dos povos indígenas. Vinculado sim a uma ala da igreja católica, da teologia da libertação. Mas isso não legitima de forma nenhuma que o governo ataque o papel desempenhado pela CIMI esse tempo todo”, Marcelo Bloizi – professor da Universidade Federal da Bahia

    Campanha internacional pelos direitos e territórios indígenas
    O fotografo Sebastião Salgado organizou exposição denunciando os ataques aos direitos dos povos e territórios indígenas. Ao final, foi construído documento denúncia onde seis ex-presidentes da FUNAI denunciam a situação e pedem ação imediata para proteção dos povos indígenas mediante os perigos da pandemia do Covid 19. Uma petição online foi criada. Setores da sociedade brasileira e internacional se uniram na campanha. Até o momento mais de 233 mil pessoas assinaram a petição, dentre eles famosos como o cientista Carlos Nobre, o cantor Caetano Veloso, a modelo Gisele Bündchenm, a atriz americana Meryl Streep, o ator americano Brad Pitt, a cantora Madonna, o cantor Chico Buarque e o príncipe Albert 2º, de Mônaco.

  • Violência contra os Pataxó de Comexatibá, na Bahia, motiva reunião de emergência 

    Violência contra os Pataxó de Comexatibá, na Bahia, motiva reunião de emergência 

    Pora Tatiana Scalco, do Ciranda, para os Jornalistas Livres

    Reunião na Aldeia Cahy | acervo TI Comexatibá – Aldeia CahyNa última quarta-feira (15), os Pataxó do Território Indígena (TI) Comexatibá (Cahy-Pequi) em Prado – BA receberam visita do Programa Nacional de Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) e parceiros da rede de proteção.

    A gravidade da situação da comunidade, sob seguidas ameaças, resultou na reunião de 40 pessoas, entre lideranças e representantes do programa. Participaram 15 lideranças indígenas do TI, indígenas das aldeias Cahy, Pequi, Tibá e Dois Irmãos, lideranças da Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Costa do Descobrimento (APAACD).

    Só no final de 2019 houve cinco ataques às aldeias e aos indígenas Pataxó do TI Comexatibá em Prado-BA

    A visita foi motivada pelo aumento das ameaças aos Pataxó em 2019. Seis lideranças locais já estão no Programa Nacional de Proteção de Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), sob risco de morte. 

    Novos alertas foram feitas pelas lideranças em dezembro passado.  (ver: http://www.ciranda.net/?URGENTE-Alerta-para-ameaca-de). Mas, mesmo após as denúncias e pedidos de socorro os atos de violência continuaram. 

    A equipe que visitou o TI foi composta pelo Programa Nacional de Proteção de Direitos Humanos (PPDDH), Defensoria Pública da União, Centro de Estudos sobre Povos Indígenas e Populações Tradicionais (Cepit) da Universidade estadual da Bahia (Uneb), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Funai. Seu objetivo foi escutar e analisar violências denunciadas.  

    Durante a extensa reunião, a comunidade relatou as ameaças com arma de fogo feitas pelos proprietários de terra e pediu a inclusão de novas lideranças no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. 

    Reunião na Aldeia Cahy | acervo TI Comexatibá – Aldeia Cahy

     

    Reunião na Aldeia Cahy | acervo TI Comexatibá – Aldeia Cahy

     

    Reunião na Aldeia Cahy | acervo TI Comexatibá – Aldeia Cahy

    Os indígenas sofrem com a falta de energia elétrica e lutam pela construção de uma escola (que até hoje não saiu do papel). Na reunião, pediram mediação para acesso à certos serviços públicos e relataram o impacto dos fechamentos das praias e das servidões que lhes dão acesso, isolando as aldeias.

    O Defensor Público Federal, Vladimir Correia, disse que o DPU, que está participando da ação a partir do convite do PPDDH, tomou ciência da situação há cerca de dois meses, a partir de provocação de outros órgãos e da imprensa.

    “a situação que encontramos é bem preocupante, porque realmente há uma ação orquestrada de ocupantes de terras na região”

    Correia destacou que “a situação que encontramos é bem preocupante, porque realmente há uma ação orquestrada de ocupantes de terras na região. Eles vêm invadindo as terras indígenas, vêm praticando atos de violência. E, e em alguns casos, ingressando com ações de reintegração de posse das terras”.

    Ele ficou sabendo na reunião que alguns processos tiveram decisão favorável em primeira instância e prometeu “articular com outros órgãos, em parceria, medidas que possam proteger a comunidade, inclusive proteger fisicamente membros da comunidade”. Segundo Dr. Vladimir Correia, “a DPU irá atuar na defesa da continuidade dos processos judiciais, analisar questões de prestação de alguns serviços públicos como serviços de educação, escola, energia elétrica”.

    O representante do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Domingos Andrade, que participou da reunião, disse aos indígenas acreditar que a violência que estão sofrendo só vai cessar quando a comunidade tiver o seu território demarcado, para poderem viver livremente, realizarem os seus rituais e viverem seu modo de vida”. Ele defendeu que os órgãos presentes à comunidade indígena pleno acesso aos seus direitos e aos bens naturais que estão na região.

    “a não demarcação é meio para que esses atos de violência na região continuem”.

    Andrade afirmou o apoio do CIMI à luta dos indígenas pelo território e disse que “a não demarcação é meio para que esses atos de violência na região continuem”.

    A cacica Maria, da Aldeia Dois Irmãos, falou da “esperança de que coisas boas irão acontecer”.  Comentou que apesar de estarem em área reconhecida como indígena, há invasores que não reconhecem os indígenas como nativos. “Isso está errado! Nós somos os primeiros. Somos os nativos daqui, da terra, do território Comexatibá, nascemos aqui, criamos aqui, nossos pais, avós, todos somos daqui”, diz a cacica.

    Atribuindo “importância gigantesca à visita, Xawâ Pataxó, liderança local, falou da expectativa da comunidade de que, a partir dela, eles possam receber apoio para “se assegurar onde estão”. Ele agora pretende marcar conversas em Salvador para buscar compromissos de outras secretarias e setores de governo. 

    A reportagem segue no caso.

    Para acompanhar leia:

    Alerta para ameaça de ataque à Aldeia Cahy – Prado/BA durante o recesso de final de ano

    http://www.ciranda.net/?URGENTE-Alerta-para-ameaca-de

    Ataque na virada do ano

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  • Família do Juiz que determinou prisão de brigadistas  já foi multada por crime ambiental

    Família do Juiz que determinou prisão de brigadistas já foi multada por crime ambiental

    Via De Olho nos Ruralistas

    Fica cada vez mais claro que a prisão dos brigadistas voluntários, acusados de terem iniciado os incêndios de setembro em Alter do Chão (Santarém-PA), foi política.

    Segundo apurou reportagem do De Olho nos Ruralistas, a família do Juiz Alexandre Rizzi, responsável por determinar a prisão de quatro jovens que, voluntariamente, combateram as intensas queimadas que acometeram Alter do Chão, faz parte do grupo de pessoas que têm interesse na destruição da Amazônia.

    As multas estão em nome da serraria Indústria e Comércio de Madeiras Rizzi, que pertence à família do Juiz. Os crimes aconteceram na década de 90. Como advogado, Alexandre Rizzi defendeu os interesses da serraria, em um processo de execução fiscal movido pela União.

     

    Saiba mais sobre o caso:

    Nota de esclarecimento sobre a prisão arbitrária de brigadistas de Alter do Chão

     

     

  • URGENTE: MPF no PA requisita inquérito que acusa brigadistas por incêndio em Alter do Chão

    URGENTE: MPF no PA requisita inquérito que acusa brigadistas por incêndio em Alter do Chão

    Os quatro brigadistas tiveram suas cabeças raspadas, e estão sendo tratados pela polícia civil e  pela justiça do Pará como condenados, apesar de estarem em prisão preventiva, numa investigação controversa e cheias de inconsistências. Os jovens também têm sido expostos na mídia tradicional que, como de praxe, não fez seu trabalho de apuração jornalística.

    Mas uma pequena luz se acende para um caso que, ao que tudo indica, se trata de mais uma armação político-judicial-policial para atacar ONGs, movimentos sociais e ambientalistas, prática que vem crescendo com o bolsonarismo.

    O Ministério Público do Pará enviou ofício, no final da tarde de hoje (27), à Polícia Civil do Pará, requisitando acesso integral ao inquérito que acusa brigadistas por incêndios florestais em área de proteção ambiental em Alter do Chão. Segundo o MPF-PA, a Polícia Federal vinha desde setembro investigando os incêndios ocorridos na região e, até o momento, não encontrou indícios do envolvimento de brigadistas ou de ONGs.

    Veja nota do MPF-PA:

    O Ministério Público Federal (MPF) em Santarém (PA) enviou ofício à Polícia Civil do Pará requisitando acesso integral ao inquérito que acusa brigadistas por incêndios florestais em área de proteção ambiental em Alter do Chão.
    Desde setembro, já estava em andamento na Polícia Federal um inquérito com o mesmo tema.  Na investigação federal, nenhum elemento apontava para a participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil.
    Ao contrário, a linha das investigações federais, que vem sendo seguida desde 2015, aponta para o assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental em Alter.
    Por se tratar de um dos balneários mais famosos do país, a região é objeto de cobiça das indústrias turística e imobiliária e sofre pressão de invasores de terras públicas.
    Ministério Público Federal no Pará
    Assessoria de Comunicação