Jornalistas Livres

Autor: Jennifer Mendonça

  • Diário do Bolso: a denúncia no Tribunal Penal Internacional de Haia por genocídio

    Diário do Bolso: a denúncia no Tribunal Penal Internacional de Haia por genocídio

    Por José Roberto Torero*

    Pô, Diário, a marcação dos caras é fogo. Não tem um dia que não me enchem o saco.

    Ontem, em pleno domingo, em vez de fazer churrasco e ver futebol, uns sindicatos de trabalhadores de saúde me denunciaram no Tribunal Penal Internacional de Haia, um negócio aí que julga crimes contra a humanidade.

    Já é a quarta vez que entram contra mim nesse treco, pô!

    Aliás, o Tribunal de Haia devia se chamar Tribunal de Aiaiai, porque o pessoal fica com frescurinha do tipo “aiaiai, ele é malvado, aiaiai, ele mata índio, aiaiai, ele cometeu genocídio”.

    Os frescões de branco tão dizendo que nessa crise da gripezinha eu cometi erros “graves e mortais”, que eu fui negligente e insensível, mostrandomenosprezo, descaso enegacionismo.

    Pô, tão dizendo isso por quê?

    Só por que essa turma não tem material para trabalhar com segurança?

    Só por que 96 mil enfermeiros e assistentes já ficaram infectados?

    Só por que o país tá há mais de 70 dias sem ministro da saúde?

    Só porque o ministério está sendo comandado por um general que trocou um monte de técnicos de saúde que tinham décadas de experiênciapor um monte de militares que não entendem nada do assunto?

    Só porque mandei dois ministros da saúde embora porque elesnão concordavam comigo, que não sou doutor?

    Só por que eu faço propaganda da cloroquina?

    Só porque promovi uns rolezinhos, incentivando o pessoal a sair de casa.

    Só porque eu falei que máscara é frescura e sai um monte de vezes sem ela (pô, eu sou bonito, o pessoal quer ver minha cara)?

    Só porque eu disse que era só um resfriadinho,uma gripezinha?

    Só por que vão morrer mais de cem mil? 

    Só por esses detalhes?

    Pô, morreu, enterrou, acabou. Chega de mimimi, chega de aiaiai.

    Vão ver se eu tô na esquina, tomando cloroquina!

    *José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

    #diariodobolso

  • Vítimas da Vale vão à Justiça contra empresa alemã

    Vítimas da Vale vão à Justiça contra empresa alemã

     

     

    Atingidos pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro da Vale em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, em Minas Gerais, protestaram em frente à sede da empresa Tüv Süd, na Alemanha, na manhã desta quinta-feira. A Tüv Süd certificou positivamente a segurança da barragem poucos meses antes do rompimento, que matou 271 pessoas. Dois bebês em gestação também foram mortos. Fotos das vítimas foram espalhadas em frente à sede da empresa, junto a pessoas cobertas de lama. Na placa, em alemão, os dizeres: “Contra os lucros inescrupulosos”.

    Fizeram parte do protesto Marcela Rodrigues, filha de Denilson Rodrigues, trabalhador da Vale morto pela avalanche de lama, e Amanda Andrade, irmã de Natália Andrade, trabalhadora da Vale que também morreu em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho onde encontra-se a mina de minério de ferro. Elas discursaram em frente à Tüv Súd, lembrando o tempo decorrido desde o desastre: “Nove meses, como uma gestação, como um bebê que vai nascer. E aqui agora está nascendo uma guerra, uma luta. Eu quero respostas. Desce alguém aqui e vem falar comigo!”, clamou Marcela diante das portas da Tüv Süd. A empresa se recusou a conversar com as atingidas e manifestantes do lado de fora, e impôs, como condição, que uma comitiva entrasse e que a conversa ocorresse longe das câmeras.

    No encontro com representantes da Tüv Süd, Amanda foi enfática ao frisar a co-responsabilidade da empresa pelo crime ocorrido em Brumadinho. “Até hoje, passados nove meses, eles não se dignaram a fazer contato com as famílias, nem ao menos emitir uma nota de solidariedade com pedido de desculpas às famílias das vítimas”, afirmou. Como resposta, a comitiva e as atingidas tiveram apenas falas frias e evasivas, pontuando que seria muito cedo para se apontar responsáveis pelo rompimento da barragem.

    O grupo também trabalha para a mudança da lei alemã. Uma coalizão de mais de 70 organizações e sindicatos propôs ao Parlamento Alemão e à chanceler Angela Merkel a adoção da “Lei da Cadeia Logística”, que pretende responsabilizar empresas que atuam ao longo da cadeia de produção pelas violações de direitos humanos que ocorrem na ponta. A queixa apresentada aponta os crimes de homicídio, corrupção, inundação, negligência e violação de deveres de supervisão. “O processo na Alemanha de forma alguma altera a responsabilidade da mineradora brasileira Vale S.A. pela falha da barragem. A Tüv Süd é co-responsável pelas mortes e danos ambientais. Este caso mostra que o sistema de certificação falha em garantir a segurança. E mais que qualquer outra coisa, oculta a responsabilidade”, declarou Claudia Müller-Hoff, advogada que trabalhou na queixa contra a Tüv Süd e também na queixa criminal contra um dos principais funcionários da empresa.

     

  • #EleNão X #EleSim no vão do Masp…

    #EleNão X #EleSim no vão do Masp…

    #SP 30.09.2018 Av. Paulista (SP), encerramento do Ato a favor de Bolsonaro o #EleSim.

    A feira habitual se desmontava, a chuva começava a cair. A juventude, que vem cada vez mais ocupando o vão do MASP aos domingos, corria se abrigar sob o museu. Do outro lado, a rua era ocupada por manifestantes em favor de Bolsonaro, que aos poucos chegavam mais perto e logo o teto se dividia entre os dois grupos. Gritos e respostas começam a ganhar força numa provocação entre “ele sim” e “ele não”, um casal chega a frente, entre, e começa a se beijar. Sim, um beijo de dois homens diante de todos eles. Antes de vaiar, olharam… Olharam, fotografaram e começaram a cantar ameaças. Sobre como “a gente” ia se ferrar… era isso que diziam. Logo chega a polícia, eram poucos, mas aquela maioria os apoiava. E, sai dali preso pelos braços um jovem estudante, certamente menor, negro. Apenas por que gritava “ele não”.

    Fascistas começam a gritar “viva a PM” enquanto um jovem estudante era levado na viatura. Aos poucos, enxotados em blocos, mas jovens eram empurrados para a chuva, para o meio da rua. Deixando, sem escolha o teto, para a massa amarela.

     

  • 25 de novembro: ocupa tudo pela vida das mulheres

    25 de novembro: ocupa tudo pela vida das mulheres

    Por Maria das Neves para os Jornalistas Livres

    Hoje é mais um dia de luta, dia internacional de combate à violência contra as mulheres, 25 de novembro.

    São tempos difíceis, sobretudo para as mulheres. O golpe machista e misógino retira diariamente direitos da classe trabalhadora, em especial das trabalhadoras, como a Reforma Trabalhista e da Previdência.

    E, quando achamos por um segundo que não pode ficar pior, a bancada fundamentalista nos apresenta a PEC 181, tornando um projeto que propunha um direito, ampliando a licença maternidade para mães de bebês prematuros, num projeto que acaba com o  aborto legal [em casos de estupro, risco de morte da mãe e fetos anencéfalos], no Brasil.

    Uma corja de deputados, querem nos obrigar a ter filhos de estupradores, para eles, nossas vidas não importam.

    Portanto, hoje, afirmamos: lutamos pela vida das Mulheres. Mas, não qualquer vida, uma vida sem violência. Sem qualquer forma de violência, física, sexual, psicológica, moral, material.

    O Brasil é o quinto país do mundo no ranking de violência contra as mulheres. Para as mulheres negras a realidade é ainda pior, o índice de violência, contra nós, ampliou-se em 54%.

    O tripé machismo , racismo e capitalismo nos sentencia a salários ainda mais baixos do que os recebidos pela mulheres brancas, a cultura do estupro, e a hipersexualização dos nossos corpos, ao aborto inseguro e clandestino nos levando à morte. Um verdadeiro genocídio das jovens negras.

    Nós mulheres, todas nós, incluindo as mulheres transexuais e travestis, vivemos há séculos numa ditadura, a ditadura do patriarcado, que nos relega ao medo e à culpa.

    Mas, no Brasil e no mundo, resistimos. E negamos o silêncio que nos impõem. Gritamos, nos rebelamos. Estamos em luta, florescendo em novas e consecutivas primaveras feministas.

    Lutamos pela nossa plena emancipação, e pela emancipação de toda humanidade. Todas contra a PEC 181, todas contra o capital e a cultura patriarcal.

    Ocupa tudo pela vida das mulheres. Machismo mata, feminismo liberta!

  • Deputados salvam pmdbistas da cadeia e PM reprime manifestantes com bombas

    Deputados salvam pmdbistas da cadeia e PM reprime manifestantes com bombas

    Márcio Anastacio para os Jornalistas Livres

    A Assembleia Legislativa do Estado Rio de Janeiro (ALERJ) decidiu soltar três deputados do PMDB em votação realizada sob protestos da população. Por 39 a 19 votos, o plenário revogou a ordem do Tribunal Regional Federal da Segunda Região (TRF2) que determinava a prisão preventiva dos deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo.

    Na porta da casa legislativa, manifestantes de várias tendências se reuniram para pressionar os deputados. O povo exigia que os legisladores votassem contra a revogação da ordem emitida pelo TRF2. Pedido não atendido e reprimido com bala de borracha e bomba de gás lacrimogêneo.

    A reportagem dos Jornalistas Livres flagrou o atendimento de um manifestante atingido na testa. Rapidamente ele foi socorrido pela Cruz Vermelha que realizou o socorro em uma das ruas por onde os manifestantes escaparam das bombas de gás.

    Em uma votação conturbada, a Justiça concedeu liminar para abrir as galerias da Assembleia, mas a presidência da Casa só deu acesso aos assessores dos deputados presentes no plenário, ação que revoltou os manifestantes. A bancada do PSOL na Alerj vai entrar com ação na Justiça para anular a sessão desta sexta-feira (17/11), realizada com as galerias fechadas em descumprimento à decisão judicial, e com irregularidade na convocação da sessão desta sexta.

    A Comissão de Ética da Alerj também receberá um pedindo investigação dos fatos contra os três deputados pmdebistas. As ações serão abertas para outros deputados que queiram aderir.

    Saiba como foi a votação:

    Votaram pró Picciani, Paulo Melo e Albertassi:

    André Ceciliano – PT
    André Corrêa – DEM
    André Lazaroni – PMDB
    Átila Nunes – PMDB
    Chiquinho da Mangueira – Pode
    Christino Aureo – PSD
    Cidinha Campos – PDT
    Coronel Jairo – PMDB
    Daniele Guerreiro – PMDB
    Dica – Pode
    Dionísio Lins – PP
    Fábio Silva – PMDB
    Fatinha – SD
    Filipe Soares – DEM
    Geraldo Pudim – PMDB
    Gustavo Tutuca – PMDB
    Iranildo Campos – PSD
    Jair Bittencourt – PP
    Jânio Mendes – PDT
    João Peixoto – PSDC
    Luiz Martins – PDT
    Marcelo Simão – PMDB
    Marcia Jeovani – DEM
    Marco Figueiredo – Pros
    Marcos Abrahaão – PTdoB
    Marcos Miller – PHS
    Marcio Canela – PSL
    Marcus Vinícius – PTB
    Milton Rangel – DEM
    Nivaldo Mulim – PR
    Paulo Ramos – PSOL*
    Pedro Augusto – PMDB
    Renato Cozzolino – PR
    Rosenverg Reis – PMDB
    Silas Bento – PSDB
    Thiago Pampolha – PDT
    Tio Carlos – SD
    Zaqueu Teixeira – PDT
    Zito – PP

    Votaram contra a cúpula do PMDB:

    Benedito Alves (PRB)
    Carlos Macedo (PRB)
    Carlos Minc (Sem partido)
    Carlos Osório (PSDB)
    Julianeli (REDE)
    Eliomar Coelho (PSOL)
    Enfermera Rejane (PCdoB)
    Flavio Bolsonaro (PSC)
    Flavio Serafini (PSOL)
    Gilberto Palmares (PT)
    Luiz Paulo (PSBD)
    Marcelo Freixo (PSOL)
    Marcia Pacheco (PSC)
    Martha Rocha (PDT)
    Samuel Malafaia (DEM)
    Wagner Montes (PRB)
    Waldeck Carneiro (PT)
    Wanderson Nogueira (PSOL)
    Zeidan (PT)

    • Afastado para expulsão: http://ift.tt/2AWqkD1)

    Fotos: Francisco Proner e Guilherme Imbassahy para os Jornalistas Livres

     

     

  • Sonhos destruídos na Pensão do Cícero, na região da Cracolândia em SP

    Sonhos destruídos na Pensão do Cícero, na região da Cracolândia em SP

    Texto de Kátia Passos e videorreportagem de Laura Capriglione

    Numa das pensões mais tradicionais da Rua Helvétia, abrigo de muitos imigrantes nordestinos, mostramos o despejo das famílias e a retirada de seus pertences. É muita dor, desespero e humilhação para famílias extremamente pobres que foram avisadas de maneira truculenta e humilhante durante a madrugada que teriam que desocupar o lugar. São sonhos de uma vida inteira despejados dos quartos, fotos rasgadas, roupas atiradas à esmo no chão, crianças que estão começando suas histórias, sendo arrastadas para o vale da tristeza, da amargura numa São Paulo fria e chuvosa neste domingo (21/5).

    A Guarda Civil Metropolitana, Polícia Militar, a Polícia Civil e a Prefeitura estão no local. Cumprem o papel de algozes que o Estado lhes deu. Muitos, provavelmente, não gostaram de estar ali, mas não têm escolha. De uma maneira ou de outra, também são condenados pela opressão que os gestores do Estado e Município impuseram às suas vidas e carreiras.

    A pensão será emparedada, ou seja, serão construídos bloqueios de concreto e cimento, nas entradas da moradia.

    Dentro do local, a todo instante, o Major Miguel Elias Daffara, do 13º BPM e responsável pela operação alerta os moradores para pertences não sejam deixados no local. A preocupação dele é para que nenhuma criança, por exemplo, seja esquecida e fique presa no que um dia já foi um lar.

    O tempo dado para os moradores saírem do local é curto e eles não têm para onde ir. É o caos do caos do túnel da tristeza sem fim.

    “A Polícia Militar, a Civil e a Guarda Civil Metropolitana estão aqui para tomar posse do que é do Estado, do que é bem público. A Cracolândia era uma aberração. Até onde sei houve uma ação judicial e a a prefeitura fez um plano para urbanização da Nova Luz. Essa operação foi planejada pelo alto comando da GCM, Polícia Civil. A Subprefeitura da Sé pediu que emparedássemos essa habitação que é insalubre. Que fique claro também que moradores de rua não estão impedidos de circular por aqui, mas não podem fazer barracas e ocupar as calçadas”, declarou Daffara à nossa reportagem.

    O Major não soube dizer para onde as famílias irão. Se existisse algo que pudesse acalentá-las nesse momento, a ausência da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social contribuiu para mais uma ação monstruosa da dupla Doria-Alckmin. Sem acalento, sem direção. Sem solidariedade.

    Nesse destino sem endereço, agora, as famílias só sabem sentir e pensar no medo do tal emparedamento.