Jornalistas Livres

Autor: Gabriela Forabelli

  • Com duas manifestações em um mês, Bolsonaro recua e devolve R$ 1,58 bilhão para a Educação

    Com duas manifestações em um mês, Bolsonaro recua e devolve R$ 1,58 bilhão para a Educação

    Ontem (30), enquanto 1,8 milhão de pessoas saíam às ruas em 26 estados e Distrito Federal, de 208 cidades do Brasil e em outros 10 países do mundo, o Ministro da Educação e Cultura (MEC), Abraham Weintraub, publicou em seu twitter um vídeo em que afirma que professores estavam “coagindo alunos” para que fossem às manifestações para protestar contra os cortes na pasta.

    Só para recordar: a medida que motivou este segundo grande ato popular foi anunciada pelo MEC no início de maio e propõe o que ele denominou como “um contingenciamento” de 30% no orçamento total das verbas discricionárias (para despesas não obrigatórias como gastos com água, luz e pesquisas, por exemplo) do MEC. Na prática, são R$ 7,4 bilhões a menos capazes de impactar 63 universidades e 38 institutos federais de ensino. Pressionado pelo 15M, o MEC, recuou na decisão e “devolveu” R$ 1,58 bilhão dos recursos para Educação numa evidente tentativa de calar a boca dos estudantes, mas manteve o corte de R$ 4,25 bilhões. E os atos permaneceram lotados. No mesmo vídeo, o twitteiro Weintraub apelou aos supostos alunos coagidos enviarem provas para que o Governo pudesse tomar “as devidas providências” contra os professores (assista o vídeo na íntegra aqui).

    Pois bem, o dia seguiu e as ruas lotaram. De acordo com a União Nacional dos Estudantes, o Tsunami pela educação levou reuniu só nas capitais:

    Porto Alegre – 30 mil

    Florianópolis – 20 mil

    Curitiba – 30 mil

    Belo Horizonte – 250 mil

    Rio de Janeiro – 200 mil

    Goiânia – 30 mil

    DF – 20 mil

    Cuiabá – 10 mil

    Belém – 40 mil

    Macapá – 15 mil

    São Luiz – 30 mil

    Teresina – 10 mil

    Fortaleza – 100 mil

    Natal – 25 mil

    João Pessoa – 15 mil

    Aracaju – 30 mil

    Maceió – 10 mil

    Salvador – 100 mil

    Recife – 100 mil

    São Paulo – 350 mil

    Vitoria – 15 mil

    Rio Branco – 10 mil

    Vitoria – 10 mil

    Palmas – 10 mil

    Porto Velho – 7 mil

    Campo Grande 15 mil

    Manaus – 20 mil

    Boa Vista – 5 mil

    Então, vale refletir. Diferentemente do que o ministro e o presidente Jair Bolsonaro dizem sobre as manifestações, toda a população que se encontrou na rua ontem (30), e que esteve no primeiro ato no dia 15 de maio, que reuniu cerca de 2 milhões de cidadãos, em mais 250 cidades, não é apenas aliada da esquerda. Os professores, estudantes, trabalhadores e brasileiros indignados com o tal “contingenciamento” não podem ser chamados de “idiotas inúteis” nem “massa de manobra.”

    Afinal, mesmo que o atual Governo não compreenda como funciona a democracia brasileira, a manifestação é um ato constitucional e que garante a pluralidade dentro da sociedade. Não custa ler a Constituição:

    Liberdade de Reunião
    XVI, art. 5 da Constituição da República Federativa do Brasil – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

     

    Está na hora de Bolsonaro e seu governo compreenderem que a busca pela garantia de uma educação de qualidade está prevista pela Constituição. Não se trata de uma bandeira de comunistas, mas de uma reivindicação legítima de cidadãos que sabem que a Educação é um dos únicos meios para ascensão e mudança de classe social no Brasil. É a saída da marginalização que o próprio país causou durante muito tempo.

    Aproveitamos também para contar ao ministro Weintraub que o significado da palavra contingenciamento é a intervenção do Governo na produção. É o ato de limitar os gastos em uma área. Em análise básica, levar o “contingenciamento” de 30% na Educação é provocar o fechamento de várias universidades que não receberão o suficiente para manter as portas abertas. E, lógico, universidade fechada significa estudante sem Ensino Superior.

    A criação de boa parte das federais espalhadas nos rincões do Brasil foi motivada pela necessidade de se criar proximidade do ensino aos alunos de baixa renda que não conseguiriam se manter em capitais para realizar o curso superior. Por isso, afirmar que o corte não iria afetar as universidades e chamar os manifestantes de “massa de manobra” deixa evidente a falta de vontade de diálogo do Governo os com estudantes e com a população que quer sair das margens da desigualdade econômica.

    Com mais de 350 mil pessoas em protesto em São Paulo e outras 200 mil no Rio de Janeiro, ficou claro que a população não briga apenas pelo recuo do Governo nos cortes na Educação. Todos querem melhoria de fato das condições oferecidas nas universidades. E mais que isso, sim.

    As ruas lotadas mostram que a nação quer heróis que vão para a universidade em busca de um futuro melhor. E mais ainda: heróis que se aposentam dignamente com o fruto de seu trabalho. São heróis que se colocam contra uma Reforma da Previdência que vai gerar ainda mais miséria. Heróis que também questionam o Pacote “Anti-crime” de Sérgio Moro que passa por cima de garantias básicas de direitos de defesa e tem como foco lotar ainda mais as cadeias, além de abrir espaço para o agravamento da violência policial contra a população pobre e negra das periferias.

    O 30M foi grande, gigante e saiu maior do que o dia 15M, início do movimento a favor da Educação. As rua falaram, no fundo, sobre o respeito aos direitos duramente conquistados. Dia 14 de junho promete ainda mais. A convocação para a paralisação de trabalhadores e greve geral foi fortalecida.

  • Por que precisamos ouvir a nova música do Aláfia?

    Por que precisamos ouvir a nova música do Aláfia?

     

    Em meio a um turbilhão de sentimentos e dores que a democracia tem sofrido, a banda Aláfia traz um suspiro de alívio em sua nova música “canção para nós”, que marca um novo ponto da carreira de nove anos do coletivo. Como toda boa memória sempre traz uma trilha, o momento que o Brasil está passando pede uma música que transpareça o que mais precisamos: o afeto.

     

    O afeto é nosso prato/

    O afeto é nosso serviço/

    Um motivo vitalício/

    Até o último ato/

     

    O refrão da música que foi composta pelo vocalista e guitarrista, Eduardo Brechó, ou só Brechó, é um ponto forte e que precisa ser analisado em tempos que o diálogo nos leva a discussão tão polarizadas. Mas não só isso. Se pensarmos que se tivéssemos, em 2014, usado nosso afeto e empatia para dialogar com pessoas de opiniões contrárias, talvez Jair Bolsonaro não estivesse no poder. “É preciso compreender primeiro que nem todas pessoas que votaram no atual presidente são ‘ruins’, mas só precisavam tentar um suspiro e algo diferente para recuperar seu emprego ou ter dinheiro pra levar pra casa” é o que diz o cantor da banda Aláfia.

     

    O grupo que sempre buscou trazer a ancestralidade e a crítica social em suas letras não fez diferente na nova canção. Marcada por simbolismos, que mostram como a sociedade vem se perdendo aos poucos em discursos rasos e sem raciocínio, tem o objetivo de dialogar com a esperança de um novo tempo de resistência.

     

    Caretas que nos perdoem/

    Mas já lhes perdoamos/

    Seremos livres sem seus calibres/

    Entre livros, discos e colibris/

     

    Diante do cenário social da legalização da posse de armas em uma das sociedades mais violentas do mundo, aceitar o armamento como algo do cotidiano é abaixar a guarda para uma ação que mais mata do que salva. É preciso lembrar que a polícia que mais mata é a do Brasil. Agora, se pensarmos que o objeto utilizado por eles encontra-se na casa de uma pessoa não compreende as consequências que aquilo traz, é assinar uma lista de obituários sem precedentes. “Preferimos trabalhar com a ideia de não aceitação do armamento no país, ainda que seja constitucional, de nada vale a pena você querer pagar pra ver”, diz Brechó sobre a questão bélica tão presente na letra.

     

    Somos colo colírio delírio delícias/

    Acordes lídios carícias caminhos de paz/

    Polícias já não nos acharão/

    Tampouco vícios de ofícios oficiais/

     

    Sempre presente, as letras do grupo fortalecem a identidade do povo afro-descendente e de sua ancestralidade diante de uma sociedade que até hoje faz questão de segregar nos mínimos detalhes um povo historicamente marginalizado. Não é uma definição e uma busca fácil, mas em seu clipe a banda retrata e traz o amparo de ancestrais em um momento que o racismo não é só na casa do patrão com a empregada, mas é dentro da universidade, do hospital e da agência de jornalismo. Logo, tanto as cores, quanto o figurino, produzidos por Amanda Paulovic incentivam a esperança de que se os ancestrais conseguiram sobreviver à dura realidade da escravidão e de que hoje é possível vencer os obstáculos da sociedade.

     

    De qualquer lote/

    De qualquer rota/

    De qualquer cota/

    De qualquer total/

     

    Afeição aos patrícios em crise/

    Volte pra base amizade e me avise/

    Visualize uma mísera solução/

    Situação é difícil mas é possível/

     

    Ainda na composição, é preciso dizer que o afeto é um dos principais caminhos que devem ser tomados como base em nossa democracia. É compreensível que nem sempre será possível dialogar com um grupo, mas é preciso nos aproximar e não nos afastar, é preciso resgatar a criança negra que acha que seu cabelo é “ruim” porque está embutida dentro de um grupo social que não compreende que seu cabelo só é crespo ou que seu nariz é normal diante dos mais fininhos. É preciso explicar que a cota não é esmola, mas retratação social para o pagamento de uma dívida que o Estado sempre teve com seu próprio povo.

     

    “O Estado lutou para mais para tornar o imigrante seu povo do que ajudar o negro depois da abolição”: é assim que o Aláfia enxerga o que o governo fez com o povo que construiu o que nós chamamos a nação brasileira. Foi desse princípio que surgiu aquilo que chamamos hoje como a síndrome do vira-lata, abandonamos nossas raízes e aprendizados que os ancestrais deixaram em nossa nação para vangloriar e exaltar uma cultura que não faz parte da nossa história nem de nossos costumes.

     

    Mas não apenas na letra ou na direção de arte do clipe, a musicalidade do coletivo Aláfia possui uma identidade única que ainda não foi vista em outra banda, não é exaltação, mas reconhecer a proposta de uma produção musical que consegue mesclar tanto o samba soul, quanto o jazz dos anos 70, além de carregar o que sempre trouxeram desde a fundação os sons tradicionais do Candomblé.

    Foto:Renato Nascimento

    Por fim, o amparo sonoro e social que o Aláfia possui da a banda um futuro além daquilo que se espera. No próximo semestre, sem o nome divulgado ainda, o coletivo irá lançar seu novo disco sem abandonar as temáticas da cultura afro brasileira, mas com um som mistificado e inspirado em samba soul para marcar o novo momento que o grupo está vivendo. Embora tenha uma jornada pela frente, o Aláfia sabe a que veio e possui conteúdo para retratar. No final do clipe quando todos estão à mesa comendo e rindo um com os outros traz a proposta do novo som e do que esperam da sociedade, pessoas unidas, independente de sua cor e amparadas por aquilo que conhecemos como esperança de fato. Confira o clipe abaixo:

     

     

  • Segunda edição do Women’s Music Event aborda protagonismo da mulher na música brasileira

    No último final de semana, aconteceu a segunda edição do Women’s Music Event, no Centro Cultural de Sâo Paulo. A conferência de dois dias, tratou de assuntos voltados para o protagonismo da mulher da indústria da música brasileira. Entre painéis e workshops, foram discutidos temas desde direitos autorais das músicas até como movimentos que antes estavam dentro do gueto e tornaram-se grandes sucessos da música nacional, com fenômenos como Karol Conka, Flora Matos, entre outras.

    Além disso, entre as convidadas, Lei Di Dai, rainha do Dancehall e uma das líderes do projeto Gueto pro Gueto, falou sobre a ascensão das mulheres na indústria da música, através das plataformas digitais, ao lado de Renata Simões, Camila Garófalo e Roberta Youssef. “Eu vi esse projeto nascer em uma salinha na Redbull, não poderia deixar de participar”, afirma a cantora que acompanhou o início do projeto Women’s Music Event, desde a primeira edição falando sobre empreendedorismo.

    A plataforma surgiu do projeto pulso, na Red Bull, onde havia uma sala só com mulheres. Cantoras, técnicas de som e produtoras para criarem batidas e musicas. No final, tornou-se tão importante que para encerrarem fizeram um painel só com mulheres, e deste saiu um grupo no Facebook para unir mulheres, possibilitando a conexão de várias profissionais da música brasileira.

    As idealizadoras, Cláudia Assef e Monique Dardenne criaram a plataforma para incentivar a expansão das mulheres dentro da indústria musical, não só apenas cantoras, mas betmakers, técnicas de som, DJs, entre outras. De acordo com a União Brasileira de Compositoras (UBC), apenas 11% das pessoas cadastradas no sistema são mulheres, conclui que embora haja um avanço no protagonismo feminino, ainda há um caminho longo pela frente.

    http://https://youtu.be/x5XWe-ySm5U

  • A GRANDE SÃO PAULO TEM UM RECADO: NÃO VÃO NOS CALAR

    A GRANDE SÃO PAULO TEM UM RECADO: NÃO VÃO NOS CALAR

    No último dia 30, a cidade de Osasco contou com o protesto Diretas Já, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, segundo os organizadores. O ato centralizado em frente ao Osasco Plaza Shopping, contou com várias bandas, entre elas, Teatro Mágico e Planta e Raíz. Embora esta seja uma das primeiras manifestações de grande porte em Osasco após esses dois anos de crise institucional, o papel da cidade e da Grande São Paulo em si é um fator essencial para barrar as políticas implantadas pelo Governo atual.

    O movimento sindical dos metalúrgicos de Osasco foi essencial para a luta contra a Ditadura Militar em 1968, logo após a implantação do AÍ-5 (Ato Institucional 5). A cidade que no início possuía apenas a articulação do movimento estudantil, através da inspiração da greve dos Sindicatos de Minas Gerias tomaram a mesma decisão, após diversas reuniões, a cidade de Osasco parou por meio da greve realizada pelos sindicatos, greve histórica, onde muitos foram presos e torturados.
    Mais uma vez, a cidade de Osasco, mostra-se vanguarda em situações de crise. Em meio a tantos golpes sofridos e as reformas realizadas nestes últimos dois anos, Osasco levantou-se para mostrar não só a sua indignação, mas a força da população. 5 mil manifestantes, todos exigindo a mesma coisa: Eleições Gerais e o fim do genocídio negro.
    Desde 2015, a Polícia Militar e a GCM vem executando chacinas dentro da cidade, saindo impunes de todos os crimes. No dia 8 de agosto, duas pessoas ficaram mortas e um ferido, no dia 13, saldo de 14 mortos e 6 feridos. Já em abril deste ano, quatro pessoas foram mortas. Porém nada foi feito para a proteção das famílias, pelo contrário, muitas ficaram refugiadas com medo de represálias da PM. A Prefeitura e o Estado que teriam a obrigação de fazer o julgamento do caso calou-se, junto com a grande mídia.

    Osasco não se cala. Osasco luta. Luta contra a violência, luta contra os direitos que vem sendo tirados desde a última gestão do ex-prefeito Lapas e dando continuidade à retirada com o prefeito Rogério Lins.