Jornalistas Livres

Autor: Agatha Azevedo

  • ​Belo Horizonte recebe feira de produtos agroecológicos, arte e cultura

    ​Belo Horizonte recebe feira de produtos agroecológicos, arte e cultura

    Depois da gratificante experiência no ano 2016, o Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária, chega pela segunda vez à Belo Horizonte, para compartilhar as cores, cheiros, músicas e sabores da cultura Sem Terra. O Festival é a quarta etapa do Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária que, desde o dia 2 de setembro passou pelas cidades de Governador Valadares, Montes Claros e Alfenas.

    Sob o lema “Alimentar a luta, cultivar a arte!” o Festival contará com apresentações musicais, sarau de poesia, mostra fotográfica e de artes plásticas das escolas do campo, além da Feira da Reforma Agrária. A previsão é de cerca de 80 toneladas de alimentos e mais de 150 produtos diferentes, industrializados e in natura, produzidos em assentamentos e acampamentos de forma agroecológica e orgânica. Merecem destaque as delícias da Cozinha da Roça, com mais de 20 pratos típicos do interior e de estados convidados, como Goiás, Bahia, Espírito Santo e Distrito Federal. Tudo a preços acessíveis, direto do produtor para o consumidor.

    Entre as atrações confirmadas estão Pereira da Viola, Wilson Dias, Rubinho do Vale, Titane, Meninas de Sinhá, os violeiros Zé Mulato e Cassiano, Pedro Boi, Sergio Pererê, Flávio Renegado, Aline Calixto, Fernando Guimarães e João Bá, além de toda a música, poesia e danças que vem dos assentamentos e acampamentos do MST.

    Serão mais de 30 atrações durantes os três dias de festival. Como afirma Guê Oliveira, do Setor de Cultura do Movimento, “buscamos criar um momento para mostrar a cultura Sem Terra e também daqueles que estão conosco na luta, de artistas que estão ligados ao projeto da Reforma Agrária Popular, que acreditam que a terra tem que produzir alimentação saudável e cumprir sua função social.”
    Durante estes dia, as portas da Serraria Souza Pinto estarão abertas gratuitamente para compartilhar a cultura do campo à cidade. Também haverá uma conferência com o tema “Alimentar é um ato político”, com as presenças de Debora Nunes, da Direção Nacional do MST, Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde no Governo Dilma Rousseff, Irene Cardoso, doutora em agroecologia e professora da Universidade Federal de Viçosa, e Janaina Rueda, chefe de cozinha e responsável pelo Bar Dona Onça.

    Outro destaque é o Encontro Regional de Agroecologia, que acontece em paralelo ao Circuito, nos dias 07 e 08, com rodas de conversa, vivências, plenárias e apresentando o lançamento do IV Encontro Nacional de Agroecologia. O encontro regional é uma realização da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e os participantes também prestigiarão a programação cultural do Circuito.

  • “Como ser mulher, mãe, forte e construir uma carreira?”

    “Como ser mulher, mãe, forte e construir uma carreira?”

    Em meio à produção do CD “Canto Sem Pressa” e de uma agenda apertadíssima para construir o trabalho como artista independente, Natasha se viu grávida de José, hoje com um ano e três meses. Ao lado de seu marido e produtor musical Eduardo Andrade, eles optaram por ter o filho, e também parir o disco no ano de 2016. Agora, em setembro de 2017, ela retoma seus trabalhos artísticos e se apresenta em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, nesta sexta-feira, 8 de setembro, às 21h. Confira a entrevista, em que ela fala um pouco sobre as alegrias e dores da criação.

    A: Como foi,para você, a maternidade?

    N: A maternidade, sem dúvidas, foi a coisa mais transformadora e intensa que eu já vivi na minha vida, e que vivo pelo resto da minha vida agora. É algo que é para sempre e é uma transformação por completo, a gente necessita de abrir um espaço muito grande na vida para que esse ser que depende totalmente de você e do pai se desenvolva, e junto disso, a gente precisa fazer diariamente muitas escolhas.

    A: Que tipo de escolhas?

    N: Quando a gente descobre que está grávida, é necessário pensar como vai ser o parto, como é que a gente vai alimentar e amamentar o bebê, se vai ser exclusivamente leite materno ou se vai ser com complemento, como que vai ser alimentação do seu filho, como que você vai conduzir a educação do seu filho, entre outras questões. Como ensinar, educar, ou como você vai dizer para ele que algo é certo ou errado também é uma escolha, já que tem várias formas de dizer, são milhões de escolhas que você tem que fazer.

    A: Como ficou o seu emocional durante a gravidez?

    N: Eu fiquei exausta, pois tive que lidar com diversos sentimentos que ficam transitando dia inteiro dentro de mim, entre raiva e amor. Ter um filho deixa a mulher completamente exausta física e emocionalmente também, então mexe com tudo, mexe com a estrutura de todo ser humano. Além disso, eu estava trabalhando muito quando descobri que estava grávida do José.

    A: Como foi a descoberta? 

    N: Então, quando eu estava grávida, eu tava trabalhando muito, muito, muito. Estava gravando o meu primeiro disco, “Canto Sem Pressa”. Eu comecei a gravar o disco em Agosto e em Setembro descobri que estava grávida de 5 semanas, então realmente a concepção foi junto, em cima, do lançamento. Eu trabalho com meu marido, o Dudu, e a gente estava gravando dia e noite, ele é o produtor musical do meu disco e faz a direção musical do show, entre outras coisas, e pra nós na época foi sim um baque, porque não era uma gravidez planejada e porque tem esse peso enorme de que a vida profissional de uma mãe e acaba.

    É aquele clássico ‘acabou para a mãe’, por mais que a gente já veja uma sociedade em que não é mais tão isso, de alguma forma essa ideia entra no nosso corpo, nas nossas células e no nosso pensamento. Bate um desespero. Quando você é uma artista independente que está investindo e batalhando pelo seu espaço, não tem emprego fixo e em construção como artista não é fácil.

    A: O que mudou positivamente?

    N: Tudo, porque quando a gente se permite viver essas transformações, por mais difíceis que sejam elas, elas nos ensinam. Um filho ensina tanto quando estamos abertas. Eu acho que a gente está vivendo uma nova geração que está criando filhos de forma diferente também, de forma mais consciente. Acredito que temos uma responsabilidade muito grande na vida de um filho, é de fato a nossa parte para fazer um mundo melhor.

    Temos que investir tempo e energia na formação de um novo ser que vai para o mundo, é a nossa parte para ter um mundo melhor com seres humanos mais conscientes, menos carentes e não competitivos. Nós participamos efetivamente da construção de um ser humano que aprende muito, principalmente com a realidade dele. Então se você é um pai que grita o dia inteiro com uma criança, ela irá achar que aquilo é normal, e é a mesma coisa se a mãe trata mal as pessoas. Ele acha que aquilo é o mundo, então é o momento de você revisar se revisar inteira, porque tudo fica para a criança.

    A: E sobre a paternidade e a criação que não perpetua o machismo?

    N: O Dudu se esforça. Não faz parte do alicerce da estrutura primordial dos homens saber o quanto é importante participar igualmente da criação do filho, e então aprendemos quase ao mesmo tempo como educar um filho, um pai, e junto disso transformar uma mulher em mãe. E porque que é assim, né? Porque que a gente continua dando boneca para as meninas, e carrinho para os meninos? Porque um fogão com panela para as meninas, e um dinossauro para os meninos? Por quanto tempo que a gente vai perpetuar esses valores terríveis?

    Isso contribui para uma ideia de que se a mãe é responsável pela criança, a mãe é responsável pela cozinha, a mãe é responsável por cuidar da casa, e este instinto materno nos é imposto desde crianças, enquanto os meninos estão se aventurando como super-heróis, salvando o mundo.

    É uma responsabilidade enorme dos pais se reconstruírem também, e é claro que meu filho ganha o carrinho dele no aniversário, mas junto disso eu também posso incentivar que ele brinque com uma boneca, cuide do neném, e de alguma forma estar contribuindo para que isso possa se transformar na vida dele.

    Eu trago meu filho para fazer as coisas de casa comigo, ele tem 1 ano e 3 meses, mas tem a forma dele de fazer. Ele faz a maior zona do mundo, e mais bagunça do que ajuda, mas estando ali ele começa a entender também que a bagunça faz parte, e isso colabora para construção de um ser humano melhor, vai crescer com a noção de que um dia ele vai lavar a louça. Sim, filho, você vai lavar louça! Você vai cuidar do fogão!

    A: Como foi, para você, dar uma pausa na carreira para ser mãe?

    N: Todos os meus desejos, meus sonhos, os meus anseios estão aqui comigo, sabe. E necessitam ser ouvidos, se não acho que uma mulher adoece. A gente vê muitas mulheres adoecidas porque parece que as mulheres tem que fazer uma escolha: ou elas vão cuidar dos filhos, ou elas vão trabalhar. É difícil até a escolha de ter uma babá e não participar tanto como a geração anterior fez na criação. Por outro lado se você se torna uma mãe e não tem mais a sua profissão, você se torna muito frustrada porque você abdicou da sua profissão.  Este balanço é o que penso sempre: como ser mulher, mãe, presente, forte, uma mãe que existe, e como construir a carreira naquilo que eu amo fazer?

    O pai é uma pessoa que precisa contribuir também nesse lugar de desconstrução, junto com a mulher, para ela poder investir nela e na carreira dela né. Cabe à nós desconstruir essa imagem de que a maternidade é a coisa mais linda do mundo. Como tudo na vida, tem seus dois lados, a recompensa é maravilhosa, de fato difícil colocar em palavras de quantos momentos lindos e serenos de amor profundo a gente sente, mas por outro lado é preciso paciência.  Mães precisam de tempo para elas e de tempo descansadas, para exercer a criatividade também.

    A: E hoje nos palcos, como estes dois mundos, o de ser mulher e mãe, se unem ao seu lado artístico?

    N: Eu preparo sempre a logística né, porque não é fácil e quero ele sempre perto de mim e nossa sociedade tem sim muita dificuldade em aceitar as crianças, senti isso depois que tive o José. Nós nos tornamos militantes. A maternidade faz ver cada vez mais que o mundo é bem maior que o nosso umbigo. A maior revolução está dentro da gente e passa por colocar em prática tudo o que acreditamos ser positivo, pois há um ser que se espelha na gente e nos usa de exemplo.

    A maternidade me trouxe toda essa consciência,a gente quer que nossos filhos vivam num mundo melhor também, então temos que fazer a nossa parte. Como cantora o que eu estou buscando hoje em dia é trazer isso cada vez mais para minha mensagem artística. Dar para o mundo e para o palco essa força que eu ganhei depois de ser mãe. Eu tenho recebido muito carinho e isso me alegra, eu vejo também que a energia de qualquer ambiente melhora quando as crianças estão presentes e elas tem que estar presentes. Eles trazem muita alegria, muita suavidade.

  • Cultura Sem Terra: uma revolução que transpõe barreiras

    Cultura Sem Terra: uma revolução que transpõe barreiras

    Além da produção de alimentos de forma saudável, em harmonia com a natureza, em cooperativa e sem exploração do trabalho, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra é também marcado pela beleza de suas tradições, que são passadas como ensinamentos a cada geração que nasce nos acampamentos espalhados pelo Brasil. Natália e Lucinha são exemplos de como este trabalho carinhoso e cotidiano é importante.

    Natália Pereira é um dos frutos deste trabalho de formação. Filha da militante Lucinha, ela conta que nasceu, cresceu e se formou enquanto artista e agente da cultura no Movimento: “Desde que eu me entendo por gente eu sou sem terra né, eu fui com muitos poucos meses para debaixo da lona”.

    Para subverter à lógica imposta de que nem todos terão acesso à arte e cultura, o MST produz, com panos de chita, música, poesia e alegria, a própria forma de retratar sua realidade coletiva através da arte, que tem papel fundamental na formação da identidade coletiva de seu povo enquanto um movimento forte e potente em todas as áreas.

    Nos espaços do Movimento, a mística é símbolo e referência, e é usada para fazer política e construir memória. Uma lembrança que a jovem de 21 anos que cresceu no Vale do Rio Doce (MG) não esquece é de quando, em uma análise de conjuntura, foi dito que era possível saber que um movimento de conquista de terra seria grande quando até os sem-terrinha, as crianças do MST, sabiam cantar as místicas do Movimento.

    Sobre como a cultura pode transformar realidades e até ganhar batalhas, Natália cita a luta feminina do MST, que conseguiu, através da cultura e das místicas, falar de temas polêmicos e questionar lugares de fala e dinâmicas da sociedade. Ela se lembra de como a cultura a tocou pela primeira vez:

    “Foi em uma ação que fizemos dentro do Encontro Estadual realizado no Vale do Rio Doce, e nele a cultura foi nossa forma de falar. Aconteceu uma mística que teve um impacto muito grande, tanto que até hoje ela é muito falada. Só nesse dia que eu fui perceber o peso que a arte tem na hora de falar. Foi quando as mulheres se empoderaram, e se nós tivéssemos usado outro tipo de linguagem, que não a arte, não teríamos conquistado nosso espaço. Todo mundo conseguiu se comover com nossa causa e nosso lugar de fala. A arte põe o dedo na ferida. Nesse momento eu me apaixonei pela arte.”

    Apaixonada pelo Movimento, Natália fala sobre como a cultura está presente desde o primeiro barraco de lona erguido em cada acampamento, criando a magia e a beleza de ser sem terra. Como sua principal referência, ela aponta a Lucinha Pereira, sua mãe, que além de estar na política e envolvida com diversas outras tarefas, como o plantio, é bastante engajada na frente de cultura do MST.

    Partindo da ideia de que semear arte e cultura transforma realidades, o Movimento trabalha a solidariedade, o respeito ao outro e suas histórias de vitória e resistência através do amor pelo simples que vem de cada coração que pulsa dentro da luta pela terra e se materializa em forma de cultura.

  • Privatização de hidrelétricas pode tornar a conta de luz mais cara em Minas Gerais

    Privatização de hidrelétricas pode tornar a conta de luz mais cara em Minas Gerais

    Em abril deste ano, o Governo Federal publicou um edital de licitação para vender quatro usinas: Miranda, Jaguara, São Simão e Volta Grande. Estas representam 50% da geração de energia da estatal mineira e, no tempo em que estiveram operando, cerca de 30 anos, o valor de construção das mesmas já foi pago nos boletos de conta de luz. Isso significa dizer que, caso elas sejam vendidas para o capital privado, o consumidor estaria pagando novamente por hidrelétricas já construídas e a energia seria ainda mais cara. Para lutar contra os retrocessos na área da energia, entidades, movimentos sociais e sindicais e membros da sociedade civil, criaram a Plataforma Operária e Camponesa de Energia.

    A licitação ainda está pendente por algumas questões judiciais e do TCU (Tribunal de Contas da União), porém a previsão é que ela ocorra em setembro. A justificativa dada pelo Governo Federal é a de que vender as usinas ajudaria a fechar as contas públicas deste ano. Porém, segundo a Plataforma Operária e Camponesa de Energia, os grandes empresários e banqueiros estão sendo isentos de impostos num processo de renúncia fiscal que ultrapassa os R$ 100 bilhões, e este dinheiro é que deveria ser usado para as pagar as contas da união em 2017.

    Construindo uma alternativa para manutenção da soberania da energia elétrica, a Plataforma se uniu em torno da causa para pensar uma forma de salvar a Cemig e garantir que o lucro das hidrelétricas retornasse ao povo. Caso ocorra a perda da soberania da energia no estado, é possível que a empresa estatal decrete falência, já que perderia a metade da sua potência geradora de energia.

    Tirando o valor de manutenção e de pagamento dos quadros de funcionários, as concessionárias de hidrelétrica tem um lucro de 2 bilhões por ano. A Plataforma reivindica que seja criado um fundo, junto à empresa estatal, em que a sociedade civil e o Estado possam escolher para onde irá esta verba, que seria reinvestida em saúde, educação, cultura, apoio aos atingidos por barragens, agricultura familiar e camponesa, entre outras áreas, conforme a necessidade da população mineira. Segundo a mesma, esta proposta é possível e viável, pois é muito semelhante à campanha feita em relação ao pré-sal, cujos lucros vão para um Fundo Social e são destinados à educação.

    Entenda de onde vem o debate

    O direito à exploração de usinas hidrelétricas para gerar energia é uma concessão pública, que deve ser renovada de tempos em tempos e afeta diretamente o bolso das pessoas. Para reduzir o valor da energia elétrica, em 2012 o Governo Federal, representado por Dilma Rousseff, fez uma Medida Provisória (MP) que renovava a concessão de diversas usinas cujos contratos venceriam entre 2013 e 2016 e visava diminuir o valor das contas de luz. Governo de Minas e a Cemig, não concordando com as condições de redução da tarifa, renovaram 18 outras usinas, mas optaram por não renovar três concessões, Miranda, Jaguara e Simão. Houve uma tentativa no mesmo ano de renovação das concessões por mais 20 anos via justiça, mas o pedido à época foi negado.

    A proposta de Dilma era de que as concessionárias fossem remuneradas somente pela operação e manutenção das usinas, visto que seu valor de construção inicial já teria sido pago. Como essa ideia na época não era de interesse do Governo do Estado, a Cemig recuou em aceitar a proposta. Além das usinas que deveriam ter sido renovadas em 2012, Temer pretende leiloar a hidrelétrica de Volta Grande, cuja concessão venceu em fevereiro de 2017.

  • ​Ocupação Chico Rei completa 7 meses de resistência em Ouro Preto (MG)

    ​Ocupação Chico Rei completa 7 meses de resistência em Ouro Preto (MG)

    Foto: Wanderley Kuruzu

    A Ocupação Chico Rei começou em 25 de dezembro de 2015, com a ocupação das terras da siderúrgica Novelis/Hindalco, do grupo indiano Adhitya Birla, sucessora da canadense Alcan, ambas produtoras de alumínio, e está hoje na região da antiga Febem (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor) de Ouro Preto.

    Foto: Wanderley Kuruzu

    Segundo Patrick Souza, do Movimento Mudança, “a ocupação está inserida no movimento de luta por moradia e planejamento urbano, que existe na cidade desde 2004. Chegamos a ter mais de 500 pessoas nessa ocupação. Tomamos reintegração de posse e migramos para as terras da antiga Febem, que hoje são do estado de Minas, cedidas à prefeitura desde 1997.”

    Foto: Wanderley Kuruzu

    Com o lema “Terras de Ouro Preto para preservar o patrimônio cultural e natural, melhorando a vida das pessoas”, os passos do movimento hoje giram em torno de encontrar terras que não cumprem sua função social e torná-las aptas para moradia, já que há uma falsa informação de que a região de Ouro Preto é de difícil ocupação devido ao terreno íngreme. Ao contrário do que é dito, o Movimento afirma que há terras suficientes para não ser necessário que ninguém more em áreas de risco alto de desastre.

    Foto: Wanderley Kuruzu
    O nome da Ocupação é em homenagem a uma grande liderança negra. Chico era rei de uma tribo na África, foi capturado, trazido para o Brasil, feito escravo, juntou dinheiro e comprou sua liberdade e de seus companheiros. Sobre a articulação no local, Patrick explica: “São cerca de 30 pessoas permanentes. Mais uma 200 que frequentam nossas reuniões. Não é nosso interesse ter uma multidão no lugar. Queremos a construção de moradias nessas terras, quem sabe um bairro novo, bem planejado, numa cidade patrimônio cultural da humanidade, onde os pobres foram empurrados para áreas de risco alto e mto alto, principalmente para a Serra de Ouro Preto, de onde foi extraído o ouro que ajudou a financiar a Revolução Industrial. Essa classificação de áreas de risco está na Carta Geotécnica de Ouro Preto, de 2013. Mas nosso principal objetivo é chamar atenção para o problema e ajudar a mostrar soluções. Estamos de olho também no passivo ambiental deixado pelos canadenses, dentre eles, uma barragem de rejeito que fica acima da cidade e que contém, inclusive, soda cáustica.”

    Foto: Wanderley Kuruzu
  • Por reforma agrária nas terras dos corruptos, MST ocupa mais uma de Eike Batista

    Por reforma agrária nas terras dos corruptos, MST ocupa mais uma de Eike Batista

    A fazenda está devastada pela degradação ambiental. As atividades pretendidas pela MMX poderiam acarretar numa crise do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

    Com promessa de expansão de negócios e desenvolvimento através da mineração, Serra Azul (MG) é mais uma das diversas localidades abandonadas pela MMX Sudeste, mineradora de Eike Batista, deixando como legado um completo desequilíbrio ecológico.

    Num ato de devolver ao povo as terras que lhes pertence e punir os corruptos por abusar dos recursos naturais do país, cerca de 200 famílias sem terra ocuparam, nessa quarta-feira (26), a Fazenda de Eike Batista. A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas, que traz com o lema “Corruptos, devolvam nossas terras!”.

    Foto: Agatha Azevedo / Jornalistas Livres

    Dentre as ações já realizadas na jornada estão a ocupação da fazenda de Coronel Lima, parceiro de delações por corrupção e amigo pessoal de Michel Temer, no interior de São Paulo, o latifúndio do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, localizado no interior do Rio de Janeiro, a Fazenda de Blairo Maggi, a sede do Incra em Salvador (BA), entre outras localidades.

    As condições em que se encontram os cerca de 700 hectares de terra abandonada ferem gravemente o artigo 255 da Constituição Federal, que visa proteger o meio ambiente e deveria impedir “práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.

    O local fica na divisa dos municípios de Itatiaiuçu, Brumadinho, Itaúna, Mateus Leme, Igarapé e São Joaquim das Bicas. Na região, se encontram as bacias do rio Manso e rio Serra Azul. Estes dois rios são responsáveis por cerca de 33% do abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e se somam aos sistemas de abastecimento de água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).

    Foto: Agatha Azevedo / Jornalistas Livres

    Isto significa dizer que as ações gananciosas de Eike e companhia, já que a região também é explorada pela Usiminas, podem prejudicar o abastecimento de água de mais de 5 milhões de pessoas, e os problemas podem ser ainda mais graves, já que os impactos da exploração de ferro na região poderiam ser sentidos ao longo da bacia do Rio São Francisco, na Região costeira do Atlântico Sul.

    As minas de Tico-Tico e Ipê foram responsáveis pela destruição de grande parte da fauna e da flora silvestres da região. Várias cavernas com formações de minério de ferro foram abaladas pelo trânsito intenso dos caminhões e escavadeiras da mineração. As máquinas expulsaram a vida que pulsava na região, e tamanduás, lobos-guará e veados se tornaram cada vez mais incomuns.

    Eike Batista está preso, em sua mansão, por envolvimento em um esquema de corrupção envolvendo o ex-governador fluminense Sérgio Cabral. Sua falência é datada de 2013, e a MMX Sudeste tenta capitalizar recursos passando as atividades minerárias para a empresa estrangeira.

    Não há como negar a culpa do empresário na destruição das bacias hidrográficas da região. No primeiro semestre de 2011 a Emicon Mineração e Terraplanagem Ltda., empresa que pretendia ter três usinas de beneficiamento na região, já havia apontado para algumas irregularidades. Era possível constatar sinais de assoreamento de rios e córregos e barragens de rejeito acima de níveis considerados seguros.

    Foram mais de 65 propriedades compradas somente na região metropolitana de Belo Horizonte, totalizando 2,5 mil hectares de terras que visavam triplicar os números anuais de extração e processamento de minério. Cidades como São Joaquim de Bicas, Brumadinho e Igarapé se encontram hoje abandonadas e improdutivas.

    Foto: Agatha Azevedo / Jornalistas Livres