José Roberto Torero*

Diário, aquela máscara é uma coisa muito complicada. Uma hora ficava pendurada na orelha, outra hora ficava tampando meu olho. Pô, por isso que eu não uso esse negócio. Como é que vou dirigir moto assim?

 

Até o Bonner tirou sarro de mim no Jornal Nacional. Disse que eu e os ministros demos “uma aula de como não usar a máscara”.

 

Pelo menos o Guedes também botou o treco em cima do olho. Assim não banquei o bobo sozinho. Grande Guedes!

 

O pior é que, durante a coletiva, enquanto eu tava brigando com a máscara, já começou um primeiro panelaço. Aí teve outro às 20h00 e mais um às 20h30. E num monte de lugar.

 

Com os protestos daquelas cidades de paraíba, tipo Fortaleza, no Rio Grande do Norte, ou João Pessoa, em Sergipe, eu nem me importo. Mas os panelaços nos bairros chiques do Rio, de Florianópolis, de Goiânia e de São Paulo foram sacanagem… São a minha turma, pô!

 

Um dos meus garotos me mandou dois vídeos feitos no bairro de Perdizes, em São Paulo.

 

O primeiro era do panelaço contra mim. Muita gente estava batendo panela e gritando “Fora Bolsonaro!”. Não era que nem contra a Dilma, mas quase. E tinha até projeção nos prédios. Os comunas capricharam.

 

O segundo era do panelaço a meu favor. Um fiasco. E olha que durante a coletiva sobre o coronavírus eu dei um jeito de fazer propaganda da manifestação, dizendo até o horário e tudo. Mas não adiantou porcaria nenhuma. No vídeo que eu recebi só tinha um cara berrando “Lula na cadeia!”. Caramba, a coisa não era contra o Lula, era a meu favor! “O Capitão é um gênio” ou “Bolsonaro é o nosso grande timoneiro e vai nos tirar dessa crise”?

 

Pra completar o dia, o Davi Miranda, aquele deputado casado com o Glenn Greenwald, protocolou mais um pedido de impitimam contra mim. É o dôzimo. Já pensou se eu perder a presidência por causa dele? Vou morder a testa de raiva!

 

Olha, Diário, ontem foi difícil, bem difícil. Vou até botar a máscara nos olhos e dormir mais um pouco.

 

@diariodobolso

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.