O empresário e programador norte-americano Mark Zuckerberg construiu uma das plataformas de redes mais completas e aceitas pela população mundial. O Facebook conseguiu conjugar família, interesses políticos, cultura, dentre outros temas, seja nos perfis, nas páginas ou nos grupos.
Em um discurso sobre meritocracia, o idealizador (ou não) colocou uma rede livre, em que os usuários pudessem interagir e visualizar os conteúdos mais importantes naquele momento, formando a chamada linha do tempo. Porém, essa linha do tempo se tornou um grande negócio.
Segundo especialistas, a proposta do novo algoritmo consiste em identificar os interesses particulares de cada pessoa. Os amigos e familiares priorizados no topo do feed serão aqueles com quem o usuário mais interage. A ideia é que todos os posts de contatos “importantes” não sejam perdidos enquanto você estava fora.
Porém, os conteúdos de página entram em sua “bolha” de forma integrada aos seus interesses caso sejam pagos.
Enfim. Ou você curte a página e passa a dar prioridade no acompanhamento daquelas informações, ou terá dificuldade para visualizar aqueles conteúdos.
Em poucas palavras, as empresas deixaram de financiar grandes websites e patrocínio de rádio e TV e perceberam que, com pouco dinheiro em relação ao que antes era gasto, atingiam mais pessoas com diagnóstico e orientação do conteúdo impulsionado. Nessa perspectiva, o Facebook, para lucrar mais hoje, obriga redes consolidadas a patrocinar seus conteúdos ou entrarão no ostracismo das “bolhas” estabelecidas.
Se era pela meritocracia, e se o Facebook quer se colocar como um grande negócio, então que deixe as empresas pagarem a conta e continue a valorizar os milhares de conteúdos livres que construíram suas redes de forma orgânica, por meio de bons textos, vídeos e fotos.
Caso contrário, novas plataformas virão.
Dúvida? Não precisamos te contar a história do Orkut.
A cidade de Campinas (SP) possui grandes representantes da Cultura Popular, mestres griôs , grupos e comunidades que preservam as manifestações culturais. O calendário das manifestações culturais popular é marcado por acontecimentos durante o ano. Os Arraiais são um deles. No mês de julho, duas festas de dois grupos e espaços culturais importantes acontecem: O Arraial Afro Julino, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro (Fazenda Roseira), e o Arraial do Urucungus do Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues. Os Jornalistas Livres Campinas estiveram nas duas festas e conversaram com Alessandra Ribeiro, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, e Alceu Estevam, do Grupo Urucungus, Puitas e Quinjegues.
Arraial Afro Julino
O Arraial Afro Julino, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, acontece na Casa de Cultura Fazenda Roseira sempre no segundo sábado de julho. O Arraial Afro Julino é uma grande festa organizada pela sociedade civil em Campinas. Cerca de 8 mil pessoas participam e transitam pelas 18 horas de festa na qual há alegria e comunhão. Há barracas de artesanato afro, e de alimentação com os tradicionais quitutes juninos, além de muita culinária cultural, como acarajé. Contando também vários palcos que alternam as apresentações artísticas e a área de discotecagem, a programação é intensa. O público assiste à roda de jongo, samba, maracatu, rap e a outras manifestações culturais afro-brasileiras.
Arraial Afro Julino
Neste ano (2016), em sua 13º edição, Alessandra Ribeiro, neta de Dito Ribeiro e líder da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, conversou com os Jornalistas Livres de Campinas e falou sobre a festa.
“A festa é importante para nós, para nossos parceiros, essas parcerias que fortalecem e engrandecem. A economia é solidária, composta por vários parceiros e grupos, cada um com sua barraca. Isso traz empoderamento a todos nós. A cada ano vamos nos aprimorando quanto à organização, e mostramos a nós que podemos organizar tranquilamente uma grande festa para a população. A nossa festa ao longo do tempo vêm crescendo cada vez mais. Pessoas de outras localidades e países vêm ao nosso Arraial. Nesse ano, tivemos pessoas de oito países diferentes.”
Alessandra ainda se expressa sobre as tradições; “Ao evocarmos São Benedito (o santo que foi um trabalhador na cozinha da nobreza europeia) para também ser homenageado, reverenciamos a nossa ancestralidade. Demonstramos que o povo negro conhece e reconhece sua cultura e que sabe preservá-la e mantê-la.”
Arraial Afro Julino – Alessandra Ribeiro – Comunidade Dito Ribeiro
Para quem ainda não conhece, a Casa de Cultura Fazenda Roseira é uma conquista do movimento negro e do movimento popular sendo uma referência da cultura afro-brasileira na cidade de Campinas. O casarão data do final do século XIX, transformado em equipamento público em 2007 por conta do loteamento da área da antiga Fazenda, a qual, à beira da destruição e depredação, foi ocupada pela Comunidade Jongo Dito Ribeiro e outros movimentos sociais e religiosos de matrizes africanas. Desde então, o casarão promove diversas ações culturais e sociais abertas à população.
O Arraial do Urucungus do Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues, que acontece na sede do grupo, “É uma grande confraternização. É uma celebração entre amigos e parceiros”, afirmou Alceu Estevam, que lidera o grupo junto com sua esposa Rosa.
Arraial Urucungus
O grupo Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues, fundado há 28 anos pela folclorista Raquel Trindade, é muito respeitado e uma referência para os grupos da cidade, uma vez que grande parte dos artistas de cultura popular já passaram ou foram influenciados pelo “Urucungos”. Segundo Alceu, “Nós não temos nenhuma ficha de inscrição. Quem quiser vir é bem vindo. Se a pessoa sair e voltar depois de um tempo, ela é aceita e participa da mesma forma. Existe total liberdade de escolha”.
O Arraial do Urucungus tem como tradição o ritual de “erguer o mastro aos Santos”, que é feito pelo grupo feminino “As Caixeiras das Nascentes”, abrindo a festa. Todas as pessoas presentes podem seguir o costume junino de “fazer um pedido ao santo, dando um nó na fita do mastro”.
Arraial UrucungusArraial Urucungus
A programação artística é variada e constante. Durante o encerramento de uma apresentação já se inicia outra, logo na sequência. Alceu Estevam fala a respeito da relação do “Urucungus” com os outros grupos e sobre o sortimento de atrações: “Nós temos muitos parceiros. As parcerias foram construídas e fortalecidas ao longo desses 28 anos de existência. É uma relação “de bigode”, ou seja: Nós vamos à Roseira (Casa de Cultura), e o Jongo vem aqui. As Caixeiras sempre abrem a nossa festa. Temos parceiros, como o Ibaô (Ponto de Cultura), o Maracatucá (Grupo) e a Tainã (Casa de Cultura), que sempre nos apoiam, como acontece durante o Carnaval.”
O público participa ativamente das apresentações, já que a interação entre as pessoas é algo típico da cultura popular. As rodas são constantes e os grupos abrem a participação popular, convidando as pessoas a se envolverem.
Arraial Urucungus
Alceu ainda comenta: “É sempre importante termos consciência quanto ao valor da cultura de matriz africana e da cultura popular. Durante um tempo, elas ficaram esquecidas na nossa cidade e, de uns tempos para cá, os grupos (coletivos) estão retomado o movimento, apropriando-se e ocupando os espaços. Sempre na luta e resistência”.
Mais imagens das festas
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino, Comunidade Jongo Dito Ribeiro
Arraial Afro-Julino,
Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Afro-Julino,
Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Afro-Julino,
Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Afro-Julino,
Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Afro-Julino,
Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Urucungus, Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Urucungus, Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Urucungus, Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Arraial Urucungus, Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues
Na noite dessa terça feira (26), o comitê da Democracia de Governador Valadares (MG) esteve presente na Escola Municipal José Ângelo de Marco para discutir junto com os alunos o atual cenário político do país. Com jogos e dinâmicas, a turma conseguiu debater de forma leve a democracia, os três poderes, as esferas de governo e o sistema político.
A roda de conversa foi liderada pela Militante do MAB, Talita Silva e pelo Vinícius Maia, Militante do Levante Popular da Juventude.
Primeiro os alunos foram provocados a pensar sobre problemas do cotidiano, como a falta de água, preço da luz e valores dos impostos. Qual é a responsabilidade do governo para cada uma dessas demandas. Foi proposta uma dinâmica para se aprofundar no assunto. Em pedaços de papeis foram escritos alguns direitos como ensino superior, ensino médio, educação infantil, Trânsito e saúde. A turma foi dividida em duas equipes, o líder de cada equipe perguntava de quem era à responsabilidade de garantir esses direitos, governo municipal, estadual ou federal. A vontade da maioria vencia. Com isso, foi introduzido conceito de democracia, no caso a direta, que é o próprio povo que escolhe qual dessas esferas possui essa responsabilidade.
Em seguida, foi pedido que todos se levantassem e ficasse apenas uma pessoa em pé.
A dinâmica ajudou a refletir como uma minoria pode mandar no país e que essa minoria não está interessada em defender os interesses do povo. Ao longo do encontro a turma também relatou os problemas e enfatizou a necessidade de lutarmos pela manutenção dos direitos e qualidades dos serviços. E no fim questionaram se de fato o povo está no poder.
Os versos, e a rima em si, é uma característica marcante da poesia de cordel. Existem várias formas de estrofes e versos que se encaixam na produção cordelista. Constituída desde estrofes, com o mínimo de quatro versos a estrofes com mais de dez versos, a literatura de cordel tem forte presença no nordeste brasileiro. E foi na oralidade que o cordel teve seu início, sendo muitos repentistas exemplos de cordelistas.
A maioria dos poetas da literatura de cordel são nordestinos. Isso não significa a inexistência da poesia de cordel em outras regiões do país, mas sem sombra de dúvidas, os poetas cordelistas estão presentes em menor número no sudeste, no sul e no centro-oeste. A presença marcante do cordel na região nordeste explica-se desde a chegada da corte portuguesa em terras brasileiras. Sabe-se que se aportaram em Salvador e junto com os desejos de desbravar e conquistar novas terras, a literatura de cordel também desembarcou aqui, em terras tropicais. Dessa forma, já no século XVIII, encontrava-se literatura de cordel produzida pelo nosso povo brasileiro. E no século XIX já era marcante a presença do cordel com características essencialmente brasileiras.
Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo
Durante o Festival Nacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), que aconteceu em Belo Horizonte entre os dias 20 e 24 de julho, a literatura de cordel marcou presença. Na programação oficial do evento, todos os dias ocorreram a Mostra de Poesia Luiz Beltrame, com apresentação de poemas e composições dos integrantes do MST. Beltrame é um poeta nordestino com mais de 100 anos de idade e integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra.
Além da programação oficial, havia ali, dependurados, apoiados em uma pilastra do Galpão da Serraria Souza Pinto, vários livros de poesia de cordel expostos. O preço? Baratinho. Dois reais apenas por uma literatura essencialmente nordestina. “Essa é a mercadoria mais barata do Festival. E aqui, nesse local, com certeza, tem em média 500 poetas, dentre escritores e compositores participando do evento”, enfatizou o poeta que expunha suas poesias de cordel.
Gustavo Miranda/ Sô Fotocoletivo
Alexandre Salles, o poeta solitário, vindo de Gameleira, a 98Km da capital de Pernambuco, além de dependurar os livrinhos para serem vendidos, é também o autor das poesias. “Cheguei aqui e consegui um bom preço no xerox para produzir meus livros. Agora vou expor eles durante a feira”, contou Alexandre, enquanto dobrava e grampeava seus livros de cordel. O poeta afirma que, especialmente para o Festival da Reforma Agrária, ele produziu dois cordéis inéditos “A era LULA – Tempos de Fartura” e “A Luta Pela Terra – É o dia a dia do Agricultor”. Vale ressaltar que, as publicações de cordel, quase sempre, são feitas pelos próprios poetas de maneira artesanal, em folhas de papel A4, partidas ao meio, dobradas e grampeadas. Os materiais essenciais para produzir os livros de cordel é uma guilhotina de cortar papel, um grampeador e a disposição em dobrar cada livrinho. “Pronto! Agora já estão todos à mostra e disponíveis para a venda”, completa Alexandre.
Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo
E ainda, falando-se da presença de poetas cordelistas no Festival da Reforma Agrária do MST em BH, José Paes de Lira, o Lirinha, poeta da cidade de Arco Verde, interior de Pernambuco, e ex-vocalista da extinta banda Cordel do Fogo Encantado, foi um dos convidados do evento. Quando chamado ao palco, ele expôs que sua paixão pelo cordel deu-se após conhecer as poesias de Ariano Suassuna, importante poeta cordelista nascido em João Pessoa, na Paraíba. E ali, acostumado com o palco, o pernambucano Lirinha demonstrou sua aproximação com o MST e a felicidade em participar daquele momento. Seus versos, declamados em tom forte e rimas cantadas, foram ouvidos pela plateia, que sentada no chão, próximo ao palco, permanecia com olhares fixos e ouvidos atentos às palavras declamadas.
Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo
Ai! Se sêsse!…
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
*Poeta: Zé da Luz
No improviso com as palavras, o cordelista tira seus versos ou, que sejam versos e estrofes pensadas e escritas, para depois ser inseridas nos livros. Temas sobre o amor, a solidão, a vida sertaneja, a cultura nordestina, as aventuras, além de ficções e fatos jornalísticos estão presentes na literatura de cordel. Em uma conversa franca e descolada com o poeta, músico e compositor Lirinha, a caráter de exemplo, ele cita como o cordel, ainda antes da televisão e do rádio, servia para levar informação à sociedade. “Contaram-me que, quando Getúlio Vargas se suicidou, por volta de 8h30 da manhã, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, às duas horas da tarde já tinha na feira de Campina Grande a morte de Getúlio em um folheto de cordel, escrito com as características que definem a literatura cordelista.”
Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo
Segundo Lirinha, a literatura de cordel teve seu auge por um contexto histórico: nas décadas de 30 e 40, a poesia de cordel era o jornal do sertão nordestino e também o entretenimento. “Naquela época, os folhetins, ou cordel, eram o que equivale hoje às novelas. Naquelas décadas, o cordel significava o encontro pós janta para a leitura de poesia ao redor do fogo”, argumenta Lirinha.
Alexandre Salles, o poeta solitário, integra o MST e participa do Festival com a sua banca de frutas, legumes e verduras, vindas diretamente de Gameleira/PE, e aproveita para expor e vender seus livros de poesia. Alexandre conta que sua missão é não deixar morrer a poesia de cordel. E mesmo que ela não lhe dê renda para sobreviver, não a deixará. “A nossa cultura está ameaçada de morte. Nós, cordelistas, estamos entrando em extinção. E eu, que sou jovem, tenho a missão de carregar a poesia de cordel até o futuro. Nós, nordestinos, carregamos nossa cultura no DNA”, afirma o poeta solitário, de 28 anos. Alexandre vende, juntamente com sua família, às margens da BR 101, no KM159, o que produz e tira da terra: frutas, legumes e verduras. Na barraca de alimentos agroecológicos, ele aproveita para vender suas poesias.
Sobre a luta pela poesia de cordel e sua obstinação em estimular e levar a leitura às pessoas, o poeta solitário conta que “uma vez, um caminhoneiro falou que não ia comprar os livros porque ele dirigia muito e não teria tempo de ler. Mas eu insisti e ele levou. E não é que, depois quando o vi novamente, ele disse que leu meus cordéis. Teve uma paralisação na estrada por onde ele viajava, daí contou que em 30 minutos leu as poesias que tinha comprado comigo”, relata Alexandre, sobre suas experiências em vender seus livros.
Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo
Salles também conta a dificuldade que existe onde mora, para digitar e imprimir seus cordéis. “Lá em Gameleira, as lan-house não querem digitar as poesias, porque não dá lucro para eles. Além do xerox também ser muito caro. Aqui consegui a 0,05 centavos, acima de 100 cópias, onde moro, é 25 centavos acima de 100”, desabafa Alexandre, que também afirma ser avesso à tecnologia. “Não tenho computador, não tenho celular, não uso internet. Sou do tempo do bilhete e da carta, sou da moda antiga”, esclarece o poeta, que também reconhece que, para ele, a tecnologia não é só coisa ruim. “Na verdade, a tecnologia oferece coisas boas e você pode usar a seu favor. Mas, no Brasil muita gente a usa de maneira errada”, completa Alexandre, que ainda depois dessa afirmação finaliza: “Sou da idade da pedra. Sou Alexandre Salles, o poeta solitário.”
O sem-terra e poeta pernambucano conta que a solidão é a grande companheira do cordelista. “O cordel surgiu para mim através da solidão e também por meio do MST. Na época eu fazia parte da base de militância Pé no Chão, em Caruaru/PE. De lá, veio a vontade de fazer poesia, pois a solidão era minha companheira.”
Sentado à beira da cama
Sozinho me ponho a pensar
Será q existe mulher que me ama
Se existe aonde está
Da cama vou para a sala
Da janela começo a olhar
Toda essa solidão me abala
Da vontade de chorar
Da sala eu vou pro terraço
As estrelas começo a contar
Ás vezes preciso de um abraço
E não tenho ninguém pra me dar
Do terraço eu vou pra cozinha
Vou tentando disfarçar
São tantas mulheres sozinhas
Mas a minha aonde está?
Da cozinha entro no banheiro
Ali eu tomo meu banho
Meu coraçãoo tá solteiro
procurando alguém do seu tamanho
Onde será que está ela…..
Poeta: A. Salles, o poeta solitário
Hoje, a literatura de cordel segue viva, mas não tão viva assim, pois na era de computadores, internet e comércio de livros caros, o cordel pode ser que passe despercebido. Porém, os lutadores da poesia, cordelistas de coração, escrevem e produzem seus próprios livros e saem às vendas, a exemplo do Poeta solitário. Com uma postura firme na fala e o sotaque pernambucano, ele conta que gostou de Belo Horizonte. “Aqui as pessoas parecem ser muito acolhedoras. E de agora em diante eu não perco mais nenhuma feira dessa. Isso é bom demais!” Para completar sua satisfação, Salles conta que todos os exemplares do título “A era LULA – Tempos de Fartura” foram vendidos, e àquela altura, na manhã de domingo do último dia do Festival da Reforma Agrária do MST, ele já tinha procurado pelo centro de Belo Horizonte, algum local onde pudesse fazer mais cópias para vender.
Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo
O trânsito da poesia de cordel
Ali, bem à porta da Serraria Souza Pinto, onde durante quatro dias aconteceu o Festival da Reforma Agrária do MST, rolava um rap. Era domingo, 24 de julho, e era dia de Duelo de MC’s, evento realizado pelo coletivo Família de Rua, que promove batalhas de freestyle entre os mc’s que animam se inscrever e competir, em que vencem as melhores rimas.
Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo
Batalha essa que é feita de palavras. Palavras essas que compõem versos e formam poemas. O mestre de cerimônia, o rapper Douglas Din, com o boné aba reta do MST na cabeça, pede licença à geral do rap, e disse que ali estava para apresentar um poeta. Nesse momento, rolava um break, que foi interrompido para prestigiarem a poesia. Especificamente a poesia de cordel.
“Peço licença para apresentar um cara referência na poesia pra mim. E o rap é composto de poesia. Com vocês, Lirinha, vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado”, bradou ao microfone Douglas Din. Daí em diante, no palco do rap, no Viaduto Santa Tereza, o que rolou foi poesia de cordel e todos atônitos, prestando atenção às palavras que Lirinha entoava para a crew do hip hop do Duelo de MC’s.
Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo
À frente de Lirinha, centenas de pessoas o fitavam ao final dos versos, gritos de wow e assovios de exaltação devido às poesias declamadas, eram entoados pela galera do Duelo.
Depois da inserção poética de cordel no palco do rap, o poeta solitário, Alexandre Salles, ao encontrar com o repórter aqui, disse que já estava de partida. Dali a pouco o ônibus da galera do MST de Pernambuco já seguiria rumo ao nordeste. Enquanto isso, o poeta solitário sempre frisava, ao ver caixotes, garrafas e embalagens sendo descartadas, que aquilo tudo, em Gameleira/PE, viraria arte. É assim a cabeça de quem pensa e vive poesia, sempre quer construir algo e transformar seu entorno. Salve salve a poesia de cordel.