Jornalistas Livres

Categoria: Goiás

  • Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

    Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

    Por Diane Valdez, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, militante do Movimento de Meninos(as) de Rua e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno

     

     

    Hilário Ab Reta Awe Predzaw, 43 anos, morador da Aldeia Xavante N. S. de Guadalupe, em Barra do Garças, Mato Grosso, morreu na madrugada de 18 de junho de 2020, vítima do descaso governamental que permitiu a chegada do Coronavírus em sua comunidade. Era aluno do 5º período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Sua tia morreu há pouco mais de uma semana vítima do mesmo descaso, a mãe e seus dois irmãos, seguem contaminado pelo vírus, assim como outros Xavantes e outras pessoas de etnias indígenas de todo o Brasil.

    Hilário entrou na UFG, pelo sistema de cota para indígenas, no ano de 2018. Chegou com o já conhecido atraso histórico de acesso dos povos originários no ensino superior, ainda que a UFG seja uma das universidades públicas que tem buscado cumprir com o direito de povos indígenas ao ensino universal, o acesso e a permanência ainda sofrem de fragilidade.

    A trajetória de Hilário, na UFG, não se limitou às dificuldades ocasionadas pela pobreza, como muitos de nossas/os alunas/os enfrentam. A academia era um outro mundo, distante de sua comunidade, não só em quilômetros, como também em movimentos culturais, sociais e políticos. Talvez essa distância, o fazia um aluno reservado e observador, sem abrir mão da seriedade e interesse pelo conhecimento.

    Era umas das lideranças de seu povo, portanto, sabia da responsabilidade que assumia frente a comunidade, ele seria um professor, um educador de seu chão, de sua gente. Hilário trabalhava em uma escola, com o formato de um Tatu Bola, na sua aldeia, trabalhava na área de serviços gerais, em breve voltaria como Professor!

    No primeiro ano de curso, Hilário, na desconfiança de seu silêncio indígena, que não significava submissão, tentava se inserir no mundo acadêmico. Veio um tempo, que largou tudo e voltou para a aldeia, não por opção dele, mas por opção deste desgoverno que é incansável na destruição de direitos dos povos originários.

    O Ministério da Educação e Cultura, suspendeu todas as bolsas de permanência para a população indígena e quilombola. Um grupo de alunas e professoras se juntaram, arrecadaram dinheiro e o trouxeram de volta para a Faculdade. Foi feita uma mobilização de docentes e discentes sensibilizados e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFG, cumprindo seu importante papel, disponibilizou uma bolsa e outros auxílios emergenciais.

    Nessa ocasião, quando perguntado sobre o porquê de não falar nada dos problemas para colegas, e voltar para sua comunidade, Hilário disse que achava que ninguém sentiria falta dele.

    No segundo ano, trouxe seu curumim para estudar em Goiânia, começou a trabalhar como intérprete na escola, acompanhando seu filho na dificuldade com a lingua. Era visível seu orgulho de exercer a função de intérprete. Lutou e enfrentou as diferenças que separavam as culturas e, como muitos, guerreou como seus ancestrais, para não perder seu lugar de legítima conquista.

    No início da Pandemia, que começou junto com o semestre letivo, Hilário resistiu em voltar para sua comunidade, tinha medo das aulas retornarem e ele não estar presente na Faculdade, isso aponta o lugar que a UFG ocupava em sua vida. Quando percebeu que seu povo não estava acreditando na letalidade do vírus, retornou para alertar todos sobre o perigo. A UFG, cumprindo seu papel de instituição pública, providenciou o transporte para seu retorno no Mato Grosso.

    Em maio, informou para duas amigas, que sua comunidade precisava de cobertores, pois fazia muito frio, e seu povo estava adoecendo. Elas mobilizaram, imediatamente, uma Vakinha On Line, onde arrecadou-se pouco mais de três mil reais, no entanto, como o total da arrecadação demora para ser liberado, emprestaram dinheiro e compraram os cobertores de forma mais hábil, enviando-os dia seguinte.

    Os sintomas que atingia a comunidade, febre, falta de ar etc. já indicavam que era Coronavírus, no entanto, isso não foi motivo de interesse governamental, que poderia ter evitado o alastramento do vírus.

    Ao apresentar os sintomas da doença, Hilário mostrou-se resistente em ir para o hospital, tinha dificuldade de aceitar o tratamento “dos brancos”. Acreditava nos rituais de seu povo, no tratamento natural que conhecia há tempos. Por outro lado, a histórica resistência dele, fazia todo sentido, pois sabemos como os povos indígenas são tratados neste país tão indígena que não se reconhece como indígena. Foi convencido a ir para o hospital e, na última conversa com as amigas em chamada por vídeo, estava muito escuro, e a família arrumou uma lanterna para as meninas verem o rosto dele, que disse para elas, em lágrimas, que estava somente suado, quando perguntado se estava com medo, disse que sim, que estava com muito medo…

    A ida para o hospital foi acompanhado de longe pelas amigas, falavam sempre com a Assistente Social que afirmava que Hilário estava se recuperando, que receberia alta a qualquer momento. Nessa madrugada, ao pedirem informações sobre o amigo no hospital, alguém disse que alguém havia morrido, mas não sabia o nome. O nome de mais um número morto é Hilário Ab Reta Awe Predzaw, que deixou a mulher, filhos e todo seu povo Xavante.

    O acesso dos povos indígenas ao ensino superior é recente, no entanto, é marcado por extrema coragem e resistência, pois o mundo acadêmico não é de todo um espaço acolhedor. Ainda que a dureza prevaleça na universidade, Hilário encontrou solidariedade e amizade na Faculdade de Educação, ainda que não seja uma solidariedade coletiva, foi construído uma rede de apoio, tanto de alunas/os, como também de docentes, isso pode ter aliviado sua dura estrada longe de seu chão.

    Hilário não morreu porque “chegou a hora dele”, morreu por não ter o direito de ser mais um indígena, digno de necessários cuidados. Hilário, era um homem parte do “povo indígena”, um povo invisibilizado, injustiçado, espezinhado, humilhado e, odiado por este desgoverno.

    Um povo com suas terras ameaçadas e roubadas pelo latifúndio, mortos por pistoleiros do agronegócio, ironizado e menosprezado por representantes deste desgoverno, ignorado por gente nativa que se acha descendente de europeus, machucados por todos que acham que universidade não é lugar de indígenas.

    Não sei falar de fé, nem de ‘destino’, nem de coragem para aliviar o cansaço de um tempo incansavelmente dolorido. Ironicamente, para não dizer, funestamente, o tal ministro da educação, que afirmou odiar a expressão “povos indígenas”, ampliando seu descaso com a educação, revogou hoje [H OJ E], (19/06) a portaria assinada pelo ex-ministro de educação, Aluísio Mercadante, que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Hilário, estaria fora da pós-graduação, se dependesse deste ser desumano.

    Quando lanternas começaram a iluminar caminhos de direitos para esta população, no interior de nossas universidades públicas, ainda que timidamente, um furacão de perversidade em formato de governo, dá pontapés e pisa, moendo, as possibilidades de justiça. Feito bandeirantes, grupos genocidas a frente das decisões da nação, estimulam a morte em todos os formatos. Deixar que o coronavírus atue, sem controle, é a proposta de morte atual para os povos originários.

    Como Hilário, temos medo, muito medo, mas agarremos as lanternas, e assumimos nosso lugar na defesa dos povos indígenas, não os condenando a escuridão, como muitos fazem.

    Hilário Ab Reta Awe Predzaw presente!

    Este texto foi escrito com informações coletadas com as alunas, companheiras de Hilário, da turma do quinto período de Pedagogia da Faculdade de Educação/UFG, Dorany Mendes Rosa e Raysa Carvalho.

    A elas e a toda turma, meu carinho e solidariedade.

  • Kátia Maria (PT) cobra de Caiado (DEM) implementação de políticas públicas para combater a pandemia

    Kátia Maria (PT) cobra de Caiado (DEM) implementação de políticas públicas para combater a pandemia

    O governador do Estado de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), teve um vídeo viralizado ao dar um sermão nos seguidores goianos de Bolsonaro, que seguiram a sugestão do próprio presidente de ir às ruas protestar contra o congresso e o STF no último dia 19 de março, quando começara a valer o decreto de isolamento em Goiás. O governador disse que honraria seu juramento de médico e não permitiria que aquela manifestação ignorante acontecesse, tendo em vista que a saúde pública está a beira de um colapso. Mas a presidenta do Partido dos Trabalhadores de Goiás, Kátia Maria – candidata a governadora do estado pelo partido em 2018 – lembra que repreender a atitude de Bolsonaro sem implantar políticas públicas não levará a lugar nenhum.

    A ex-candidata a governadora pelo PT, Kátia Maria exige que o governador aja com firmeza no combate à crise que já matou mais de 44 mil pessoas e com quase um milhão de infectados em todo mundo. Katia diz ser imprescidivel que o  Estado faça políticas públicas no combate a covid-19.

    Kátia, que é, professora universitária, enviou uma mensagem ao povo e a Caiado, com propostas de soluções para amenizar os danos econômicos da pandemia do coronavírus em Goiás e garantir condições aos trabalhadores de ficarem em casa e profissionais de saúde de cumprir seus ofícios em segurança, fornecendo o equipamento de proteção individual necessário.

    “A pneumologista da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, alerta que quebrar o isolamento social agora pode levar a mortes que poderiam ser evitadas. Nosso sistema de saúde pode colapsar e muitas vidas serão ceifadas. Governador Caiado, seja firme e não ceda às pressões da sua base e do mercado, mantenha o isolamento. Se precisar prolongar depois do dia 04, o faça. Sou dona de uma pequena empresa, que pelo decreto poderia estar aberta. Mas decidimos ficar em casa, porque essa é a medida mais responsável e eficiente no momento”.

    Kátia enfatiza que o isolamento social, fundamental para o combate à crise do coronavírus, precisa vir acompanhado de outras medidas urgentes, como por exemplo a revogação da EC 54, que congela os investimentos em saúde em Goiás, além de remanejar recursos de áreas secundárias a fim investir 15% a mais na saúde. A presidenta do PT afirma que essas medidas são indispensáveis para salvar vidas daqui para frente.

    A professora explica que reorganizar o orçamento é necessário para certificar condições de trabalho aos profissionais da saúde do estado e dos municípios e dos colaboradores administrativos, estes que apesar de conviverem no ambiente hospitalar, denunciam não receberem  máscaras, óculos e outros equipamentos de proteção individual. 

    “É preciso ter kits em quantidade suficiente para testar o coronavírus no início, agir na prevenção, e além do isolamento, indicar o tratamento adequado, poupando vidas e o SUS. A saúde adquiriu 300 mil kits de teste rápido, mas é muito pouco, não atende nem 5% da população goiana”, afirma Kátia.

    “Será mais barato e eficiente que manter uma pessoa por 10 dias na UTI e ainda ver aumentar o número de mortos”, avalia.

    Apoio aos municípios

    Para a liderança do Partido dos Trabalhadores, nesta crise que se acentua diariamente tanto do ponto de vista da saúde pública, quanto financeiro, é fundamental que o governo do estado apoie as prefeituras a estruturar a rede de atenção básica nos municípios, dando condição para o tratamento e a prevenção, principalmente. 

    “E mesmo com o hospital de campanha em Goiânia, sabemos que faltará leitos, principalmente se a população seguir a orientação irresponsável do Bolsonaro. Além de mais vagas em Goiânia, é preciso ter um hospital de campanha no Entorno do Distrito Federal urgente, é a segunda maior região do Estado e a população já sofre os impactos da contaminação por Brasília”, lembra a ex-candidata a governadora pelo PT em Goiás.

    O programa de transferência de renda do Governo Estadual de Goiás, o Renda Cidadã, também foi outro ponto destacado por Kátia Maria. Ela afirma que ampliar o programa é o caminho para que os trabalhadores possam ficar em casa com dignidade em quarentena. 

    A professora ainda alerta que Caiado piora a situação das micro e pequenas empresas ao substituir o programa Crédito Produtivo pelo Créd Fomento. “Aloque os 500 milhões, que você disse destinar às linhas de crédito no programa crédito produtivo, que tem uma alíquota de 0,5% ao mês, ao invés de criar o Créd Fomento, com juro triplicado, como foi feito, de 1,44%”, defende Kátia.

    “O programa de renda básica apresentado pelo PT e partidos de oposição no Congresso Nacional já ajuda a melhorar a economia, mas é preciso que o estado crie programas para auxiliar na manutenção dos empregos, pagamento dos salários e no apoio para as micro e pequenas empresas. Conte com o nosso apoio para manter o isolamento social, mas estaremos ao lado da nossa gente para cobrar do governo as medidas para proteger e salvar a vida do povo goiano”, finaliza a líder petista. 

    Entrevista

    Kátia Maria concedeu uma entrevista ao jornalista Emilio Rodrigues, do Jornalistas Livres, na qual explica detalhadamente a situação do estado de Goiás, onde o atual governador democrata Ronaldo Caiado, decidiu ir contra as medidas irresponsáveis adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro frente ao combate à pandemia do coronavírus. Assista:

     

  • Professora presa ao defender seus alunos

    Professora presa ao defender seus alunos

     

    Na manhã de ontem (15) a professora Camila Marques foi detida na escola em que leciona, o campus de Águas Lindas do Instituto Federal de Goiás, por gravar um vídeo de seus alunos sendo presos pela polícia.

    A professora, que ensina sociologia, afirmou no vídeo abaixo que perguntou aos policiais o que estava acontecendo para que eles prendessem seus alunos: ‘é sigilo, é sigilo.’- Eles responderam, e por isso ela começou a filmar com seu celular.

    Os policiais não permitiram que ela continuasse com a gravação, pediram incessantemente que ela parasse, que não filmasse seus rostos. A professora, que também é coordenadora geral do seu sindicato (SINASEFE), disse que como agente público ele deveria permitir que ela o filmasse, mas mesmo assim a resposta foi negativa.

    O policial responsável pela ação foi com a professora para trás da escola, e afirmou que ela estava ‘tumultuando, o diretor chamou a gente aqui porque tem uma denúncia de que pode ocorrer um atentado como de Suzano, agora que a senhora estava tumultuando vai ter que ser levada como testemunha, e seu celular vai ser apreendido.’

    A professora não achou que havia problema algum até ali, mas mesmo assim ligou para o advogado do sindicato, apenas para acompanhar.  A viatura que chegou para levá-los, no entanto, não estava caracterizada, e ia ligar para o advogado quando foi impedida pelo policial de forma agressiva: ele gritou que ela não ia ligar, pegou o celular dela, apertou a mão dela, a algemaram na frente dos alunos, a colocaram na viatura e a trouxeram para o posto policial.

    Ela relatou que no caminho não parou de falar que iria ligar para o seu advogado, e com isso os policiais não pararam de gritar para ela calar a boca, que seria tratada da forma com que merecia.

    Mesmo na delegacia não permitiram que ela ligasse para seu advogado, ‘só quando terminar a qualificação.’ Neste momento, abriram a bolsa dela para encontrar os documentos, além de não permitirem que tivesse acesso aos estudantes.

    Apesar do término da “qualificação” ainda não foi permitido que ela ligasse para o advogado, ‘cala a boca, você não manda aqui.’ A levaram para o hospital, onde somente então  retiraram a algema. O médico perguntou se ela foi agredida, todavia  os policiais não deixaram que ela conversasse com o médico, falaram que o machucado era da algema, gritaram com ela durante toda a consulta.

    O médico havia pedido que fizesse um raio x, mas quando saiu do consultório a algemaram novamente com os dizeres de ‘agora sim você vai ser tratada do jeitinho que merece, agora sim você vai ver.’ Quando voltou à delegacia ainda não conseguiu o acesso ao advogado, apenas depois que o delegado chegou, também agressivo e machista, ‘você procurou por isso, você quis ser presa.’

    Até a noite do dia 15 a professora se encontrava no hospital, concluindo os exames que os policiais não permitiram que fizesse. O celular não foi devolvido.  A professora, no vídeo abaixo, denunciou a violência com que os jovens periféricos no Goiás são tratados:

  • Minhas primeiras impressões sobre o novo Governo de Goiás

    Minhas primeiras impressões sobre o novo Governo de Goiás

    Por Kátia Maria

    Desejo sucesso ao empossado, mas é preciso descer do palanque e deixar de ser o legislador que fez oposição uma vida inteira, inclusive aos governos que participou. Caiado agora é o executor e será avaliado por todos, diferentemente da atuação no legislativo. O Governo 2019/2022 começou. Ainda não temos claro as primeiras ações concretas do governo.

    Poderia ter começado a devolver Goiás para os goianos, slogan propagado na campanha, mas trouxe uma legião de secretários de fora. Não valorizou a prata da casa. Nosso estado é rico em potencial humano dentro e fora dos partidos. Muita gente competente nas universidades. Temos muitos técnicos apartidários que poderiam ter cumprido a função.

    Por uma opção, começa o ano sem orçamento aprovado, o que pode comprometer serviços essenciais ao atendimento da população. Afinal, até a agulha no hospital passa pela questão orçamentária. O Estado não pode ter nenhuma emergência nos próximos dias, pois está inviabilizado até que a LOA-Lei Orçamentária Anual de 2019 seja aprovada e sancionada.

    Mais um grande equívoco é fazer a folha de pagamento dos servidores de dezembro um instrumento de luta política. Todos sabiam do déficit das contas do estado. Foi um dos temas mais abordado nos debates. Agora é hora de dar solução. Zé Eliton errou ao não pagar a folha. Mas isso não tira a responsabilidade do Caiado em dar sequência e acertar os salários ainda em Janeiro. Primeiro porque os servidores não podem pagar pelo erro da gestão que sai e que entra. Segundo que o estado tem arrecadações previstas que podem cumprir com a responsabilidade do pagamento da folha, é uma questão de escolha do que quitar primeiro. Terceiro que a alegação de que vai priorizar o pagamento da folha de janeiro é frágil. Essa obrigação vence só em fevereiro. As pessoas comem, bebem, pagam aluguel, etc em Janeiro também. Manter a sequência da folha é o melhor para o estado e para os servidores. Afinal, dizia que os servidores seriam prioridade.

    O Governo começou e nós vamos acompanhar!

    Kátia Maria foi candidata ao governo de Goiás pelo PT, professora universitária e consultora em planejamento.

  • RUA 57.

    RUA 57.

    Encontro Alcides em seus 42 anos, na esquina da rua 4 com a 9, no centro de Goiânia. Em seus olhos há moços risonhos, uma alegria peralta. Alcides vende seus limões na calçada, orgulhoso da qualidade de seus frutos, pés de fruta que ele mesmo plantou em seu quinhão de terra às margens da capital. O melhor limão do Brasil, afirma o goiano ao lado de sua bicicleta de 35 anos, um veículo tão velho quanto sua faca amolada, a brilhar em ferrugem coberto de histórias.

    No centro da cidade busco a rua 57, o  local que, há 31 anos, ocorreu o desmonte da cápsula que abrigava o Césio 137 e provocou um dos maiores acidentes nucleares da história, em área urbana. Pergunto para Alcides se estou próximo, ele coça a cabeça e me diz: ah, seu Césio morava logo ali, indicando-me com o braço a rota a seguir. Alcides é o rumo que se cumpriu, na cidade em que a vida pulsa entre limão, araticum e pequi vendidos frescos e aromatizando as vielas. 

    Encontro a rua 57 após passar por mais uma feira de roupas, espaços constantes na cidade e com uma população de manequins frequentes em todo centro da cidade. Tudo recorda a obra de Siron Franco, entendo agora tais encontros visuais.

    A rua 57 e o terreno baldio, local de profundo silêncio, onde morava Devair e a família. Incrível pensar no encanto com o brilho azulado do pó que se iluminava, confundo-me em emoção quieta que urtica meu couro. A menina Leide a ingerir a luz, seu corpo impedido de ir sepultado à terra sobre protesto de milhares que temiam a morte pela morte. Estranho, há um abismo invisível e leves frases fundas, tão firmes. Grafismos tristes onde evitar o amor é muito mais, uma lembrança que coça. Atroz. Nada a fazer, um medo para esquecer e a lembrança da menina, citada em nome nos muros que demarcam a área, tudo tão baldio, tal travesseiro ruim para os braços.

    Cheguei em um terreno sem saída na rua 57, rodeado por placas de vende-se e aluga-se. Passaram-se 31 anos e um abismo tão fundo reside no centro. Pequenos fragmentos de luz residem, poeme-se é o que restou da rua 57, em seu chão tem covas e escolas.

    Tudo aqui é o que se consegue ser no Brasil, acredita-se no futuro e o passado são antigas lembranças, uma máquina de moer carne ou enrolar folhas de fumo, gente que engole luz e trabalha vendendo fruta ou buscando chumbo, um coração em manto milhões de peças de roupas a vestir cada corpo e boca serena, nossos pecados que viram-se em ontem.

    Tal pajés em aldeia, o goiano faz seu fumo e sua empada tradicional, comerciantes árabes e evangélicos agitam o farto comércio e artistas populares a cantar jacarandá e cipó caboclo.

    Não preciso ir muita além para falar de fato trigenário, tudo são símbolos do antes. O trem de Alcides é azul.

    https://www.youtube.com/watch?v=IhtrSzHPcuc

  • Polícia Militar invadiu Universidade Estadual de Goiás e levou presos professor e estudantes.

    Polícia Militar invadiu Universidade Estadual de Goiás e levou presos professor e estudantes.

    No dia 01 de Novembro, estudantes da Universidade Estadual de Goias decidiram em assembléia ocupar o campus Cora Coralina. A polícia foi chamada e, sem mandado, invadiu a Universidade e prendeu 15 pessoas, entre elas o professor Euzébio Carvalho, que acompanhava a votação (em sua pagina no face ele publicou um relato sobre o que aconteceu naquele dia, veja aqui – Relato da minha prisão). Todos eles foram algemados e presos. No dia 03, mesmo sabendo dos riscos que a polícia militar representava diante das ocupações, os estudantes do campus Eseffego, decidiram em assembléia fazer outra ocupação que resiste até o momento.

    Os estudantes da UEG estão ocupando contra a PEC 55 (antiga PEC 241 que define o corte de investimentos nas áreas da saúde e educação por 20 anos), em apoio aos secundaristas que resistem contra a MP da Reforma do Ensino Médio, a qual retirará as matérias de filosofia, história, artes e educação física. Ainda afirmam que lutam por investimentos na própria universidade, pois há muito tempo as verbas foram congeladas pelo Governo Marconi, deixando os campus sucateados, defasando na contratação de novos funcionários públicos e professores.

    Em nota, o reitor Haroldo Reimer apenas “lamentou” o “constrangimento sofrido por docentes e discentes no Câmpus Cora Coralina e sobre a ocupação do Câmpus Eseffego garantiu que “buscará priorizar o uso dos meios diplomáticos para a superação dialógica e negocial das questões.”

    Vamos esperar, e cobrar do Reitor que cumpra sua palavra e dialogue ao invés de chamar a polícia para invadir a Universidade e prender professores e alunos que lutam pelo não congelamento de investimentos com educação, previsto pela PEC 241 de acontecer pelos próximos por 20 anos.

    Aqui a integra da nota da Reitoria da UEG:

    A Reitoria da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em face dos eventos relacionados à ocupação de seus prédios, no contexto das manifestações relativas à tramitação da PEC 241/55 e de outras medidas, vem manifestar:

    A Reitoria da UEG compreende e reafirma que o ambiente de livre pensamento e de livre manifestação das ideias e dos posicionamentos é um aspecto constitutivo da vida acadêmica. A promoção e a manutenção de debates são mecanismos que garantem o exercício desta pluraridade intrínseca à vida universitária. As formas de manifestação, contudo, devem observar outros direitos também assegurados.

    A gestão democrática não é exercida apenas nos processos decisórios, em que toda a comunidade acadêmica tem voz por meio de representantes. Essa gestão democrática deve estar presente, também, na construção de consensos diante das diferenças, com a observância de formas de manifestação conforme o desenvolvimento dos debates.

    O diálogo e a negociação são caminhos para a superação de conflitos, pois a coerção e a repressão não alimentam no ambiente da Universidade o seu fortalecimento institucional.

    A relação e o diálogo com o mantenedor da UEG, o governo do Estado de Goiás, é fundamental para a consolidação e a trajetória da Universidade, sendo compromisso permanente da Reitoria.

    Outros compromissos fundamentais da atual gestão da UEG são a preservação e a garantia da vida acadêmica, com a manutenção das atividades finalísticas conforme planejamento aprovado pelo Conselho Superior Universitário. Os recursos legais serão uma ferramenta utilizada caso as atividades da Instituição sejam comprometidas.

    Em relação aos eventos ocorridos no Câmpus Cora Coralina, a Reitoria da UEG lamenta os constrangimentos sofridos por docentes e discentes.

    Sobre a ocupação do Câmpus Eseffego, salientamos que essas ações comprometem a regularidade acadêmica da UEG e que a Reitoria buscou e buscará priorizar o uso dos meios diplomáticos para a superação dialógica e negocial das questões.

    Anápolis, 4 de novembro de 2016.

    Haroldo Reimer
    Reitor da Universidade Estadual de Goiás

    Veja abaixo o relato do professor Euzebio Fernandes de Carvalho preso na noite durante a ocupação do campus Cora Coralina:

    “Após o término de minhas aulas, às 22h30, me deparei com a movimentação dos estudantes que, de forma legítima, manifestavam-se pacifica e politicamente em defesa da Educação Pública brasileira. Para isto, eles decretaram a ocupação da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Cora Coralina, na Cidade de Goiás.
    Percebendo a reação contrariada de alguns funcionárixs do campus com a ocupação, argumentei que precisávamos garantir a integridade física dxs manifestantes; que eles não eram nossxs inimigxs e que eram legítima e justa as suas reivindicações. Lembrei-lhes também que a direção do câmpus estava ciente dosacontecimentos pois já tinha repassado algumas orientações para o segurança do prédio e falado com alguns estudantes da ocupação. Portanto, não cabia a mais ninguém qualquer outro encaminhamento, principalmente, chamar a polícia. Alguns argumentaram que a ocupação prejudicaria a realização do ENEM, no próximo final de semana.
    Após xs funcionárixs deixarem o prédio, foi realizada uma assembléia dos manifestantes. Na oportunidade, perguntei sobre a pertinência de minha presença entre eles (já que o movimento era dos estudantes). Ponderaram que a presença de um professor no prédio, principalmente, nas horas iniciais da manifestação, seria importante para aumentar a sensação de segurança além de que isso também favoreceria o movimento.
    Decidi ficar e acompanhá-lxs. Antes do fim da assembléia, contudo, chegaram várias viaturas de polícia, fortemente armados e arrombaram o cadeado que xs estudantes tinham colocado no portão principal.
    Momentos depois, os policiais impediram a entrada do colega professor da unidade que havia chegado para nos apoiar. Depois desse momento de tensão, em que o professor foi empurrado para fora, o tenente coronel Ronaldo Pereira Soares, que comandava a operação, disse que eu deveria pedir “aos alunos para saírem da unidade porque senão nós vamos conduzir todo mundo para a DP”.
    Perguntado sobre o motivo daquela ação, respondeu-me que tinha recebido uma denúncia de invasão do prédio e que, naquele momento se caracterizava o flagrante do crime de esbulho possessório.
    Solicitei a apresentação de algum documento que legitimasse suas ações, tanto a de entrar no prédio quebrando o cadeado quanto de nos retirar à força da UEG. Nenhum documento foi apresentado.
    Recusando seu chamado para sair do interior da unidade, ele ordenou que eu fosse algemado. Um outro PM, bastante exaltado, puxou meus braços para trás e colocou as algemas. Reclamei que elas estavam me machucando e então ele apertou ainda mais, puxando-me pelo braço rumo à viatura. Disse-lhe várias vezes que estava sentindo dor. Sem qualquer resultado. Também avisei que estava sem meus documentos pessoais e pedi para pegá-los. Sobre ambas as coisas fui totalmente ignorado.
    Aleguei que eu era um professor efetivo daquela instituição, um funcionário público estadual, e não um criminoso, e que portanto não se justificava aquele tratamento violento e humilhante.
    Além do ódio que pairava no ar, emanado da grande quantidade de soldados que empunhavam suas armas de grosso calibre, havia naqueles policiais a satisfação e o prazer pelo exercício do poder total ao nos tratar como melhor lhes convinha, independente de qualquer bom senso ou direitos constituídos e garantidos no texto da lei.
    Fui praticamente jogado num porta-malas de um ‘camburão’ sujo e apertado. Carregaram-me como um pacote de carne que deveria se amassar de um lado para o outro do porta-malas nas curvas fechadas e rápidas da viatura. Tudo era feito para machucar o meu corpo e a minha dignidade.
    Chegando na delegacia, demoraram a tirar as algemas, mesmo eu argumentando que já estava dentro da delegacia. Depois de certo tempo, o policial mais graduado (seu colete à prova de balas não continha identificação) me informou que duas pessoas funcionárixs do câmpus denunciaram a invasão do prédio pelos estudantes, pedindo a intervenção da PM (não os nomearei aqui para evitar qualquer exposição desnecessária, mas seus nomes me foram dito, inclusive, perguntou se eu conheci suas funções dentro da UEG).
    Logo depois chegaram os 13 estudantes. Todos os homens algemados, inclusive um que não participava da ocupação, mas que apenas filmava, pelo lado de fora, a ação da polícia.
    Apreenderam todos os seus celulares. Segundos depois, um outro policial tomou de minhas mãos o celular que eu usava para informar as pessoas sobre o que se passava dentro da delegacia, expondo toda a sua ‘autoridade’ masculinamente repulsiva.
    O delegado disse que depois de feito o exame de corpo de delito e registrado o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) seríamos liberadxs. Por volta das três horas da madrugada do dia de finados, fomos todos liberados com a condição de voltar as nove horas do dia 03 para prestar os depoimentos.
    Muito emocionadxs com tudo, ao sair nos deparamos com uma grande quantidade de pessoas nos esperando: amigxs, professorxs, familiares e outrxs apoiadorxs. Muitos abraços e a sensação de que a luta é justa e cada vez mais necessária.
    Meus punhos ainda doem e apresentam as marcas das algemas. Minha dignidade ainda está marcada com a injustiça. Mas a minha consciência, confortada pelo abraço do Rei da Justiça, diz que a nossa luta é cada vez mais necessária e correta.
    E você? O que você pode fazer diante do meu relato? Da nossa experiência traumática? Procure uma ocupação. Manifeste seu apoio. Conheça os malefícios da PEC do ‘fim do mundo’ (atual 55 e antiga 241) pois ela comprometerá nossos direitos sociais básicos como a educação e a saúde, dentre outros, dificultando ainda mais nossa vida em sociedade e comprometendo a formação com qualidade crítica, reflexiva e propositiva das futuras gerações.
    Todo apoio às ocupações! “Nada a TEMER, senão o fugir da luta”. #ocupatudo.”

    professor-ueg