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Dia: 26 de julho de 2017

  • Nova ocupação em território do corrupto Eike Batista

    Nova ocupação em território do corrupto Eike Batista

    Mais uma ação da Jornada Corruptos Devolvam Nossas Terras, agora em Minas Gerais.  200 famílias chegaram nessa madrugada em terras ociosas no município de São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte, propriedade de Eike Batista. O território de 700 hectares foi desgastado pela poluição dos rios Manso e Serra Azul, causada a partir da extração de minério por empresas de Batista.

     

    Ocupação do MST em São Joaquim das Bicas. Foto por Caio Santos.

    Já é a terceira ocupação do MST em territórios do ex-bilionário, a primeira também em Minas Gerais, na cidade de Itatiaiuçu, e a segunda no Rio de Janeiro, em Açu. Em Abril desse ano, a Justiça negou pedido de reintegração de posse nas terras fluminenses, legitimando a ação dos agricultores locais. Porém, houve uma nova reviravolta no dia de hoje: três pessoas foram presas pela Polícia Militar, o que foi denunciado pelo MST.

    Eike Batista já foi o homem rico do Brasil, até sua falência em 2013. No momento, ele está em prisão domiciliar, suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção com ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A última ocupação na capital mineira faz parte da Jornada Corruptos Devolvam Nossas Terras, que propõe ações em propriedades ligadas a processos de corrupção ou a corruptos, reivindicando o uso social da terra a partir assentamento de famílias Sem Terra.

    Até o momento já são mais de 10 ocupações em todo o território nacional, envolvendo vários nomes associados a esquemas de corrupção.  Fazendas do ministro Blairo Maggi, no Mato Grosso, do presidente golpista Michel Temer (em nome de seu laranja Coronel Lima), em Duartina-SP, e do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, em Barra Mansa, Sul Fluminense, são exemplos de propriedades ocupadas dentro da jornada.

     

    Ocupação do MST em São Joaquim das Bicas. Foto por Caio Santos.
  • Emendas e verbas extraorçamentárias: a operação para barrar a investigação contra Temer

    Emendas e verbas extraorçamentárias: a operação para barrar a investigação contra Temer

    Argumento da base de apoio de que pagamentos são obrigatórios possuí “poréns”

    O governo de Michel Temer (PMDB) empenhou neste ano R$ 4,1 bilhões para o pagamento de emendas parlamentares. Deste total, R$ 2,1 bilhões foram liberados somente neste mês, quando o poder executivo federal tenta barrar o prosseguimento da investigação por corrupção contra Temer apresentada pela Procuradoria Geral da República (PRG). Os dados são do portal SIGA BRASIL. Além das emendas parlamentares, a oposição acusa o Governo Federal de liberar verbas extraorçamentárias, ou seja, que estariam previstas como gastos mas sem a definição do destino.

    Para que a investigação tenha sequência é preciso que os deputados federais – beneficiários das emendas – votem a favor da continuidade do processo. Somente a bancada paranaense recebeu R$ 106 milhões em emendas. A maior parte dos recursos foi destinada aos parlamentares que mantém afinidade com o peemedebista, sobretudo em votações polêmicas. A liberação de recursos em volumes significativos foi, inclusive, motivo para apresentação de novas denúncias contra Temer. Uma delas no STF e outra na própria Procuradoria Geral da República.

    “Levamos uma denúncia ao STF e indagamos a ministra Carmen Lúcia (presidente do Supremo) sobre a

    troca de membros dos partidos na votação da CCJ por liberação de emendas. Levamos também uma denúncia à PGR para investigação no que diz respeito a liberação de dinheiro. A nossa perspectiva é que justiça entenda que está sendo usada máquina pública para obstrução de justiça. Não podemos ficar reféns disso. É muito grave. ”, explica um dos autores dos documentos, o deputado Aliel Machado (REDE-PR).

    No Paraná, o campeão no ranking de emendas, está afastado do poder legislativo, porém exerce grande influência no circuito político do Estado. Valdir Rossoni (PSDB), que recebeu R$ 7,1 milhões em emendas, está afastado do cargo porque assumiu a chefia da Casa Civil do governador Beto Richa (PSDB). O órgão é responsável pela articulação política do Governo Estadual e tem grande influência na liberação de verbas estaduais, inclusive as emendas parlamentares dos deputados estaduais.

    Fernando Giacobo (PR), outro parlamentar alinhado ao governo Temer, comenta de forma eufórica em entrevistas aos veículos de comunicação de sua região sobre os novos recursos. Em agenda recente por Cascavel falou sobre a liberação de R$ 3 milhões para compra de ambulâncias e equipamentos para o município. Giacobo também garante estar articulando verbas para construção de um novo aeroporto em Cascavel. “Me disponibilizei junto com ao atual Secretário Nacional de Aviação Civil, companheiro indicado pelo PR, a refazer um convênio com a União para disponibilização de R$ 18 milhões para obras de um novo terminal  em Cascavel”, disse em entrevista à rádio CBN.

    Outro deputado que aparece na parte de cima da lista dos recursos recebidos é Dilceu Sperafico (PP). O parlamentar, que foi favorável à deposição de Dilma Rousseff (PT), mostra-se afinado com o Governo Federal. Ele votou a favor da reforma trabalhista e do projeto de lei que escancara as terceirizações. Mas não vê a possibilidade destes recursos serem distribuídos como moeda de troca no caso da votação.

    “Isso não tem nada a ver. Eu estou reclamando é de atraso. É o melhor dinheiro aplicado (pelo Governo Federal) nos municípios e vai resolver problemas específicos. É um dinheiro muito bem aplicado, não tem nada a ver com votação disso ou daquilo”, reclamou Sperafico que teve R$ 5,4 milhões em emendas liberadas.

    “Eu tenho direito a R$ 15 milhões em emendas. Estou reclamando é do atraso na liberação”, argumentou o deputado. Segundo ele, as emendas são impositivas, ou seja, o Governo Federal tem a obrigação de pagá-las e portanto isso não interferiria nas votações. “Sou favorável a permanência dele. Não tem prova nenhuma. Não vamos criar um factoide porque o louco de um empresário, bandido, que está devendo e pegou imunidade, acusou. Os deputados da oposição, que votarem contra o Temer, também vão receber”, garantiu.

    Porém, segundo uma fonte ouvida pela reportagem que trabalha há 10 anos com emendas no Congresso Nacional, trata-se de uma meia verdade. Desde 2008 foi aprovado um texto que tornou obrigatório o pagamento das emendas por parte do Governo Federal. Contudo, o prazo de pagamento costuma ser flexível. “O governo precisa pagar até o ano subsequente, mas pode deixar como restos a pagar. Existem emendas de 2015 que não foram pagas até agora e esse mecanismo pode demorar até três anos. Ela é impositiva, mas não há cronograma de pagamento”, explica o assessor que prefere não ser identificado. Segundo ele, desta forma, é possível negociar a liberação das emendas atrasadas ou ainda antecipar o pagamento destas verbas. “Se você é oposição ao governo vai para fim da fila”, resume o assessor.

    Saúde Pública – Outro mecanismo utilizado nesta negociação é o pagamento de valores ligados à saúde pública. Há uma previsão legal para que 50% das emendas apresentadas pelos deputados sejam destinadas para o setor. Contudo, neste caso, normalmente os projetos que precisam ser apresentados pelas prefeituras são mais simples, portanto, de mais fácil liberação de recursos.

    Não à toa, 73% dos R$ 106 milhões liberados para a bancada paranaense, tem verbas oriundas do Ministério da Saúde. A aquisição de equipamentos, implantação reforma e ampliação de hospitais e unidades de pronto-atendimento, além da manutenção de unidades básicas de saúde e reforço de dotações orçamentárias são alguns os itens que dispensam a realização de projetos complexos, facilitando a liberação dos recursos.

    Qual o limite de Temer? – Ex-deputado federal pelo PT e ex-vice-presidente do Parlamento do Mercosul, Florisvaldo Fier, o Dr. Rosinha, criticou o uso de emendas parlamentares como moeda de troca. “Sempre foi e continua sendo. Mas como Temer não está preocupado com responsabilidade fiscal, pois ele já cometeu todo o tipo de crime e tem maioria (no Congresso), está pagando primeiro as emendas de parlamentares da sua base e provavelmente não pagará dos demais”, criticou.

    De acordo com ele, a situação é mais grave ainda pela liberação de verbas extraorçamentárias. “Tem deputado dizendo que recebeu R$ 50 milhões, mas não há emendas neste valor. Esse recurso vem do orçamento. Há, por exemplo, um valor para gastar em atenção primária, mas não diz o destino. Ele chama um deputado fala que tem esse recurso e sugere o gasto em uma prefeitura ou em um hospital e tira esse dinheiro do orçamento normal”, explica.

    O deputado Aliel Machado também demonstrou preocupação com a liberação dos recursos extraorçamentários. “O que mais preocupa são a liberação destes recursos porque você não consegue monitorar. O deputado carimba com sua base aliada mas não aparece o seu nome em nenhum documento oficial. Não é como uma emenda que está diretamente ligada ao nome do parlamentar”, explica.

    Essa pode não ser a única denúncia que Temer precisará defender-se no Congresso Nacional. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, já anunciou que até o final do seu mandato, em 17 de setembro, pretende apresentar mais uma ou duas denúncias contra o peemedebista. Até onde poderá ir essa batalha? Segundo o presidente do PT do Paraná, Dr. Rosinha, não há limite. “Temer pode ir até onde ele quiser. O Brasil não tem poder judiciário. No País não tem instituição funcionando como instituição. Ele criou uma maioria que faz essa mercantilização no Congresso Nacional. O Ministério Público nós conhecemos como funciona. O Poder Judiciário, o que é o STF hoje? Como instituição? Temer não tem limites porque para ele não há lei”, criticou.

    Situação no Paraná – A equipe de reportagem entrou em contato com os 10 deputados federais do Paraná, em exercício do mandato, que mais receberam recursos de emendas parlamentares.

    Os gabinetes dos deputados Hermes Parcianello (PMDB), conhecido como Frangão e Sandro Alex (PSD), não atenderam as ligações e até o fechamento da matéria não responderam os e-mails encaminhados. No caso de Takayama (PSC) e Alfredo Kaefer (PSL), sua assessoria disse que não há uma definição ainda sobre o voto.

    Já Fernando Francischini (SD) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) não foi possível realizar contato com as assessorias indicadas pelos gabinetes. Rubens Bueno (PPS) e Diego Garcia (PHS) manifestaram-se publicamente a favor da sequência da investigação. Dilceu Sperafico (PP), por sua vez, admitiu ser contrário à sequência da investigação e criticou duramente a tentativa de levar ao STF as denúncias contra Michel Temer.

    Todos os dez deputados consultados votaram a favor da deposição de Dilma Rousseff da Presidência da República.

  • JÁ QUE DEPOIS DE MAIS DE CINCO SÉCULOS

    JÁ QUE DEPOIS DE MAIS DE CINCO SÉCULOS

     

    Querem tomar tudo que lhe resta, como uma mulher no fim do mundo, canta Elza Soares. Deixa o índio,  insiste o refrão ao fim da música gravada pelos que na MPB também resistem.

    O mundo triste vai encantando aquilo que estava adormecido, aquilo que pensávamos superado. O retrocesso nos afoga quando acreditávamos que a democracia nos afagaria para sempre.  Querem revitalizar a economia dando riscos à vida. Criam novos códigos florestal, mineral e trabalhista; tudo embroma. Marcos regulatórios são a bola da vez; tudo descaminha. Sobre a humanidade talvez caia mesmo o céu, como preveem os índios Yanomami . A Carta de Brasília, manifesto em defesa dos povos indígenas, divulgada em 22 de junho de 2017, ao final do Encontro Internacional Olhares sobre as Políticas de Proteção aos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, em seus princípios, torna avesso o Parecer vinculante  da Advocacia – Geral da União assinado por Temer essa semana, que determina a demarcação de novas terras desde que a área pretendida estivesse ocupada pelos indígenas na data da promulgação da Constituição Federal (05.10.1988).

     

    Hoje mesmo leio na rede social um apelo de uma indígena Guarani Kaiowá, de Dourados:  precisamos de intervenção da Polícia Federal na retomada Yvu Verá em Dourados-MS, os ataques continuam. Pessoas machucadas, por fogos de artifícios ou facão. A Federal teve lá apenas para ouvir os chacareiros e o líder da milícia que é indígena. Eles não ouviram ninguém da retomada e essa noite essa milícia a mando dos donos da chacarás pretende pegas três lideranças da retomada. Estava com binóculo e os jovens da retomada se reunirão comigo e relataram que tem jovens ali que estudam com eles e estão sendo pagos para fazer ataque ao povo da retomada. Presenciei o senhor não índio no meio dos jovens da milícia e com binóculo consegui ver ele acenava para os jovens para atacar cada vez mais. E os jovens obedecia e iam para cima do povo da retomada. A situação é grave, precisamos de apoio de denúncias verdadeiras não a PF indo ouvir o líder da milícia e os chacareiros e deixar de ouvir o povo da retomada. A comunidade de Yvu Verá pede socorro.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    O que há de podre nos odores que rodeiam as terras indígenas na última década? Se nos governos de esquerda pouco se resolveu para os povos indígenas, após o golpe tudo assusta. A bancada ruralista no Congresso, em sorrisos largos, há de comemorar tal parecer da AGU lambendo as cuecas do rei.

    Em texto sobre o histórico da captura dos índios, Carmem Junqueira afirmava: apesar do crescimento populacional apontado, é difícil prever o futuro dos índios no Brasil, principalmente quando deixam de parecer “exóticos”e perdem visibilidade tanto para a sociedade como para o governo, passando a experimentar privações crescentes.

    O tempo de vida de um observador é suficiente para que possa perceber como as políticas de Estado têm papel determinante na vida dos índios, principalmente quando se trata de planos de integração,  de desenvolvimento, de aproveitamento de riquezas e outros tantos gerados pelo dinamismo da sociedade moderna. O avanço da fronteira capitalista vai subvertendo a ordem da natureza, demolindo tradições e deixando muito pouco para as populações adaptadas a outro estilo de vida.

    A quem pensam que enganam Temer e a bancada ruralista? Mudam as leis, reviram a terra, sujam as águas, queimam o mato e se pensam mais ricos e modernos. É um golpe nos sentidos.

     

  • Cidinha da Silva: Julho das Pretas

    Cidinha da Silva: Julho das Pretas

    Em 1992, durante o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas na República Dominicana, instituiu-se o 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Em 2014, a Presidenta Dilma sancionou esta mesma data como Dia Nacional Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

    Desde o estabelecimento da comemoração na década de 1990, tem crescido no Brasil o volume de eventos políticos e culturais que objetivam discutir questões caras às mulheres negras, ao tempo que também fazem circular sua produção intelectual e artística. Dessa forma, afirma-se o mês de julho como mês das mulheres negras brasileiras, pautado por programação ativa, crítica e reflexiva que as tem como grandes timoneiras. Tanto aquelas oriundas de organizações mais convencionais, quanto as outras, integrantes de novíssimos coletivos políticos. Também aquelas que se juntam para propor um programa exclusivo no Julho das Pretas.

    Mais do que fazer uma cartografia dos eventos, nomeando-os e localizando-os no espaço político-geográfico, interessa-me registrar e agregar algumas características gerais, muito positivas, cuja sistematização pode vir a ter alguma utilidade para o futuro. Interessa-me mais o tempo político desses acontecimentos.

    A primeira característica que me move é geracional. Noto um protagonismo de mulheres negras que estão entre trinta e quarenta anos e que têm se responsabilizado por estabelecer pontes entre sua própria geração e as mulheres de menos de trinta, bem como entre as maiores de quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta anos…

     

    As mais velhas, principalmente, as bem mais velhas, têm sido tratadas nesses momentos como sábias senhoras. Isso vai da designação de espaços, assentos especiais, aos cuidados carinhosos e destaque aos lugares de fala das mais experientes.

    As juventudes, por sua vez, têm sido instadas a interagir com as mais velhas e a aprender pela troca, pela experiência e pelo exemplo.

    Essa posição de ponte exercida pelas balzaquianas tem sido fundamental para promover um diálogo fluido, pleno de frestas e sem arestas, que se vale também de manifestações culturais e de apresentações artísticas para promover e discutir política, além dos necessários debates temáticos.

    Existe um diálogo freqüente e profícuo com as novas tecnologias de comunicação. Os registros são de alta qualidade no formato de livros bonitos, leves e dinâmicos; áudios igualmente bem feitos, alguns curtos, outros longos, disseminados pela Web. Não raro, podemos acompanhar os eventos em transmissões feitas em tempo real, em qualquer parte do país, quiçá do mundo.

    Por fim, as organizadoras do Julho das Pretas, por todo o país, têm sido capazes de mobilizar significativos públicos negros, não necessariamente filiados a organizações políticas, nem mesmo aos novíssimos coletivos políticos ou culturais formados para atuar na Web ou a partir dela.

    Trata-se de mulheres negras, jovens, a maioria, interessadas em processos de afirmação identitária, discussão política, arte, estética e cultura negras, aprendizados múltiplos, trocas entre pares e sustentação ao protagonismo de mulheres negras.

    O Julho das Pretas veio para ficar e para transformar.

  • MST OCUPA PERÍMETRO IRRIGADO ARTICULADO PELO GOLPISTA HENRIQUE EDUARDO ALVES

    MST OCUPA PERÍMETRO IRRIGADO ARTICULADO PELO GOLPISTA HENRIQUE EDUARDO ALVES

    O Perímetro Irrigado é conhecido como “Projeto da Morte”, e está localizado na Chapada do Apodi do Rio Grande do Norte, palco de conflito e resistência camponesa contra o processo de instalação do agronegócio na região desde 2012.

    Esse projeto é resultado de uma articulação, do então Ministro da Integração Nacional, Henrique Alves (PMDB), junto à bancada ruralista, e as multinacionais do agronegócio, braços do golpe jurídico-midiático-parlamentar-empresarial de 2016, que levou o Presidente Michel Temer (PMDB) a presidência da repúlbica do Brasil, e a imposição de uma agenda de retrocessos a classe trabalhadora brasileira e a reforma agrária.

    O MST esta junto ao processo de resistência em unidade com o conjunto das organizações da região, desde 2012, e nessa jornada retoma ocupando o coração da obra, com o objetivo de pressionar e exigir, que as áreas desapropriadas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DENOCS), para construção do Perímetro Irrigado e para destinar as empresas do agronegócio.

    “Exigimos que as terras desapropriadas sejam destinadas para a construção de um grande Projeto de Reforma Agrária Popular, que democratize a terra e água, avance na construção de um modelo de agricultura camponesa e familiar, que produza alimentos saudáveis para o campo e a cidade”, afirma a Direção Estadual do MST do Rio Grande do Norte.

    A Chapada do Apodi é referência nacional na construção da transição agroecológica, com a produção e cooperação das famílias agricultoras assentadas, nos quase trinta assentamentos da reforma agrária e das comunidades rurais, tendo um dos maiores índices de desenvolvimento humano do estado do Rio Grande do Norte.

    A construção dessa obra tem impactado diretamente a região, reconcentrando de forma autoritária e ilegal as comunidades rurais e as áreas de assentamentos, sem indenização justa, expulsando as famílias do campo para viverem nas periferias das cidades, em detrimento da instalação das empresas do agronegócio.

    PERÍMETROS IRRIGADOS

    Os projetos de Perímetros Irrigados fazem parte dos “grandes projetos”, que foram elaborados pela Ditadura Militar em aliança com os fazendeiros e as empresas do agronegócio, que desde os anos 70, sob os mitos do “desenvolvimento” e do “combate a seca” se instalaram no nordeste brasileiro.

    A retomada desses projetos nos últimos anos tem sido conduzida com os mesmos métodos da ditadura militar, e faz parte da opção política e aposta do Estado brasileira em criar toda infraestrutura para o desenvolvimento do agronegócio, como estratégia de desenvolvimento e modelo de agricultura brasileira.

    De acordo com os vários estudos de impacto ambiental, o Perímetro Irrigado Santa Cruz de Apodi, não tem nenhuma viabilidade técnica – pois a água existente só viabilizaria o projeto por cinco anos; social – haja vista expropriar as famílias que já vivem na região, representando o que se têm chamado de “reforma agrária ao contrário”; não tem viabilidade ambiental – por viabilizar um modelo de agricultura baseado, necessariamente, no uso intensivo de agrotóxico; bem como econômica – desarticulando as cadeias produtivas da agricultura, responsável pelo desenvolvimento social da região.

    Setor de Comunicação do MST/RN

  • FLIP começa hoje com mais mulheres e negros, mas com menos estrutura e vagas para o público

    FLIP começa hoje com mais mulheres e negros, mas com menos estrutura e vagas para o público

    Sob o emblema da insubordinação negra do escritor brasileiro Lima Barreto e a presença massiva de autoras mulheres, a Feira Internacional de Literatura de Paraty (FLIP) inicia oficialmente nesta quarta-feira (26/7), às 19 horas, agarrando a tarefa que costuma engajar a escritura em tempos de exceção: a da resistência. Além de vir a ser um território para a literatura das minorias políticas, que derrubaram seus muros para a entrada de negros, mulheres e autores ligados a grupos e etnias não referenciados pelo mercado editorial, o maior evento de literatura do Brasil terá que lutar por sua própria sobrevivência. Os reflexos na redução de 30% do seu orçamento, determinada pelos cortes dos recursos do Governo Federal, principalmente, já são evidentes para o público que começou a chegar em Paraty já no final de semana. Eles vão encontrar uma FLIP mais heterogênea e inclusiva, porém, contraditoriamente encolhida, para não dizer desprestigiada pelo Governo Temer.

    Uma programação bem mais enxuta do que as anteriores já denuncia por si só os efeitos do menor orçamento desde que a FLIP iniciou em 2010 e se tornou um evento de fama internacional. Em vez da grande tenda para 800 pessoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios abrigará metade desse público, restrito a convidados e pagantes dos ingressos, vendidos a R$ 55,00, e esgotados logo na abertura das vendas, em 13 de junho.  Além da transferência para a igreja, diversas oficinas e programas educacionais que ocorriam paralelamente à programação oficial foram suspensos pela Associação Casa Azul, responsável pela organização da Festa, para que os cortes não inviabilizassem sua realização, conforme o diretor-presidente, o arquiteto e urbanista Mauro Munhoz.

    Em abril, o  diretor anunciou à mídia que a restrição de lugares para as palestras dos autores seria compensada pela ampliação do número de lugares na tenda de projeção, os quais passariam de 200 para 700. A poucas horas antes da abertura oficial, contudo, ninguém viu essa possibilidade se concretizar no espaço montado ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, onde permanece a mesma estrutura. “Estou impressionada de ver como a programação e os ingressos foram reduzidos”, lamenta Ângela Palomo, produtora de cinema, que mora entre a capital do Rio de Janeiro e Paraty. “É duro pensar que não teremos mais a grande tenda ao ar livre, um acontecimento único e marcante no Brasil”, acrescenta ela, que acompanha a feira desde sua primeira edição. Ninguém com quem se fale transitando pelas ruas de Paraty conseguiu ingressos, nem mesmo muitos jornalistas credenciados.

    Nas vésperas do grande evento, o público de jovens, artistas, intelectuais e ativistas sociais atraídos pela diversidade política dos autores parecia estar disposto a fomentar a vocação de resistência da literatura. No dia Internacional da Mulher Negra, grupos de músicos se alternavam no esquenta da FLIP, na Praça da Matriz, sacudindo o público com melodias e letras alusivas à luta contra o racismo e ao orgulho negro. Depois dos protestos da edição passada pela baixa representatividade de mulheres e negros, a atual curadora, a jornalista e biografista Josélia Aguiar, defendeu o fim da supremacia branca e masculina. Josélia configurou as 22 mesas de palestras e debates com a participação de 24 mulheres e 22 homens.

    A aliança entre povos subjugados não podia ter atravessado a literatura em hora mais necessária. Lima Barreto, que era um feminista de vanguarda no Brasil imperial e uma pena insubmissa contra o racismo e toda sorte de discriminação social, opera como uma espécie de guerreiro póstumo no front de batalha dessa minoridade política que rasga seu território na FLIP.  A lista de estrelas negras contempla Scholastique Mukasonga, da etnia tutsi, de Ruanda, Marlon James, da Jamaica, os brasileiros Conceição Evaristo e Lázaro Ramos, que na abertura fará uma dramatização especial da obra de Lima Barreto, criada por Lilia Schwarcz, com direção de cena de Felipe Hirsch.

    O feminismo será tratado pela angolana Djaimilia Pereira de Almeida e pela autora Deborah Levy, Beatriz Resende, Carol Rodriguez, Natalia Borges Polesso, Noemi Jaffe, Scholastique e Conceição Evaristo, que ao lado de Ana Maria Gonçalves fará uma homenagem às escritoras africanas. Em casa, nas artes, na política ou nas fábricas, a mulher sempre deu duro, como escreveu o próprio Lima Barreto: “Então a mulher só veio a trabalhar porque forçou as portas das repartições públicas? Ela sempre trabalhou, aqui e em toda a parte, desde que o mundo é mundo; e até, nas civilizações primitivas, ela trabalhava mais do que o homem”.