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  • As instituições estão resistindo ao fascismo

    As instituições estão resistindo ao fascismo

    ARTIGO

    RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

    Não é de hoje que as instituições brasileiras estão sendo testadas, pois é exatamente isso que significa uma crise institucional: um momento em que as instituições estabelecidas são constantemente desafiadas.Neste ensaio, quero analisar como as instituições democráticas estão reagindo aos desafios.

    O comportamento das instituições não é linear e pode ser dividido em dois momentos.

    1°) Do mensalão, em 2005, até o fim do governo de Michel Temer, em 2018.

    Nesse momento, as instituições foram permissivas, omissas, se deixando sequestrar pelo projeto político que vinha sendo sistematicamente rejeitado nas urnas.

    Inconformado com sucesso eleitoral do petismo, o establishment político brasileiro manipulou os ritos democráticos para confrontar o modelo de Estado redistributivo que começou a ser implementado em janeiro de 2003.

    É isso, leitor e leitora. A história recente do Brasil pode ser resumida dessa forma: a disputa pelo controle das riquezas produzidas pelo Estado. De um lado, o petismo com sua agenda redistributiva. Do outro lado, o financismo, com sua agenda neoliberal. Por um tempo, Lula conseguiu conciliar os dois projetos. Não é possível conciliar por muito tempo interesses tão opostos.

    A narrativa do combate à corrupção foi apenas nuvem de fumaça. O que interessava mesmo à coligação antipetista era desestabilizar o adversário por dentro das instituições. O primeiro movimento aconteceu em 2005, com a ação penal 470. O petismo sobreviveu. A coligação antipetista não recolheu as armas. Onze anos depois, Dilma seria golpeada, justamente por se negar a entregar o Estado ao controle dos financistas.

    Juízes e procuradores enriqueceram-se com palestras, se tornaram famosos, tiveram retratos estampados em capa de revista. Enquanto isso, a democracia ia adoecendo pouco a pouco. As democracias não morrem do dia pra noite. Leva tempo.

    OAB, Ministério Público, STF: os que juraram defender a democracia foram omissos. Todos fecharam os olhos para os crimes de Curitiba. Os operadores da Lava Jato não teriam chegado tão longe sem a leniência de seus superiores. Deltan Dallagnol jamais lideraria investigação clandestina contra ministro do STF se a própria suprema corte não tivesse sido conivente.

    A cumplicidade custou caro.

    2°) O governo de Jair Bolsonaro (Janeiro-agosto de 2019).

    A eleição de Bolsonaro foi a consequência inesperada do caos institucional. Tolos foram aqueles que acreditaram ser possível controlar o caos. Controlar o caos é uma contradição em termos.

    Todos os dias, Bolsonaro violenta as instituições democráticas.

    Sempre que defende abertamente o nepotismo, quando faz piada com a cabeça dos nordestinos e com o pinto dos japoneses, Bolsonaro está implodindo a liturgia que é fundamental para o exercício do cargo que ocupa. Quando, sem nenhum constrangimento, o presidente da República se comporta como um homem comum, a instituição Presidência da República é atacada.

    O presidente da República não pode se comportar como um homem comum pelo simples fato de que ele não é um homem comum. Não pode ser. Jamais!

    Ao defender abertamente a tortura, Bolsonaro viola tratados internacionais de defesa dos direitos humanos dos quais o Brasil é signatário. Quando persegue os órgãos de defesa do meio-ambiente, Bolsonaro quebra acordos internacionais que o Brasil, soberanamente, assumiu.

    Quando tenta governar por decretos e quando discrimina os Estados do Nordeste, Bolsonaro rejeita a legitimidade de senadores, deputados e governadores, todos democraticamente eleitos.

    Bolsonaro é o presidente da República que não tem o menor compromisso com a República. É uma ameaça ao convívio democrático. É a fenda autoritária que, durante 30 anos, a democracia decidiu tolerar. Talvez a democracia brasileira tenha superestimado sua própria força.

    As instituições entenderam o risco e reagiram. Se hoje o Brasil ainda não foi plenamente tomado pelo fascismo é porque as instituições estão resistindo, estão cumprindo seu papel.

    Os exemplos são muitos. Destaco apenas alguns: o Senado rejeitou o decreto de armas, o STF manteve a demarcação das terras indígenas sob o controle da FUNAI. A Câmara dos Deputados, na voz de Rodrigo Maia, defendeu a liberdade de imprensa ao se manifestar em favor de Glenn Greenwald. A OAB recomendou o afastamento de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. O MP impediu que Bolsonaro nomeasse um negacionista para a comissão da verdade.

    Parte da esquerda acredita que as instituições estão rendidas ao fascismo e que, por isso, toda e qualquer atuação institucional seria inútil. Esses companheiros e companheiras olham para a realidade e enxergam uma sociedade civil mobilizada, à espera do chamado de sindicados e partidos políticos.

    O diagnóstico está equivocado: a sociedade civil ainda não está disposta a derrubar o fascismo nas ruas. Parte da sociedade civil apoia o fascismo. Outra parte observa com indiferença o avanço da marcha fascista, como se isso fosse problema menor quando comparado ao desemprego e à crise econômica.

    As instituições não estão indiferentes, não estão rendidas ao fascismo. Estão resistindo e, por enquanto, estão vencendo.

    O fascismo, que sempre é popular e mobilizador, coloca a democracia diante de uma contradição. Em tempos de fascismo, o povo é a principal ameaça à democracia.

    Somente através das instituições é possível que a democracia sobreviva aos ataques do povo, enfrentando o povo, mostrando que, sim, é proibido ser fascista. As instituições são a última esperança.

  • Lava Jato dispõe de tecnologia para resgatar mensagens apagadas do Telegram

    Lava Jato dispõe de tecnologia para resgatar mensagens apagadas do Telegram

    Matéria publicada pelo El País Brasil na última quarta-feira (31) mostra que a Polícia Federal e a Operação Lava Jato dispõem de tecnologia para recuperar mensagens apagadas do Telegram e de outros aplicativos. Procurados pela reportagem do El País, nem Deltan Dallagnol, nem Sérgio Moro disseram se submeteram seus celulares para recuperação de mensagens apagadas, o que ajudaria a compará-las com as mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil e, assim, acabar com as dúvidas sobre a autenticidade do material que vem sendo divulgado pela imprensa.

    O dispositivo eletrônico batizado de UFED (Universal Forensic Extraction Device), que foi vendido pela empresa israelense Cellebrite – e que também é oferecido como aplicativo para instalação em computadores ou notebooks – já foi vendido para outras unidades policiais do país. Segundo a reportagem, quando conectado a aparelhos celulares, o UFED pode recuperar mensagens apagadas que estejam armazenadas nos aparelhos, ou na nuvem.

    Leia a matéria na íntegra: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/31/politica/1564606298_023940.html

  • Incra diz que desapropriação de R$ 36,9 milhões no MT, que beneficiou família de Deltan Dallagnol, foi irregular

    Incra diz que desapropriação de R$ 36,9 milhões no MT, que beneficiou família de Deltan Dallagnol, foi irregular

    Via De Olho nos Ruralistas

    O Conselho Diretor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) abriu em maio um procedimento para investigar irregularidades na desapropriação dos imóveis que constituem a Fazenda Japuranã, em Nova Bandeirantes (MT), em região de floresta na Amazônia Legal. Entre os beneficiários da megadesapropriação estão pelo menos 14 parentes de Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba. Entre eles o pai do procurador da República, o ex-procurador Agenor Dallagnol. Somente a família de Deltan recebeu R$ 36,9 milhões em dezembro de 2016, durante o governo Temer, diante da desapropriação de pelo menos 37 mil hectares no município, no noroeste do Mato Grosso.

    Série de dez reportagens mostra o avanço do clã nas terras do Mato Grosso. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)

    O presidente do conselho e do Incra, general João Carlos de Jesus Corrêa, definiu no dia 10 de maio, em uma resolução, o bloqueio dos bens depositados e apontou “indícios de irregularidades nos atos praticados por servidores públicos”. A decisão envolve uma área exata de 36.792 hectares, declarados de interesse social para fins de reforma agrária, ainda em 2013, e uma indenização total de R$ 41 milhões. A reportagem identificou que a maior parte desse valor foi destinada à família Dallagnol. Em uma das ações, capitaneada por uma tia do procurador, aparecem os 14 membros da família e outros fazendeiros da região interessados no desmembramento de suas terras.

    De Olho nos Ruralistas pesquisa desde outubro a teia que envolve os latifúndios dos Dallagnol no Mato Grosso. Em uma série de dez reportagens, o observatório conta como boa parte da família do procurador se moveu para Nova Bandeirantes, em meio a um processo de colonização estimulado pela ditadura de 1964. Confira aqui o índice dos textos: “Desmatamento, disputa por terras, desapropriação ilegal: o que está por trás dos latifúndios dos Dallagnol na Amazônia?”. Alguns ainda irão ao ar.

    Um estudo da Unicamp mostra que o clã chegou a ter 400 mil hectares somente naquele município, ocupado nos anos 80. Outras reportagens informam como esse processo está relacionado ao desmatamento, entre outras irregularidades protagonizadas ou defendidas pelo clã – uma família recheada de advogados e procuradores. Um resumo inicial foi publicado pelo observatório em edição da revista CartaCapital.

    PRESIDENTE DO INCRA QUER BLOQUEAR GASTOS COM AS TERRAS

    O Incra não atendeu aos pedidos de entrevista. Mas a resolução em maio se refere à identificação de irregularidades nas ações de desapropriação celebradas na sede do próprio órgão. Entre as 14 ações, quatro motivaram depósitos. Segundo o general, de acordo com as manifestações técnicas e pronunciamentos jurídicos foi feito um parecer em 2018, ainda durante o governo Temer, portanto, que orientou “pela reanálise dos atos administrativos praticados posteriormente ao ajuizamento das ações de desapropriação”. E pela suspensão das ações, “até que seja realizado o levantamento ocupacional do imóvel e sua interferência no valor de mercado”.

    O presidente do Incra determinou ainda “tornar insubsistentes todos os atos administrativos realizados após o ajuizamento das ações de desapropriação” relativas aos imóveis da gleba Japuranã. E solicitar à Procuradoria Federal Especializada junto ao Incra o peticionamento, em juízo, “pela suspensão de todas as ações de desapropriação dos imóveis Japuranã”, “e o bloqueio do quanto depositado, até que o Incra conclua os levantamentos necessários para fins de apuração do justo preço de cada imóvel”. O documento solicita ainda à Corregedoria Geral do Incra que “instaure os procedimentos cabíveis, considerando a existência de indícios de irregularidades nos atos praticados por servidores públicos”.

    Jesus Corrêa é um general de brigada e foi nomeado para presidir o Incra em fevereiro deste ano, pelo presidente Jair Bolsonaro. Confira o documento, com os destaques feitos pelo observatório:

    Incra pede a suspensão das ações de desapropriação em Japuranã e o bloqueio das indenizações. (Fonte: Diário Oficial da União/Reprodução)

    FAMÍLIA RECEBEU PELO MENOS R$ 37 MILHÕES POR DESAPROPRIAÇÕES

    Figuram na lista dos beneficiados pelas desapropriações os avós paternos de Deltan Dallagnol, Sabino e Mathilde Rovani Dallagnol, e os pais dele, o procurador de Justiça aposentado do Paraná Agenor Dallagnol e Vilse Salete Matinazzo Dallagnol, além de irmãos de Agenor (tios de Deltan) e seus sobrinhos (primos de Deltan). A ligação exata do procurador com seus parentes no Mato Grosso foi confirmada com o auxílio do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), da Universidade Federal do Paraná. Confira a lista dos beneficiados:

    Agenor e Deltan: pai do procurador recebeu por terras. (Foto: Facebook/Reprodução)
    • Agenor Dallagnol -> Pai de Deltan. Mora em Curitiba. Recebeu R$ 8,8 milhões pela desapropriação da Fazenda __, de __ hectares.
    • Xavier Dallagnol -> Tio de Deltan, irmão de Agenor. É quem cuida da parte jurídica da face agropecuária da família. Mora e tem escritório em Cuiabá.
    • Leonar Dallagnol -> Tio de Deltan, irmão de Agenor. Conhecido na Gleba Japuranã como Tenente. É ele quem controla as terras da família na região.
    • Maria das Graças Prestes -> Mulher de Xavier, tia de Deltan. É o nome que encabeça a ação principal, com 25 interessados nas desapropriações. Recebeu R$ 1,6 milhão pela desapropriação da Fazenda __ de __ hectares.
    • Ninagin Prestes Dallagnol -> Filha de Xavier e Maria das Graças, prima de Deltan. É a recordista em valor de desapropriação, com R$ 17 milhões. Advogada, trabalha no escritório do pai em Cuiabá.
    • Belchior Prestes Dallagnol -> Irmão de Ninagin. Recebeu R$ 9,5 milhões pela desapropriação.

    Agenor Dallagnol, portanto, recebeu cerca de 1/4 do total das indenizações relativas às desapropriações na área. Aqueles R$ 8,8 milhões foram liberados em dezembro de 2016, no primeiro ano do governo Michel Temer. No mesmo dia, foram liberados, segundo o Portal da Transparência, ao menos R$ 36,9 milhões de indenizações do Incra para integrantes da família do procurador. Cerca de 3/4 do total, quase R$ 27 milhões, foram para Ninagin e Belchior, filhos de Xavier Leonidas Dallagnol – o líder de fato das desapropriações.

    Dos 25 citados na principal ação de desapropriação da área, ao menos 14 fazem parte da família Dallagnol. Pelo menos um deles, o patriarca Sabino Dallagnol, já faleceu. Alguns ainda não tiveram as indenizações liberadas – pelo menos até onde a reportagem conseguiu alcançar. São eles: ____. Outro nome listado na principal ação, Maria Osmarina Campestrini, é amiga da família.

    Essa “lista dos 25” tem ainda uma espécie de “núcleo Fabris”, referente à família de Euclides Fabris, um fazendeiro radicado no Mato Grosso do Sul. E, assim como Sabino, já falecido. Oito entre os 25 na ação principal pertencem a esse clã, que estende sua sede territorial até o Paraguai. De Olho nos Ruralistas contará ao longo da semana a história desses personagens secundários – mas tão interessados nas indenizações em Nova Bandeirantes quanto os parentes de Deltan Dallagnol.

    Segundo a resolução, o Incra ajuizou 14 ações de desapropriação, mas “com o depósito inicial em somente quatro ações”.

    DISPUTA JUDICIAL OCORRE DESDE 1996

    O processo de desapropriação da gleba Japuranã, em Nova Bandeirantes (MT), tramita sem solução desde 1996. De um lado, 425 famílias lutam pelo reconhecimento formal de seu direito de permanecer na terra onde trabalham e produzem há mais de vinte anos, em uma área de 66,9 mil hectares – equivalente ao tamanho de Bahrein, país do Oriente Médio, e maior que Singapura, na Ásia. De outro, um grupo de antigos proprietários, boa parte deles ligada ao clã Dallagnol, disputa com o Incra qual o valor a ser pago.

    O confronto fica mais complexo a cada dia. Atualmente, é difícil saber com clareza quem são os responsáveis por melhorias que aumentariam o valor da indenização a ser paga aos antigos donos. Isso sem contar a própria valorização que os proprietários têm em outras terras na região por conta do loteamento da área.

    Agenor Dallagnol, sua mulher Vilse Salete e irmãos dele – como Veneranda, Leonar, Eduardo Carlos, Eliseu Eduardo e Xavier Leônidas – são sócios de terras na gleba. É um universo de latifundiários e de formados em Direito. A começar de Xavier, o advogado dos interesses da família na região, inclusive de Agenor. Eliseu, também advogado, aparece apenas como parte nos processos.

    Eduardo Carlos Dallagnol foi citado pelo sobrinho Deltan em conversas no Telegram publicadas pelo The Intercept Brasil e pela Folha no dia 14, sobre a tentativa do procurador de montar uma empresa junto com Roberson Pozzobom, seu colega no Ministério Público Federal em Curitiba, em nome das esposas, para ganhar dinheiro com a repercussão da operação Lava Jato.

    Eles conversaram, segundo o Intercept, no fim de 2018. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar no networking e visibilidade”, escreveu Deltan Dallagnol. O tio Eduardo Carlos é dono da Polyndia, empresa organizadora de eventos. “Eles [Polyndia] podem oferecer comissão pra aluno da comissão de formatura pelo número de vendas de ingressos que ele fizer”, afirmou o procurador. “Isso alavancaria o negócio. E nós faríamos contatos com os palestrantes pra convidar. Eles cuidariam de preparação e promoção, nós do conteúdo pedagógico e dividiríamos os lucros”.

    Uma das primas de Deltan, Adriana Vaz Dallagnol, também é sócia da Polyndia. E igualmente interessada nas desapropriações na Amazônia. Dos eventos à floresta.

    No norte do Mato Grosso, Nova Bandeirantes está localizada no Portal da Amazônia, região da Amazônia Legal, a 2,5 mil quilômetros da cidade natal de Deltan e de Curitiba, onde ele trabalha atualmente . É um dos principais focos do desmatamento do país nos últimos anos.

    município, emancipado de Alta Floresta no início dos anos 1990, começou a ser formado a partir de 1982, em um processo de ocupação comandado pela empresa Coban, do empresário Daniel Meneghel, ainda durante a ditadura militar. Daniel e o irmão Serafim são empresários no Paraná. Em setembro, durante a campanha eleitoral, o general Hamilton Mourão, atual vice-presidente da República, viajou de carona em um avião dos empresários, ligados também à União Democrática Ruralista (UDR), com o atual secretário de política agrária, Nabhan Garcia e o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).

    Foto principal: Deltan Dallagnol, paladino da luta contra a corrupção; desmatamento em Nova Bandeirantes. (Agência Brasil/Greenpeace)

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    Conhecido como Tenente, tio de Deltan Dallagnol foi acusado de invadir terras ao lado de “Pedro Doido”
    Em 2016, prima de Dallagnol ficou em décimo lugar entre maiores beneficiados por recursos agrários no país
    Indenização milionária para os Dallagnol no MT foi liberada quando diretor de Obtenção de Terras do Incra era do estado
    Na outra ponta do impasse fundiário em Nova Bandeirantes (MT), camponeses se sentem acuados com situação

  • Pedido de retenção do passaporte de Deltan Dallagnol é protocolado na Câmara dos Deputados

    Pedido de retenção do passaporte de Deltan Dallagnol é protocolado na Câmara dos Deputados

    O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) protocolou na manhã desta segunda-feira 15 de julho pedido de retenção do passaporte do procurador Deltan Dallagnol.

    O protocolo foi feito na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, uma das comissões a que havia sido submetida a presença de Dallagnol para explicar as últimas denúncias feitas pela imprensa.

    Em seu Twitter, Correia afirmou que Deltan não deu justificativas plausíveis para não comparecer às audiências que foi convidado, para se explicar sobres as denúncias feitas  pelo The Intercept Brasil.

    “Dallanol tem tempo para responder a órgãos de imprensa, mas não demonstra vontade para falar com parlamentares, o que afronta a democracia”, escreveu o deputado em seu Twitter.

  • THE INTERCEPT EXPLICA PASSOS DA VAZA JATO À COMUNIDADE

    THE INTERCEPT EXPLICA PASSOS DA VAZA JATO À COMUNIDADE

    Leandro Demori: “Não podemos esperar porque há pessoas presas ilegalmente”

    “Se não fosse o impacto do escândalo, Sérgio Moro já teria nos prendido e tomado nossos equipamentos”, afirma Leandro Demori, em debate na UFSC

    Em dia de novas revelações da Vaza Jato, a comunidade universitária lotou o Auditório e o Hall da Reitoria da UFSC para ouvir Leandro Demori, editor-chefe do The Intercept Brasil, na manhã de sexta-feira, 5/7, em Florianópolis. Durante quase três horas, estudantes, pesquisadores e profissionais de jornalismo sabatinaram o premiado editor sobre os resultados e o futuro da investigação jornalística que desmascarou os esquemas entre a Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro para condenar Lula e tirá-lo da disputa eleitoral. Assista aqui à cobertura ao vivo pelos Jornalistas Livres.

    Uma plateia entusiasta do trabalho do The Intercept, mas também crítica e curiosa, pediu explicações sobre a parceria com veículos da grande mídia que ajudaram a acobertar a “arbitragem ilegal e antiética” do atual ministro da Justiça, como ele próprio a qualificou. Demori afirmou que as parcerias são necessárias para acelerar o trabalho de apuração. Garantiu, contudo, que todas as produções resultantes dessas alianças são acompanhadas pelo site. “Nós franqueamos o acesso ao material bruto sob a condição de que as reportagens passem pelo nosso crivo.” Acrescentou ainda que ocupar a grande mídia, assim como dar entrevistas e fazer palestras diárias pelo país é fundamental “para que não vença a narrativa do governo e da direita criminalizando os jornalistas”.  Especializado em jornalismo investigativo e diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, lembrou o discurso de Moro no Senado, afirmando que a intenção dos jornalistas era provocar um fato para serem presos e terem seus equipamentos apreendidos. Hoje Demori vê essa acusação como uma confissão: “Se não fosse a repercussão nacional e internacional do escândalo, Sérgio Moro já teria nos prendido e tomado nossos equipamentos no dia seguinte à primeira matéria da série”.

    As perguntas ao  ex-editor da Piauí giraram sobre o processo da investigação como um todo, mas também sobre a segurança dos jornalistas e as ameaças de bolsonaristas e do próprio ministro Sérgio Moro. O ministro tenta criar uma nova narrativa para jogar a sociedade contra a investigação ao dizer que nosso  objetivo é destruir a Lava-Jato, quando na verdade nós queremos fortalecer o combate à corrupção”, denuncia Demori. “Como se não estivesse mais do que na hora de denunciar as coisas erradas que eles fizeram, gerando injustiças em série. Formado em Jornalismo pela PUC do Rio Grande do Sul, 38 anos, natural de São Miguel D’Oeste, Demori vê com máxima gravidade a notícia do pedido da Polícia Federal de quebra de sigilo da conta bancária do jornalista Glenn Greenwald pelo COAF para descobrir as fontes do escândalo Vaza Jato. Na manhã do evento, essas notícias começaram a ser refutadas com veemência pelas instituições democráticas, como a OAB e a Associação Brasileira de Imprensa. (ABI).

    “Se for verdade esse anúncio, é uma violação inominável da democracia e da liberdade de imprensa, que só indica o caminho do fim da PF. Isso não será aceito no mundo inteiro. Na melhor das hipóteses, é mais uma mentira do site O Antagonista”, ironizou.

    Debate com Leandro Demori, mediado pela estudante Clarissa Levy e o professor de jornalismo Samuel Lima durou três horas

    “Não seria melhor ter divulgado todos os vazamentos de uma só vez?”, indagou uma pergunta encaminhada por escrito. Demori explicou que a equipe trabalha diária e intensamente na conferência dos dados, mas não poderia aguardar a finalização do trabalho para fazer uma denúncia com consequências direta na vida das pessoas. “Diferente de outras investigações, como o Panamá Papers, que não afetava ninguém diretamente, aqui não pudemos esperar porque a Vaza Jato mexe com a vida de uma pessoa que está na prisão”. E ele não se refere apenas ao ex-presidente Lula, mas a todos os que entraram ilegalmente nos processos de delação, muitos inocentes, segundo ele.

    Moderadas pelo professor de Jornalismo Samuel Lima e pela estudante de jornalismo Clarissa Levy, as perguntas da plateia foram respondidas com o humor, a ironia e a franqueza peculiares a Demori. Ele, contudo, preferiu não responder questões estratégicas relacionadas ao sistema eletrônico de investigação usado pelo The Intercept, à identificação das fontes e às próximas denúncias. Também esquivou-se de perguntas sobre o embate com a rede Globo. Explicou contudo, a origem da agressiva carta da direção da emissora, na qual ela acusava o caráter de Glenn e garantia ter sido receptiva à proposta de averiguação e divulgação d

    as denúncias..

    “Como a rede sempre utilizou dados obtidos por investigações exclusivas da nossa equipe sem citar a fonte, descobrimos que havia um veto antigo na emissora contra o The Intercept”. Esse veto foi mencionado na proposta de parceria com o Fantástico: “Perguntamos se isso seria impedimento para um trabalho conjunto, mas eles se limitaram a repetir que nunca houve qualquer tipo de restrição, sem responder a questão principal, que era a proposta de parceria”.

    O evento promovido pelo Departamento de Jornalismo da UFSC integra as comemorações do aniversário de 40 anos do curso. Fundado por célebres teóricos da área, como os já falecidos Adelmo Genro Filho e Daniel Hertz, críticos contundentes do sistema de monopólios da comunicação social no Brasil, o curso orgulhou sua tradição encorajando o trabalho do jornalismo investigativo com um longo e vigoroso coro de aplausos.

  • PF força conexão entre Vaza Jato e Operação Chabu em SC

    PF força conexão entre Vaza Jato e Operação Chabu em SC

    Prefeito Gean Loureiro continua afastado da Prefeitura de Florianópolis

    O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (ex-MDB), continua afastado do cargo desde a segunda-feira pela manhã (17/6), quando foi preso e teve seu celular e computadores apreendidos pela Operação Chabu, desencadeada pela Polícia Federal em Santa Catarina. Gean foi preso junto com mais sete agentes policiais, incluindo o delegado federal Fernando Caieron, dirigentes públicos e empresários da área de tecnologia acusados de compor uma rede criminosa de tráfico de informações sigilosas a políticos e empresários investigados por corrupção. Foi solto ao final do mesmo dia, mas o delegado continua preso, junto com mais cinco agentes. O caso ganhou ainda mais repercussão nesta semana, depois que a PF “plantou” em veículos de direita ligações improváveis entre a espionagem denunciada pela Operação Chabu e os vazamentos do Morogate.

     
    Na quarta-feira (19/6), os advogados do prefeito tentaram suspender o seu afastamento no TRF4, mas não obtiveram êxito. Por enquanto, quem administra a capital é o vice-prefeito José Batista Nunes (PSDB). Em live veiculada nesta sexta-feira, 21, na página do Facebook do vereador Afrânio Boppré, ele e o vereador Lino Peres afirmam que a oposição está muito apreensiva porque Gean Loureiro tem frequentado a Câmara de Vereadores e o seu gabinete, de onde entra e sai levando pastas e documentos. Querem saber, por exemplo, por que o prefeito, sendo apontado como o articulador da “Orcrim”, foi solto no mesmo dia da prisão e continua livre para passear no seu gabinete e recolher provas.
     
    Os quatro vereadores da oposição, Afrânio Boppré (PSoL), Marquito (PSoL), Lino Peres (PT) e Vanderlei Farias, o Lela (PDT), já emitiram duas notas conjuntas reivindicando informações da Polícia Federal para se posicionarem com mais clareza sobre o ocorrido. “Decidimos evitar julgamentos ou absolvições enquanto não tivermos informações em profundidade”, explica Lino. Querem saber que informações há nos equipamentos e celulares apreendidos e o possível envolvimento de outros funcionários públicos municipais nessa rede de tráfico de informações. “Se Gean diz que é vítima de uma armação, queremos saber quem é esse agente oculto que tem tanto poder e influência na vida da cidade”, afirma Boppré.
     

    PF APELA PARA O PAVÃO DE PERNA CURTA

     
    Moro conduz PF ao grotesco

    Nesta quinta-feira, 20/6, a revista Isto É publicou reportagem de capa na edição do fim de semana, intitulada “Cerco aos hackers” , 
    afirmando que a PF está investigando as “possíveis ligações” entre a Operação Chabu, a Vaza Jato e a atuação de agentes cibernéticos em Santa Catarina, no Brasil, Dubai e Emirados Árabes. Segundo “investigações preliminares”, a PF teria encontrado conexões entre o jornalista investigativo Glenn Greenwald, do The Intercept, Edward Snowden, refugiado na Rússia, com os irmãos bilionários russos Nikolai e Pavel Durov. Os Durov são proprietários do programa de conversação em chat, o Telegram, de onde vazaram os diálogos entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, revelados por Greenwald e sua equipe no escândalo conhecido também como Brasilgate. Finalmente, a PF teria encontrado ligações com Evgeniy Mikhailovich Bogachev, conhecido como Slavic, que criou o vírus Cryptolocker e o código Zeus. Slavic é procurado pelo FBI sob a acusação de cometer crimes cibernéticos, afirma a reportagem, sempre baseada no narrativa surgida no domingo passado, no perfil anônimo do Twitter, o “Pavão Misterioso”, já denunciado por vários sites de aferição como fake news grosseira, a exemplo do Estadão.

    Conforme o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, entrevistado pelo IstoÉ, o órgão “acredita ter se aproximado dos hackers que invadiram a privacidade dos procuradores”. A relação conspiratória, clara tentativa de criminalizar os jornalistas do The Intercept e levar os denunciadores da tribuna para o banco dos réus, foi levianamente lançada em veículos brasileiros de direita desde o início da semana. Estão aí todas as tintas de mais uma farsa do ex-juiz que fraudou a justiça com seus processos persecutórios e seletivos, baseados numa relação de influência ilícita sobre os procuradores da Lava Jato e na manipulação dos autos de acusação para condenar em tempo record o ex-presidente Lula à prisão. Emparedado pelas revelações do site The Intercept, trazidas a conta-gotas, como uma morte lenta, Sérgio Moro precisa com urgência de qualquer subterfúgio pra sair da berlinda e partir para a ofensiva.
     
    O único indício apontado pela revista de que a relação apontada por um perfil anônimo no twitter pode merecer a credibilidade dos seus leitores é o fato de a PF dar importância a ela. “Embora parecesse inverossímil num primeiro momento, por conter erros de grafia e tradução, ISTOÉ confirmou que a PF segue sim o rastro da pista, considerada importante pelos agentes hoje à frente do caso.” Os métodos caluniosos e fantasiosos são os já conhecidos na herança lavajatista. Enquanto a PF sege as pistas do “Pavão Misterioso”, em Santa Catarina, ninguém entende os rastros da polícia, que parece encobrir na Operação Chabu a sua própria corrupção interna. 
    Mais sobre a Operação Chabu e Alcatraz
    https://jornalistaslivres.org/corrupcao-dentro-da-pf-leva-a-prisao-de-delegado-e-prefeito-de-florianopolis/