Jornalistas Livres

Categoria: História não-contada

  • O descaso com nosso passado e o desrespeito com o futuro

    O descaso com nosso passado e o desrespeito com o futuro

     

    A luta sem fim em busca da verdadeira reparação histórica em São Paulo

    Foto de Vinicius Barbosa | Jornalistas Livres

     

    É uma rua sem saída. A pequena igreja dos Aflitos parece tímida diante das grandes lojas e da movimentação constante do Bairro Liberdade. É uma guerreira histórica e tombada, mais do que isso, em suas entranhas há um passado rico para o Brasil, mas cruel para o povo negro.

    No terreno ao lado, foram achadas 9 ossadas e algo que todos parecem querer apagar foi colocado à tona: a região era um cemitério de escravos e pobres levados à forca, fruto de um passado escravagista que o país e sua elite patrocinaram e usufruiram até a última gota de sangue, são 500 anos de uma encruzilhada que deixa sequelas inestimáveis.

    O ato finalmente ganha vida quando, fora da igreja, ouvimos batuques, pandeiros e vozes coordenadas cantando imponentes. Era o grupo Educafro hasteando bandeiras e levantando o astral de todos os presentes, contagiante, todos em volta se juntam e o padre também, era uma homenagem. As vozes baixam e a missa atípica de terça-feira começa.

    O lugar está abarrotado, mesclando quem segue o catolicismo e as religiões de matriz africana. A harmonia e paz é como um contrato implícito de que o acontecia ali era maior do que uma simples cerimônia, era um culto ao povo negro e sua cultura. A complexidade da situação é comovente, a delicadeza com que tudo foi tratado, as músicas cantadas e, com o fim da liturgia, o ato tomou as ruas.

    Foi no asfalto que as vozes cresceram, um ambiente homogêneo em que todos sabiam o propósito final, era se orgulhar de sua pele e lutar por ela, discursos inflamados eram desabafos sinceros de quem cansou de se sentir humilhado e rebaixado pelo sistema, e ver aquelas ossadas foi ao mesmo tempo a ponta do iceberg e o pingo que transbordou aquela gente. A luta agora era para que os seus ancestrais pudessem ter um memorial onde descansar, o lugar perfeito seria ali, do lado daquela tímida igreja.

    As ossadas, descobertas por arqueólogos, estavam na escavação da empresa de cosméticos Ikesaki, até então sem alvará. A luta é justa, mas a disputa é desigual, a corporação tem o poder político e econômico sobre a área. O desrespeito com a história é evidente: estão fazendo um “shopping” em cima de um cemitério e ninguém parecia se importar com isso. Parecia, até que alguém fez barulho, e que barulho.

    O rito deu a volta no quarteirão e tomou a rua em frente à construção, e o pedido era simples: respeito pelo passado daqueles que são desrespeitados no presente. No meio de buzinas e de baixo de um sol quente, o protesto abalou aquele pequeno microcosmo cheio de japoneses e turistas, retomando o espaço histórico que tentaram nos fazer esquecermos.

     

    VÍDEO SOBRE A ESCAVAÇÃO

    AS TRANSMISSÕES AO VIVO na página do facebook, do ato do dia 19.12.2018

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2015309115228410/

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/511116006066493/

    SAIBA +
    A discussão da cultura negra e oriental presentes no bairro da Liberdade, em São Paulo, e sua relação com o tempo e o espaço, estão no exemplar físico, em duas histórias, uma de cada lado, se encontram no meio e dividem a mesma página final, sugerindo uma narrativa sem começo nem fim, na HQ INDIVISÍVEL de Marília Marz. A artista fez como trabalho de conclusão do curso da Escola da CIdade em formato de história em quadrinhos. Pode ser visto on-line.

     

  • Racista ofende crianças negras de 10, 11 e 12 anos no restaurante

    Racista ofende crianças negras de 10, 11 e 12 anos no restaurante

    Por Laura Capriglione e Douglas Alves Mendes, dos Jornalistas Livres

     

    Três crianças, de 10, 11 e 12 anos, foram atacadas com injúrias racistas nesta quarta-feira (19), em um restaurante na praça da Liberdade, o Bentô House, logo depois de terem almoçado no local em companhia dos pais de um deles, ambos negros.

    Bentô House: restaurante na Liberdade e foi cenário do ataque racista

    O agressor, Luis Alberto Oze Jacob, de 47 anos, programador, morador em Osasco, almoçava no mesmo local, quando viu as crianças sentadas em uma mesa, à espera dos adultos que as acompanhavam, que estavam pagando a conta no caixa. Imediatamente, o homem começou a incitar os demais comensais em voz alta, dizendo que cuidassem de suas bolsas e pertences pessoais, que os garotos eram “filhos de detentos do PCC que vivem no Glicério” (um bairro pobre vizinho à Liberdade), que eram “filhos de presos que receberam indulto de natal”, que estavam ali “só para roubar”.

    Acompanhante das crianças, e mãe de um deles, Débora Rosa da Silva viu o que estava acontecendo e foi tomar satisfações com o agressor. Disse a ele que se tratava de injúria racial e discriminação, mas Oze Jacob, em vez de se desculpar, começou a se dizer “vítima” –segundo ele, estava apenas tentando “ajudar” os demais clientes do restaurantes.

     

     

    Duas mulheres que também almoçavam no andar térreo, mostravam-se indignadas com o preconceito manifestado pelo homem, o mesmo ocorrendo com o cineasta Diego Avarte, 33 anos, sentado ao lado do agressor e que a tudo testemunhou.

    “Eu vou chamar a polícia! Você vai ter de se explicar na polícia!”, disse Débora a Oze Jacob. Foi a senha para o homem largar seu sushi de salmão e a coca-cola zero, levantar-se da mesa, empurrar Débora e sair correndo pelo bairro da Liberdade. Ele não pagou a conta do restaurante.

     

    Em seu encalço foi o acompanhante dos meninos e pai de um deles, o professor José Francisco Ferreira de Oliveira, 60 anos, e mais dois amigos.

    Oze Jacob foi detido e levado ao 1º Distrito Policial. A coragem que demonstrava dentro do restaurante contra os três meninos (de 10, 11 e 12 anos, repita-se), sumiu. O homem, que não quis falar com a imprensa, disse à polícia que “foi mal interpretado”, que estava “triste” por ter sido chamado de “racista”, que “não entende o porquê de tanta ira”.

    Oze Jacob, que é casado com uma mulher de origem nipônica, não tem perfil nas redes sociais, mas a mãe dele tem. Ela fez campanha para Bolsonaro, é evangélica e usou o avatar: “Brasil Acima de tudo; Deus acima de todos” durante o período eleitoral.

    O delegado plantonista, Julio César dos Santos Geraldo, lavrou um termo circunstanciado, que remeteu ao Ministério Público ainda ontem.

    Bem ao lado do restaurante, poucos minutos antes da discussão entre Oze Jacob e a família negra, aconteceu um ato público exigindo respeito aos mortos cujos cadáveres afloraram neste mês na terra vermelha do bairro da Liberdade, quando da demolição de um prédio comercial. Trata-se de remanescentes do antigo cemitério dos escravos, o primeiro cemitério público de São Paulo, chamado “Dos Aflitos” (não por acaso), fechado em 1855.

    Moradores nada ilustres da cidade da São Paulo do passado, escravos, defensores da independência face à Coroa Portuguesa, loucos, líderes populares eram enterrados lá, sem caixão, sem lápides ou monumentos mortuários, enquanto os ricos encontravam o descanso eterno dentro das igrejas.

    A família negra ofendida no restaurante japonês tinha participado do ato em homenagem aos seus ancestrais. Feitiço do tempo, a agressão contra os meninos mostra que a escravidão e o racismo ainda não foram devidamente enterrados. Só isso explica o homem branco que ousa, em pleno 2018, atacar três crianças baseado no fato de que a pele delas não é “suficientemente” branca. O nome disso é racismo!

  • O Império Bolsonaro no vale da miséria

    O Império Bolsonaro no vale da miséria

    O cunhado não gostou quando uma parte de sua fazenda, fruto de invasão de terras, virou quilombo. Capangas destruíram a nova plantação de bananas assim que o processo de reconhecimento da área foi finalizado, em setembro passado. Por sua vez, em 2015, uma das irmãs se apossou do lote urbano de mais de 800m2 que foi regularizado por um programa voltado a pequenos posseiros. Seis meses depois, ela vendeu o lote para o prefeito do município. Já o núcleo familiar da caçula dos cinco irmãos de Jair Bolsonaro alugou 3 imóveis, sem licitação e na faixa dos R$ 8 mil por mês, para prefeituras do Vale do Ribeira, uma das áreas mais pobres do Estado mais rico do Brasil.

    É nessa região que Jair Bolsonaro morou até os 18 anos de idade, quando saiu para o serviço militar. Filho de um dentista prático e de uma dona de casa, viveu na pacata cidade de Eldorado Paulista. O município hoje tem pouco mais de 15 mil habitantes, 40% deles ganhando menos de dois salários mínimos. Não por acaso, o município sofre com o segundo pior índice de mortalidade infantil do Estado.

    Mas Eldorado Paulista também é o quarto maior município em extensão territorial de São Paulo. No começo do século passado, foi apelidado de “Amazônia Paulista” e, em 1993, reconhecido pela Unesco como “Reserva da Biosfera do Patrimônio Mundial”. Cerca de 70% do território é coberto por Mata Atlântica protegida por reservas e parques, estações ecológicas e áreas de proteção ambiental naturais tombadas, além de 26 quilombos e cerca de 50 comunidades remanescentes de quilombos. Mas Bolsonaro diz que não quer saber de nada disso. É obcecado por minérios como nióbio (usado em siderurgia) e tório, um elemento químico radiativo.

    Natural de Campinas, foi em Eldorado que Bolsonaro se criou. E é aquela região que explica algumas das obsessões do ex-capitão, a começar pela idolatria à caserna. Bolsonaro adora dizer que sua “vocação” militar foi despertada no começo dos anos 1970, quando a região do Vale do Ribeira viu-se ocupada por 2.500 homens do Exército, auxiliados por um contingente não determinado de policiais cedidos pelo governo de São Paulo, que caçavam míseros 17 militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), sob o comando do guerrilheiro Carlos Lamarca, este sim, um mito. Pois não é que os soldados, depois de bloquear a BR-116, a Rodovia Régis Bittencourt, além de estradas vicinais, depois de prender 120 pessoas e varrer a Mata Atlântica com helicópteros, depois – por fim – de bombardear áreas civis suspeitas de abrigarem os guerrilheiros com bombas de napalm jogadas de cargueiro B-26 da FAB; depois disso tudo, Lamarca conseguiu furar o bloqueio do Exército e fugir.

    Nada menos do que 41 dias de fome e cerco depois, e Lamarca conseguiu escapar da maior mobilização da história do II Exército, atual Comado Militar do Leste. O baile que o guerrilheiro deu no Exército marcou indelevelmente o psiquismo do menino Jair Bolsonaro, que até hoje promete vingar-se da esquerda.

    A família do candidato à presidência – que chama ocupantes de terras e fazendas improdutivas de “terroristas” e pretende não “dar nenhum centímetro” de terra para reservas indígenas e quilombolas – está espalhada por todo o Vale do Ribeira. Lá, os Bolsonaros construíram um império. Em municípios como Barra do Turvo (o mais pobre do Estado), Jacupiranga, Pariquera-Açu, Miracatu e outros que compõem a área de baixíssimos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), o clã dos Bolsonaro contabiliza mais de 60 imóveis. Agregam-se ao sobrenome presidenciável os dos cunhados José Orestes Fonseca Campos e Theodoro da Silva Konesuk, considerados os mentores financeiros da família. Mas não só de casas, fazendas e terrenos vive a próspera família. Além das propriedades, eles são donos de empresas. Muitas.

    Um levantamento na Junta Comercial de São Paulo aponta, pelo menos, 19 foram registradas em oito municípios. Se forem contabilizadas as filiais das lojas “Campos Mais” (Magazine Campos Mais, Campos Móveis e Campos Materiais de Construção), e da “Art’s Móveis”, de móveis e produtos eletrônicos, em 13 cidades, são cerca de 30 empreendimentos, de acordo com uma reportagem da revista Época de setembro passado.

    A crise econômica parece que não abalou a família: 14 lojas foram abertas nos últimos oito anos. À boca miúda, diz-se que o shopping em construção em Eldorado também é do grupo, assim como um empreendimento em hotelaria no centro de Cajati, no litoral Sul.

    Um dos negócios mais peculiares da família em Eldorado é a casa lotérica “Trilha da Sorte”, registrada como “Casa Lotérica Bolsonaro ME Ltda”. O empreendimento está no nome do irmão do candidato, Angelo Guido Bonturi Bolsonaro, e desperta a curiosidade. Uma rápida busca no Google, afinal, explica como loterias fazem lavagem de dinheiro sujo: basta o criminoso pagar mais do que o prêmio em troca de um bilhete sorteado.

    Na cidade, também fica a loja de sapatos da mãe, dona Olinda Bonturi Bolsonaro, de 92 anos. Ela mora no mesmo prédio do comércio. Todo esse patrimônio, no entanto, não inclui aquele formado pelo próprio núcleo familiar do candidato à presidência e seus três filhos políticos.

    Uma série de reportagens publicada no começo do ano pelo jornal Folha de S. Paulo apontou que os quatro acumulariam mais de R$ 15 milhões em 13 imóveis. Entre eles, os de Brasília – apesar de o candidato à presidência e seu filho Eduardo, que é deputado federal, receberem R$ 6,1 mil por mês de auxílio-moradia pela Câmara dos Deputados, benefício a que teriam direito apenas os parlamentares sem casa em Brasília.

    A conta feita pra estimar o patrimônio, porém, não contabiliza bens como carros que vão de R$ 45 mil a R$ 105 mil, um jet-ski, além de aplicações financeiras, em um total de R$ 1,7 milhão, como consta na Justiça Eleitoral e em cartórios. As dúvidas sobre transações suspeitas de lavagem de dinheiro e de enriquecimento após começar a atuar na política não foram esclarecidas pelo Bolsonaro-pai nem pelos Bolsonaros-filhos.

    Toda a família e seus tentáculos, por sinal, estão proibidos por Jair Bolsonaro de dar entrevistas. Apesar disso, os Jornalistas Livres foram atrás dos personagens, empreendimentos e atividades do clã no Vale do Ribeira. A partir de documentos, relatos, dados fornecidos por cartórios de registros de imóveis, pela Junta Comercial de São Paulo e no Tribunal de Justiça de São Paulo, traçamos, ao menos em parte, pistas do império dos Bolsonaros.

    O cunhado fazendeiro que não gosta de quilombos

    Theodoro da Silva Konesuk é casado com Vânia Rubian Bolsonaro, a caçula dos irmãos do candidato à presidência pelo PSL. Há pouco mais de um mês, Konesuk perdeu uma área de 55 hectares de uma de suas fazendas para a Associação dos Remanescentes de Quilombos da Barra de São Pedro do bairro Galvão, em Iporanga. A propriedade, em áreas devolutas que pertencem à União e ao Município, foi ocupada por seu pai, que foi prefeito da cidade de Eldorado por dois mandatos, entre os anos 60 e 80. Os quilombolas aguardavam a regularização da terra desde 2013, quando a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) e o governo paulista entraram como o processo de reintegração de posse. Theodoro Konesuk não se manifestou. Mas parece que não gostou da sentença.

    Dias depois de os quilombolas receberem o direito à terra, lideranças do quilombo contam que os capangas do cunhado de Jair Bolsonaro destruíram o cercado e as recém-plantadas mudas de bananeiras das 32 famílias da comunidade, segundo reportagem do site www.deolhonosruralistas.com.br.

    O relatório técnico do Itesp realizado em 2000, época de análise dos territórios do bairro Galvão, chamou atenção para os altos níveis de violência na região e até um assassinato ocorrido em conflitos de grilagem das terras. Ao defender a demarcação das terras quilombolas, o documento feito pela antropóloga Maria Celina Pereira de Carvalho afirma que “o sistema agrícola dessas comunidades permanece o mesmo que era praticado pelos antepassados há duzentos, trezentos anos, apoiado em um saber-fazer que exige profundos conhecimentos da natureza e seus ritmos”.

    Aponta ainda que há décadas os descendentes de homens e mulheres negros escravizados lutam contra a construção de uma barragem, ao longo do rio Ribeira de Iguape, que forneceria energia elétrica para uma empresa do grupo Votorantim, e também contra mais três barragens que seriam construídas pela Companhia Energética de São Paulo que, segundo dados do Instituto Socioambiental, inundariam cerca de 60% do território de inúmeras comunidades negras da região.

    Além da propriedade em Iporanga, constam em nome de Konesuk, nos serviços registrais de imóveis, ocorrências nas cidades de Apiaí, Cananéia, Eldorado, Iguape, Itanhaém, Jacupiranga, Miracatu, Peruíbe, Registro e Sorocaba. Em sua fazenda em Registro, há negócios de extração de areia e gado de corte em sociedade com o empresário Maurici Ribeiro Botelho Junior, dono de uma empresa de terraplenagem e de uma transportadora que tem em seu registro de atividades o comércio atacadista de ferramentas, cigarros, cigarrilhas e charutos, artigos de viagem, tecidos, lustres, couros, lãs e peles, jóias, relógios e bijuterias, inclusive pedras preciosas e semipreciosas lapidadas.

    A irmã Vânia e os aluguéis para prefeituras: sem licitação

    Ela é casada com o empresário que perdeu parte de suas terras para quilombolas, Theodoro da Silva Konesuk, e começou seus negócios na venda de artigos para pesca e camping, há 23 anos. Mudou de ramo em 2011 e hoje o casal tem 11 lojas Art’s Móveis. As seis no nome de Vânia Bolsonaro estão registradas como de pequeno porte e as do marido como Eireli, que separa o patrimônio empresarial do pessoal.

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    Os portais de transparência dos municípios da região apontam que Vânia e Theodoro Konesuk já alugaram imóveis para as prefeituras de Cajati, Iguape e Jacupiranga. Todos sem licitação. Entre eles, locação firmada em 2014 do imóvel que hospeda a Delegacia Civil em Cajati. Em Iguape, o nome de Vânia consta como locadora do imóvel destinado à administração do Paço Municipal. Em um ano de aluguel, a partir de março de 2015, a irmã do presidenciável embolsou R$ 90 mil. A locação foi estendida por mais um ano, a R$ 8.325 mensais, totalizando outros R$ 99.906 até março de 2017. Em Jacupiranga, desde 2010, o imóvel onde funciona a Câmara Municipal é do marido, Theodoro Konesuk. Atualmente, ele cobra R$ 8.000 mensais pelo espaço.

    Maria Denise: a empresária-posseira e fazendeira

     

    Na cidade de Barra do Turvo, a mais pobre do Vale do Ribeira, houve regularização de fundiária urbana realizada pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) em 2015. Maria Denise Bonturi Bolsonaro, irmã do candidato à presidência que já declarou a intenção de criminalizar movimentos sem-terra, foi beneficiada pelo programa “Minha Terra”. Ela recebeu a concessão de um lote de 869,28 m2 na cidade. A propriedade do terreno era do município.

    De acordo com o site do Itesp, o programa “Minha Terra” consiste em um projeto social do Governo do Estado de São Paulo “voltado a pequenos posseiros da cidade ou do campo que, devido à insegurança dominial sobre os imóveis que ocupam, convivem com conflitos pelo uso e posse da terra e com sérios obstáculos para o desenvolvimento social e econômico das comunidades.” Seis meses depois de receber o lote, entretanto, Maria Denise Bonturi Bolsonaro o vendeu para o atual prefeito da cidade, o médico Jefferson Luiz Martins, eleito pelo PSDB em 2014.

    Constam, nos registros da Associação dos Registradores Imobiliários de São Paulo, 12 (doze!!!) menções a imóveis no CPF de Maria Denise nas cidades de Eldorado, Jacupiranga, Itanhaém e Miracatu. Vale citar só alguns:

    • Uma casa residencial de 762,50m² no perímetro urbano da cidade de Jacupiranga

    • Uma área de terra urbana de 941,96m² no perímetro de Jacupiranga

    • Uma área de terra urbana com 190,48m², na cidade de Pariquera-Açu

    • Um lote de terreno urbano na cidade de Barra do Turvo

    Documento original

    Separada há 5 anos, ela foi casada por 30 anos com José Orestes Fonseca Campos, dono da rede de materiais de construção “Campos Mais”, que inclui 14 filiais da Magazine “Campos Mais” (saiba mais no perfil abaixo). Seus filhos também são empresários. Osvaldo está no mesmo ramo da família. Já a empresa de Orestes oferece peças de vestuário, calçados, suprimentos de informática e suporte técnico em tecnologia da informação. Os Bolsonaro Campos também são donos de duas fazendas, uma de gado e outra de banana.

     

    O ex-cunhado José Orestes e o impressionante crescimento em tempos de crise

    2015 foi um ano excelente para o ex-cunhado de Jair Bolsonaro José Orestes Fonseca Campos, que foi casado com Maria Denise Bolsonaro Campos, quando ele inaugurou mais três filiais da Magazine “Campos Mais”. O crescimento do negócio de materiais de construção de fato impressiona. Em cinco anos, entre 2005 e 2010, foram abertas oito lojas espalhadas por todo o Vale do Ribeira e litoral Sul. O último empreendimento, no ano passado, foi em Jacupiranga. Mas, para ampliar ainda mais os negócios, José Orestes montou outra empresa. Agora é dono da incorporadora, construtora e administradora de bens imobiliários “Campos Mais”. Além da gestão de imóveis, as atividades da empresa incluem construção de edifícios e hotéis. Na cidade onde mora, Cajati, está construindo um hotel e espaço de eventos.

    Diante de todas essas informações, fica evidente que os ataques do candidato Jair Bolsonaro às comunidades quilombolas e a movimentos, como o MST e o MTST, são hipócritas e criminosos. Os sem-terra e os sem-teto são humildes e pobres que ocupam propriedades improdutivas, enquanto os parentes de Jair Bolsonaro, riquíssimos, invadem terrenos públicos para transformá-los em objeto de especulação imobiliária e cobiça. Eles querem auxílio-moradia, mas só para eles!

  • Eu vi e vivi esse Nordeste

    Eu vi e vivi esse Nordeste

    por Adelaide Ivánova, publicado em suas redes sociais

    o ódio ao nordeste é tao grande, e tao descarado, que o rapper paulista critica o PT por abandonar a periferia e todo mundo aplaude (inclusive bozonarou aplaudiu); a colunista gaúcha critica o PT pelos crimes no xingu e todo mundo aplaude; mas xs nordestinos podem falar mil vezes das suas experiências com o PT (sejam elas positivas ou negativas) que isso nunca é levado em conta na mesma medida.

    a tragédia no xingu não é maior nem menor, nem mais nem menos importante que as secas no sertão, que geraram não apenas milhões de mortes mas uma onda de migração interna forçada sem precedentes na história do brasil. foi um governo de um tal de PT que diminuiu essa migração interna forçada, no sentido de que gerou, na região, possibilidade de emprego e investimentos, e as pessoas não precisavam mais deixar o nordeste e ir pro sudeste para conseguir um trabalho. em 2009, não somente paramos de deixar o nordeste, como houve uma onda de retorno. pernambuco teve a maior taxa de retorno de imigrantes. mas disso, dessa parte boa (e de todas as outras coisas maravilhosas que o governo de lula fez pelo NE), ninguém quer falar. afinal, é no nordeste.

    o genocídio do povo preto não se dá apenas na ZL de são paulo, não. aliás, a região sudeste tem a MENOR taxa de morte da juventude negra. a região nordeste é a região que mais mata a juventude negra no país. os indicadores sociais no nordeste mudara radicalmente, mas a violência contra esse grupo continua crescendo assustadoramente no nordeste. isso o PT não parou. mas disso ninguém quer falar. afinal, é no nordeste.

    se o PT tivesse feito em são paulo o que fez pelo nordeste, o ódio ao PT não seria esse. mas o nordeste pode continuar afundando na merda, na seca, na fome, na filariose, na cólera que pra vocês ia dar na mesma. os nordestinos podem continuar sendo assassinados, que pra vocês o que importa é o que acontece em SP. porque vocês estão cagando pro nordeste do brasil. vocês também não estão preocupados com o xingu, na boa. o nordeste pra vocês é trancoso e o norte é alter do chão.

    não perdi meu tempo escrevendo esse textao pathetico pra incentivar uma olimpíada dos oprimidos, pra dizer que o PT acertou em tudo. estou dizendo, apenas, que essa dupla moral, esse ar de superioridade política, são obscenos. toda vez que um sulista/sudestino diz que o PT devia fazer uma autocrítica por causa da corrupção, ou por causa da amazônia; quando eliane brum diz “voto no pt pra que conserte a merda que fez”; é como se passassem uma borracha nos séculos de fome, morte e abandono que o nordeste foi forçado a viver e que só o PT quis parar. eu vi e vivi esse nordeste. não foi numa entrevista que ouvi falar dele, não.

    boa noite.

  • Assassinato de Luiz Eduardo Merlino pela ditadura tem novo julgamento

    Assassinato de Luiz Eduardo Merlino pela ditadura tem novo julgamento

    O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, iria julgar na próxima terça-feira, 23 de outubro, o recurso da denúncia criminal do Ministério Público Federal contra três agentes públicos pela morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino, em julho de 1971.

    Segundo informações o julgamento foi adiado, sem data prevista ainda.

    Os denunciados são o delegado aposentado Aparecido Laertes Calandra e o delegado da Polícia Civil de São Paulo Dirceu Gravina, acusados de homicídio doloso qualificado (com intenção de matar), por motivo torpe e com emprego de tortura que impossibilitou a defesa da vítima. O médico Abeylard de Queiroz Orsini, à época, legista, é acusado pelo crime de falsidade ideológica, decorrente da falsificação do laudo necroscópico do jornalista. Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o DOI-Codi, também havia sido denunciado, mas a punibilidade criminal contra ele foi extinta com sua morte, em 2015.

    Na última quarta-feira, 17 de outubro, sob alegação de prescrição, a Justiça de São Paulo extinguiu a ação na área cível movida pela família de Merlino contra Ustra. Em 2012, uma decisão de primeira instância havia condenado o coronel reformado ao pagamento de uma indenização às proponentes.

    Veja o depoimento de Aparecido Laertes Calandra na Comissão Nacional da Verdade .

    Apresentada em setembro de 2014, a denúncia do MPF contra os agentes foi rejeitada pelo juiz federal Fábio Rubem David Müzel, sob a alegação de que os acusados estariam cobertos pela Lei de Anistia. Em outubro do mesmo ano, o MPF recorreu da decisão. O caso será analisado nesta terça-feira por três desembargadores – o relator é José Lunnardeli.

    A tese da denúncia é que de acordo com normas internacionais às quais o Brasil está submetido, delitos como o assassinato de Merlino são considerados crimes contra a humanidade, impassíveis de anistia e imprescritíveis.

    O crime ocorreu nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), centro de tortura comandado por Ustra entre outubro de 1969 e dezembro de 1973.

    Merlino era jornalista. Trabalhou nas publicações Jornal da Tarde e Folha da Tarde. Era militante do Partido Operário Comunista (POC).

    • mais em:

    Tribunal de SP tortura e mata novamente o jornalista Luiz Eduardo Merlino

    Coronel Ustra pode ser condenado esta semana por tortura e assassinato

  • Coronel Ustra pode ser condenado esta semana por tortura e assassinato

    Coronel Ustra pode ser condenado esta semana por tortura e assassinato

    O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) marcou para a próxima quarta-feira, 17 de outubro, a audiência de julgamento da apelação da defesa do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra pela tortura e assassinato do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, em julho de 1971. O coronel foi condenado em primeira instância mas recorreu.

    O crime ocorreu nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), centro de tortura comandado por Ustra entre outubro de 1969 e dezembro de 1973.

    Em 2008, em outro processo, Ustra foi declarado torturador pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em ação movida pela família Teles. Em 2012, a Justiça negou o recurso do coronel reformado e manteve a decisão. Ustra morreu em 2015.

    O Coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, o mesmo que continua sendo homenageado pelo candidato Jair Bolsonaro, quando foi major do Exército e comandante do DOI-Codi, entre setembro de 1970 a janeiro de 1974, usava os codinomes de “Dr. Tibiriçá” ou “Dr. Silva” para suas ações criminosas.

    A Comissão Nacional da Verdade registrou pelo menos 502 casos de tortura e mais de 40 assassinatos ocorridos no DOI-Codi sob o comando do Ustra, incluindo a tortura sofrida Dilma Roussef entre outros. A Comissão disponibilizou um canal no Youtube em que é possível assistir uma série de depoimentos, inclusive a do torturador (clique para acessar)

    A luta das famílias

    A ação judicial movida por estas duas famílias (Teles e Merlino), tem um sentido especial de justiça e reparação moral e política, e é uma iniciativa pioneira e inusitada no Brasil, o único país da América Latina que não tem nenhum torturador da época da ditadura militar condenado. 

    Luiz Eduardo da Rocha Merlino, foi sequestrado em sua casa em Santos, em 15 de Junho de 1971, e torturado por 24 horas seguidas e abandonado numa solitária. Morreu em decorrência da omissão e dos graves ferimentos que sofreu por tortura. Conheça mais sobre a história de Merlino e a luta por justiça no site coletivomerlino.org .

    Assista à vídeo-biografia, onde Celso Frateschi relata em primeira pessoa como foi a morte de Merlino. Acesso o link do relatório final produzido pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo da Verdade Rubens Paiva.

     

     

    A série de vídeo-biografias tem uma playlist específica,

    Tortura e Assassinato

    Trechos da matéria de Tatiana Merlino e André Caramante disponível no site.

    Caixão lacrado

     A notícia da morte de Merlino chegou à família por meio de um telefonema ao seu cunhado, Adalberto Dias de Almeida, que era delegado da Polícia Civil. Adalberto e tios de Merlino foram ao IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo onde foram informados de que lá não havia nenhum morto com esse nome. Usando da sua condição de delegado, Adalberto foi em busca do corpo do cunhado. Abrindo uma por uma as portas das geladeiras, localizou o corpo de Luiz Eduardo com marcas evidentes de tortura e sem identificação. O corpo foi entregue à família num caixão lacrado.

    A versão que foi dada à família foi a de que Merlino teria se suicidado ao jogar-se embaixo de um caminhão na BR-116, na altura de Jacupiranga, quando estava sendo transportado para Porto Alegre para a identificação de militantes. Tal versão consta do laudo necroscópico assinado por Abeylard Orsini e Isaac Abramovitch. O veículo que o teria atropelado nunca foi identificado e tampouco foi realizada uma ocorrência no local do fato.

    40 anos de luta por verdade e justiça

    A família de Merlino luta há 40 anos por justiça, ainda em 1979, a mãe do jornalista, Iracema da Rocha Merlino, já falecida, moveu uma ação declaratória na área cível, mas foi rejeitada, sob a alegação de prescrição.

    Em 2008, a família moveu uma nova ação declaratória na área cível, que não pretendia nenhuma indenização pecuniária, apenas o reconhecimento moral de que ele foi morto em decorrência das terríveis torturas que sofreu nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, mas o processo foi extinto na primeira instância, não chegando sequer a ser julgado em seu mérito.

    Através de seus advogados Fábio Konder Comparato, Claudineu de Melo e Aníbal Castro de Souza, os familiares de Merlino recorreram ao Superior Tribunal de Justiça, mas o relator do caso não considerou o recurso e arquivou o processo em março de 2010.

    Em 2010, os advogados dos familiares de Merlino entraram com uma nova ação, ainda na área cível, desta vez por danos morais, contra o coronel Ustra. Também neste caso os advogados do coronel encaminharam ao Tribunal de Justiça de São Paulo um recurso (“agravo de instrumento”), tentando bloquear o seguimento do processo. Porém não obtiveram sucesso. E finalmente, em 27 de julho de 2011 a juíza Claudia de Lima Menge ouviu as seis testemunhas arroladas pelos familiares de Merlino.

    O coronel Ustra havia indicado como suas testemunhas de defesa algumas pessoas que deveriam depor por carta precatória em seus estados, pois nenhuma residia em São Paulo,  algumas delas declinaram da convocação, como o senador José Sarney, por exemplo. Por fim uma única testemunha falou em sua defesa, depondo em Brasília: o general Paulo Chagas declarou não ter notícia de nenhum ato de tortura praticado pelo coronel Ustra e também que o Exército brasileiro nunca tinha dado nenhuma ordem escrita para torturar presos. A juíza proferiu a sentença de condenação na primeira instância, para que o coronel Brilhante Ustra  pagasse uma indenização à família de Merlino.

     

    Com trechos do relatório da Comissão da Verdade do Estado e São Paulo Rubens Paiva , do site Memórias da Ditadura e do site www.coletivomerlino.org