Jornalistas Livres

Categoria: Voz das Periferias

  • Intervenção Militar na Maré faz mais vítimas do que a TV mostra

    Intervenção Militar na Maré faz mais vítimas do que a TV mostra

    “‘Meu filho ontem perdeu o baço, ele perdeu os rins, ele tomou pontos no estômago e os estilhaços acabaram com tudo dele. Eu não tenho o que doar do meu filho’, desabafou Bruna Silva, exibindo o uniforme ensanguentado de Marcos Vinícius, de 14 anos. O adolescente estava a caminho da escola quando foi atingido por uma bala perdida, durante operação na Maré. ‘Foi essa polícia homicida que dilacerou o coração de outra família’, disse Bruna.”

    O Relato publicado na edição de hoje do jornal Extra, no Rio de Janeiro, é um triste retrato do que significa de fato a Intervenção Militar no estado. Passados mais de 100 dias (e hoje se completam exatamente 100 dias da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes sem resposta das autoridades), a operação não trouxe qualquer resultado positivo dentro dos objetivos alegados em fevereiro. Ao contrário, subiram todos os índices de violência, especialmente aqueles que atingem as pessoas pobres, pretas e periféricas.

    Além de Marcos Vinícius e de mais seis vítimas imputadas pela polícia como “suspeitas” na operação de quarta-feira em que NENHUM dos 23 mandatos de prisão expeditos foi cumprido, existem relatos de dezenas de outras mortes.

    Segundo Virginia Berriel, uma das representantes da Central Única dos Trabalhadores na Comissão Popular da Verdade, criada para investigar e denunciar as violações dos direitos humanos, em decorrência da Intervenção Militar no Rio, “NAS FAVELAS”:

    Nossa atuação tornou-se visível e grande desde a vinda do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel e de Danny Glover ator e ativista de Direitos Humanos da ONU e nós, membros da Comissão, composta por diversas entidades, criada a partir de reuniões da FBP Frente Brasil Popular. Traçamos linhas de estratégias e ações, com visitas às favelas em parceria com a Defensoria Pública e outras entidades para acompanhamento das ações do Exército, das Polícias Civil e Militar. As ações do Exército com Core, Bope, Caveirão explodiram em massacres, chacinas e violações. Uma guerra de verdade.

    A mídia divulga muito pouco, menos de 50% do que está efetivamente acontecendo.

    Nesta quarta-feira, 20/06, foi a gota d’água: As Operações nas favelas da Maré, no Pavão e Pavonzinho, Cantagalo e Morro da Coroa, foram de pleno extermínio. Uma guerra contra os pobres, pretos e favelados. Na Maré: um caveirão aéreo, quatro caveirões de solo e vários blindados…

    O caveirão aéreo em vôos rasantes, disparou contra a favela sua metralhadora aleatória. Numa só quadra parte de um quarteirão foram encontradas marcas de 59 tiros. Incontáveis todos os tiros disparados de cima para baixo sobre as casas.

    Eles dizem que foram mortos seis traficantes. É o que dizem, mas, na verdade, foram muito mais. E vários e vários feridos. UMA MENINA DE 14 ANOS também foi atingida e veio a falecer no hospital. Ela não foi levada para a UPA. A família, por medo, recusou-se e recusa-se divulgar o nome da menina.

    “Muitos óbitos são classificados como morte natural”

    Numa outra casa, já que muitas foram invadidas, os policiais espancaram dois adultos e jogaram seus corpos. Da mesma casa executaram à queima roupa outros três jovens. De outras casas invadidas roubaram pertences como celulares e televisores. Os moradores NÃO denunciam por medo. Atiraram em vários carros, casas e disseram que era para vingar a morte de policiais.

    Terror total

    Moradores em choque e pânico. Ainda proibiram o acesso de ambulâncias para retirada dos feridos. No Pavão Pavãozinho e Coroa também foram mortos tantos outros moradores. Ontem, 21/06, esse foi o relato de defensores de direitos humanos, que residem na Maré, numa reunião na Defensoria Pública. Foi de doer, de chorar por horas…

    Dia 25/06 visitaremos com a Defensoria a Favela da Mangueirinha e dia 29/06 a do Chapadão. Estamos solicitando audiência para os dias 02 ou 03 com o Interventor, por intermédio da Defensoria Pública e no mesmo dia à tarde faremos uma coletiva de imprensa para denunciar todas as violações, a partir de um dossiê que está sendo preparado. Muita impotência diante da barbárie da Intervenção Militar no Rio. Os Governos Federal, Estadual e Municipal, entregaram o Rio à barbárie e à própria sorte. Todos estão com as mãos sujas de sangue.

    NÃO SOU A FAVOR DO BANDITISMO, nem do tráfico, nem da milícia, muito menos da Polícia e Exército do extermínio. SOU E SEREI SEMPRE A FAVOR DA JUSTIÇA.

    É por conta de tudo isso que seguimos contando os mortos e exigindo a apuração. Periodicamente, na página dos Jornalistas Livres no Facebook, teremos esse triste placar atualizado. Afinal, a escalada da violência no Brasil não será detida com mais violência, com “bandido bom é bandido morto”, com intervenção militar. Ela só pode ser combatida com mais JUSTIÇA. E para isso é fundamental investigar quem comete e quem promove a violência.

    Estamos contando quanto tempo estão sem solução/punição esses crimes:

    1 dia – Marcos Vinícius, de 14 anos, morto com uniforme de escola em operação da polícia e exército na Maré e todos os demais, identificados ou não

    55 dias – atentado contra o Acampamento Marisa Letícia, em Curitiba

    87 dias – atentado contra a caravana de Lula no Sul do país

    89 dias – chacina de Maricá, com execução de cinco jovens artistas

    100 dias – execução da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes 

    1 ano da Chacina de Colniza (MT), 9 executados com facão e tiros calibre 12

    12 anos – Crimes de Maio, pelo menos 564 assassinatos em menos de duas semanas

    22 anos – Massacre do Carandiru, pelo menos 111 mortos pela polícia

    25 anos – chacinas de Vigário Geral (21 mortos) e Candelária (8 mortos)

  • O adeus ao Mestre Alceu do Urucungos

    O adeus ao Mestre Alceu do Urucungos

    Alceu Estevam, o Mestre “Alceu do Urucungos”  partiu em uma viagem para Orum, no dia 18 de junho.  Alceu era negro,  da periferia, músico, fazedor de cultura, agitador cultural, militante e defensor do movimento negro, e  mais recentemente transitava pela área de documentários como vídeo documentarista.
    Meses atrás, por conta da partida da grande Raquel Trindade e a minha aproximação com a Cultura Popular  foi sugerido que eu escrevesse  um texto para os Jornalistas Livres, mas eu pensei nele, no Mestre Alceu, ele sim era a pessoa para escrever. Hoje, eu faço questão de escrever o texto em homenagem a ele, mestre, parceiro e grande amigo.

    Alceu José Estevam parte dias antes de completar 59 anos, vítima de um infarto fulminante, ele tinha problemas renais, o que o levou a fazer hemodiálise. No entanto, conseguiu se submeter a transplante renal há cerca de dois anos e estava bem.

    Alceu foi um dos fundadores e um dos mais ativos integrantes do grupo Urucungos, Puitas e Quijengues que foi formado por Raquel Trindade a partir de um curso na Unicamp. As suas memórias do samba de bumbo praticado nos quintais das casas de familiares. A sua militância e como fazedor cultural começa no final da década de 70 e início da década de 80 no teatro que o fez perceber que o caminho era a cultura popular e a de matriz africana.

    No final da década de 80, ele inicia no curso de extensão universitária criado pela grande Raquel Trindade onde negros funcionários e da comunidade misturavam-se a brancos e orientais, um grande fato multicultural.

    O grupo é um praticante das estéticas ligadas ao teatro negro brasileiro, com a marcante presença do samba de bumbo, o samba campineiro.

    Nesse ano de 2018, Urucungos, Puitas e Quijengues completa 30 anos de existência e Alceu foi um dos responsáveis por manter vivo os caminhos sonhados e trilhados por Raquel Trindade, o grupo em Campinas, é um dos únicos que mantém a tradição da Nação Maracatu, com a coroação e todas as referências culturais do legado dos Trindade.

    Alceu tem papel essencial na história contemporânea da cultura paulista. Ele tem papel fundamental no movimento negro e na preservação da cultura de matriz africana no estado de São Paulo.

    Militante atuante no movimento negro abriu caminho fazendo o Museu Afro na PUC de Campinas e representou várias vezes a cultura de matriz africana, lutava por políticas culturais e pelo reconhecimento dos mestras e mestras da nossa cultura. Uma das referências da Cultura Viva no país.  Ativista de comunicação digital livre articulou várias ações na área, mais tarde sua paixão por comunicação começou a trilhar um caminho de documentarista.

    Junto ao seu caminho de documentarista, Alceu travava uma nova luta pelo reconhecimento do Samba de Bumbo como patrimônio imaterial da cidade de Campinas. O samba do qual ele era herdeiro, seus pais traziam esse legado, e ele lutava pelo reconhecimento do valor cultural.

    Alceu era um cara agregador, petista e pontepretano sempre fazia provocações nas redes sociais, mas era incrível, ele discutia, defendia o ponto de vista, eu vi altas tretas dele, mas sempre no final, havia a ponderação do tipo” vamos sentar uma hora e tomar um café para conversar melhor” ou “ discordo do ponto de vista dele mas o cara é um parça e o respeito”.  E tudo tinha um final feliz. Ele construía diálogos onde parecia ser impossível.

    O nosso diálogo e parceria começou anos atrás, em 2011, com uma proposta de exposição que retratava um recorte importante sobre história do samba em Campinas (SP) , fiquei encantada com a narrativas do mestre. Eu atuava junto a (Cepir) Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial e era responsável pela construção do material expositivo, conversei várias vezes com o Alceu pelo telefone. No dia da abertura da exposição recomecei a fotografar a partir da apresentação do Urucungos. Anos depois, volto para a Secretaria de Cultura e começo a fotografar a cultura e seus movimentos na cidade, principalmente a cultura popular, a cultura ancestral. Eu me rendo a sabedoria dos mestres e mestras uma fonte infinita de aprendizados. Reencontro o Urucungos e o Alceu, nessa trajetória, a partir daí começamos uma parceria de camaradagem, reciprocidade, respeito, coisas que são familiares na cultura popular.

    Ele e a Rosa, sua companheira, me acolheram como se eu pertencesse a comunidade do grupo, e sempre diziam “ A Fá pertence ao Urucungos, agora só falta vestir a saia”.

    Esse acolhimento que tem ao mesmo tempo respeito e liberdade, certa vez em das conversas com o Alceu, ele narra; “aqui (no Urucungos) somos parceiros pela nossa escolha pessoal, cada um tem a liberdade de ir e vir quando quiser. Ninguém é dono de nada, a coletividade é formada por laços de respeito e de parceria”.

    Várias longas conversas tive com o Mestre, mais recentemente, com ele investindo em uma carreira de vídeo documentarista, trocávamos informações sobre técnicas, linguagens e direção de fotografia e planejávamos fazer alguns projetos em conjunto.  Ele foi apelidado de “Griô Ninja” quando estava com a câmera na mão, e montou uma produtora “ Koroamaisboy” e dentro das suas produções destaca-se o documentário “Candombe, Comparsas e Mocambos” que contextualiza a passagem do Grupo Nación Zumba lelé, companhia de comparsa de candombe do Uruguai, na Casa de Cultura Tainã, de Campinas.

    A espontaneidade, a alegria, um jeito inventivo de ser e de fazer, o dom de agregar eram qualidades naturais nele. Em um curso sobre patrimônio em Itu, após o almoço, o grupo que estávamos parou na praça central e lá o Mestre puxou uma roda, cantamos e dançamos. Algumas das pessoas que estavam pela praça, param para ver e se divertiram. No dia seguinte do curso, o Alceu, que era também ouvinte do curso, levou os tambores e ele e a Rosa puxaram uma grande roda de Samba de Bumbo, em uma discussão teórica, o Alceu levou a vivência, a cultura pulsante, ancestral para os corações e almas dos que estavam no curso.

    Alegria, irreverência, agregador esse era o Mestre Alceu.

    Ele partiu em meio a festa, em meio ao aniversário do grupo, as festas da cultura popular em seus arraiais nos meses de junho e julho. Mestre Alceu escolheu partir durante as festas, no meio de muita alegria, celebração, mu.

    Salve! Salve grande mestre da Cultura Popular!  Salve grande guerreiro pela luta contra as desigualdades!

    Salve Mestre que fez luta, que construiu diálogos, conquistou e caminhou de braços dados, agregando, incluindo sempre com muita alegria.

    Salve Mestre Alceu Estevam do grupo Urucungos, Puitas e Quijengues.

    Salve Mestre querido!

    Gratidão por todos os largos papos e grandes ensinamentos.

     

    Texto e Fotos:  Fabiana Ribeiro

     

     

     

     

     

  • Fake News! A gente vê na Globo!

    Fake News! A gente vê na Globo!

    Por Caetano Manenti, especial para os Jornalistas Livres

    O jornalismo que usa como fonte única e exclusivamente as forças policiais do Rio de Janeiro cometeu mais um erro (?) gravíssimo nesta quarta-feira.

    No RJTV2, às 19h22, a reportagem da jornalista Mônica Teixeira que abordava o assassinato do inspetor da Polícia Civil, Ellery Ramos de Lemos, na favela de Acari, trouxe a foto de um homem negro acompanhada da seguinte locução: “A Divisão de Homicídios da Polícia Civil identificou um SUSPEITO, o CRIMINOSO que tem o apelido XXXX e SERIA cunhado de YYYY, chefe do tráfico do Amarelinho, que foi preso ontem”.

    No entanto, XXXX já havia se apresentado à Polícia durante a tarde, desfazendo algum mal entendido, tanto que foi LIBERADO pela polícia.

    25 minutos depois, o G1 publicou esta reportagem aqui , que diz: “Um homem que era investigado por envolvimento na morte do inspetor de polícia Ellery de Ramos Lemos, de 51 anos, se apresentou na 58ªDP (Posse), na tarde desta quarta-feira (13). Após esclarecimentos, ele foi liberado”. Não houve qualquer menção à reportagem errada.

    Na reportagem desta quinta, no Bom Dia Rio, outra vez, não houve qualquer correção ou mesmo referência ao “equívoco”. Quantas falhas o jornalismo diplomado cometeu até a foto deste ser humano negro estampar a casa de 100 milhões de uns?

    1) chamou de criminoso uma pessoa suspeita
    2) estampou a foto de uma pessoa suspeita
    3) estampou a foto de uma pessoa suspeita pela Polícia do Rio
    4 ) criminalizou o parente de um criminoso
    5) omitiu o nome da pessoa que, agora se sabe, foi liberada
    6) não admitiu o erro
    7) pouco se lixou para a vida de um ser humano negro
    8 ) patrocinou uma caçada (que já começou, aliás, com a presença de 3 caveirões em Acari)
    9) defendeu, sempre, os militares
    10) a “reportagem” com o erro grotesco segue no ar, na internet sem qualquer errata

    #VidasNegrasImportam
    #VidasNasFavelasImportam

  • Como se faz uma caminhada: 20 anos de Paz em Heliópolis

    Como se faz uma caminhada: 20 anos de Paz em Heliópolis

    A Estrada da Lágrimas me levou ao céu [não este cÉu com acento] mas o CEU – Centro Educacional Unificado Arlete Persoli que abriga também a EMEF Presidente Campos Salles, entre outras escolas, que fica em Heliópolis onde a ideia de Bairro Educador se concretiza no dia-a-dia.

    Pude acompanhar por 2 meses e meio a construção e a mobilização da comunidade de Heliópolis _no distrito do Ipiranga, bairro do Sacomã, Zona Sul e São Paulo, para a realização da 20º Caminhada Pela Paz.

    Tudo começou, como conta o professor Orlando Jeronymo (veja o vídeo), com uma tragédia. Em 1999, a cidade vivia um momento de muita violência, e no bairro de Heliópolis havia até toque de recolher. A menina Leonarda estudante da EMEF Pres. Campos Salles havia sido assassinada, e o Professor Orlando, o Diretor Braz Nogueira e João Miranda líder da UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e região) se encontravam consternados no velório da menina.

    Resolveram enfrentar este problema de frente e de peito aberto e chamar à comunidade assumir a responsabilidade e dar os primeiros passos da Caminhada. De lá para cá já são 20 anos de um processo de mobilização e alerta para a necessidade de combater a violência e semear a paz na comunidade.

    Eles fundaram o Movimento Sol da Paz que articula diversos atores da comunidade: coordenadoras das Escolas CEI e IMEIs (Educação Infantil), EMEFs (Educação Fundamental), FATEC (Ensino Médio Estadual), Escolas Estaduais do entorno, Diretorias Regional de Ensino, CCAs e CCJs (Centros de Atendimento em contraturno de Jovens e Adolescentes), Centro de Acolhimento de Idosos, Centros de Assistência Psico-social, Universidade Uniceu, lideranças da Comunidade e gestores do CEU Arlete Persolli.

    Esta articulação foi construída ao longo deste 20 anos, e é mais um forma de se perceber como a luta do bairro se concretiza, na atuação dos diversos atores, em prol do bem comum, em busca do convívio e da cultura de paz e da educação, muitas vezes se colocando à frente do estado para a concretização de políticas públicas.

    O Bairro Educador existe em Heliópolis por que existe uma comunidade organizada. Esta organização vem desde as primeiras ocupações em 1970, e foi se fortalecendo na luta pelo direito a moradia e condições dignas vida.

    Leia mais na tese de Mestrado de Marília de Santis, hoje coordenadora do CEU Artelete Persoli para conhecer mais a fundo a história do bairro e a construção deste aparelho de cultura, esporte lazer educação que é verdadeiramente integrado ao bairro.

    A 20ª caminhada também e marcada pela mudança da coordenação do carro de som. O professor Orlando Jeronymo se aposentou este ano, e está passando o bastão para Indira Gabriela Ribeiro dos Santos, uma jovem moradora do bairro, estudante de pedagogia da Uniceu, que atua também em um dos CCAs do bairro, que agora assume esta tremenda responsabilidade (veja no vídeo a passagem do bastão).

    O termo bairro educador, conheço desde o final dos anos 90, quando o projeto Aprendiz defendia esta ideia em palestras e artigos, mas vim a saber que muito antes disso, educadores como Anísio Teixeira e Paulo Freire já difundiam em suas propostas de educação libertária, democrática em busca da autonomia, territórios não cercados para que a educação se realiza-se. Até a inspiração para os CEUs implementados na gestão Martha Suplicy (2001-2004) podem ter vindo dos projetos de escolas parques de Anísio Teixeira na década de 1950.

    A caminhada é um dos momentos mais contundentes do projeto, por que professores, alunos e comunidade andam juntos se manifestando, não apenas com desenhos de pombas e girassóis em pvc, mas repletos de questionamentos e reflexões, que foram sendo trabalhados em suas unidades, e são levados para rua em um grande desfile.

    O movimento começa este trabalho, dois meses e meio antes da caminhada, como uma grande reunião (veja no vídeo) e com a distribuição de kits pedagógicos que podem servir de orientação para cada educador trabalhar dentro da sua unidade. Eles podem trazer para a caminhada cartazes, faixas, músicas, palavras de ordem e várias formas de expressão.

    As reuniões com os representantes de cada unidade vão acontecendo mais ou menos a cada 15 dias, para que o trabalho avance, a as necessidades estruturais ou mesmo de uma visita na unidade para ampliar a mobilização possam ocorrer. O tema principal este ano é Consciência Comunitária + Políticas Públicas = Sociedade Educadora.

    Alguns exemplos que posso citar, pois acompanhei na EMEF Pres. Campos Salles, foram os roteiros de estudo temáticos sobre a caminhada, a leitura do manifesto em sala de aula, e o minuto da paz, onde os alunos eram surpreendidos com um sino que é o sinal para que todos fiquem um minuto em silêncio refletindo sobre o que é a paz.

    Uma outra atividade que é feita todo ano é o concurso para criação do manifesto da caminhada. Este ano foram recebidos 63 propostas de texto para o manifesto, delas 16 foram escolhidas por uma comissão julgadora que fundiu as propostas num texto único. Na semana passada, educadores e alunos panfletaram pela comunidade o convite que no verso tem o manifesto. (veja a baixo)

    Além da Caminhada que vai ocorrer na próxima quinta-feira 7 de junho, às 13hs, existe o Festival da Paz, que vai acontecer dias 4 e 5 no CEU Arlete Persoli com diversas apresentações culturais produzidas pela comunidade e pelos estudantes, e no dia 6 de junho para os alunos da educação infantil e do EJA (Educação de Jovens e Adultos) que não conseguem participar da “caminhadona” haverá durante o dia a caminhadinha dos pequenos e à noite a dos Jovens e Adultos. (Acompanhe na página dos Jornalistas Livres as transmissões ao vivo)

    A Caminhada também é promovida nos bairros próximos com o no parque Bristol, que ocorreu no dia 25/05/2018, veja imagens no final do vídeo e acompanhe as notícias pelas páginas:

    www.unas.org facebook da Unas

    facebook do CEU Arlete Persoli

    site www.radioheliopolisfm.com.br

    pagina do face da Rádio Comunitária Heliópolis

  • Luta por moradia, uma conquista e um direito

    Luta por moradia, uma conquista e um direito

    De: Cleonice Dias

    Para: Jornalistas Livres

    No ultimo domingo, 06/05/2018, a Associação dos Trabalhadores Sem Teto da Zona Noroeste (A.T.ST. Z.N) fundada em 1986, realizou uma atividade com a presença das lideranças Guaranis da Aldeia indígena Pico do Jaraguá, com objetivo de unir forças para o enfrentamento dos desmontes de direitos. Esta Associação é parte integrante da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM-SP).

    Em tempos de golpe e desmonte de políticas públicas, cujo cenário parece não apresentar nenhuma alternativa, os movimentos de moradia, atores históricos na cena pública, vêm demonstrando sua capacidade de luta e de resistência.

    A atividade foi articulada pelos coordenadores do movimento Vera Silva (Verinha) e Donizete Fernandes e, pela assessoria técnica Ambiente Arquitetura, em um dos maiores projetos para a população de baixa renda do Brasil, na área de Habitação de Interesse Social (HIS) na modalidade “Autogestão com mutirão”.

    Trata-se da construção de 1.104 Unidades habitacionais localizada no bairro Jaraguá, zona norte de São Paulo, muito próximo da aldeia. O recurso para a realização da obra é oriundo do programa Minha Casa Minha Vida, na modalidade “Entidades” que possibilita a participação dos futuros moradores na gestão da obra. No entanto, o foco do movimento e dos profissionais que com ele atua, não é somente a construção de moradia e gestão de recursos, mas também de espaços nas cidades, para que possam ser geridos pela população, pelas comunidades, na busca da construção de cidades sustentáveis e melhor qualidade de vida.

    As famílias participantes da A.T.S.T.Z. N tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da realidade da aldeia indígena contada por seus próprios protagonistas.

    Márcia, uma das principais lideranças da aldeia, salienta que além dos preconceitos que vivenciam no cotidiano, pela preservação e afirmação da cultura de seu povo na metrópole, enfrentam dificuldades de infraestrutura urbana como falta de saneamento básico, moradias precárias, falta de acesso a serviços básicos. Acresce-se a isso a necessidade de luta permanente por parte da comunidade indígena em defesa do direito à terra como o enfrentamento recente contra a decisão do Ministério da Justiça que revogou a demarcação de mais de 500 hectares de terra por meio da portaria 683 de 21 de agosto de 2017.

    A presença das lideranças indígenas neste evento, promovido por pessoas participantes de projeto conquistado pela luta dos movimentos de moradia, possibilitou a troca das experiências entre os atores que partilham das lutas por direitos como parte da formação política, tão necessária no contexto político que o país vem vivenciando. Esta atividade deu espaço para que os participantes falassem sobre suas diferentes culturas, valorizando suas histórias de vida, modo de viver e de formação, respeitando e aprendendo com as diferenças.

    O processo de construção das moradias foi realizado com os participantes do projeto e do movimento em articulação integrada com as equipes que atuam na assessoria técnica e através do trabalho social. A construção de moradias é compreendida por estes atores como um processo de construção coletiva e um dos principais canais para fomentar ações que potencializem o fortalecimento da atuação dos sujeitos políticos, na perspectiva de conquista de direitos e de emancipação social.

    Através das lutas e da conquista da moradia em processos de autogestão, os participantes do programa Minha Casa Minha Vida Entidades, juntamente com a equipe de profissionais da assessoria Ambiente Arquitetura, com as lideranças da UMM-SP e A.T.S.T.Z.N,  participam de atividades educativas e de formação que possibilitem às famílias romper com ideias de uma cultura dominante desvinculada de sua realidade cultural e socioeconômica. Durante o desenvolvimento de todo o trabalho as famílias envolvidas são respeitadas e valorizadas como atores que participam de forma efetiva do processo de construção de moradias ao mesmo tempo em que participam do processo de formação, de amadurecimento e de reflexão crítica  da realidade em que vivem em sua região e no país.

    Novos contratos do Programa Minha Casa Minha Vida Entidades, que prevê a participação dos inscritos para aquisição da casa própria com subsídios do governo federal através da Caixa Econômica Federal, em todas as etapas do projeto (escolha e aquisição do terreno, definição do projeto arquitetônico, construção através de mutirão, acompanhamento e controle da execução de recursos) foram suspensos e cortados.

    Ressalte-se que todas as atividades desenvolvidas, tem como objetivo fortalecer e ampliar a luta por direitos e criar novas formas criativas e aguerridas de enfrentamento e de resistência, face aos cortes de direitos sociais e de recursos para políticas públicas que vem sendo realizados pelo governo golpista, pelos governo do estado de São Paulo e do município e pela política neoliberal em curso por eles implantadas de não priorização de investimentos em políticas sociais para as camadas mais pobres da população brasileira.

    Moradia digna, com infraestrutura de saneamento e de transportes, com acesso a bens e serviços sociais de saúde, educação e cultura, acesso e direito ao emprego entre outros, são direitos do cidadão e o descaso dos gestores públicos em todas as esferas é grande.

    Vamos à Luta!

  • SARAU DAS MANA EMPODERA E DA VOZ ÀS MULHERES

    SARAU DAS MANA EMPODERA E DA VOZ ÀS MULHERES

    Na última quinta-feira (26) de abril aconteceu mais uma edição do Sarau das Mana na Sala dos Toninhos, na Estação Cultura,  em Campinas (SP)

    Em sua 13ª edição, o Sarau das Mana reúne mulheres e dá voz e espaço as artistas locais, participam do evento escritoras, dançarinas, cantoras, instrumentistas, produtoras, jongueiras, sambistas, DJ,  e articuladoras do movimento hip-hop.  O sarau é realizado totalmente  opor mulheres e traz  pluralidade da arte realizada pelas mulheres que encontram seu espaço no cenário da cultura na cidade. Entre as atrações se apresentaram;  Preta que Habito, Mina Min, Nega Maay, Lucia Castro , Dj Raquel, Ma Ri,Jenny Zion, Paula 90, Ruana, Mc Carol e Kaoz.