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Categoria: Verdade

  • EXCLUSIVO: Médica notifica suicídio de Cancellier como acidente do trabalho, provocado por assédio moral insuportável

    EXCLUSIVO: Médica notifica suicídio de Cancellier como acidente do trabalho, provocado por assédio moral insuportável

    PESADELO DE KAFKA: Proscrito da universidade, cercado por calúnias de todos os lados, o reitor não viu chances de provar sua inocência e foi levado ao óbito

    Completados hoje dois meses da tragédia que consternou o país, a União, a Polícia, a Justiça e o Ministério Público Federal continuam ignorando os notórios abusos e excessos de poder que levaram ao linchamento moral e à morte do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, já amplamente denunciados por renomados juristas. No entanto, uma atitude corajosa e mantida até agora no anonimato, pode mudar o curso dessa história de horror e impunidade. Enquanto as associações corporativistas dos juízes federais do Brasil e de Santa Catarina; dos procuradores da república e dos delegados da Polícia Federal emitia uma nota oficial isentando esses agentes de qualquer falha na condução da “Operação Ouvidos Moucos”, silenciosamente, uma médica do trabalho do Hospital Universitário notificou a morte de Cancellier ao Ministério da Saúde como fruto de assédio, humilhação e constrangimento moral relacionados ao trabalho. Com a notificação, o suicídio do reitor fica tipificado como acidente do trabalho e passar a constituir um importante instrumento para responsabilizar o Estado brasileiro pela sua morte.

    Antes de se aposentar por tempo de contribuição, a médica Edna Maria Niero, 55 anos, coordenadora da equipe do Ambulatório de Saúde do Trabalhador do hospital da UFSC, cumpriu o que havia prometido a si mesma e aos colegas de profissão de todo o país no dia da morte de Cancellier. A profissional conta que só esperou passar um pouco a forte comoção causada pela tragédia para poder fazer as investigações necessárias e levantar os dados pessoais do professor junto à Reitoria, ao setor do Pessoal da UFSC e ao prontuário médico. E no dia 24 de outubro, depois de preencher o minucioso formulário do Sistema Nacional de Agravos de Notificação com os seus dados e as condições do óbito, a médica atestou que o nexo causal da morte do reitor foi sofrimento no trabalho: “Não tive nenhuma dúvida”, afirma ela. “Quando foi violentamente alijado do local onde atuava no auge da sua gestão, o reitor foi também arrancado de sua própria vida”. O abalo emocional que ele sofreu está incluído na lista de doenças de notificação compulsória do MS e integra agora as estatísticas epidemiológicas de morte do trabalhador.

    “Em todo o Brasil ficou claríssimo para os profissionais da área: foi acidente do trabalho” (Edna Maria Niero)

    A proibição de se aproximar da universidade onde realizou a maior parte de sua trajetória de vida e a humilhação que sofreu levaram-no à decisão do suicídio, afirma Edna. Segundo ela, as circunstâncias da morte do reitor tiveram imediata repercussão entre os profissionais que integram a área da saúde do trabalhador, entre médicos, psicólogos, enfermeiros, psiquiatras, assistentes sociais, antropólogos etc. “Nós discutimos o caso amplamente em congressos, reuniões e fóruns virtuais da área. Para o conjunto de técnicos no Brasil ficou claríssimo que se tratava de acidente do trabalho: um transtorno mental que levou ao óbito”. Quem atua nessa área compreende que na nossa sociedade o trabalho é a identidade da pessoa e se confunde com a sua própria vida, explica. “Tirar o trabalho de alguém é, portanto, tirar a sua vida. E nós sabemos que a universidade era a vida do reitor”, pontua a médica que, como Cancellier, fez toda sua formação e carreira profissional na UFSC, desde que saiu do município de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, aos 16 anos. Graduada em Medicina em 1986, fez mestrado em Ergonomia e Doutorado em Engenharia de Produção na mesma instituição, buscando preencher o aspecto interdisciplinar da sua especialidade.

    Embora conterrânea do professor Cancellier, Edna só o conheceu antes da sua eleição para reitor, quando foi chamada a contribuir com o processo de implantação de uma equipe de Saúde do Trabalhador. “O ambulatório de ST do Hospital Universitário foi criado por iniciativa e incentivo de sua gestão”, reconhece, lembrando que o reitor era entusiasta de projetos que fortalecessem o cuidado com as condições do ambiente do trabalho a fim de evitar casos de doenças psíquicas e emocionais ligadas ao estresse e à depressão. “Ele sempre dizia a nossa equipe da Reitoria: trabalhem, mas preservem sua alegria. O trabalho não pode gerar sofrimento”, conta Maria de Lourdes Borges, secretária de Cultura e Artes da UFSC.

    A médica responsável pela notificação (na ponta à direita), ao lado dos gestores da UFSC na assinatura de acordo para implantação do Ambulatório de Saúde do Trabalhador no HU. Foto: Agecom/ UFSC

    Com o nexo causal atestado pela autoridade médica, o suicídio do reitor entra para os dados epidemiológicos do Ministério da Saúde como morte provocada por abalo emocional resultante de assédio moral insuportável. Embora já fosse conhecida nos fóruns restritos ao campo da medicina do trabalho, a iniciativa da servidora manteve-se no anonimato até há pouco. Na véspera da realização da “Aula Pública Resistência ao Abuso de Poder e ao Fascismo”, realizada na Universidade Federal de Santa Catarina no dia 27 de novembro, tomei conhecimento da notificação através da assistente social do Fórum da Justiça da Trindade, Maris Tonon, integrante, como eu, do Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção. No dia seguinte, ao discursar em nome do Coletivo que promovia o evento, revelei a atitude da médica, que não estava na plateia, mas foi muito aplaudida pelo auditório lotado do Garapuvu, em Florianópolis. Assista ao vivo https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/643048125819068/

    Hoje, ao completar dois meses do falecimento de Cancellier, contatei Edna por telefone na cidade de Joinville, onde ministra um curso na área de saúde. Em uma longa conversa, a médica se disse feliz pelo acolhimento de sua iniciativa e desejou que ela se desdobre em outras ações capazes de restabelecer a justiça e a verdade para o professor. Lembrou que as consequências jurídicas ou penais da notificação competem a outras instâncias, mas a tipificação do óbito para que sejam tomadas providências no sentido de evitar novos casos são de sua atribuição. “Ainda que isso não devolva a vida do reitor, é meu dever fazê-lo”.

    Como profissional da área, esclarece que agiu em nome da sua obrigação ética e profissional de trazer as causas do óbito à luz dos órgãos públicos responsáveis pela saúde do trabalhador. “São as estatísticas que monitoram as ações na área e geram intervenções capazes de prevenir outros acidentes de trabalho dessa natureza”, explica. Hoje, a cada dez trabalhadores atendidos pelo Sistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor na UFSC, sete apresentam sintomas de depressão ligados ao falecimento trágico do reitor, segundo informação também da assistente social Maris Tonon. Outros cinco casos de suicídio ocorreram na UFSC após a tragédia, dois deles de estudantes, mas não se pode afirmar que haja relação com a morte de Cancellier porque as circunstâncias e causas ainda estão sendo estudadas.

    Responsável também pelas pesquisas em torno dos danos à saúde do trabalhador catarinense provocados pelo Amianto, que determinaram a proibição do seu uso em Santa Catarina, a médica diz que não cabe a ela entrar no mérito da culpa. Revela, contudo, que ficou chocada com a manifestação das associações corporativistas de juízes e delegados ao defenderem a normalidade dos procedimentos abusivos da delegada e da juíza “sem sequer citaram o suicídio como consequência da operação”.

    Ao saber pelos Jornalistas Livres da decisão concretizada pela médica, o irmão mais velho do reitor, o professor aposentado do INPE, Antônio Aciolli Cancellier de Olivo, disse que atitudes como a dela confortam a família e encorajam a sua luta por justiça. Afirmou ainda que o nexo causal do óbito relativo ao trabalho é confirmado pelo bilhete encontrado junto ao cadáver do irmão com os dizeres: “Minha morte foi decretada no dia em que fui banido da universidade”. Para o irmão mais novo, o jornalista Júlio Cancellier, a atitude de notificar o óbito como relacionado ao trabalho “é mais um elemento importante para confirmar que Cau foi vítima de atos ilegais, desumanos e cruéis”. E acrescentou: “Já se passaram dois meses de sua morte e nada do que fopi alegado para prendê-lo e bani-lo da universidade foi comprovado”.

    Da esquerda para a direita: o irmão Júlio, o filho Mikhail, o irmão mais velho Acioli e o reitor: perda irreparável. Foto: acervo pessoal

    Uma fonte da reitoria, que prefere não se identificar, assegura que antes de tomar a decisão de pôr fim à vida, Cancellier recebeu, por canais indiretos, informação do Ministério Público Federal de que seu retorno ao cargo de reitor não seria mais autorizado. Como professor de direito administrativo, nesse momento ele teria compreendido também que não havia condições morais de retornar ao exercício em sala de aula quando era acusado pela massa ignara de um desvio de verbas que sequer ocorrera na sua gestão. Cercado de todos os lados pela mídia, pela Polícia, pela Justiça Federal, o reitor não viu chances para provar sua inocência no pesadelo, digno de um romance de Kafka, no qual fora enredado pelo corregedor da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado.

    Sem provar nada contra seus indiciados, sem retificar as informações distorcidas que inflamaram o ódio na opinião pública e midiática, sem pedir desculpas aos familiares pela perda traumática de um irmão e de um pai inocente, a “hollywoodiana” operação Ouvidos Moucos conseguiu apenas arrancar do reitor o único bem que ele tinha, além de um apartamento de classe média: seu trabalho e sua vida.

    DELEGADA ERIKA MARENA: PROCESSADA E PROMOVIDA

    Delegada foi promovida ao cargo de superintendente da Polícia Federal de Sergipe, uma “premiação” ambígua, típica dos aparatos de repressão brasileiros historicamente negados ao reconhecimento dos seus crimes

    A notificação do suicídio do reitor como acidente do trabalho traz um instrumento jurídico fundamental para os processos futuros ou vigentes de responsabilização da União por essa morte e pelos danos irreparáveis causados pela perda à família e à comunidade universitária. Exemplo disso é a denúncia apresentada no dia 31 de outubro pela família ao Ministério da Justiça contra a delegada federal Érika Mialik Marena requerendo a instauração de inquérito para apurar sua responsabilização administrativa, cível e criminal pelos episódios de abuso de poder que levaram ao suicídio do reitor, conforme anunciado com exclusividade pelos Jornalistas Livres. https://jornalistaslivres.org/2017/11/dossie-exclusivo-2-postagens-inveridicas-que-levaram-ao-linchamento-publico-do-reitor-da-ufsc-continuam-nas-paginas-oficiais-da-pf/

    Entregue ao ministro Torquato Jardim, a denúncia também alega violação da lei do sigilo de operações policiais antes da sua conclusão, argumentando que ao convocar a mídia para cobrir a prisão, a delegada feriu o dever de proteção à imagem de um cidadão que não era sequer investigado ou citado no processo e jamais havia respondido a um processo administrativo em sua carreira. Conforme a carta-denúncia, a delegada descumpriu a própria determinação da juíza Janaína Cassol, que autorizou o pedido de prisão sob a condição de que a imagem da universidade e dos envolvidos fosse resguardada e que o sigilo da operação fosse mantido até a sua conclusão.

    Aula Pública na UFSC reúne mais de mil pessoas contra o Estado de Exceção no dia 27/11. Foto: Henrique Almeida Agecom/UFSC

    Até agora, o irmão Acioli Cancellier, que assina a representação, bem como os advogados da família, não receberam resposta do Ministério da Justiça. Ao contrário, no dia 28 último, a ex-coordenadora da Lava-Jato em Curitiba foi nomeada ao cargo de superintendente da Polícia Federal do Estado do Sergipe pelo novo diretor geral da PF, Fernando Segóvia, o que configura uma “premiação” ambígua, típica dos aparatos de repressão brasileiros historicamente negados ao reconhecimento dos seus erros e crimes perante as vítimas.

    “Estão gozando com a nossa cara, ou pior, com este gesto, o novo diretor da Polícia Federal está dando uma tapa na cara da sociedade”, afirmou Aciolli Cancellier em carta enviada aos Jornalistas Livres, na qual considerou um deboche a nomeação da delegada ao cargo de superintendente do Sergipe. “Que eu saiba, servidores públicos que estejam submetidos a sindicâncias ou processos administrativos disciplinares, nem férias podem gozar. E ela foi promovida”.  (Ver a respeito artigo do Regime Jurídico Único que rege a questão no funcionalismo público: Decreto nº 59.310 de 23 de Setembro de 1966).  Júlio Cancellier afirmou que apesar da nomeação de Érika Marena, o caso não vai cair no esquecimento. “O Ministério da Justiça já mandou investigar a operação”. Os advogados que apoiam a família também estudam outras ações, segundo ele. Além do requerimento para apurar sua responsabilidade no Ministério da Justiça, a delegada é alvo de investigação na Corregedoria da Polícia Federal.

    Ao mesmo tempo em que recebe uma “promoção”, a delegada também é afastada do foco do escândalo na Superintendência da PF em Santa Catarina, onde os desastres de sua atuação conseguem ser unanimidade entre os setores de esquerda e os que apoiaram o impeachment de Dilma. É o caso do procurador geral do Estado, João dos Passos Martins, que condenou a prisão do reitor como uma afronta ao Estado de Direito, e emitiu nota pública se manifestando pela punição dos agentes responsáveis. “Limitar o poder é condição básica da democracia e do direito”, afirmou durante a Aula Pública.

    Atualização: No dia seguinte ao fechamento desta edição, o  Estadão publicou, em reportagem que cita o trabalho dos Jornalistas Livres no caso, informação de que a “petição foi processada e tramita na forma de processo administrativo, atualmente na Polícia Federal”. O repórter Luiz Maklouf Carvalho acrescenta ainda: “Na PF, segundo o Ministério da Justiça, a corregedoria abriu procedimento para verificar a notícia-crime descrita na petição da família. O procedimento está sendo analisado pelo Núcleo de Polícia Judiciária. Ao fim da análise, que está em fase de execução, haverá um parecer sobre a existência do crime. A depender do que diga o parecer, abre-se um inquérito sobre a delegada”.

    http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,suicidio-de-reitor-poe-pf-sob-suspeita,70002105813

    Presidente da Associação Kantiana Brasileira, Maria Borges: “A prisão do reitor com requintes de crueldade pode ser analisada à luz do mal no direito”. Foto: Raquel Wandelli

    REQUINTES DE CRUELDADE

    A violência de Estado contra o reitor pode ser analisada sob a ótica do mal no Direito, argumentou a filósofa Maria de Lourdes Borges, ao falar sobre seus projetos futuros de investigação durante a defesa do seu Memorial para o cargo de professora titular do Curso de Filosofia da UFSC, no dia 29 de novembro. Presidente da Associação Brasileira de Filosofia Kantiana e especialista em Hegel, a professora afirmou que podem ser vistos como requintes de crueldade a prisão espetacularizada por mais de cem agentes da Polícia Federal; o fato de um cidadão desarmado e sem antecedentes criminais ter sido algemado nas mãos e acorrentados nos pés, submetido a revista íntima, despido e humilhado durante duas horas em frente aos outros presos e encarcerado num presídio de segurança máxima, sem a constituição de denúncia e sem o direito à defesa. Esses fatos abusivos indicam, segundo ela, o exercício do mal pelos aparatos policiais e pelo sistema jurídico como um todo. https://www.facebook.com/raquelwandelli/videos/1556866457739067/

    Agasalhando sem nenhum cuidado acusações de que estava atrapalhando as investigações imputadas pelo corregedor Hickel do Prado (que, ao contrário do seu acusado, apresentava antecedentes por crime de calúnia e difamação), a Polícia e a Justiça Federal trataram um homem de ficha limpa como prisioneiro de guerra. Essa figura analisada pela filosofia do direito refere-se ao sujeito animalizado e judaizado diante da opinião pública, cegada e incitada ao ódio pelo poder. Em nome da necessidade do coliseu de satisfazer sua fome de violência, toda injúria física e tortura psicológica contra o prisioneiro pode ser legitimada. Não apenas a supressão dos seus direitos, mas a violação do seu corpo e da sua dignidade.

     

    Nota do Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção

    Pela apuração imediata das responsabilidades civis e criminais: há dois meses morria o professor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, vítima de abuso de poder!

    Mais de dois meses depois da espetaculosa operação “Ouvidos moucos”, protagonizada pelos agentes públicos Polícia Federal e Ministério Público Federal, sob a chancela da Justiça Federal, e precisamente 60 dias após a morte do professor Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, um silêncio cúmplice e profundo das autoridades públicas do estado se faz sentir, na comunidade universitária e sociedade em geral.

    Prevalece até aqui a impunidade e nenhuma ação concreta de apuração e investigação de responsabilidades foi instaurada contra os agentes do fascismo. Ademais, outros cinco professores e um técnico-administrativo continuam banidos da UFSC: Marcos Baptista Lopez Dalmau, Gilberto de Oliveira Moritz, Rogério da Silva Nunes, Eduardo Lobo e Marcio Santos (professores); Roberto Moritz da Nova (funcionário da FAPEU). Todos tiveram suas vidas expostas e foram julgados e condenados pelo tribunal da mídia tradicional, parceira e cúmplice, desde as primeiras horas da manhã, da PF, MPF e Justiça Federal.

    O Coletivo Floripa contra o Estado de Exceção vem à público exigir que as autoridades constituídas de Santa Catarina, a saber o governo estadual e os deputados estaduais, ajam no sentido de instaurar o devido processo legal de apuração de responsabilidades das autoridades envolvidas no flagrante abuso de autoridade e ruptura do Estado Democrático de Direito.

    Na Sessão Solene fúnebre do Conselho Universitário da UFSC do dia 03 de outubro, o governador em exercício, Eduardo Pinho Moreira, assumiu como posição oficial a nota emitida pelo Procurador Geral do Estado, João Martins dos Passos Neto: “Por isso, respeitado o devido processo legal, é indispensável a apuração das responsabilidades civis, criminais e administrativas das autoridades policiais e judiciárias envolvidas”.

    Em recente Sessão na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), em homenagem ao reitor morto, o desembargador e professor da UFSC, Lédio Rosa de Andrade, também cobrou uma posição do Executivo estadual e do próprio parlamento catarinense. É preciso investigar quem autorizou a transferência do reitor e dos demais presos da Superintendência da Polícia Federal para o Presídio de Florianópolis, no qual foram submetidos a toda sorte de humilhações. Qual autoridade autorizou a entrada do professor Cancellier e dos demais presos no sistema prisional de SC? É sempre bom lembrar: a “espetacular” e desastrada operação mobilizou 105 policiais para prender seis professores e um técnico-administrativo da UFSC. A PF os chamou, leviana e irresponsavelmente, de “quadrilha”, que havia “desviado R$ 80 milhões do programa de ensino à distância”. Uma mentira que o site da Polícia Federal mantinha no ar, até dias atrás, porque na verdade esse era o montante do programa em mais de 10 anos. O suposto desvio, ainda sob investigação, teria sido, algo entre R$ 300 a R$ 500 mil, em período anterior à gestão de Cancellier.

    Enquanto a comunidade universitária e a sociedade aguardam providências concretas do governo de SC e da Assembleia Legislativa, num gesto de escárnio, a delegada responsável pela tal operação é “severamente promovida” para o cargo de Superintendente da Polícia Federal, no estado de Sergipe. É mais uma agressão vil aos familiares, amigos, colegas de profissão que continuam a luta em defesa da Autonomia Universitária e do Estado Democrático de Direito.

    Contra todo tipo de golpe e perda de direitos!

                Pela aprovação urgente da Lei Cancellier de Abuso de Autoridade na Câmara Federal!

                Pelo absoluto respeito aos Direitos Individuais e Coletivos assegurados na Constituição!

                Em defesa da UFSC, da Autonomia Universitária, da Soberania Nacional e do Estado Democrático de Direito!

                Não ao Estado de Exceção!

    Florianópolis (SC), 02 de dezembro de 2017.

     Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção

    Aula Pública na UFSC “Resistência ao Aubso de Poder e ao Fascismo” marcou os dois meses de morte trágica do reitor. Foto: Henrique Almeida da Agecom/UFSC
  • URGENTE – RENÚNCIA COLETIVA: anulação do afastamento de corregedor revolta comunidade universitária

    URGENTE – RENÚNCIA COLETIVA: anulação do afastamento de corregedor revolta comunidade universitária

    Reitora Alacoque ao lado do reitor suicidado: traição?

    A reitora da UFSC em exercício, Alacoque Lorenzini Erdmann, conseguiu provocar uma verdadeira rebelião entre os dirigentes na manhã de hoje por conta da revogação de uma portaria na tarde de ontem. Com a anulação, ela suspendeu o afastamento e a investigação do corregedor Rodolfo Hickel do Prado, apontado como o maior responsável pela morte do reitor Luiz Carlos Cancellier. No final da manhã desta quarta-feira, todos os sete pró-reitores e parte dos 10 secretários se reuniram num prédio separado da reitoria e decidiram renunciar ao cargo em discordância com a atitude unilateral tomada pela reitora. As demissões devem ser formalizadas ao longo do dia. Os membros do Conselho Universitário (CUN) estão estudando uma forma de anular a decisão dela e de afastar definitivamente o corregedor, que é servidor da Advocacia Geral da União, dos quadros da universidade. Um novo reitor também poderia ser escolhido por eleição direta a partir da reunião extraordinária do CUN, convocada para esta quinta-feira, às 14 horas, por exigência dos conselheiros. Antes, às 10 horas, Alacoque deve apresentar uma proposta de conciliação para levar ao CUN à reunião com os 15 diretores de Centro, solicitada hoje por eles, que também estão incomodados e indagando por providências para investigar as circunstâncias que levaram o reitor ao suicídio.

    Há forte pressão entre os dirigentes e representantes da comunidade para que Alacoque renuncie ao cargo e ela mesma chegou a se mostrar inclinada a fazê-lo. Ao saber da reunião dos pró-reitores sem a sua presença, também comunicou internamente sua intenção de renunciar, mas mudou várias vezes de opinião. Provocando uma grave crise institucional na gestão da UFSC, ela revogou na tarde desta terça-feira a portaria assinada na sexta (20/10) pelo gabinete afastando por 60 dias o corregedor interno, considerado o principal agente no processo difamatório e calunioso que culminou com o suicídio do reitor Cancellier. Assinada pelo chefe de gabinete, Áureo Moraes, a portaria determinava também a abertura de Processo Administrativo Disciplinar para investigar representação de graves denúncias de perseguição, intimidações e ofensas praticadas por Rodolfo contra o professor do Curso de Administração Gerson Rizatti Júlio. A reitora alegou ameaça de processo por improbidade administrativa por parte do Ministério Público Federal. Acusada de covardia, sua atitude consternou a família (veja carta abaixo) e foi considerada traiçoeira pelo movimento que busca estabelecer a verdade no caso do linchamento moral do reitor, o Floripa Contra o Estado de Exceção. “A autonomia da universidade foi duramente atingida”, afirmou o chefe de gabinete, que pediu demissão do cargo.

    Corregedor considerado o pivô do suicídio do reitor e dos abusos de autoridade que feriram a autonomia da UFSC

    Ontem, depois de um dia de forte tensão na tentativa de dirigentes e assessores chegarem a um acordo com Alacoque, grande parte dos pró-reitores já tinha decidido também acompanhar Áureo na entrega dos cargos.  A efetivação de uma demissão coletiva, contudo, dependerá da reunião de amanhã no CUN.

    A crise começou a se desenhar já na segunda-feira pela manhã, quando o corregedor impetrou um mandado de segurança para suspender seu afastamento. Em vez de concedê-lo, contudo, o juiz da 3ª Vara Federal, Osni Silva, deu o prazo de dez dias para que a Universidade apresentasse uma justificativa para a publicação da portaria suspendendo-o das funções. Pressionada, segundo fontes do gabinete, pelo próprio algoz do reitor, a vice-reitora anulou todas as possibilidades de afastar o agente externo quando ela mesma revogou o portaria anterior que estabelece a abertura do PAD.

    Com a medida, Alacoque fortaleceu o corregedor que, mesmo afastado, continuou exercendo influência, praticando abuso de autoridade e intimidando pessoas da comunidade universitária, inclusive determinando a proibição da entrada de professores no campus, como fez com o reitor.  “A reitora poderia ter deixado o juiz decidir, mas preferiu ela mesma tomar essa decisão que entrega de bandeja a autonomia universitária nas mãos do pivô de toda a desestabilização que levou a essa tragédia”, afirma o ex-procurador da UFSC, Nilto Parma. Essa opinião é compartilhada por grande parte dos membros do Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção, que consideram neste momento fundamental salvaguardar a autonomia universitária, como o professor de jornalismo Samuel Lima, a advogada Rosângela de Souza e a médica Thaís Lippel.

    Assim que Alacoque emitiu a anulação da portaria, o chefe de gabinete Áúreo Moraes, professor do Curso de Jornalismo, publicou nas redes sociais carta anunciando sua demissão do cargo por discordância com o recuo sobre a investigação de Hickel, avaliando que ela capitulou à ingerência e aos desmandos de Rodolfo na universidade. Ao contrário do que foi alegado pela reitora em reunião com pró-reitores, garantiu que sua atitude foi transparente e que ela tinha plena ciência da publicação da portaria afastando o inquisidor. O pedido de exoneração de Áureo já foi aceito e publicado.

    Portaria da reitora em exercício revoga afastamento do inquisidor

    Atendendo a uma solicitação abaixo-assinada por 20 conselheiros, portanto, mais de 1/3 do total de membros do CUN (cerca de 50), a reitora já convocou a sessão extraordinária do CUN para esta quinta-feira (26), às 14 horas, na sala Professor Ayrton Roberto de Oliveira. O documento, encabeçado pelo diretor do Centro de Ciências da Saúde, Celso Spada, solicita a reunião para discutir a criação de uma Comissão de Apuração dos equívocos cometidos interna e externamente que tenham sido responsáveis pela morte do professor Cancellier. O outro item da sessão reivindicada é decidir a forma de contratar empresa especializada para analisar o impacto relacionado ao processo judicial envolvendo a UFSC, conforme deliberado na última reunião do CUN, no dia 17 de outubro. Naquela, reunião, Alacoque foi referendada como substituta de Cau Cancellier no cargo, mas essa decisão ainda não foi confirmada pelo MEC. É muito possível e até provável que ela seja afastada do cargo na próxima. Os nomes para uma disputa já estão sendo cogitados, entre eles o do ex-reitor Lúcio Botelho, médico e professor do Departamento de Saúde Pública e o de Ubaldo Baltazar, diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), que foi professor de Cau Cancellier. Mas o que se reafirma na comunidade universitária é a perspectiva de abertura de eleições diretas, o que está previsto no regulamento quando há impedimento de ambos, reitor e vice.

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    Sobre a pressão alegada pela reitora, o procurador do Estado Paulo Ricardo da Silva deu o seguinte depoimento:

    “Um absurdo! Se ela está sendo pressionada por agentes externos, que estão interferindo na autonomia da universidade, que denuncie isso abertamente para a sociedade. Não pode temer. Essa universidade não tem um corpo jurídico para defendê-la?” Na mesma linha, o ex-presidente do Sindicato do Serviço Público Estadual, Antonio Batisti, considera que com a decisão Alacoque legitimou Rodolfo Hickel do Porto como uma espécie de interventor na UFSC.

    Em nome da família, a cunhada de Luiz Cancellier, Ana Cristina Vieira, candidata a doutorado pela UFSC, fez o seguinte depoimento:

    “Luiz Carlos Cancellier deu sua vida à UFSC e ela pouco fez para protegê-lo. E nós estávamos um pouco menos tristes e deprimidos quando finalmente alguém tomou uma atitude digna e justa contra a pessoa que deflagrou o linchamento criminoso, cruel e absolutamente injusto que ele sofreu. Víamos uma luz. E agora estamos aturdidos e incrédulos. O Cau era um diplomata, trabalhador, honesto, humilde, íntegro, gentil e bondoso. Acreditava nas pessoas e na universidade pública e de qualidade. E vimos em seu velório manifestações de amigos, funcionários, professores. Depois manifestações nacionais e internacionais em respeito e apoio ao grande homem que ele foi. E fica muito difícil aceitar e entender que problemas administrativos estão acima de um homem que deu sua vida pela UFSC. Ele foi morto. E era o mínimo a universidade defender o seu nome. Tristeza. Aguardamos a reunião do CUN solicitada pelo Centro de Ciências da Saúde e os encaminhamentos. Temos que alimentar o que existe de bom, e não a maldade. Não podemos deixar que o mal cresça. Precisa florescer o bem e a justiça”.

                 Veja a carta do chefe de gabinete Áureo Moraes, que pediu exoneração:

    Chefe de gabinete: “reitora cedeu a pressões externas à UFSC, e que representam profundo abalo na nossa autonomia”. FOTO: Agecom/UFSC

    À Comunidade Universitária da UFSC e à sociedade

    Em respeito à Instituição que me acolheu como aluno em 1984 e, depois, como docente, em 1993, na qual tive oportunidades de fazer uma carreira no serviço público, de conhecer e conviver com pessoas maravilhosas, de aprender com meus alunos e alunas, de trabalhar com colegas brilhantes do Departamento de Jornalismo e, sobretudo, de atuar em diferentes gestões da UFSC nestes 24 anos, expresso, neste momento, minha absoluta frustração com a derrota que nos é impingida.
    Os fatos que me levaram a pedir dispensa da função de Chefe do Gabinete do Reitor não me ferem pessoalmente. Mas à UFSC como um todo. Minha decisão se deveu ao ato, legítimo, da Reitora em exercício, de anular a portaria em que eu, exercendo plenamente as prerrogativas da função, determinei a abertura de Processo Administrativo Disciplinar (PAD), com o consequente afastamento, do servidor Rodolfo Hickel do Prado, desde 20 de outubro passado.
    Não me interessam as razões que possam ter levado à decisão da Professora Alacoque, a quem respeito e admiro. Mas sei que parte delas é decorrente de pressões que a ameaçaram e partiram de entes externos à UFSC, e que representam um profundo abalo na nossa autonomia.
    A publicação da portaria de afastamento está administrativamente correta, formalmente fundamentada e é absolutamente defensável na esfera jurídica. Mas a decisão da Reitora foi, lamentavelmente, política. Com seu gesto ela optou pela manutenção de um servidor externo à UFSC, que desconhece a instituição, que a desrespeita, que a agride, que a ameaça, que a atemoriza, que a despreza. E pela saída de um colaborador de primeira hora, sempre disposto a apoiá-la desde o início da turbulência pela qual vivemos desde que nosso Reitor foi arrancado do nosso convívio.
    Em documento entregue à Reitora em exercício, com meu pedido de dispensa, fiz questão de desatacar que, não se pode recuar um milímetro no sentido de buscar a apuração rigorosa de todos os fatos descritos na representação que levou ao PAD e ao afastamento do servidor Rodolfo. E a deixei à vontade para que, se assim julgar, possa imprimir aos fatos que se sucederão, a condução que lhe parecer mais adequada.
    Agradeço à toda a equipe da gestão e à fantástica equipe do Gabinete do Reitor, pessoas de alto comprometimento e dedicação que me enriqueceram com seu convívio. Este grupo é inigualável.
    E agradeço à comunidade da UFSC com quem mantivemos relações produtivas, amigáveis e propositivas ao longo deste período.
    Continuo à disposição.

    Prof. Aureo Moraes
    Siape 1159850

  • UFSC afasta responsável pela calúnia que matou reitor e instaura processo

    UFSC afasta responsável pela calúnia que matou reitor e instaura processo

    Ao completar 18 dias do suicídio que abalou o país, a Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina tomou, na sexta-feira (20/10), a primeira medida efetiva contra o processo de deduragem, calúnia e abuso de autoridade que levou o professor Luiz Carlos Cancellier a denunciar com a própria vida um estado de exceção sem saída. A medida que acena com alguma justiça para Cancellier determina a instauração de uma Comissão de Processo Administrativo Disciplinar para apurar os fatos que culminaram com a prisão, linchamento moral do reitor e interdição do seu acesso à universidade, sem direito de defesa nem respeito às garantias constitucionais do Estado Democrático e de Direito.

    Cartazes fixados pelos alunos do reitor nos corredores do Centro de Ciências Jurídicas. Fotos: Raquel Wandelli

    Assinada pelo chefe de gabinete, Áureo Moraes, a Portaria de Número 12. 2353 determina ainda, o afastamento imediato, pelo prazo de 60 dias  do corregedor da instituição, Rodolfo Hickel do Prado de todas as atividades e funções junto à universidade. Servidor público federal da Advocacia Geral da União, Hikel foi o grande pivô de toda a tragédia, na condição de responsável pela denúncia de obstrução da justiça pelo reitor que sustentou a sua prisão por um contingente de 120 agentes da Polícia Federal na manhã do dia 14 de setembro. Nomeado na gestão anterior, da reitora Roselane Neckel, o corregedor encaminhou a “deduragem” contra o reitor e outros seis integrantes da comunidade universitária à Controladoria Geral da União.

    A mesma portaria nomeia os membros da Comissão de Processo Administrativo Disciplinar, com prazo de até 60 dias para concluir as investigações. O professor do Curso de Direito, Carlos Araújo Leonetti, presidirá a comissão, integrada pelo professor da Engenharia Civil, Glicério Trichês e o professor de Engenharia Mecânica, Rolf Bertrand Schroeter. Seu dever, segundo o documento, é “apurar os fatos relatados no processo e eventuais infrações conexas que surgirem no decorrer das apurações”. Conciliador e amigo do diálogo, o jurista que defendia uma universidade pluralista foi envolvido na Operação “Ouvidos Moucos”, comandada pela delegada Érika Marena, natural de Curitiba, apontada como autora do nome de batismo da Lava-Jato, que processa o jornalista Marcelo Auler por tê-la denunciado em manifestações a favor de Aécio Neves e contra o PT nas redes sociais.

    Portaria determinando afastamento do corregedor e instauração de sindicância

    Imediatamente após a prisão dos seis indiciados, os supostos desvios e irregularidades na aplicação de verbas do Programa Universidade Aberta tornaram-se uma sentença de condenação moral jurídica, policial e midiática, na qual o reitor foi a vítima fatal. De uma denúncia de obstrução de investigação judicial, o reitor passou a ser linchado na grande mídia como responsável pelo desvio de verbas envolvendo o destino de bolsas de estudo para a Educação a Distância do curso de Administração, ocorridas dez anos antes da sua gestão. A quantia de R$ 80 milhões, correspondente ao valor total do Programa Universidade Aberta ao longo dessa década, foi “confundida” nas notícias de grandes veículos nacionais de comunicação (como Rede Globo e Folha de S. Paulo), com o possível desvio de R$ 500 mil, que ainda estava sendo apurado. O erro continuou sendo repetido, mesmo depois de esclarecido pela própria Justiça Federal.

    Foto: Raquel Wandelli

    No culto ecumênico, realizado em homenagem à memória do reitor, o irmão Júlio Cancellier cobrou em seu discurso a instauração da sindicância à vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, que foi confirmada como sua substituta pelo Conselho Universitário. Falando em nome da família e dos amigos, Júlio solicitou que a investigação apure os fatos para devolver à vítima sua dignidade. “Queremos que seja provado se ele agiu errado ou seja publicamente reconhecida sua inocência”.

    Faixa na entrada da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC lembra a vítima do Estado de Exceção (Foto: Henrique Almeida)

    Preso, algemado, submetido a exame vexatório nu e libertado no dia seguinte, junto com os demais indiciados, o jurista Luiz Cancellier foi proibido de entrar no campus por determinação da Juíza Federal Janaína Cassol Machado, como se representasse um perigo. Morando ao lado da universidade, onde foi militante estudantil nos anos de chumbo, formou-se bacharel, mestre, doutor em Direito, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e por fim reitor, Cancellier entrou em sofrimento físico e emocional e passou a tomar remédios antidepressivos. Afastado dos amigos, dos companheiros de trabalho e impedido inclusive de receber ajuda espiritual, declarou publicamente em artigo no jornal O Globo que estava sofrendo um exílio insuportável. “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”, deixou escrito num bilhete encontrado no bolso de sua calça.

    A condenação de morte do reitor deu origem a um movimento crescente chamado Floripa Contra o Estado de Exceção, que reúne agremiações suprapartidárias, entidades, organizações e instituições em defesa dos direitos humanos, personalidades, profissionais, professores, alunos e amigos do reitor. Com a perspectiva de tornar-se uma grande frente nacional em defesa do Estado Democrático e de Direito e da Autonomia Universitária, o coletivo luta pela aprovação da Lei Cancellier Contra o Abuso de Poder e pela responsabilização das autoridades policiais, jurídicas e administrativa envolvidas. Uma faixa denunciando a morte do reitor como vítima do estado de exceção foi afixada na fachada do Centro de Cultura e Eventos, na entrada da SEPEX, Feira de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC, que encerra hoje, com a circulação de cerca de dez mil pessoas. O comitê está recolhendo assinaturas em apoio ao seu manifesto pelo endereço http://floripacontraestadodeexceção@gmail.com

    Veja o manifesto:

    http://floripacontraestadodeexcecao.blogspot.com.br/

    https://www.facebook.com/Floripa-contra-o-estado-de-exceção-2090798444279380/

    ADENDO: Depois da divulgação da portaria, o chefe de gabinete da UFSC, Áureo Moraes, publicou nota de esclarecimento no site da Agência de Comunicação da Universidade explicando que o processo administrativo a que se refere o documento não tem qualquer relação com a prisão do reitor. Segundo a nota, o processo se refere a graves denúncias muito anteriores anteriores à prisão do reitor contra a conduta do corregedor, formalizadas em 5 de julho de 2017 por um docente da UFSC, o professor Gerson Rizatti, do Curso de Administração, referentes à intimidação, perseguição e assédio moral.

    Conforme a representação apresentada pelo professor, Rizatti negou-se a compor uma comissão de investigação determinada pelo corregedor alegando excesso de carga horária com sala de aula e atividades acadêmicas e passou a ser perseguido e insultado por ele, muitas vezes em público. Essa informação é confirmada pelo advogado de Rizatti, o ex-procurador da UFSC Nilto Parma, que teve de reapresentar a denúncia duas vezes porque o reitor Cancellier preferiu tentar uma conciliação entre as partes. Paralelamente, Hickel também instaurou processo administrativo contra seu denunciador. “Alguém que está respondendo um processo não pode presidir outra investigação”, explica o professor Áureo Moraes, em entrevista por telefone. Segundo ele, a portaria de afastamento de Hickel já estava autorizada pela Procuradoria Geral da UFSC e finalmente assinada pelo reitor e pronta para ser publicada depois de mais de dois meses de tentativa de conciliação quando Cancellier foi preso. “Diante da prisão, nós decidimos nos ocupar desse fato mais grave”.

    A nota de esclarecimento defende a reitoria de uma interpretação de vingança e retaliação que o corregedor está tentando forjar. Em depoimento exclusivo ao Jornalistas Livres, contudo, o chefe de gabinete reconhece que ao fundo esta e outras denúncias que estão sendo reunidas fazem parte de um processo que pretende desmascarar os abusos de autoridade do corregedor Rodolfo Hickel, “a principal figura responsável pelo conjunto de calúnias que levaram à prisão e morte do reitor Luiz Carlos Cancellier”. Veja a nota de esclarecimento:

    Esclarecimento sobre a abertura de processo administrativo e afastamento preventivo do corregedor geral da UFSC

     

    A Chefia do Gabinete do Reitor esclarece que o PAD – Processo Administrativo Disciplinar – instaurado na sexta feira, 20 de outubro de 2017, refere-se a denúncia formal, protocolada em 05 de julho de 2017, bastante anterior aos fatos que culminaram com a prisão e afastamento do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo e, portanto, não tem nenhuma relação com a Operação “Ouvidos Moucos”, deflagrada pela Polícia Federal.

    Trata-se de apuração de denúncia de práticas de graves atos infracionais supostamente praticados pelo Corregedor.

    A denúncia foi submetida à apreciação da Procuradoria Federal, que deu parecer no sentido de que a Lei determina abertura de procedimento administrativo disciplinar, com o afastamento do Corregedor de seu cargo, enquanto durar o processo.

    Isso porque seria incompatível alguém estar respondendo a processo disciplinar e ao mesmo tempo exercer as funções de responsável pela instauração e andamento de processos disciplinares.
    Na época, apesar do parecer da Procuradoria Federal, o Reitor Cancellier, agindo com tolerância, evitou todo e qualquer conflito com o Corregedor, e decidiu resolver a questão na base da conciliação. Não determinou imediatamente a instauração do PAD, apesar de inúmeras outras denúncias e reclamações de professores e servidores contra o Corregedor e, mesmo com o fato de o autor da denúncia que resultou nesse PAD vir cobrando do GR, com razão, para que fosse cumprida a Lei. Finalmente, em 13 de setembro, véspera de sua prisão e afastamento, determinou ao Chefe do Gabinete que procedesse a abertura do PAD no dia seguinte, 14 de setembro.

    Portanto, reiteramos que não há qualquer relação entre o processo ora aberto e as investigações que resultaram no trágico desfecho, mas de graves denúncias, documentadas, que estarão à inteira disposição da Comissão designada pela portaria 2353/2017/GR, de 20/10/2017, que conduzirá seu trabalho nos restritos limites da lei e respeitando os princípios da ampla defesa e direito ao contraditório.

    Florianópolis, 21 de outubro de 2017.
    Professor Aureo Moraes
    Chefe do Gabinete do Reitor

  • Caetano processa MBL e Frota por acusação de pedofilia

    Caetano processa MBL e Frota por acusação de pedofilia

    Por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla

    O cantor e compositor Caetano Veloso e sua esposa, a empresária Paula Lavigne, estão processando por danos morais o MBL (Movimento Brasil Livre), seus coordenadores nacionais Kim Kataguiri e Renan Santos e o ator Alexandre Frota, detentor jurídico da associação MBL e que trava com os primeiros uma luta nos tribunais pela propriedade da marca.

    O motivo: postagens feitas nas páginas do MBL na internet que acusariam Caetano de ser pedófilo e feririam a honra do casal. O pedido é por uma indenização de R$ 100 mil de cada um dos réus (são seis ao todo) e pela imediata retirada das páginas do MBL de 24 publicações consideradas ofensivas aos autores da ação, sob pena de multa diária de R$ 5.000. Os Jornalistas Livres entraram em contato com a assessoria de Paula Lavigne e com o MBL, que não se manifestaram até a publicação desta reportagem. Já Alexandre Frota afirmou que não tem qualquer relação com as postagens, e que sua inclusão no processo é fruto de “confusão gerada pelo uso indevido do nome e da marca MBL” (leia mais abaixo).

    Protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no dia 9 deste mês, o processo ainda aguarda a manifestação inicial de defesa dos réus. Consta na ação judicial, no entanto, um pedido de tutela antecipada e de tramitação de urgência. Isso significa que o juiz, se entender necessário, poderá ordenar a retirada do conteúdo do ar antes mesmo de ouvir os acusados, em caráter provisório.

    Uma das postagens que originaram o processo movido por Caetano Veloso e Paula Lavigne contra o MBL e seus representantes

    “Perseguir, caluniar e achincalhar”

    Segundo consta no processo movido pelo casal – ao qual os Jornalistas Livres tiveram acesso – o MBL tem por prática habitual “perseguir, caluniar e achincalhar os Autores (Caetano e Lavigne)”.

    O casal afirma ainda: “Os Réus fazem parte dessa parcela de pessoas que usam do alcance das redes sociais para perseguir, denegrir, ofender, injuriar, caluniar aqueles que discordam de sua plataforma política, de suas ideias, de sua agenda. A opinião alheia, se contrária à dos Réus, torna-se alvo de ataques violentos, verbais e, até, físicos, senão pelos próprios Réus, pelos seus seguidores, insuflados pelo discurso de ódio.”

    O que levou o cantor e a empresária a moverem a ação judicial contra o MBL e os responsáveis pelo movimento foram especificamente 24 postagens feitas entre os dias 7 e 10 de outubro deste ano. Elas vieram após a polêmica envolvendo uma exposição ocorrida em Porto Alegre em setembro deste ano, chamada “Queermuseu”. Organizada pelo banco Santander, ela foi encerrada pela instituição após o MBL e outros grupos protestarem contra seu conteúdo, tachado de incentivador da pedofilia e da zoofilia. Caetano Veloso, Paula Lavigne, artistas, intelectuais e grupos da sociedade civil saíram em defesa da exposição artística.

    A partir daí, de acordo com o casal, teve início um “linchamento moral perpetrado pelos Réus que atinge, também, a sua família (do casal), especialmente seus filhos, e é uma ameaça não só aos Autores, mas a qualquer pessoa contra quem os Réus direcionem sua metralhadora injuriante.” Veja, abaixo, algumas das postagens a que se referem Caetano e Lavigne, entre elas as que insinuariam que o cantor teria praticado pedofilia ao iniciar um relacionamento com sua esposa quando esta tinha 15 anos de idade.

    Alexandre Frota e o MBL

    Alexandre Frota e o analista político Vinícius Carvalho Aquino figuram como réus na ação judicial porque são os detentores, desde agosto deste ano, da única pessoa jurídica chamada “MBL – Movimento Brasil Livre” no país. Os dois travam contra os chamados coordenadores nacionais do movimento uma disputa pelo uso do nome e das logomarcas do MBL. De acordo com Frota e Aquino, o “verdadeiro MBL” foi criado no início de 2014 por um grupo de ativistas autodenominados de direita e que lutavam contra a corrupção.

    O nome e a logomarca do MBL teriam sido, segundo eles, posteriormente “usurpados de seus verdadeiros donos” pelos atuais coordenadores nacionais do movimento, Renan Santos e Kim Kataguiri, que negam veementemente esta versão dos fatos, afirmando serem os únicos legítimos detentores e criadores do Movimento Brasil Livre.

    O INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) analisa dois pedidos de inscrição oficial da marca, um feito por Frota e Aquino e outro por Stephanie Santos, irmã de Renan Santos e presidente de uma associação chamada MRL (Movimento Renovação Liberal, que também figura como réu no processo), esta sim detentora de um CNPJ e para onde são revertidos todos os recursos recolhidos pelo movimento de Kim e Renan, como doações, taxas cobradas junto a seus “membros” e dinheiro oriundo da venda de canecas, bonecos pixulecos, bonés e camisetas do grupo.

    Assim, embora detenha a associação MBL formalizada na Justiça, fato é que Alexandre Frota não possui qualquer relação com as páginas na internet do MBL, nem com o que nelas é publicado. Em nota enviada aos Jornalistas Livres, o ator afirmou: “A ação movida por Caetano e Paula contra a Associação (MBL) em decorrência de postagens feitas nas redes sociais por um grupo que usa indevidamente o nome comercial e a marca da Associação demonstra a confusão causada e a necessidade de ingressar com as medidas judiciais cabíveis. Essas medidas já serão tomadas na próxima semana”.

    Embora explique não ter qualquer responsabilidade em relação às postagens do grupo de Kim e Renan, Frota opinou sobre a polêmica acerca da exposição artística que gerou o processo. “Não tenho relação com os fatos, mas sou uma voz no meio de milhões de brasileiros que se indignaram com aquela exposição, que Caetano e Paula Lavigne chamam de arte.”

  • Che Guevara: um homem movido pelo amor

    Che Guevara: um homem movido pelo amor

    Por Elaine Tavares, jornalista e documentarista do IELA (Instituto de Estudos Latino Americanos da UFSC)

    Sempre que se fala em Che Guevara a primeira coisa que vem a mente é a imagem do soldado, do revolucionário. Essa era uma das facetas do Che. Mas não a única. Desde bem garoto ele inventou de andar pela América Latina, gostava de conhecer as gentes e, com elas, estabelecia vínculos de amor. Formou-se em medicina e ainda estudante voltou a percorrer os caminhos da América do Sul. Seu coração de jovem médico era apaixonado por essa América profunda, pelos trabalhadores, pelos empobrecidos.  Ele não queria que a realidade fosse assim, tão dura, com os trabalhadores.  E foi esse amor pela sua gente latino-americana que o levou a ser um soldado da revolução cubana. Com seus companheiros cubanos ele empunhou o fuzil para derrubar uma ditadura, mas também cuidou dos caídos, dos doentes, dos feridos. Médico e soldado, coração e razão, sempre andando junto.

    Quando a revolução foi vitoriosa ele acabou sendo Ministro da Indústria e Comércio. Mas, seu trabalho nunca foi só de gabinete. Ele andava pela ilha, vendo as coisas com os próprios olhos, trabalhando junto com os trabalhadores no corte da cana, no carregamento dos grãos. Vivia como pensava. Ele acreditava que um homem e uma mulher revolucionários precisavam  ser perfeitos, éticos, pautados pelo bem comum. Ele dizia: “temos de ser o melhor marido, o melhor filho, o melhor pai, o melhor estudante, o melhor trabalhador, o melhor tudo. Temos de ser perfeitos, para ser exemplo. Tudo aquilo que formulamos como moral para o outro, temos de ser”.  A palavra para ele não era coisa vã. Era a escritura de uma ação concreta na vida.

    Tanto que não conseguiu aquietar-se num cargo de ministro da recém liberta nação cubana. Aquela gente sofrida da América que ele conhecera nas suas andanças continuava amargando dores, misérias e exploração. Então, para ele não podia haver acomodação na vitória. Seu desejo era voltar e iniciar uma revolução na parte sul do continente. Mas, naqueles dias, outros povos clamavam por libertação. Eram as gentes do continente africano que começavam suas lutas de independência das colônias europeias e do racismo fomentado por elas. Che não pensou duas vezes. Largou a pasta de ministro e foi se fazer soldado de novo. Ele era movido por profundos sentimentos de amor. “Enquanto houver um irmão injustiçado, somos companheiros”, era seu lema.  Como poderia descansar se outros companheiros e companheiras estavam em luta. E lá se foi para o Congo e Angola, batalhando contra o apartheid e o colonialismo.

    Na volta da África, de novo, seu coração decidiu por fazer valer a ética que o caracterizava: o amor pelo outro, pelo caído, pela vítima do sistema capitalista, pelo que se levantava em rebelião. E, mais uma vez recusou cargos ou honrarias. Não haveria de descansar enquanto toda a América Latina não avançasse para um tempo de justiça. Foi quando viajou para a Bolívia, onde iria combater outra ditadura. Lá, por conta das diferentes condições históricas e erros de estratégia, foi capturado. Um dia depois, assassinado friamente por um soldado boliviano, mas a mando de agentes estadunidenses que foram chamados para documentar a morte do revolucionário. Não contentes em executar o então prisioneiro, desarmado e indefeso, os agentes lhe cortaram as mãos. Um toque de sadismo. Era preciso tripudiar do homem que ousara sair do comodismo de uma boa vida de médico burguês, e abraçara a causa dos trabalhadores, dos oprimidos.

    A última imagem que temos do Che é a de um homem morto, deitado numa mesa fria, com os olhos bem abertos, mirando o infinito. Nem na morte os seus carrascos conseguiram apagar a luz que emanava do seu ser.

    Obedecendo aos preceitos éticos que pregava, el Che foi o homem perfeito. Amou as mulheres, amou seus filhos, amou Cuba, amou o conhecimento, amou os cubanos, amou os africanos, amou os latino-americanos, e por conta desse amor incondicional entregou sua vida.  Ele curou vidas, produziu teoria, dirigiu uma revolução, comandou um ministério, morreu por seus ideais.

    Esse é seu maior legado. Viveu o tempo todo, na prática, aquilo que apontava como teoria, como moral e como ética. Morreu de pé, olhando o inimigo no olho. Seu exemplo de ser humano é sua maior herança.

    E hoje, quando lembramos os 50 anos do seu assassinato, é isso que nos conforta. Che Guevara ainda é um caminho.

    Do Jornal  Che vive!  50 anos

    Associação José Martí e Instituto Arco Íris

  • O INFILTRADO, A EMBOSCADA, O PROCESSO, A FARSA

    O INFILTRADO, A EMBOSCADA, O PROCESSO, A FARSA

    Pra quem não sabe, esse senhor aí pagou de paquera no Tinder, andou por reuniões abertas da mídia independente, entrou em grupos de militantes e Movimentos Sociais até encontrar alguns jovens que o acolheram.

    Então, no dia em que iam protestar contra Temer (o ilegítimo, o golpista, o que está entregando o Brasil, o que está acabando com direitos sociais e trabalhistas, o que está embrutecendo futuro dos brasileiros, o que está deixando o país mais triste, opressivo, angustiado), Balta armou uma emboscada. Os jovens foram presos antes de chegar à manifestação. Ele era capitão do exército, era um infiltrado.

    Na hora da prisão, ele desapareceu. Com os jovens foram encontrados máscaras, gorros, um skate, vinagre, kit de primeiros socorros, um canivete pequeno e uma barra de ferro (que os meninos dizem não ser deles e ter sido colocada ali pelos policiais).

    O que aconteceu com Willian Pina Botelho? Adivinha? Foi promovido. Tornou-se major e foi transferido, oficialmente, para a Amazônia. Seu salário pulou de R$ 10.624,15 para R$ 14.592,80.

    E os meninos? Tornaram-se réus na Justiça de São Paulo pelos crimes de associação criminosa e corrupção de menores.

    O Ministério Público Estadual afirma que eles seriam “adeptos da tática black bloc”. A juíza Cecília Pinheiro da Fonseca aceitou a denúncia alegando existirem “indícios” de que os réus “teriam” como objetivo destruir o patrimônio público e “provocar lesões corporais em policiais militares”.

    Promotor e Juiz não trabalha mais no Brasil. Pra que se é só ter convicção que o salário entra? Vamos abrir um parênteses aqui parauma curiosidade comovente: o salário MINIMO de juiz é R$ 27.500,17 fora os benefícios por que ninguém é de ferro. O MÍNIMO de um Promotor é um “cadinho” menos, R$ 26.125,17.

    Amanhã, às 14 hs no Fórum da Barra Funda, começa o “julgamento” deles. Suas mães, seus pais, seus amigos estarão lá na porta. Um ato em apoio a eles, e contra essa armação absurda que, só não vê quem não quer, tenta intimidar qualquer reação popular contra a barbárie irá acontecer a partir do mesmo horário (no link abaixo você pode saber mais).

    https://www.facebook.com/solidariedadeaos18doccsp/…

    A maioria dos “perigosos criminosos” é formada por meninas. O infiltrado foi absolvido de qualquer crime pelo Exército brasileiro e pelo Judiciário.

    #ProtestarNãoÉcrime

    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora                                                                                                                       José – Carlos Drummond de Andrade