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Categoria: urbanismo

  • Contra vírus, filantropa se une a líder sem-teto: “Juntas conseguimos mais”

    Contra vírus, filantropa se une a líder sem-teto: “Juntas conseguimos mais”

    Por Flávia Martinelli, do blog MULHERIAS


    Em meio à pandemia do coronavírus, duas mulheres estão preocupadas. É preciso agir com urgência. Cada uma a seu modo, então, começa a articular as próprias redes de contatos. Ouvem ideias, buscam dados, sugerem e recebem propostas. Os dias, as horas e os minutos frenéticos de cada uma são ocupados por questões muito mais pontuais do que com as polêmicas do presidente sem rumo. O número de infectados aumenta, o confinamento exige condições de sobrevivência, há pessoas sem trabalho, sem comida, com filhos espremidos entre idosos em cômodos apertados ou simplesmente sem ter para onde ir ou a quem recorrer. Por diferentes vias e vivências, ambas sabem: a fome tem pressa.

    E assim nasce o Comitê Popular de Combate ao Covid-19, plataforma criada por um grupo diverso, com a participação de instituições privadas e lideranças de movimentos comunitários que, em menos de uma semana, mapeou os locais onde a crise se mostra mais aguda em São Paulo. Nesse meio-tempo, também captou R$ 3.037.000,00 (três milhões e 37 mil reais) para atender as demandas das populações mais vulneráveis da cidade.

    Em apenas dois dias de atividades, só na região central e arredores, mais de 3 mil famílias, cerca de 10 mil pessoas, receberam cestas básicas ou marmitas. No mesmo fim de semana, uma rede de oficinas de costura começou a confeccionar máscaras de pano para as comunidades.

     

    Os kits de alimentos e higiene, que em geral duram duas semanas para quatro pessoas, são comprados nas regiões onde vivem os moradores para o fomento da economia dos bairros. Cerca de 27 mil famílias serão assistidas, uma ação que atinge 110 mil pessoas que congregam bairros do Centro, Heliópolis,  Cumbica, Cidade Tiradentes, Sapopemba e Jardim Colombo, São Remo, Vila Guaraciaba e Jardim Keralux. Há ainda um núcleo na favela da Maré, no Rio de Janeiro.

    Nos próximos 15 dias, a meta é levantar um total de R$ 8.190.000,00 para ampliar o número de atendimentos e manter a constância de fornecimento e outras necessidades que surgem, botijões de gás e alcool gel, ao longo do período de isolamento social. 

    As duas mulheres, no entanto, continuam preocupadas. A mineira Marisa Moreira Salles e a baiana Carmen Silva, sabem que é preciso muito mais.

    Marisa é editora, redatora, designer e empresária do setor de livros na BEI Editora, que significa “um pouco mais” em tupi. Tem uma longa carreira no universo das artes, arquitetura, literatura e educação.

    Carmen é corretora de planos de saúde e há mais de 20 anos fundou o Movimento Sem-Teto do Centro, que já tirou quase 3 mil pessoas de moradias insalubres, de viadutos ou de aluguéis impraticáveis ao promover inclusão social e promoção do bem-estar em prédios abandonados da cidade.

    “Ela me deixa de queixo caído com as soluções que encontra para os problemas urbanísticos e do dia-a-dia das ocupações”, diz Marisa sobre Carmen. A editora costuma ouvir as aulas da líder sem-teto como professora convidada no Insper, o Instituto de Ensino e Pesquisa, onde Marisa é conselheira.

    A entidade oferece cursos de gradução e pós em administração, economia, direito e engenharia e conta com o Núcleo de Mulheres e Território em seu Laboratório de Cidades, um programa interdisciplinar voltado para ações transformadoras de gestão urbana. “Quando a empatia, o olho no olho, a solidariedade e a educação são valores sólidos, independentemente de educação formal, informal ou das ‘caixinhas’ onde nos colocam, surgem soluções inovadoras.”

    Marisa Moreira Salles, Carmen Silva e Tomas Alvim: em ação emergencial de combate ao coronavírus. “Carmen é da minha rede de confiança, minha amiga, com ela descobri que podemos trabalhar junto para conseguir algo melhor para a sociedade como um todo”, diz Marisa. A líder sem-teto completa: “sozinha não sou ninguém”, e Tomas reitera: “a tecnologia para lidar com crises e urgências já está estruturada nas organizações comunitárias” (Foto: acervo pessoal)

    Sem rodeios, Marisa defende que é preciso aproximar a sabedoria e a tecnologia das ruas às politicas públicas, academia e instituições públicas e privadas. “São inteligências diferentes. Devemos estar juntos como nunca agora. E se estivéssemos há mais tempo, já teríamos propostas mais próximas das necessidades humanas, de como as pessoas querem viver. E tudo isso ainda estaria normatizado pelas leis que o país nos oferece.” Numa mesa de decisões, ela sugere, sempre devem estar representantes da sociedade civil, Estado, instituições e comunidade. “Se falta algum, vai faltar eficácia.”

    Carmen, por sua vez, tem como mantra a frase “sozinha eu não sou ninguém”. As cinco ocupações do MSTC são famosas pelas portas abertas aos excluídos dos sistemas de moradia digna e a todo tipo de apoio e colaboração externa dos que vivem outras realidades. Pelos prédios ocupados já passam dezenas de especialistas, professores, estudantes de artes, gestão, urbanismo, arquitetura, paisagismo, engenharia, jornalismo, saúde pública, gastronomia, moda e até equipes de cinema e documentários.

    Quem passa pela Ocupação 9 de Julho sempre aprende sobre a logística da recuperação do imóvel que já foi um depósito de 50 toneladas de lixo e fedentina. Também vê de perto como funcionam os núcleos de autogestão de moradores e voluntários que desenvolvem programas de cuidados coletivos, sustentabilidade e, principalmente, cidadania.

    Sem Teto foram eleitos para ocupar o conselho tutelar da região e para a gestão do Parque Augusta, estão presentes em diversos conselhos participativos do governo, associações de bairros e campanhas para melhorias de espaços públicos.

    “A luta por moradia tem essa característica: é um ‘guarda-chuva’ de muitas negligências à população mas mostra, de maneira coletiva e organizada, como é possível atuar de maneira ativa na gestão da cidade como um todo”, ensina Carmen. Ela conta que, para além de sanar o problema imediato da falta de comida, a omissão das omissões, o objetivo da operação é prevenir o contágio do coronavírus entre os mais fragilizados e, claro, em toda a cidade.

    Cadastramento de moradores (Foto: Elton/Casa Verbo)

    “Sabemos quem vive na rua ou em lugar insalubre, como cortiços que não permitem isolamento e ainda compartilham banheiros, casos de idosos que dividem espaços com crianças que são comprovadamente vetores e ainda as situações de famílias que não têm renda nenhuma”, conta a consultora em políticas públicas Márcia Terlizzi, voluntária do projeto com experiência de 30 anos de carreira na Secretaria de Habitação do Município.

    Márcia acompanhou a gestão de dez prefeitos diferentes como gestora de conflitos entre a prefeitura e movimentos sociais. Na operação atual, também está na retaguarda das prestações de contas e transparência das atividades.

    “As pessoas precisam ter comida na mesa já, agora. Estamos falando de prevenção”, lembra Carmen, ressaltando a dificuldade de as populações de baixa renda ou sem renda manterem a quarentena. “Houve demissões em massa e todos estão impedidos de fazer seus corres como ambulantes ou no mercado informal.” Sem reservas econômicas, é uma questão humanitária a liberação, já aprovada pelo Congresso, do auxílio de R$ 600 ou R$ 1200 para as famílias.

    Tem gente com fome!

    A agilidade da Operação Povo Sem Fome acontece a partir do contato entre redes de apoio que se conversam e trocam boas práticas e saberes. “É a única maneira de chegarmos nas mesas das pontas da cidade e descobrir as reais necessidades das pessoas.” A ação conta com a participação de outras cinco líderes comunitárias e de movimentos por moradia da cidade.

    Tomas Alvim, braço direito e sócio de Marisa na BEI Editora, explica que a maneira mais ágil para alcançar o objetivo foi destinar a verba das doações diretamente a essas lideranças. “Estamos falando de mulheres que são especialistas em situações de crise desde sempre! Elas sabem dos lugares de maior vulnerabilidade de seus territórios como a palma da mão e conhecem pelo nome quem são as pessoas que passam por dificuldades.”

    A líderes comunitárias se tornaram, assim, as responsáveis pela logística de distribuição dos donativos. “Elas permitem que a ação tenha o alcance e a capilaridade necessária e de maneira rápida porque essa tecnologia já está estruturada nas organizações delas”, diz Alvim, que também é parceiro de Marisa na criação da plataforma ArqFuturo, que congrega arquitetos, economistas e empresários mais influentes do país e do mundo para debater soluções de desenvolvimento urbano com a participação popular.

    “Essas pessoas e organizações às quais encaminharemos os recursos arrecadados há anos se dedicam ao apoio das comunidades vulneráveis de São Paulo, e é com absoluta confiança que nos colocamos ao lado delas neste momento de grande apreensão para todos”, reitera Marisa, fazendo questão de citar, além de Carmen Silva (à esquerda da foto acima), a presidente da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região, a UNAS, Cleide Alves; Ester Carro que preside a União Esportiva e Educacional do Jardim Colombo; Evaniza Rodrigues, diretora da União dos Movimentos de Moradia (UMM); Marília De Santis, gestora do CEU Professora Arlete Persoli, de Heliópololis e Eliana Silva, diretora das Redes da Maré, que também está organizando ações locais no Rio de Janeiro (Foto: acervo pessoal)

    “Talvez o grande motivo de a gente escolher se aglomerar numa cidade como São Paulo num país, assim, tão grande como o nosso seja a oportunidade de ter contato com as diferenças”, conta Marisa no vídeo (abaixo), sobre suas inquietações como moradora de São Paulo. “Vivemos diferenças de idades, de raças, de culturas, de gostos, enfim, uma variedade de coisas que te provocam e que te fazem crescer, pensar, mudar.”

    Para ela, esse contato, frente a frente, é o que pode gerar inovação, crescimento, desenvolvimento e se pergunta: “Por que que sendo esse o motivo que nos faz ficar numa cidade como São Paulo a gente continua se fechando atrás de muros? Não se preocupando com os espaços públicos e nossas calçadas? Sempre preocupados apenas com o nosso quintal e não na cidade como um espaço de encontro? E por que pessoas inteligentes ainda continuam fazendo políticas urbanas tão insensatas?” E revela que essa, talvez, seja sua maior inquietação.

    Quanto a Carmen, vale a pena assistir sua fala histórica momentos depois do resultados das últimas eleições presidenciais. “Nós iremos fazer a nossa resistência como nós sempre fizemos. A resistência não é com armas, é com a voz, com o canto, com amor. Nós somos uma família. Uma família que se ama e que independe de classe, cor e sexualidade. Somos nós.”

    EM TEMPO:
    Carmen Silva responde em liberdade a um processo que a acusa de prática de extorsão por “aluguéis” em ocupações. O caso é um desdobramento de uma investigação referente ao edifício Wilton Paes de Almeida, que era ocupado por sem-teto, e desabou depois de um incêndio ocorrido no dia 1º de maio de 2018. A filha de Carmen, a cantora Preta Ferreira e o filho, o educador Sidney Silva, chegaram a ser presos por três meses por acusações semelhantes. Hoje também respondem à Justiça em liberdade, depois de ampla reivindicação popular, de celebridades da mídia e de diferentes profissionais do Direito, da imprensa e das artes.

    Os chamados “aluguéis” do processo dizem respeito à contribuição mensal, acordada em assembleia com maioria dos moradores. No caso das ocupações do MSTC, essas contribuições são de R$ 200 por mês e por família. O valor é usado para reformas nas áreas comuns e para cumprir normas de segurança, como extintores de incêndio, corrimãos, instalações elétricas e hidráulicas dos edifícios.

    Em nenhum momento os ativistas tiveram relação com a ocupação do Wilton Paes, senão aquela estabelecida logo após o desabamento, quando comitês de ajuda organizados por Carmen prestaram auxílio às famílias desabrigadas.

    À época das prisões, Marisa Moreira Salles se pronunciou publicamente em defesa de Carmen. A empresária e editora, apesar de sua longa carreira e atividades, é muitas vezes citada na imprensa apenas como a esposa de Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco. O banqueiro é um filantropo discreto de projetos culturais, artísticos e sociais. Cadeirante, entre os quatro irmãos da família, talvez seja o que mais tenha se dedicado aos negócios do banco criado pelo pai.

    Tanto Carmen como Marisa sabem que sempre serão julgadas tudo e por todos. Mas não estão preocupadas com isso no momento. Elas têm pressa. 

     

     

  • Zumbi Resiste e vive

    Zumbi Resiste e vive

    Texto: Zumbi Resiste. Fotos da marcha: Gabriel de Moura. Outras fotos: Gabriel Carcavalli

    A poucos metros da Faculdade Zumbi dos Palmares, no bairro do Bom Retiro, está localizada a Rua Jorge Velho, ponto de passagem de alguns alunos da instituição. Mas o que muita gente não sabe é que essa rua esconde uma história que torna esse fato um desrespeito com a comunidade negra: Jorge Velho foi o bandeirante que ordenou a morte de Zumbi dos Palmares.

    Após essa descoberta os alunos da Universidade se reuniram para criar o movimento Zumbi Resiste, que tem como objetivo transferir a homenagem de Jorge Velho para Zumbi dos Palmares, além de transformar o local em um espaço de resistência da cultura negra.

    “Uma rua é um pouco de nós e o nome dela não pode ser contra nós. Se é, não devemos mudar de rua, precisamos mudar o nome da Rua. Mudar o nome das ruas, nunca mais mudar de rua.” – disse, José Vicente, reitor da faculdade.

     

    Ocupação da rua

    No dia 20 de Novembro, durante a Marcha da Consciência Negra, um chamamento foi feito pelos alunos da Universidade, em plena Avenida Paulista, promovendo uma ocupação na Rua Jorge Velho para pressionar as autoridades pela mudança do nome da rua.

    A ocupação aconteceu no última dia 23. Os alunos da faculdade interditaram a rua e exigiram, através de discursos e manifestações artísticas, que a mudança seja feita e encarada com urgência pelas autoridades públicas.

    “Acho de extrema relevância a mudança desse nome, por todo processo histórico, pelo assassinato de Zumbi e pela forma que as elites se organizaram para exterminar um líder revolucionário. Essa mudança fará jus ao verdadeiro herói nacional.” – Jupiara Castro, fundadora do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo.

    Dra. Lazara Carvalho, Profª Najara Costa, Marilice Martins, Profª Hainra Adani Acosta e Dra. Bruna Cândido

     

     

    A história de Jorge e Zumbi

    Zumbi dos Palmares nasceu na Serra da Barriga e se tornou líder do Quilombo dos Palmares, tornando-se símbolo de resistência contra a opressão portuguesa. Denominado “O senhor das guerras”, Zumbi foi responsável pela libertação de um incontável número de escravos, se apoderando também das armas e munições, que posteriormente eram usadas na defesa do quilombo. Zumbi virou assim uma lenda entre os afro-descendentes que viviam no país, criando inclusive o mito de que seria imortal.

    Foi então que Domingos Jorge Velho recebeu a incubência de destruir o Quilombo dos Palmares, em troca de dinheiro e terras. Velho e sua tropa comandaram diversos ataques ao Quilombo dos Palmares com métodos altamente brutais e sendo descrito por pessoas da época como “um dos maiores selvagens que já haviam visto”. Até que em 1694, as tropas de Jorge Velho, com mais de 6 mil homens, obtiveram êxito e promoveram um verdadeiro banho de sangue no Quilombo dos Palmares, assassinando a maior parte da população que ali vivia e prendendo mulheres e crianças.

    Zumbi, mesmo ferido, conseguiu escapar da invasão e em 20 de Novembro de 1695 foi apanhado em seu esconderijo, sendo morto pelas tropas de Jorge Velho que dias depois expressou em ofício a Sua Majestade que Zumbi havia sido morto por um partida de gente do seu terço. Após isso, a cabeça de Zumbi ainda foi cortada, salgada e exposta em praça pública para que fosse usada como exemplo a todos os afro-descendentes da época.

     

    Pressão nas autoridades

     

    Através da #zumbiresiste, uma mobilização está atingindo de forma direta os políticos da cidade de São Paulo, exigindo que a homenagem dessa rua passe a ser de Zumbi dos Palmares. Um petição pública também está disponível para que qualquer pessoa do país possa assinar e reivindicar essa homenagem. Todas as informações estão no site zumbiresiste.com.br.

    “Trazer esse absurdo à tona é mostrar o quanto ainda deve ser corrigido. Essa é uma rua, mas quantos Domingos Jorge Velhos são homenageados por aí?” – Alex André, aluno da faculdade.

  • EXCLUSIVO: Estrutura do prédio Wilton Paes de Almeida propagou o fogo e causou desabamento

    EXCLUSIVO: Estrutura do prédio Wilton Paes de Almeida propagou o fogo e causou desabamento

    Por Patrícia Cornils, especial para os Jornalistas Livres

     

    Assim que se soube do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, a imprensa paulista e nacional, a polícia e o Judiciário iniciaram uma caçada implacável a provas que permitissem jogar a culpa pela tragédia sobre os movimentos de moradia que ocupam edifícios abandonados do centro de São Paulo. O engenheiro Paulo Helene, diretor da PHD Engenharia e professor da Universidade de São Paulo, entretanto, trabalhando com uma equipe composta por 44 pessoas (engenheiros em carreiras de gestão pública, professores universitários e peritos, além de estudantes de engenharia), elaborou parecer que sustenta a tese de que o Wilton Paes de Almeida ruiu por características de seu projeto estrutural.

    Ao menos sete pessoas, inclusive crianças, perderam a vida naquele dia 1º de maio de 2018, o que serviu para aumentar os apetites sensacionalistas da grande imprensa. Mas, esfriados os ânimos, o parecer técnico assinado pelo engenheiro Helene, apresentado no último dia 1º de agosto no Instituto de Engenharia, tornou-se um alerta para os acusadores levianos.

    Construído na década de 60, o edifício Wilton Paes de Almeida foi apresentado como jóia modernista na cobertura da mídia. O que não se disse é que o prédio não incluía (nem nunca incluiu), medidas de segurança obrigatórias segundo a legislação atual, como a compartimentação (portas corta-fogo, paredes corta-fogo, espaços entre os andares, espaço entre edificações), para evitar que incêndios se alastrassem por partes diferentes do edifício. Também tinha uma planta assimétrica, em que a posição do centro de gravidade não coincidia com o centro de torção. E um ponto terrivelmente fraco: um de seus pilares era a parede de um fosso de elevadores, que não suportou o movimento de torção causado pelo calor gerado no incêndio. Ao se romper, foi um componente a menos a suportar o peso da estrutura. Este peso foi redistribuído por outros pilares, vigas e lajes do edifício que, também afetados pela torção, não aguentaram a carga extra, causando o desabamento.

    Muito técnico? Sim, era uma palestra para engenheiros e essa descrição já é uma simplificação das conclusões do Parecer, que tem 216 páginas e que está disponível neste link: (https://www.phd.eng.br/wp-content/uploads/2019/04/19.04.30ParecerCompletoPaesAlmeida.pdf). Mas sua conclusão é importante porque afeta milhares de outros prédios na cidade com problemas de projetos de infraestrutura e segurança contra incêndios elaborados antes de 1974. Naquele ano, um incêndio no Edifício Joelma causou a morte de 189 pessoas e levou a mudanças na legislação de normas de segurança para prédios. De acordo com matéria publicada pela Folha de S. Paulo em maio de 2018 (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/05/quase-metade-dos-predios-de-sp-sao-anteriores-as-regras-duras-anti-incendio.shtml), “a capital paulista tem 53 mil prédios, conforme consta na base de dados do IPTU de 2017, da Prefeitura de São Paulo. Destes, 24,7 mil foram construídos antes de 1974.” A proporção de construções antigas é grande no Centro de São Paulo — na Sé, 85% dos prédios são anteriores a 1974. Na República, 87%. Todos eles foram vistoriados e adequados ao que se aprendeu nas décadas de 70 e 80?

    Não.

    Na apresentação, Helene mostrou o retrato de um edifício na Avenida Rio Branco, vizinho ao Wilton Paes de Almeida, sem o que os técnicos chamam de “compartimentação vertical”. Toda a fachada é feita de vidro (“pele de vidro”) e a distância entre o fim da janela de um andar e o início da janela de outro andar não prevê a necessidade de evitar que labaredas se propaguem pelas janelas. Está lá, o prédio. Hoje. E não se trata de uma ocupação. “Eu mesmo vivo em um prédio assim”, disse Helene na palestra. “Um projeto do Mário Franco, de 1964, tremendo edifício, gosto muito dele, mas não tem porta corta-fogo, escada pressurizada. E moro no 20º andar.” O prédio de Helene recebeu uma ligação entre suas duas torres, para dar maior segurança aos moradores em caso de incêndio.

     

    Não são apenas prédios ocupados por movimentos de moradia que pegam fogo. O Edifício Grande Avenida, por exemplo, sofreu um incêndio em 1981 no qual 17 pessoas morreram e 53 ficaram feridas. Neste prédio, na Avenida Paulista, ficavam os escritórios da Construtora Figueiredo Ferraz, fundada por José Carlos de Figueiredo Ferraz, que foi secretário municipal de Obras (1957) e de Transportes (1968), além de prefeito de São Paulo (1971). O Wilton Paes de Almeida era uma estrutura de concreto armado, da mesma forma que outros que sofreram incêndios em São Paulo. O Andraus, em 1972, queimou por 240 minutos. O Joelma (1974) queimou por 390 minutos. O Grande Avenida queimou em 1969 e também em 1981 — desta vez por 280 minutos. Nenhum dos três desabou ou “colapsou”, como dizem os engenheiros. Os três foram recuperados e voltaram a ser usados. Já o Wilton Paes de Almeida colapsou completamente com apenas 80 minutos de fogo. Por quê?

     

    Edifícios projetados e construídos em concreto armado costumam resistir a incêndios. Podem se deteriorar, mas não caem. François Hennebique, patenteou o concreto armado em 1892, para substituir metais, alvenaria e madeira nas estruturas dos prédios. Seu slogan: “Chega de incêndios desastrosos”.

    No caso do Wilton Paes de Almeida, a equipe que participou do Parecer Técnico nem sequer conseguiu encontrar o projeto estrutural do prédio, apesar de pesquisas realizadas com a colaboração, inclusive, de profissionais contemporâneos de Roger Zmekhol — autor do projeto de arquitetura. A equipe considerou a possibilidade de Zmekhol ter feito o projeto estrutural. No entanto, a filha de Zmekhol, Denise Zmekhol, informa que todos os projetos do escritório de seu pai, formado na primeira turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde também lecionou até sua morte, em 1976, eram calculados por outros profissionais. [Este trecho foi corrigido dia 7 de agosto]. Outra possibilidade é que a construtora responsável pela obra, a Morse & Bierrenbach, fechada em 2000, tenha feito o projeto estrutural.

    Três das lições aprendidas com a elaboração do parecer são que 1. estruturas de concreto mal projetadas podem ruir em incêndios, sim, mesmo que a duração seja curta; 2. que existem muitos prédios em situação similar em São Paulo, incluindo os legalmente habitados e os  abandonados. Incêndio, de novo, não é uma maldição das ocupações. E 3., que cabe aos proprietários a responsabilidade pela segurança dos edifícios, mas eles precisam ser fiscalizados. Uma das recomendações, básicas, é que sejam arquivados os projetos executivos estruturais ou projetos “como construído” — no momento de receber o Habite-se da Prefeitura.

    Helene deixou claro, em sua exposição, que o objetivo de todo este trabalho não é apontar “culpados”, mas entender o que houve. Deste entendimento fazem parte medidas a serem tomadas pelo poder público e pelos projetistas, construtores, proprietários e moradores dos prédios. A simples lista dos atores envolvidos permite dizer, também, que a responsabilidade pela segurança é compartilhada, ainda que de formas desiguais, por todos esses atores. E é um alerta para a imprensa que segue a cantilena fácil de agentes da polícia, de governos e do Judiciário paulistano, que acusam sempre o elo mais fraco da corrente, no caso, os movimentos de moradia. Se o objetivo de todos é ter edifícios mais seguros, não faz nenhum sentido voltar o olhar — e as acusações — exclusivamente a movimentos e pessoas que ocupam prédios abandonados por não ter onde morar.

    No parecer apresentado por Helene, há um manifesto do Instituto Brasileiro de Concreto (Ibracon) que fala dessas responsabilidades. Publicado em maio de 2018, o documento diz:

    “Qualquer edificação deve ser vistoriada periodicamente, como ocorre com outros bens de valor, como um automóvel ou um equipamento industrial, e deve ser alvo – automática e rotineiramente – de intervenções e modificações corretivas e de manutenção. Este acidente com vítimas fatais demonstra o descaso do Estado, proprietário do edifício, com seus imóveis e seus cidadãos, colocando em risco usuários e patrimônio, além de toda uma vizinhança, ameaçada com a falta de manutenção. (…)

    Para o Estado, o melhor seria implementar de imediato um programa de vistoria e diagnóstico desses edifícios públicos, seguido de eventual recuperação e retrofit, dando novos usos e mitigando a ocorrência de acidentes futuros.

    Uma ocupação regular, mal administrada e mal orientada é tão nefasta quanto uma ocupação irregular. Essa constatação significa que muitos condomínios e edifícios públicos acabam sofrendo, seja por desconhecimento, seja por omissão, alterações de carregamento e de segurança, que aceleram a degradação do edifício, potencializando os riscos de acidentes.”

    Destroços do prédio. No desabamento, fragmentos do edifício atingiram a igreja luterana que fica bem ao lado da construção sinistrada

     

  • OS TRAPALHÕES VIOLENTOS DA GCM E O SANTO GUERREIRO DESARMADO

    OS TRAPALHÕES VIOLENTOS DA GCM E O SANTO GUERREIRO DESARMADO

     

    A incrível história de uma arma calibre 38 deixada/esquecida por um

    Guarda Civil Metropolitano em um carro; a pancadaria dos guardas em cima

    dos moradores de rua para reaver o revólver; e como o padre Júlio Lancellotti

    ajudou a recuperar a arma que, se caísse em mãos criminosas,

    poderia ser usada para matar inocentes

    Guarda Civil Metropolitano esqueceu ou deixou jogada, na tarde de sábado (26), uma pochete com arma, munição, distintivo e seus documentos em uma viatura descaracterizada. O veículo estava estacionado na rua Jaibarás, altura do número 260, na zona leste de São Paulo. Trata-se de uma área com alta densidade de moradores de rua.

    Os moradores de rua afirmam que o policial esqueceu a pochete em cima do capô do veículo. O guarda civil metropolitano disse que a pochete estava dentro do porta-malas do carro. Afirmou que se passaram apenas seis minutos quando, ao retirar o veículo de onde o havia estacionado, percebeu que o porta-malas estava aberto e dele havia sido retirada a pochete.

    O fato é que um dos moradores de rua pegou a bolsinha e levou-a, sem saber que o carro era de um policial. Ao abrir, a surpresa: surgiu um vistoso revólver da marca Taurus, calibre 38, arma de propriedade da Prefeitura de São Paulo, acompanhada de 6 cartuchos íntegros, munição codificada da GCM de São Paulo.

    Trata-se de uma máquina mortífera que, no mercado legal de armas, é vendida por mais de R$ 3 mil. E essa máquina mortífera pode virar um tesouro para um morador de rua, se for vendida no mercado informal (lembre-se que se trata de pessoa sem roupa, sem cama, sem casa, sem comida, sem nada).

    No próprio sábado, iniciou-se uma verdadeira caçada ao revólver sumido. No boletim de ocorrência lavrado sobre o desaparecimento da arma, consta a versão do guarda civil metropolitano. Segundo ela, o furto teria ocorrido às 15h21. Mas a comunicação do fato (o registro do B.O.) deu-se apenas 3,5 horas depois, mesmo estando a delegacia a apenas 2 minutos de carro do local dos fatos.

    Dezenas de moradores de rua nas imediações do Parque da Moóca relataram aos Jornalistas Livres que foram espancados, ameaçados, enfiados em viaturas e coagidos a contar o que sabiam (e o que não sabiam) sobre a arma desaparecida.

    “Os guardas queriam informações para chegar aonde estava a arma. Diziam que viriam nos matar e que matariam o padre Julio Lancelotti, se o revólver não aparecesse imediatamente”, afirmou à reportagem um jovem, dependente de álcool e drogas, morador de rua há cinco anos e que não será identificado por razões de segurança.

    Na madrugada desta terça-feira (29), as ameaças tornaram-se mais severas e os espancamentos também. Apavorado, um morador de rua procurou o padre Júlio Lancellotti, famoso defensor do povo pobre e oprimido, para lhe dizer que havia encontrado e levado a pochete, mas que entrou em pânico ao saber que ela pertencia à GCM, tropa com uma larga ficha de abusos e violência contra a população sem teto.

    O homem resolveu devolver a arma à guarda, e pediu ao padre que avisasse ao comando que havia arremessado a pochete em um terreno pertencente à Eletropaulo, em que funciona a Estação Transformadora de Distribuição do Hipódromo, na mesma rua Jaibarás.

    Eram 13h46 da terça (29) quando dois agentes altamente qualificados da GCM (trabalham diretamente com o Comandante Geral – Inspetor Superintendente Carlos Alexandre Braga) chegaram à modesta Paróquia São Miguel Arcanjo, cujo pároco é o padre Júlio Lancellotti. Ele os levou até a estação da Eletropaulo.

     

     

    No caminho, o padre Júlio Lancellotti foi a todo momento abordado por moradores de rua. Um lhe pediu ajuda para tirar os documentos; outro queria apenas um aperto de mão. O padre chama cada um pelo nome, sorri, conversa. Ele é o protetor daqueles seres totalmente desvalidos.

     

    Perigo de Morte na Estação Transformadora da Eletropaulo

    A estação da Eletropaulo estava fechada. Ameaçadora, uma placa advertia: “Perigo de morte. Não ultrapasse”. O jeito era esperar. Por uma portinhola aberta no imenso portão de ferro, viam-se condensadores gigantescos, capazes de criar campos magnéticos poderosos. Havia perigo mesmo.

    Logo apareceu o inspetor Hernane Pereira Meleti, homem de pouca conversa, bigodes fartos, uniformizado com o fardamento azul típico da guarda, pistola Glock no coldre, cercado por três motociclistas da GCM, um dos quais, franzino, logo começou a praguejar contra “esses esquerdistas protetores de bandidos”.

    As horas passavam e nada de aparecer um funcionário da Eletropaulo para abrir o portão de ferro e garantir o acesso seguro ao interior do terreno. Por volta das 17h, chegou um outro veículo da GM/Classic Life, branco, viatura descaracterizada da GCM, pilotada por agente à paisana, que se apresentou como membro da “Inteligência” da GCM. Junto vieram mais quatro agentes sem fardamento, que o policial da “Inteligência” explicou serem P-2, agentes secretos, segundo a gíria policial:

    “Eles estavam infiltrados nas manifestações da avenida Paulista [contra o aumento das tarifas e por moradia, que ocorreram nesta terça] e foram trazidos para cá, para acompanhar esta ocorrência”, disse, como se nada fosse.

     

    Interessante notar que, para o setor de inteligência da GCM, um sujeito, para ser “esquerdista”, tem de andar de bermudas, camisetas, tênis e boné.

    Confraternização geral entre os GCMs fardados e os vestidos com bermudas. Eram amigos.

    Logo, os policiais se puseram a defender a tese de que não havia nada demais em um agente armado esquecer/deixar sua arma em cima do capô ou dentro de um carro estacionado na rua.

    “Você nunca esqueceu o seu celular no carro?”, perguntou um deles, barbado, o mais nervoso do grupo, como se o potencial letal de um celular pudesse ser comparado ao de um revólver. Ao perceber que estava sendo gravado pelos Jornalistas Livres, o agente à paisana resolveu afastar a reportagem da porta da Estação Transformadora, alegando a criação de uma “área restrita” imaginária, que ia até uma árvore na calçada. Para imprimir autoridade, já que era difícil levar a sério imposição emanada de uma pessoa que parecia um hippie no túnel do tempo, ele mostrou o distintivo: tratava-se de um sub-inspetor da GCM.

    Por volta das 18h30 havia nada menos do que 11 agentes da GCM defronte à Estação Transformadora –quase uma manifestação. Os quatro P-2, assim identificados pelo seu superior hierárquico, atravessaram a rua e foram esperar do lado de lá pela abertura do terreno. Impacientes, telefonavam toda hora para o homem “da Inteligência”, que atendia o celular, dizendo ser um chamado “do Comandante”…

    O disfarce era pífio.

    Um dos agentes disse que, caso a arma fosse encontrada, o padre Júlio Lancellotti teria de “entregar” quem lhe dera a informação. Padre Júlio, paciente como é, ensinou que a informação lhe fora confiada “em confissão”, sacramento secreto fundamental para o perdão divino, cuja violação é passível de excomunhão.

    Passava das 20h quando, enfim, a Estação Transformadora foi aberta. A arma estava lá, conforme a informação passada ao padre Júlio Lancellotti. Ainda estava dentro da pochete, com a munição e o documento do guarda.

    O revólver não foi parar nas mãos de assassinos perigosos, mas poderia ter ido.

    Poderia ser usado para resolver uma briga de bar, uma crise de ciúmes, para roubar, para sequestrar. Para matar, que é para isso que uma arma de fogo serve.

    A prefeitura de São Paulo provê cursos de capacitação periódicos, para que os guardas aprendam como lidar com suas armas. O objetivo é prevenir, entre outras coisas, que as armas acabem nas mãos de bandidos. Faltou dizer que não pode deixar uma delas sobre o capô ou sozinha dentro do carro.

    Agora, se isso aconteceu com um GCM, imagine o que poderá ocorrer com as armas que estarão com pessoas comuns, depois que Jair Bolsonaro flexibilizou a posse de armas de fogo!!

    Não é sempre que surge um padre Júlio Lancellotti para resolver as confusões em que se mete uma tropa tão trapalhona quanto violenta, como é a GCM. Que pelo menos nesta noite cesse a violência contra os moradores de rua da Moóca.


     

    OUTRO LADO:

    Jornalistas Livres encaminharam perguntas à Assessoria de Imprensa e Comunicação da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, à qual está subordinada a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo. Aqui as respostas obtidas:

    Jornalistas Livres: Qual o procedimento padrão de um GCM para manter sua arma protegida? Quais as punições que podem ser aplicadas ao policial que deixou sua arma desacompanhada, no bairro da Moóca?

    Resposta: O comando da GCM informa que foi aberta apuração para investigar a conduta administrativa do agente, em virtude do furto de sua arma. As punições podem ser desde advertência até eventual demissão.

    Jornalistas Livres: O comando da Guarda pretende abrir uma investigação sobre as violências praticadas pelos GCMs contra a população de rua, incluindo ameaças ao padre Júlio Lancellotti, para obtenção de informações sobre a arma perdida/furtada?

    Resposta: Em relação aos questionamentos de violências praticadas por guardas da corporação à população de rua ou ao padre Júlio Lancellotti, o comando da GCM informa que não recebeu nenhuma denúncia ou reclamação, sendo que adotará as medidas de apuração se receber a notificação do fato por alguma testemunha.

    Jornalistas Livres: A GCM trabalha com infiltração em manifestações? Desde quando? Qual é o dispositivo legal que permite esse tipo de atuação por parte da GCM?

    Resposta: A GCM não atua com guardas infiltrados em manifestações, nem possui em seus quadros agentes P-2.

  • Ladeira da Preguiça resiste à tentativa de higienização social no Centro Antigo de Salvador

    Ladeira da Preguiça resiste à tentativa de higienização social no Centro Antigo de Salvador

    Por Yuri Silva, com fotos de Marcelo Teles

    Aconteceu durante todo o dia deste sábado, 12, como também ocorreu no último final de semana, uma extensa mobilização de pintura de casarões na Ladeira da Preguiça (a mesma que inspirou a música de Gilberto Gil cantada por Elis Regina), em Salvador.

    A comunidade é alvo da especulação imobiliária, da gentrificação do Centro Histórico e do Centro Antigo de Salvador e de um processo que tenta colocar em prática o projeto elitista de higienização social nessa área da cidade.

    Trata-se do velho racismo territorial, já que a Ladeira fica no Centro Histórico, em área privilegiada, à beira da Baía de Todos os Santos e de empreendimentos luxuosos, entre eles o Trapiche e a Bahia Marina, além dos hotéis Fasano e Fera Palace (este último do empresário milionário Antônio Mazzafera), todos points da elite política e econômica da capital baiana.

    Durante quatro sábados, a comunidade resolveu pintar as fachadas das suas casas, a partir de um processo de mobilização amplo, que incluiu diversos atores e parceiros, como o MUSAS (Museu de StreetArt Salvador), a incubadora de projetos sociais Salvador Meu Amor, o movimento Nosso Bairro É Dois de Julho, Articulação do Centro Antigo de Salvador, Coletivo de Entidades Negras – CEN e o Centro Cultural Que Ladeira É Essa?, instituição representativa dos moradores.

    O ato, que vai até o sábado do dia 26 de janeiro, é um grito contra o racismo do poder público e um clamor pelo direito à cidade.

    Os moradores, responsáveis por preservar uma série de casarões abandonados pelos especuladores, são constantemente alvo de tentativas de expulsão por parte do poder municipal. A resistência, contudo, tem sido palavra central na vida desta comunidade.

     

     

  • Vitória! Vitória! Vitória! O Parque Augusta é uma realidade!

    Vitória! Vitória! Vitória! O Parque Augusta é uma realidade!

    VITÓRIA! VITÓRIA! VITÓRIA!
    PARQUE AUGUSTA É UMA REALIDADE!

    Assinado! Após uma luta de décadas, com direito a meses de uma ocupação artística exigindo sua criação e o nascimento de um movimento da sociedade civil em sua defesa, finalmente o Parque Augusta é uma realidade. São Paulo ganha um novo parque no coração da cidade. A vitória é mais importante se entendermos que o terreno do futuro parque é um dos mais valorizados de São Paulo e a briga com as construtoras abriu feridas que só cicatrizaram hoje. Como diz a letra da canção do Pequeno Cidadão, “vitória do verde da folha que cresce no galho!” Viva! O Parque Augusta Vive!

    PARQUE AUGUSTA DOS ANJOS DE CARA SUJA
    (Arnaldo Antunes, Taciana Barros, Edgard Scandurra)

    Parque Augusta, refúgio do nosso trabalho
    Vitória do verde da folha que cresce no galho
    Dentro da selva de pedra terás vida longa
    Debaixo daquelas árvores quero curtir sua sombra

    Largo do nosso passeio, jardim da infância
    Sobrevivente de tanta injustiça e ganância
    Vamos cuidar para sempre de ti com carinho
    O passarinho já sabe onde faz o seu ninho

    Parque Augusta, Parque Augusta!

    Eu não vejo em ti um estacionamento
    Com vaga para dois carros por apartamento
    Nem uma jaula de ferro, tijolo e cimento
    Que não tem lado de fora, só lado de dentro

    És um oásis no centro da nossa cidade
    No meio do trânsito hostil uma serenidade
    Só é preciso um mínimo de sanidade
    Pra transformar esse sonho em realidade

    Parque Augusta, Parque Augusta!