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Categoria: Mulheres lésbicas

  • FOTOS: 16ª Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo

    FOTOS: 16ª Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo

    Aconteceu hoje a 16ª Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo com o eixo “Somos Marielle: contra a criminalização da pobreza, o genocídio e a intervenção militar”. Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, veio do Rio de Janeiro para participar da marcha. A caminhada reuniu centenas de pessoas entoando palavras de ordem contra qualquer tipo de injustiça social, violência e opressão. Para homenagear esses 15 anos, a caminhada voltou a ter seu trajeto inicial, que começou na praça Oswaldo Cruz e terminou com apresentações artísticas no MASP.

  • SARAU DAS MANA EMPODERA E DA VOZ ÀS MULHERES

    SARAU DAS MANA EMPODERA E DA VOZ ÀS MULHERES

    Na última quinta-feira (26) de abril aconteceu mais uma edição do Sarau das Mana na Sala dos Toninhos, na Estação Cultura,  em Campinas (SP)

    Em sua 13ª edição, o Sarau das Mana reúne mulheres e dá voz e espaço as artistas locais, participam do evento escritoras, dançarinas, cantoras, instrumentistas, produtoras, jongueiras, sambistas, DJ,  e articuladoras do movimento hip-hop.  O sarau é realizado totalmente  opor mulheres e traz  pluralidade da arte realizada pelas mulheres que encontram seu espaço no cenário da cultura na cidade. Entre as atrações se apresentaram;  Preta que Habito, Mina Min, Nega Maay, Lucia Castro , Dj Raquel, Ma Ri,Jenny Zion, Paula 90, Ruana, Mc Carol e Kaoz.

     

  • ONU critica duramente Intervenção Militar no Rio de Janeiro

    Por Gustavo Aranda

    Em comunicado divulgado pela ONU, dez relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos se reuniram, em raro procedimento dentro do Conselho, para cobrar do Brasil providências claras em relação ao assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, e para que a política de segurança pública seja revista, principalmente no que tange à ocupação militar nas favelas cariocas.

    “Pedimos às autoridades brasileiras que usem este momento trágico para revisar suas escolhas em promoção de segurança pública e, em particular, para intensificar substancialmente a proteção de defensores de direitos humanos no país”.

    Os relatores consideram “profundamente alarmante o assassinato da vereadora Marielle Franco, mulher negra e proeminente defensora de direitos humanos que criticou o uso da força militar no Rio de Janeiro”. Segundo informações recebidas pelos relatores, poucos dias antes de sua morte, Marielle denunciou o uso da força da polícia militar na favela de Acari, na zona norte da cidade. Como vereadora, Marielle integrava a comissão que acompanha a intervenção das Forças Armadas no Rio de Janeiro.

    “O assassinato de Marielle é alarmante, já que ele tem o objetivo de intimidar todos aqueles que lutam por direitos humanos e pelo Estado de direito no Brasil”.

     

     

    Além do comunicado conjunto, os dez relatores escreveram uma carta ao governo brasileiro, exigindo resposta em até 60 dias. Na carta eles informam que no último fim de semana, oito pessoas morreram durante uma operação policial em uma favela no Rio de Janeiro. E afirmam que “segurança pública não deve jamais ser feita às custas de direitos humanos. Respostas repressivas que miram e marginalizam pessoas pobres e negras são inaceitáveis e contra-produtivas”.

    Pedem ainda “a realização de uma investigação rápida e imparcial dos assassinatos”, ressaltando que a execução de Marielle “é um sintoma assustador dos atuais níveis de violência no país”.

    “Pedimos às autoridades que ponham fim à violência, reafirmem publicamente o papel fundamental e legítimo das mulheres defensoras de direitos humanos e condenem a violência e a discriminação que são promovidas contra elas”.

     

    Concluem o comunicado, afirmando que “Marielle foi uma extraordinária defensora de direitos humanos. Ela defendeu os direitos dos negros, das populações LGBTI, das mulheres e dos jovens das favelas mais pobres do Rio. Marielle será lembrada como um símbolo de resistência para comunidades marginalizadas historicamente no Brasil”.

    O comunicado é assinado por Dubravka Šimonović, relatora especial sobre violência contra mulher, suas causas e consequências; Agnes Callamard, relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias; Tendayi Achiume, relatora especial sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada.

    Assinaram também Michal Balcerzak, presidente do Grupo de Trabalho dos Especialistas em Pessoas de Origem Africana; Victor Madrigal-Borloz, especialista independente em proteção contra violência e discriminação baseada em orientação sexual e identidade de gênero; Alda Facio, presidente do Grupo de Trabalho sobre temas relacionados à discriminação, legal ou prática, contra a mulher.

    E ainda, Juan Pablo Bohoslavsky, especialista independente sobre os efeitos de dívida externa e outras obrigações financeiras internacionais dos Estados sobre o gozo pleno de todos os direitos humanos, particularmente direitos econômicos, sociais e culturais; Michel Forst, relator especial sobre a situação dos defensores de direitos humanos; Philip Alston, relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos; Leilani Farha, relatora especial sobre moradia adequada como componente do direito a um padrão de vida adequado e o direito de não discriminação nesse contexto.

    Segundo a ONU, os especialistas fazem parte do que se conhece como Procedimentos Especiais do Conselho dos Direitos Humanos. Procedimentos Especiais são os mecanismos independentes de monitoramento de direitos humanos do Conselho, o maior órgão de especialistas independentes no Sistema de Direitos Humanos da ONU.

    Os titulares são especialistas independentes em direitos humanos nomeados pelo Conselho para tratar situações específicas de países ou questões temáticas em todas as partes do mundo. Os especialistas não são funcionários da ONU, são independentes de qualquer governo ou organização e não recebem um salário por seu trabalho, contribuindo apenas com sua capacidade individual.

  • Sargentos gays vão ao CNJ contra desembargadora que caluniou Marielle

    Sargentos gays vão ao CNJ contra desembargadora que caluniou Marielle

     

     

    Os sargentos gays FERNANDO ALCÂNTARA DE FIGUEIREDO e LACÍ MARINHO DE ARAUJO ganharam fama em junho de 2008, quando denunciaram a homofobia institucional no Exército do Brasil. Primeiro casal homossexual assumido na ativa das Forças Armadas no Brasil, os dois foram matéria de capa da revista Época, o que lhes custou uma série de retaliações envolvendo ordem de prisão, atentados e até mesmo tortura física. O caso de ambos os sargentos já foi admitido pela Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acolheu a denúncia deles e transformou o Estado brasileiro em RÉU, acusado do crime de ódio; no caso, homofobia.

    Desde então, Fernando e Lací lutam pelo reconhecimento de seus direitos e de todos aqueles que sofrem com o preconceito. Assim, em 1º de dezembro de 2010, fundaram o Instituto SER de Direitos Humanos e da Natureza, organização sem fins lucrativos que atua em direitos sociais e ambientais.

    A desembargadora MARÍLIA CASTRO NEVES, em foto no seu perfil do facebook

    Dessa forma, entre outras frentes de luta, eles ingressaram nesta terça-feira (20/3) com uma Reclamação Disciplinar junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), contra a flagrante atuação degradante por parte da desembargadora MARÍLIA CASTRO NEVES, que escreveu um post nas redes sociais, em que caluniou a vereadora assassinada Marielle Franco, dizendo que ela “estava engajada com bandidos” e “não era apenas uma lutadora”.

    Fernando e Lací requisitaram ao CNJ a “urgência” e a “punição” que o caso requer. Abaixo, a reclamação deles, entregue ontem ao CNJ.

  • Como a mídia classe média vê o assassinato de Marielle e a visão das quebradas

    Como a mídia classe média vê o assassinato de Marielle e a visão das quebradas

    O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) comoveu a sociedade. Milhares de pessoas foram às ruas no dia 15, o caso ganhou repercussão internacional. Pessoas que compareceram às ruas testemunharam que o clima é de “indignação”.

    A banda nazifascista ficou encurralada. O deputado Jair Bolsonaro recolheu-se ao silêncio. Aqui e ali apareceram declarações tipo “defensora de bandidos tem que morrer”, mas ficaram nas bolhas da extrema-direita.

    A Rede Globo e toda a mídia hegemônica cobriu amplamente o episódio. Inclusive com atitudes irresponsáveis, como a divulgação do nome da assessora da parlamentar, que sobreviveu ao atentado, colocando a vida dela em risco.

    E isso forçou o governo golpista e todo o seu “staff” a se posicionar. Prometem investigar com celeridade o caso, pressionados a dar uma satisfação à opinião pública nacional e internacional.

     

    Manifestação na av. Paulista, quinta 15.03.2018. Foto Christina Braga | Jornalistas Livres

    Os analistas da mídia hegemônica continuam dando escorregadas. A tônica é que o assassinato da vereadora põe em xeque a intervenção militar no Rio de Janeiro. Não pelas críticas que a vereadora fazia, mas por demonstrar que a segurança pública no Rio de Janeiro continua falha.

    Mas o assassinato de Marielle Franco não é um problema de “falha de segurança pública”. Não foi um assalto. Não foi um seqüestro. Todos os indícios apontam para um crime político.

    E é justamente disso que os analistas da mídia hegemônica querem fugir. É fato que o golpe de agosto de 2016, que levou Temer ao poder, abriu uma caixa de pandora. O bloco que está no poder junta o que há de mais abjeto na sociedade civil brasileira. Muitos manifestantes de verde-amarelo que defendiam a derrubada da presidenta Dilma faziam apologia à ditadura militar e até a torturadores daquele período. Esta turma faz parte do poder que esta mídia hegemônica apoiou e apóia.

    Os argumentos são bizarros. O primeiro que vou citar aqui é do Josias de Souza, do portal UOL. Diz ele em sua coluna do dia 15/3, que o assassinato de Marielle é um pavio que ascenderá as mobilizações de rua como foi em 2013. Comparação incorreta. Aumento de 20 centavos no transporte público e PEC 37 não se comparam a tirar a vida de uma liderança feminina, negra e da periferia. A identificação com as bandeiras e a postura de Marielle não é a mesma que levou pessoas para as ruas em 2013. Ela era uma das raríssimas vozes representativas dos guetos periféricos no parlamento e foi calada de forma violenta.

    Os manifestantes identificados com Marielle sentiram que suas vozes também foram caladas. Por isto, as conseqüências deste fato serão bem diferentes do que ocorreu em 2013. Principalmente porque se somam a uma crescente insatisfação da população da periferia com a situação do país que está bem somente nas páginas de economia dos jornais da mídia hegemônica. Desemprego, aumento da miserabilidade, corte das políticas públicas e aumento da violência são coisas que já vêm de há tempo causando profunda irritação na população. A liderança folgada de Lula nas pesquisas de intenção de votos, não obstante a verdadeira campanha midiática contra ele, é um indicador disso.

    Já o jornalista Fernando Rodrigues, do Poder 360, vai na linha que o assassinato de Marielle Franco expôs as falhas da intervenção militar, que demonstrou a sua ineficiência no combate ao crime organizado e que, por conta disto, tornará o tema da “segurança pública” central na disputa eleitoral. Por isto, considera que o fato foi “disruptivo” no sentido de mudança da agenda pública e da situação do governo Temer.

    O mesmo enfoque incorreto: tratar o caso como um “problema de segurança pública” e não como conseqüência da direitização da sociedade cristalizada com o golpe de agosto de 2016.

    Estes enfoques decorrem de problemas de enfoque ideológico dos autores e, de quebra, da mídia hegemônica.

    Primeiro, partem do pressuposto de que o Brasil vive uma “normalidade democrática” o que não é verdade. Exemplos: o uso do lawfare contra Lula, os abusos cometidos pelo Poder Judiciário em vários episódios, o aumento de narrativas nazifascistas e a parcialidade cada vez mais intensa de órgãos, como o STF (cuja presidenta não tem pruridos em receber um presidente da República que está sendo julgado em um encontro privado e fora da agenda oficial e que também topa participar de um jantar bancado por uma transnacional do petróleo). Há tempo que o tal Estado Democrático de Direito foi destroçado no país.

    Segundo, que fatos como este assassinato decorrem de um “mau funcionamento” das instituições e não são produtos de uma determinada estrutura política.

    Terceiro, aí é de fato uma questão de classe, não entendem os sentimentos e desejos de quem mora nas periferias e nas quebradas. O pensamento dessa população não é o mesmo que é hegemônico na classe média como os jornalistas aqui citados e os seus leitores. O que move o pensamento e os desejos é a sobrevivência e a construção de uma vida digna. Que estão sendo ceifadas com o corte de gastos, com a precarização do trabalho via a reforma trabalhista, com a reforma da previdência e com a militarização dos espaços periféricos onde residem. Pouco importa aumento do PIB de 1,5% e redução do déficit fiscal se isto foi obtido a custa de desemprego e corte de políticas públicas. Pouco importa as diatribes da República de Curitiba se falta merenda escolar – principalmente quando ficou nítido que os pseudomoralistas do Judiciário querem manter mordomias, como o auxilio-moradia de 5 mil reais.

    E quando existem poucas vozes representativas destes segmentos sociais nos parlamentos dominados por coronéis, oligarcas, empresários, latifundiários, sacerdotes religiosos, elas são caladas violentamente. É esta a indignação que explodiu. Só não percebeu quem continua fazendo “jornalismo” e “análise política” sentado em gabinetes acarpetados e com ar condicionado.

    A indignação é contra a perversidade de um Estado que, além de fazer passar fome, não quer que se grite que está com fome.

     

    Dennis de Oliveira é professor livre-docente em Jornalismo, Informação e Sociedade pela ECA/USP. Possui graduação em Comunicação Social Habilitação Em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (1986), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1992) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1998). Atualmente é professor em RDIDP (Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa) na Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Popular, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação e cultura, processos mediáticos e culturais, comunicação e recepção, processos mediáticos e jornalismo, mídia e racismo, e integração na América Latina. É coordenador do CELACC (Centro de Estudos Latino Americanos de Cultura e Comunicação), vice-líder do Alterjor (Grupo de Pesquisa de Jornalismo Alternativo e Popular) e membro do Neinb (Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro), todos da Universidade de São Paulo. É professor do Programa de Pós Graduação em Mudança Social e Participação Política da EACH/USP e do Programa de Pós Graduação em Direitos Humanos da Faculdade de Direito da USP. Atua como consultor em comunicação, educação e cultura em instituições públicas, particulares e organizações não governamentais.

     

    ***Este artigo foi escrito no dia 16 de março de 2018

  • Prefeitura sabota encerramento do Dia da Mulher no fim de semana

    Prefeitura sabota encerramento do Dia da Mulher no fim de semana

    Mais de cinco mil mulheres participaram da Marcha do dia 8 de março em Florianópolis. Sucesso da atividades da semana provocou boicote do encerramento pela prefeitura. Foto: Sérgio Lds

    Florianópolis é uma das cidades que mais ganham noticiário no país por casos de feminicídio e crimes hediondos ligados à intolerância de gênero. No entanto, isso parece não preocupar a prefeitura. As entidades organizadoras do 8M Brasil em Santa Catarina denunciaram a Prefeitura Municipal de Florianópolis pelo boicote das atividades de encerramento do Dia da Mulher neste final de semana. Segundo uma nota de repúdio dirigida ao prefeito Gean Loureiro e publicada ontem (10/3), na página do 8M, “atos deliberadamente machistas e opressores” por parte do poder público municipal culminaram com o cancelamento do evento marcado para este sábado há mais de um mês. Depois de impor na última hora uma série de entraves burocráticos, a prefeitura não autorizou o uso do espaço público previsto para as atividades, que começariam com um cortejo de mulheres às 11 horas, no Instituto Cultural Arcoíris, e encerrariam às com uma festa e um ato político e cultural na Bodega La Kahlo, das 14 às 20 horas de sábado.  Em repúdio à sabotagem, o 8M realizou, no horário divulgado, o que chamou de “Cortejo Baque de mulheres”, em frente ao Arcoíris. Em forma de jogral, as mulheres denunciaram os desmandos, sabotagens e intimidações que as entidades promotoras da semana da mulher sofreram na organização dos eventos, lembrando que Florianópolis é uma das cidades mais destacadas do país pelos casos de feminicídio e lesbo e homofobia. Confira o protesto no vídeo ao vivo da La Kahlo:

    Também em resposta ao boicote, as feministas adiaram a realização dos atos de encerramento para o dia 17 de março, próximo sábado, quando prometem vir em dobro. “Vamos fazer um ato de fechar a Hercílio Luz no dia 17 de março”, avisa a advogada Íris Gonçalves, da coordenação geral. “A desautorização do espaço e outras ações intimidantes tiveram por objetivo boicotar e coibir as atividades de resistência neste dia”, afirma a documentarista Adriane Canan, coordenadoras da comissão de comunicação do 8M em Santa Catarina. “A prefeitura está cerceando o direito cidadão de ocupar os espaços públicos”, acrescenta Cristine Larissa Classen, que coordenou as atividades culturais da Semana da Mulher. “Não resta dúvida que é uma perseguição a tudo o que representa o 8M: mulheres na rua lutando por direitos trabalhistas e denunciando as múltiplas formas de violência da sociedade machista”, afirma a advogada Íris Gonçalves, da coordenação do 8M. Na avaliação das integrantes do movimento, é também uma perseguição à La Kahlo Bodega, um espaço cultural que se declara feminista e se configura como um espaço aberto à diversidade de gêneros, como reduto de mulheres do movimento LGBT. “Não vamos nos deixar calar e tomarem nossos direitos ao espaço público”, avisa Cristine Larissa Classen.

    Cores de Aidê, bloco de mulheres, abre a marcha na avenida Paulo Fontes. Foto: Raquel Wandelli
    PROGRAMAÇÃO CONSCIENTIZA CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO

    Depois do sucesso das realizações da Semana e do Dia Internacional da Mulher em Florianópolis, pelo segundo ano consecutivo, parece que os entraves burocráticos impostos pela Prefeitura não vão intimidar a organização do 8M Brasil em Santa Catarina. “No dia 17 de março vamos voltar e será maior”, garantem as coordenadoras. Sob o mote “É tempo de Rebelião”, a grande marcha das mulheres do dia 8 de março reuniu mais de cinco mil pessoas em passeata por mais de duas horas pelas principais ruas da cidade. Gritando pela tolerância, pelo fim à violência contra a mulher, acenaram bandeiras de todas as cores e partidos, movimentos sociais organizados, grupos de cultura popular, trabalhadoras urbanas e ruais, sindicalistas. Todas unificadas por um único grito “Fora Temer”, pela volta da democracia, contra a reforma da previdência e pelo fim dos ataques aos direitos humanos e sociais e, sobretudo, pelo basta à opressão da mulher. E foram mais de 20 mil pessoas envolvidas no conjunto de atividades desenvolvidas durante toda a semana em Florianópolis e nas principais cidades de Santa Catarina. Mesas redondas, rodas de conversa, oficinas, mostra culturais, seminários, palestras, manifestações artísticas, troca de cartas com mulheres e mães presidiárias tomaram conta do Largo da Alfândega, das 8 às 23 horas durante todo o dia 8 de março. O dia de lutas só terminou com o final da Batalha da Alfândega, uma disputa de grupos de rap e cultura popular a partir de temáticas feministas e sociais, toda programação voltada à conscientização e sensibilização para a tolerância e diversidade, como acentuam as organizadoras.

    Para as feministas, a prefeitura tenta, em vão, enfraquecer o movimento, proibindo suas realizações de forma autoritária, através de burocracia e boicote direto à continuidade dos eventos ligados ao dia mundial de luta das mulheres organizados pelo movimento feminista 8M. “Fica evidente que essa é uma retaliação à liberdade e a luta pela igualdade e pela democracia”, acrescenta Shirley Azevedo, coordenadora do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MTU Santa Catarina) .  “Não vamos nos calar! Este chamado é para que os nossos direitos ao uso de espaços públicos continuem existindo e sejam respeitados! Essa luta é de todos e todas! Bora pra rua com Movimento Baque Mulher e 8M batucar pelos nossos espaços de direito!”, dizia a chamada convidando para o Cortejo Baque Mulher em repúdio ao boicote do encerramento do 8M!

     

    CARTA DE REPÚDIO DO 8M SANTA CATARINA À PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS E AO CERCEAMENTO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MOBILIZAÇÃO DAS MULHERES!

    Prefeito Gean Loureiro, você não vai nos calar!

    O oito de março é marcado pelo Dia Internacional da Mulher e, assim como em 2017, o movimento 8M Santa Catarina, que reúne mulheres de diversas representações da Grande Florianópolis, organizou suas ações para a semana do 8 de março com bastante antecedência. Entre as burocracias necessárias para ocupar espaços públicos da cidade, já bastante reduzidos para uso da cidadania, estão as licenças e protocolos, os quais o 8M Santa Catarina respeitou e organizou junto aos órgãos responsáveis. E, sim, obtivemos as licenças obrigatórias.

    Acontece que a Prefeitura não fez sua parte. E não só isso: tentou ao máximo nos boicotar e calar nossas vozes. Em uma atitude deliberadamente machista e opressora, permitiu que a Feira da Alfândega acontecesse na quinta-feira, dia 8, justamente no dia previsto para a grande atividade das mulheres, preparada para aquele espaço das 7 horas da manhã até a noite. Ressaltamos aqui que a feira normalmente não abre nas quintas-feiras.

    É importante enfatizar que apoiamos a agricultura familiar, as feirantes e os feirantes, e acreditamos que a feira é de extremo valor para fazer oposição às grandes multinacionais que dominam o mercado. As agricultoras e agricultores são nossas companheiras e nossos companheiros! Nossa crítica não é a eles, mas às autoridades municipais.

    As ações da Prefeitura para boicotar e coibir as atividades de resistência neste dia foram evidentes, incentivadas, inclusive, pelo secretário da Prefeitura que insistiu que alguns feirantes ficassem bem em frente de espaços de nossas atividades, bloqueando e impedindo circulação. Em frente ao coreto, onde aconteceriam as atividades culturais, por exemplo, sobraram poucos metros livres. Além de tudo, a Prefeitura ainda tentou se aproveitar da nossa organização colocando seu balão de identificação. No mesmo dia, as mulheres conseguiram que o balão fosse retirado. A atual gestão da Prefeitura de Florianópolis não nos representa!

    As atitudes de intimidação não param por aí.

    No sábado, 10, as atividades do 8M Santa Catarina continuam e teríamos um evento no bar “La Kahlo”, espaço conhecido por ser reduto das mulheres e da comunidade LGBT, no centro de Florianópolis. Entretanto, foram inventadas pela Prefeitura algumas burocracias de última hora para liberação da atividade, mesmo com as taxas já pagas, documentos enviados e todos os protocolos respeitados pelo 8M Santa Catarina . Na sexta, 9, a Prefeitura começou a solicitar outros documentos. Quando representantes do 8M Santa Catarina chegaram com eles em mãos, as pessoas da Prefeitura, as que deveriam receber e liberar, disseram que “o expediente havia fechado”.

    Eles acham que vão nos calar, mas se enganaram!

    As mulheres organizadas no 8M Santa Catarina não se calarão. Vamos denunciar o boicote e a opressão machista da Prefeitura de Florianópolis aos quatro cantos. A retaliação à liberdade e à luta das mulheres pela igualdade e a democracia, assim como a hostilização, burocratização e criminalização do uso dos espaços da cidade por todos os movimentos será denunciada. A Prefeitura de Florianópolis, com o uso da burocracia e da força, vem cotidianamente fechando espaços públicos. Mas a cidade é de todas e todos. A Prefeitura não pode impedir que nos manifestemos. Não à repressão, aos golpes cotidianos nos direitos, aos ataques às trabalhadoras e trabalhadores, em todos os níveis.

    Quando impede as mulheres de ocuparem espaços em Florianópolis, estão mexendo também com todas as mulheres do mundo, pois as atividades do 8M Santa Catarina acontecem junto com as atividades de mulheres em todos os continentes, numa ação global que levou milhões de nós às ruas no 8 de março. Em 2019 vai ser maior!

    Contra qualquer abuso de autoridade, estaremos em luta, sempre! Nós, mulheres, não tememos burocracias e intimidações de nenhum nível. Resistimos até hoje e continuaremos resistindo! Estamos permanentemente organizadas e em #TempoDeRebelião.