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Categoria: Iraque

  • Dan Kovalik – No More War

    Dan Kovalik – No More War

    O advogado e especialista em Direitos Humanos Daniel Kovalik, professor na Escola de Direito da Universidade de Pittsburgh, realizou um webinar no último dia 14 de julho onde comentou as mais recentes denúncias sobre violações e assassinatos de mulheres ocorridas em bases norteamericanas pelo mundo.

    Dan Kovalik é autor de vários livros críticos à política externa dos EUA sendo o último deles “No more war”. Quase todos os títulos podem ser encontrados no formato e-book ou encomendados pela Amazon.

    Transcrição, tradução e legendas: Juliana Medeiros
    Revisão: Maria José Campos


    Deixe-me começar com alguns eventos mais recentes.

    Eu hoje li algo sobre uma servidora da marinha, Thae Ohu – eu acredito que ela seja uma vietnamita-americana e militar – que foi sexualmente abusada por seus colegas de marinha. Quando ela reclamou com seus oficiais superiores foi colocada na prisão militar, onde continua presa.

    O desenrolar de outra história tem obtido também muita atenção, a de Vanessa Gillen, uma soldado que aparentemente foi morta e desmembrada por um colega soldado [em uma base] nos EUA.

    Então, por que estou trazendo esses casos? Em grande parte por conta do que vemos com frequência aqui, na grande mídia dos EUA (NPR, NYT..). Eles dizem: “Hey, os EUA não podem deixar lugares como o Afeganistão, porque precisamos estar lá para proteger as mulheres afegãs”. Certo? Bom, vamos encarar o fato de que o governo dos EUA sequer pode proteger seus próprios soldados, as mulheres soldados mas alguns homens também, dos seus próprios companheiros.

    Um em cada 30, pelo menos 1 em 30 – e esses números são os “oficiais”, portanto provavelmente são mais altos – 1 em cada 30 mulheres em relatórios militares já foram sexualmente violentadas por seus colegas soldados. Esse é um problema gigantesco! E de novo, se os militares só podem lidar com esse tipo de problema colocando pessoas na prisão por reclamarem de terem sido sexualmente violentadas, como eles poderiam proteger mulheres em outros países? E esse é um fato que nós já sabemos: eles não podem.

    Então, por exemplo, no Afeganistão nós temos gente como [o jornalista] Scott Simon na [rádio] NPR dizendo: “nós não podemos deixar o Afeganistão e deixar as mulheres nas mãos do Talibã, elas serão abusadas”.

    Vejam, o Talibã não é bom e eles são cruéis com as mulheres, sim. Mas agora mesmo, com soldados norte-americanos em solo lá [no Afeganistão] e eles já estão [na região] nos últimos 19 anos, indo para o 20º, o Afeganistão segue sendo o pior país no mundo, segundo a ONU, para os direitos das mulheres. O pior!

    Então, voltamos à pergunta: o que os EUA estão fazendo para proteger as mulheres no Afeganistão? O que eles fizeram nos últimos 50 anos?

    Os EUA em 1979 apoiaram [fundamentalistas islâmicos] Mujahedin, incluindo um de seus principais líderes, Osama Bin Laden, a iniciar atividades terroristas no Afeganistão contra o governo socialista que havia lá (e que protegia os direitos das mulheres) para derrubar a presença da URSS no Afeganistão. Nós sabemos disso, a partir do Relatório de Segurança Nacional do ex-Conselheiro Zbigniew Brzezinski do [ex-presidente] Jimmy Carter. Ele admitiu isso: que os EUA apoiaram o Mujahedin não para lutar contra as tropas soviéticas no Afeganistão, mas para tirá-los de lá. E foi exatamente o que aconteceu.

    Os EUA vêm dando apoio a esse jihadismo de direita e anti-feminista no Afeganistão desde 1979. E agora nós ouvimos que os EUA não podem sair do Afeganistão para não deixar as mulheres à sua própria sorte? Isso não faz nenhum sentido!

    Eu gostaria de ler algumas passagens do meu livro para dar-lhes uma ideia sobre esses temas.

    O capítulo 9 cujo título é: “As forças armadas dos EUA não são uma organização feminista”. De cara, você poderia dizer “eu nunca pensei que pudesse ser uma organização feminista”. E de novo, de várias maneiras, somos levados a acreditar nisso. Então, aqui está uma parte desse capítulo:

    “É sabido que durante a guerra dos EUA no Vietnã, por exemplo, o estupro era, de acordo com o testemunho dos próprios soldados dos EUA: um “procedimento de operação padrão” e os homens que serviram e mataram no Vietnã eram considerados por seus companheiros como “veteranos em dobro” se eles estuprassem mulheres e meninas vietnamitas, e também todos que fossem considerados inimigos ou ainda “alvos justos de estupro”.

    E de novo: “companheiros, co-membros da mesma unidade militar também foram violentados em cenários de combate.

    Um estudo preliminar de mulheres veteranas no Vietnã estima que tenha sido mais de 29% das mulheres militares norte-americanas que serviram no Vietnã, as vítimas de tentativas ou violações sexuais completas pelos próprios colegas militares dos EUA.

    Agora, você poderia dizer: “e o que dizer da Segunda Guerra Mundial? Nós éramos os caras bonzinhos!”. Bom, o Vietnã não foi a única vítima desse procedimento, nem mesmo considerando na que chamamos “Guerra do Bem” [II Guerra Mundial], segue mais um trecho do livro:

    “As forças aliadas, incluindo as forças dos EUA, se envolveram em estupros inclusive de “cidadãos de países aliados”. Por exemplo, como um artigo do Duke Law Journal explica, “o estupro de mulheres francesas por soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial foi suficientemente perverso para provocar uma diretiva do quartel-general do General Eisenhower em dezembro de 1944 para o Comando das Forças Armadas dos EUA anunciando que o General estava gravemente preocupado e instruindo que rápidas e apropriadas punições fossem administradas”. Isso porque aparentemente, os estupros cresceram 260% depois do “Dia D”! E nesse caso agora, porque as tropas americanas estavam usando largamente suas armas (apontando mesmo) para cometer estupro contra mulheres aliadas, mulheres francesas [na ocupação] na França.

    Jean Bricmon em seu livro “Imperialismo Humanitário” diz que quando você vai para uma guerra o resultado é a tortura. Inevitavelmente. Apesar de todas as regras que temos sobre guerras, de proibir torturas, de proibir civis como alvos, de cuidar para que civis sejam protegidos, os que invadem outros países sempre torturam essas pessoas nesses países.

    E eu adicionaria a isso, e não estou sozinho, que muitos estudos apoiam a afirmação de que também as guerras agressivas [não defensivas] significam sempre estupros. Quando nossos soldados vão para a guerra no Iraque, no Afeganistão, eles estupram. Então, essa noção de que os EUA estão nesses países para proteger as mulheres é inacreditável.

    Tem esse outro grande livro.. estou tentando lembrar o nome do autor agora, eu o citei no meu livro, ele fala sobre a complexidade das bases norte-americanas ao redor do mundo.. David Vine, creio que é esse o nome.

    Nós temos mais de 800 bases militares pelo mundo e em todas as bases militares dos EUA, nas mais de 800 delas, sempre houve funcionários civis em serviço nessas bases. Nossos soldados, adicionalmente a estuprarem suas próprias companheiras [militares] tem abusado de mulheres [civis] em todas essas bases. Isso é excepcionalmente bem aceito, ninguém se assusta com isso.

    Sabe, nós falamos sobre como o Japão abusou de mulheres da Coreia durante a Segunda Guerra Mundial e a Coreia continua reclamando sobre isso e o Japão jamais se desculpou. E [achamos que] isso é legítimo. Mas e sobre as mulheres que os soldados americanos abusaram todos esses anos e continuam fazendo?

    Esse é o grande ponto que eu tentei trazer no meu livro. Essa ideia de que os EUA e o Ocidente estão saindo pelo mundo para proteger os direitos humanos e protegendo pessoas de genocídios é uma fantasia. Mas é uma fantasia com um propósito. Nós nos convencemos de que isso é verdade para justificar o contínuo gasto de mais de um trilhão de dólares por ano atualmente e as contínuas guerras agressivas ao redor do mundo.

    Um grande exemplo disso é a invasão da Líbia em 2011. E por que esse tão enigmático exemplo? Primeiro, pelo lado americano, ela foi liderada por Barack Obama e por três conselheiras que realmente empurraram os EUA a participar desse ataque da OTAN na Libia. E essas foram Samantha Power, Susan Rice e Hillary Clinton. Elas pressionaram para que ele entrasse nessa “incursão humanitária”. Mas nós sabemos agora, como muitos de nós já sabíamos então, que essa intervenção humanitária era uma mentira.

    Houve três principais mentiras para justificar o ataque da OTAN na Líbia:

    Número UM e a mais ultrajante de todas – que a Hillary Clinton gostava muito de promover – de que Muammar Gadafi estava distribuindo Viagra às suas tropas para praticar estupros em massa na Líbia; a Anistia Internacional mais tarde derrubou essa acusação, ninguém conseguiu encontrar qualquer evidência disso.

    DOIS, a denúncia – de novo, levada por Samantha Power, Hillary Clinton e Susan Rice – de que Gadaffi estava a ponto de cometer um genocídio em Benghazi; mas se olhamos os e-mails internos particularmente da equipe de Hillary Clinton [e, lembrando, eles também estão no meu livro] nós vemos a equipe de Hillary comentando entre eles que, quando a missão OTAN/Obama na Líbia começou, não havia qualquer preocupação com a questão dos direitos humanos em Benghazi. Que tudo já havia acabado e a oposição havia tomado conta de Benghazi e não havia qualquer risco [aos direitos humanos] naquele momento.

    A TERCEIRA e pior leviandade, foi a de que “mercenários negros” estavam sendo usados por Muammar Gaddafi para impor essa guerra contra seu próprio povo. Alguns grupos de direitos humanos e própria Anistia Internacional, inicialmente, apoiaram essa acusação. Embora a Anistia Internacional tenha, tarde demais, derrubado essa acusação. O que eles acabaram dizendo foi: “Não. Desculpem, não eram mercenários, eram trabalhadores estrangeiros, da África Subsaariana”. E, a propósito, a mídia na época até dizia que se podia identificar os mercenários negros, porque eles usavam capacetes amarelos. Claro, porque eles eram trabalhadores da construção!

    Então, essa mentira, não apenas pavimentou o caminho para essa intervenção na Líbia, a outra coisa que essa mentira fez foi criar um genocídio na Líbia. Porque os jihadistas, apoiados pela OTAN para derrubarem Gaddafi, começaram a atacar qualquer um com a pele negra, baseados nessas mentiras.

    Eles exterminaram cidades e localidades inteiras com população negra africana, mataram negros africanos, aprisionaram em massa, e até hoje ninguém fala disso! E os negros subsaarianos continuam sendo colocados nas ruas da Líbia e vendidos, como escravos! 

    Esse é o resultado da “intervenção humanitária” na Líbia, a que quase ninguém nos EUA jamais se opôs. Até mesmo [o programa de jornalismo independente] “Democracy Now” foi um veículo de apoio para essa invasão. E até hoje, não só Democracy Now, NPR [National Public Radio] mas muitos outros se recusam a rever os fatos sobre essa invasão, em ser honestos com suas visões em apoiar isso. E para ser franco, muito poucos se opuseram ao envolvimento dos EUA na Líbia.

    E você sabem, esse tipo de coisa foi o que me motivou a escrever esse livro. A guerra, a guerra imperialista é uma imensa parte do problema dos EUA.

    Eu vou lhes dar outro exemplo disso, recentemente Trump anunciou que queria remover 900 tropas da Alemanha. E queria começar a remover também as tropas do Afeganistão e trazê-las para casa. E nós vemos agora os Democratas, particularmente os que deram ouvidos a Liynn Chenney [Republicana], a mulher de Dick Chenney, que tentou aprovar a legislação para prevenir Trump de remover essas tropas. E se nós olhamos para os Democratas e os Liberais, eles na verdade estão atacando à direita de Trump em relação a esse tipo de problema. E acho que precisamos ser honestos sobre isso, com as cores que isso tem.

    Porque votar em Joe Binden em novembro? É, eu provavelmente vou, eu acho que ele também está entre as pessoas mais cruéis, mas eu também sei que as pessoas podem lutar contra Binden cada centímetro para evitar que ele continue essas guerras intermináveis no mundo.

    Outro exemplo, é esse outro novo inimigo amargo de Trump, John Bolton, que foi seu Conselheiro de Segurança Nacional, ele foi tanto um propagador de guerras, que Trump chegou a dizer: “eu tenho o melhor cara, ele pode ir comigo a qualquer lugar”. E Trump estava muito certo sobre isso.

    Então, Bolton escreveu esse livro com coisas sobre Trump que estão “bem descritas”, sabe como é, mas Bolton se tornou um herói para muitos liberais [esquerda] nos EUA porque ele estava “atacando Trump”. Só que ele estava [no livro] atacando Trump à direita, por exemplo, dizendo: “se Trump for reeleito ele vai encontrar-se com o Presidente Nicolás Maduro da Venezuela”. O que a propósito eu acho que seria uma coisa boa, eu gostaria que um presidente dos EUA fizesse isso. Mas porque foi Trump quem teria ganhado para fazer isso, os liberais estão dizendo: “ah, isso é ruim, ele é mau, é um ditador etc”.

    Então, nós temos que ter nossos princípios nessas questões, o primeiro é o princípio antiimperialista. Não importa quem esteja no comando, eu espero que possa ser Joe Binden, mas se é Joe Binden, nós tampouco vamos poder dormir. Temos que continuar pressionando nossos governos para encerrar essas guerras intermináveis.

    Ok, então esses são meus marcos principais. A propósito eu estou ao vivo no meu Facebook com meu celular e estou ao mesmo tempo no Zoom com meu computador, então é meio difícil ler todos os comentários e peço desculpas por isso. E eu nem sei que horas são. Vocês, amigos, tem comentários, perguntas, considerações, eu estou a postos para responde-los.

    Ok, obrigado Paul. Para o pessoal que está ao vivo no Facebook, eu quero dizer que vou responder agora uma pergunta do Reverendo Paul Dordal, ex-congressista, e ativista pela paz de Pittsburgh, que está no Zoom, vá em frente Paul.

    Claro Paul, bom ele me pediu mais exemplos sobre essas falsas alegações de “intervenções humanitárias” dos EUA. A propósito, Paul serviu como Capelão Militar durante a invasão do Iraque, tá certo Paul? Certo.

    Bom, há muitos exemplos, eu poderia voltar à outra história do meu livro no que eu acredito que foi nossa primeira “intervenção humanitária” e essa foi a “intervenção humanitária” do Rei Leopoldo II, da Bélgica, no Congo. Que teve início no final do século 19.

    Vocês provavelmente já aprenderam um bocado sobre isso porque durante os recentes protestos do BLM [Black Lives Matter] uma estátua do Rei Leopoldo II foi derrubada na Bélgica e a razão para isso é que o Rei Leopoldo decidiu pessoalmente invadir o Congo, por seus próprios interesses, especialmente para obter benefícios com o roubo de marfim. Mas o Rei Leopoldo, assim como muitos líderes, era muito esperto e sabia que a maioria dos países não iria apoiar que ele controlasse um país africano só para retirar seus recursos naturais. Então, ele apareceu com esse plano – e ele já tinha enviado emissários para o Congo e para o mundo, incluindo os EUA – para alegar que ele estava indo ao Congo para proteger as mulheres congolesas. E em particular, dos mercadores de escravos árabes que ainda existiam nessa região. Mas ele não estava interessado em proteger ninguém, era só uma justificativa e ele foi muito eficaz nisso. Ele conseguiu convencer muitas pessoas e governos – e os EUA foram os primeiros a reconhecer seus interesses no Congo – de que essa seria uma “intervenção humanitária” e inclusive conseguiu que pessoas lhe dessem dinheiro para sua aventura “humanitária” no Congo.

    Bem, o que aconteceu é que Leopoldo, ele mesmo, escravizou milhares de congoleses para apoiar sua extração de madeira, para construir rodovias, para facilitar sua retirada de recursos do país através dos rios [do Congo] para fora do país e para retirar o marfim. Ele escravizou milhares de congoleses e os torturou, se os congoleses não eram submissos a ele, ou ao trabalho que precisava ser feito, suas mãos eram cortadas, isso é bastante conhecido, às vezes seus genitais eram cortados, e no final como resultado do seu brutal tratamento, houve ainda mais de 10 milhões de pessoas no Congo que foram mortas durante essa incursão.

    E claro que essa incursão se encerrou por conta de pessoas honestas no Ocidente. Alguns deles não existem mais hoje em dia, mas naquela época tínhamos pessoas como [os escritores] Mark Twain, por exemplo, ou Arthur Conan Doyle – que descreveu isso inclusive em suas histórias de Sherlock Holmes – sobre o que o Rei Leopoldo estava fazendo. E essas pessoas, com pressão e organização, conseguiram que a comunidade internacional terminasse com essa incursão do Rei Leopoldo no Congo.

    E eu discuto isso no meu livro, o que o Rei Leopoldo fez no Congo foi “em nome dos Direitos Humanos” e o que o Ocidente continua fazendo em todo o mundo também é “em nome dos Direitos Humanos”. Só que agora de uma maneira mais sofisticada, claro, e pior. Mas no final é o mesmo jogo incluindo, a propósito, no Congo.

    Muitas pessoas não se dão conta de que sob Bill Clinton, começando em 1996, a administração Clinton apoiou os governos de Ruanda e Uganda a invadirem o Congo. De novo, sob o pretexto de “parar o que seria um genocídio” que estaria ocorrendo lá e era por isso que Ruanda queria entrar no Congo. Mas o resultado foi que essas forças de Ruanda e Uganda apoiadas por Bill Clinton mataram 6 milhões de pessoas no Congo, a maioria delas congoleses. E nós nos damos conta disso, eu procuro detalhar isso no meu livro, a partir da leitura da mídia hegemônica. A maioria das maiores empresas de mineração dos EUA, no final, a maioria delas conseguiu imensos lucros e benefícios nessa incursão no Congo. E através dessas invasões, as primeiras a ganharem com isso foram justamente as de Hope, no Arkansas, que são empresas muito próximas a Bill Clinton, como sabemos.

    E depois de Clinton, algumas pessoas gostam de se referir ao primeiro presidente negro [Obama], com Hillary trabalhando com ele, mas ele prosseguiu com esse massacre de 6 milhões de congoleses, em nome dos Direitos Humanos, e isso era uma completa mentira. E nós podemos ir além, mas enfim, essa é a mais comum das armadilhas, a ideia de que os EUA estariam apoiando a prevenção de genocídios sob o princípio dos Direitos Humanos, quando na verdade é o Ocidente e os EUA que tem cometido genocídios pelo mundo.

    Bom, tem alguém que gostaria de fazer alguma pergunta ou podemos encerrar aqui? Eu acho que às vezes, menos é mais. E nessas circunstâncias, vejo meu amigo John sorrindo, eu acho que provavelmente é verdade. Então porque não terminamos aqui? Acho que é um bom ponto para encerrar. Eu quero agradecer a todos por acompanharem e de novo esse é meu livro e você pode conseguir em qualquer lugar, na Amazon ou encomendar na sua livraria. Eu realmente estou grato por vocês estarem aí, eu acho que é um período duro para estar atrás de livros como esse, mas acho que tem uma boa mensagem aí e algo que podemos aprender. Obrigado a todos que estão conectados, isso realmente significa o mundo para mim. Nós estamos vivendo tempos muito difíceis e estamos todos atravessando um enorme desafio com essa pandemia e ver vocês disponíveis aí para me ouvir, significa tudo para mim. Vocês foram muito pacientes e muito gentis. Eu desejo a todos, boa tarde, boa noite e boa sorte. Obrigado!

  • VENEZUELA SOB ATAQUE: 7 PONTOS SOBRE O APAGÃO ELÉTRICO

    VENEZUELA SOB ATAQUE: 7 PONTOS SOBRE O APAGÃO ELÉTRICO

    Confira a tradução do artigo original, que pode ser encontrado no link: http://misionverdad.com/La-Guerraen-Venezuela/venezuela-bajo-ataque

     

    Entre a tarde de 8 de março e a madrugada do dia 10, a Venezuela foi vítima de outro ataque de sabotagem, o maior de sua história republicana. Desta vez, foi na usina hidrelétrica de Guri, que deixou sem eletricidade pelo menos 80% da população. O objetivo da sabotagem: minar o propósito do governo venezuelano de estabilizar a economia e conter o quadro insurrecional que os Estados Unidos e seus representantes, como Juan Guaidó, tentam completar com sucesso no país.

     

    1. A preparação do choque. Antes da sabotagem que sacudiu todo o Sistema Elétrico Nacional, deixando sem luz boa parte do país nos últimos dois dias, vários movimentos e declarações anunciaram que recorreriam à ação de força bruta.

    O retorno falsamente épico de Guaidó durou menos do que o esperado. Ante a chegada do “presidente interino” não houve deserções críticas nas Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB), que misturadas com uma revolta social generalizada conseguissem instalá-lo em Miraflores (o palácio presidencial) para que, enfim, pudesse exercer o poder. Esse round (sua “gloriosa chegada” ao Aeroporto de Maiquetía), após a derrota de 23 de Fevereiro, dia em que decretou o ingresso da “ajuda humanitária” no País, não teve efeito além de um frenesi temporário da mídia. Como resultado, Guaidó retornou ao desconfortável ponto de partida de há dois meses. Desgastado pela derrota de 23 de fevereiro e sem ações concretas de mando presidencial que o catapultem internamente, a orquestração das operações seguintes correria inteiramente por conta dos Estados Unidos.

    Excitado como de costume é, Marco Rubio anunciava horas antes do apagão que “os venezuelanos viverão a mais severa escassez de alimentos e gasolina”, revelando que ele sabia que algum tipo de ação de choque se daria nas horas seguintes. O governo russo, por sua vez, emitiu um comunicado alertando que “os Estados Unidos estão preparando um plano de apoio que tenta introduzir grupos armados ilegais na Venezuela, treinados para realizar atividades de sabotagem”. A guerra suja em curso foi transmitida por ambos os lados do conflito geopolítico sobre a Venezuela.

    A profecia auto-realizável de Rubio se tornou realidade em um apagão generalizado que teve um impacto ampliado na rede bancária, de telecomunicações e de serviços públicos vitais do país (hospitais, abastecimento de água, transporte etc.), dificultando de forma prolongada seu funcionamento e paralisando as atividades rotineiras da população. Em resumo, um ataque encoberto ao centro gravitacional do sistema elétrico venezuelano, planejado para agudizar o mal-estar social e econômico e retomar a narrativa da “crise humanitária” e do “Estado falido”, com a qual eles esperam reativar a liderança aleijada de Guaidó.

    Mas esta tendência de apelar para opções antipolíticas e de guerra não convencional, quando os recursos políticos não dão resultado, não é nova nem recente (basta recordar os ataques elétricos continuados quando as revoluções coloridas de 2014 e 2017 entraram em declínio). A seu modo, a agência de notícias Bloomberg insinuou em sua última reportagem que o desgaste de Guaidó, sua incapacidade de encabeçar um processo de transição mais ou menos sério, limpou o terreno para que os ataques como o ocorrido em Guri, a violência armada, a guerra irregular ao estilo dos “contra” nicaraguenses, se tornem alternativas “legítimas” e “urgentes” para enfrentar o Chavismo. Destas formas de guerra tem amplo conhecimento o delegado de Trump para a Venezuela, Elliott Abrams, pai da guerra mercenária contra a Nicarágua na década de 1980.

    2. Embargo e sanções: armas de destruição em massa. Às vulnerabilidades históricas de um sistema
    de eletricidade dependente do rendimento da receita petroleira, se somou uma feroz política de sanções financeiras que diminuiu a capacidade de investimento público em ramos estratégicos do Estado. Já se contabiliza em 30 bilhões de dólares o dinheiro venezuelano embargado pelos Estados Unidos, que utilizando como ferramenta o “governo paralelo” de Guaidó, deixou o país sem recursos líquidos para
    enfrentar as dificuldades causadas pelas sanções. Enquanto isso, Guaidó usa o dinheiro embargado, segundo ele, para amortizar sem transparência alguns juros da dívida externa.

    O sistema elétrico nacional tem estado sob ataque por uma mistura explosiva de desinvestimento reforçada pelo bloqueio financeiro, a perda de pessoal técnico especializado para a desvalorização dos salários e operações de sabotagem sistemáticas, estas últimas sempre colocadas em  vigor quando o chavismo recupera a ofensiva política. Razão tinha Chris Floyd, autor do livro “The Empire Burlesque” que designou as sanções financeiras como um “holocausto”: o uso desta arma de destruição em massa em países como o Iraque, o Irã e a Síria evidencia que os danos à infra-estrutura crítica são semelhantes a uma intensa campanha de bombardeios com mísseis de cruzeiro.

    Nesse sentido, o apagão é uma extensão do embargo contra a Venezuela, da política estadunidense de restringir importações, bloquear contas e impedir o acesso ao dinheiro líquido no mercado financeiro internacional e em seu próprio mercado petroleiro, proibindo o pagamento das exportações para a Venezuela. O blecaute também é uma metáfora para o estado de sítio em que o país é mantido – assim como o bloqueio financeiro, que dificulta o uso do dinheiro para recuperar um sistema nacional de eletricidade já debilitado, que sustenta a atividade petrolífera e econômica do país – é o substituto das armas de guerra.

    3. A modalidade do golpe cibernético e crime contra a humanidade. A princípio, e é isso que Guaidó quis dizer com seu chamado a uma “greve nacional” na última terça-feira diante de alguns sindicatos da administração pública, uma ação de força viria a precipitar essa anunciada paralisia. A modalidade de fabricação de uma situação de colapso, como quando a plataforma de pagamento da Credicard, em 2016, cancelou seu sistema para interromper todas as atividades comerciais e econômicas do país, desta vez foi
    executada pela ampliação de seu raio de impacto. E a carga de estresse e descontentamento que busca induzir na população, como um combustível para estimular uma situação de anarquia generalizada, que de alguma forma poderiam ser canalizados para violentos protestos a favor de Guaidó, indica que a estratégia de caos (mediante sabotagem cibernética e artesanal focada em infraestruturas críticas que fazem o país funcionar) é usada como uma ferramenta de choque massivo com o objetivo de desgastar a população. A operação não é apenas de guerra elétrica, já que suas conseqüências cobrem todas as atividades rotineiras da sociedade venezuelana, o que dificulta o acesso a alimentos, serviços hospitalares e comunicações básicas. Os focos violentos que eles tentaram desencadear foram rapidamente extintos por um clima de exaustão coletiva que aguardava a chegada da eletricidade.

    Um crime contra a humanidade visto à luz do Estatuto de Roma e do direito internacional, enquanto buscavam a destruição física de um grupo populacional utilizando como armas de guerra os elementos básicos de sua subsistência.

    Marco Rubio e Mike Pompeo reagiram de forma jocosa ao blecaute, imprimindo-lhe uma carga de humilhação e sadismo que reflete com precisão as motivações e a estratégia subjacente do golpe contra a Venezuela: à medida que o “plano Guaidó” falha em seus objetivos de alcançar a fratura da FANB que possibilite depor Maduro, a população civil (sem discriminação ideológica) é alçada a vítima de primeira ordem das contínuas agressões militares encobertas, lideradas pelos Estados Unidos.

    Este golpe cibernético contra o sistema elétrico nacional implica uma agressão militar de fato, uma extensão da que ocorreu na fronteira colombo-venezuelana em 23 de fevereiro.

    4. Não é um fim em si mesmo: condições para a guerra irregular. Desde o retorno de Guaidó, sua projeção na mídia tornou-se marginal. Esta deliberada redução de sua visibilidade, contrasta com o peso cada vez maior que tem a orientação de mudança de regime do Comando Sul dos EUA, John Bolton, Marco Rubio e Mike Pompeo. Neste sentido, os efeitos nocivos do apagão se encaixam perfeitamente com a narrativa de “crise humanitária”, sob o qual o Comando Sul e a ultra-direita na Venezuela, desde 2016, mobilizam a “urgência” de se ativar um dispositivo de “intervenção humanitária” que neutralize a proibição do Congresso estadunidense, do Conselho de Segurança da ONU e do consenso pragmático pela não-intervenção que ocorreu na América Latina.

    Sem dúvida, o apagão, como tal, não é um fim em si mesmo. Em nível operacional, pareceria mais, sobretudo por causa do blecaute que gerou a interrupção do sistema elétrico, que se trata de uma manobra para agudizar as vulnerabilidades do país e medir a capacidade de resposta militar dos sistemas defensivos da República frente a uma ação militar irregular e mercenária, que aproveitaria o contexto do bloqueio de informações para encobrir incursões armadas, seu mapa operacional e os responsáveis diretos em campo.

    Por fim, ao nível do teatro de operações de guerra contra a Venezuela, o apagão se traduz na geração de um panorama difuso e de confusão que favoreceria a realização de operações de falsa bandeira, incursões paramilitares e outras ações violentas que precipitariam um estado de comoção generalizado, que possa ser apresentado como o fato gerador de uma intervenção militar preventiva, seja para “estabilizar o país pela crise humanitária” ou para “salvar os venezuelanos de uma situação de Estado falido” em “crise humanitária”. Nessa estrutura narrativa, Julio Borges, Antonio Ledezma, Juan Guaidó e o gabinete de guerra contra a Venezuela em Washington apertam as mãos e trabalham juntos amparados pela doutrina do caos controlado de metodologia estadunidense.

     

    Com o apagão, eles buscam dar concretude física à “crise humanitária”, não apenas no nível da propaganda, mas aproveitando as perdas humanas e complicações de toda sorte, geradas pela operação de sabotagem .

    5. Características da agressão. Desta vez, não foi um ataque a subestações ou linhas de transmissão, como se havia ensaiado várias vezes, de acordo os com manuais de sabotagem da CIA contra a Nicarágua Sandinista dos anos 80, já tornados públicos.

    Cabe ressaltar que o software utilizado (chamado Scada) no Sistema de Controle Automatizado (SCA) que opera os motores é o que foi criado pela empresa ABB, que não trabalha no país há anos. Esta empresa ABB, que na Venezuela trabalhou como Consórcio Trilateral ABB (ABB Venezuela, ABB Canadá, ABB Suíça), desenhou um projeto de modernização da Central de Guri no final da década passada, durante o governo de Hugo Chávez, no qual descreve em profundidade tanto o sistema atacado quanto a organização básica do Guri.

    O analista geopolítico Vladimir Adrianza Salas, em entrevista à TeleSur, relaciona o ataque ao consórcio. Ele explicou que a barragem de Guri “requer um sistema de controle que tecnicamente é chamado de ‘sistema SCADA’, que nada mais é do que um sistema de monitoramento, controle e requisição de dados que permite, a partir da perspectiva da tecnologia da informação, controlar todos os elementos de geração de energia. Quem sabota isso, sabota o funcionamento. Mas para sabotar isso, são necessárias duas coisas: ou se deve ter acesso do lado de fora ou é necessária cumplicidade interna para modificar os processos “.

    Precedentes desse tipo são encontrados em países atacados ou diretamente pressionados pelos Estados Unidos, como Iraque e Líbano, onde os blecautes foram sistemáticos e consecutivos, um após o outro, por dezenas de horas. As “réplicas” na interrupção do fornecimento de energia responderiam a essas sequências de ofensivas que já foram experimentadas em outros contextos de guerra assimétrica e irregular.

    A criação de exércitos de hackers e de materiais de ciberguerra pela CIA e pela NSA tem sido documentada por esta tribuna: resenhamos um documentário em que se explicava a origem do vírus Stuxnet, que revela as pegadas destas agências da inteligência americana. Aquele instrumento de ciberataque teve como objetivo tanto a sabotagem das instalações de pesquisa nuclear no Irã, com o objetivo de instalar um quadro circunstancial que pudesse culminar em um ataque contra à rede nacional automatizada de eletricidade iraniana (sistema análogo ao de Guri), em caso de guerra declarada entre Washington e a República Islâmica.

    O Presidente Nicolás Maduro, no final da tarde de 9 de Março, assegurou que este era o maior ataque contra a Venezuela dos últimos 200 anos republicanos, depois de ampliado, de forma intermitente, o ataque ao sistema elétrico nacional para 60 horas.

    6. Frear as tendências de recuperação. O apagão ocorre em meio a tendências de recuperação em diferentes escalas, a nível econômico, uma baixa dos preços dos alimentos sensíveis reduziu a tensão do início deste ano, enquanto financeiramente a reestruturação do mercado de câmbio conseguiu conter uma das variáveis de inflação induzida: o aumento do preço das moedas no mercado negro. Estas tendências têm favorecido a estabilidade política do país em meio a agressões não convencionais e ameaças de intervenção militar, tirando de Guaidó não só o poder de convocação, mas de manobra para capitalizar sobre o mal-estar causado pelas sanções.

    Assim, o apagão visa frear estas tendências na recuperação social, política e econômica, agravando mediante um boicote generalizado os meios de pagamento, o acesso aos alimentos e aos hospitais e o desenvolvimento normal da sociedade venezuelana. Da mesma forma, a agressividade do ataque visa enfraquecer a produção petrolífera e industrial do país.

    7. A consciência do país (recordar 2002-2003) e o pulsar da intervenção. Assim como em 2002, a
    população venezuelana passou por uma prova de fogo generalizada. Uma operação de sabotagem destinada a precipitar um caos generalizado que ponha em risco a saúde e a nutrição das pessoas, a atividade econômica do país, suas telecomunicações e nossas rotinas mais básicas, nos remete ao cenário da sabotagem do petróleo dos anos 2002- 2003, onde a oposição daquele momento, os mesmos que
    administram uma intervenção junto aos Estados Unidos e Colômbia, executaram um estado de sítio paralisando a indústria petrolífera.

    A reação da população, atacada psicologicamente nos últimos anos a fim de estimular uma guerra civil que permita uma intervenção, tem sido adversa ao cálculo da sabotagem. Se impôs a calma, o uso de fogões a lenha nos edifícios e bairros para cozinhar, a mobilização dos recursos físicos do país para enfrentar as emergências mais urgentes; mas acima de tudo, a vocação generalizada do país de não cair em uma provocação que visa levar a um confronto civil e armado. A violência foi derrotada como em 2002-2003, essa paisagem que marca nossa história contemporânea hoje oferece a lição de que, depois de uma prova de fogo superada, onde a brutalidade do golpe é de impacto massivo, a coesão do povo se reafirma.

    Juan Guaidó tenta canalizar o impacto do apagão para “declarar uma emergência extraordinária” na Assembleia Nacional, porque segundo ele “chegou o momento de dar o próximo passo”, flertando com a ideia de usar a Constituição para legitimar a intervenção. Precisamente neste sentido, como um fechamento de ciclo de sabotagem, se pode perceber que o fim do apagão tenta fabricar as condições de anarquia, caos e falta de serviços vitais, para pressionar por uma “intervenção humanitária” em solo venezuelano, com a aprovação da Assembléia Nacional e da “coalizão de países latino-americanos”, prontos para uma ação de força, que está sendo montada por John Bolton.

    Essa pressão, sem dúvida, é específica e escalonada. Ante a chegada da missão técnica do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, o apagão procurará ser canalizado para uma engorda do expediente da “crise humanitária” na Venezuela, que bem agenciado e promovido na mídia, possa resultar em uma mudança de posturas a nível regional, da mesma ONU, do Congresso estadunidense, sobre a “urgência” de
    uma ação de “ajuda humanitária” solicitada pelo “governo paralelo”.

    Uma manobra que baixa a cortina para Guaidó, prisioneiro de um plano mal concebido e dependente da cadeia de comando do gabinete de guerra contra a Venezuela em Washington. Ele, deve ser sacrificado para abrir a porta para a guerra. Imagem suficientemente convincente do sacrifício, é que um político use um palanque do poder do Estado, neste caso, a Assembleia Nacional, para legitimar uma intervenção militar estrangeira. Um suicídio acompanhado por setores da ultra-direita caraquenha, filhos diretos dos primeiros colonizadores espanhóis, que clamam para que se ative a “Responsabilidade de Proteger” (R2P) que destruiu Kosovo, Líbia, Iraque e outros lugares que os Estados Unidos tem saqueado para manter seu status de potência.

    Mas o apagão deve ter outra lição, e deve obrigar-nos a olhar para os códigos sociais e hábitos coletivos e de solidariedade que surgiram em 2002-2003, nossas armas como comunidade histórica e espiritual disponíveis para manter o fio da vida de nossa história pátria.

    Tradução: Juliana Medeiros

  • São homens exatamente como nós. E aí está o maior problema!

    São homens exatamente como nós. E aí está o maior problema!

    Machismo e misoginia são relações de poder. Não há desculpas para esse tipo de comportamento, que muitas vezes pode passar despercebido mesmo para quem convive com os perpetradores. E ele não se restringe a coxinhas brasileiros na Russia. Diferente da boa charge que circula agora nas redes sociais, mostrando os assediadores como trogloditas peludos, sua aparência real, apesar de terem de fato uma alma feia, é exatamente como a minha ou a sua. Gente normal até terem a oportunidade de exercer um poderzinho de forma nojenta e expor sua verdadeira cara.

    Quando eu e minha companheira Maria Eugênia moramos nos EUA, na virada do milênio, nos tornamos amigos de um jovem engenheiro de petróleo. Por muitas vezes ele tomou café da manhã conosco. Visitamos a casa de seus pais na cidade de Lafayette, na Lousiana. Por duas semanas viajei ao Brasil e para um trabalho na California enquanto ele ajudou minha esposa a achar um carro para comprarmos. Quando voltamos ao Brasil tentamos manter o contato mas ele não respondeu mais os e-mails e quando ligamos foi bastante rude ao telefone. Ficamos tristes mas desencanamos. Poucos anos mais tarde, no auge do escândalo de Abu Ghraib, o Sérgio Gomes, da Oboré, montou uma espécie de galeria de fotos do horror perpetrado pelos soldados da “coalisão” no Iraque e no Afeganistão. Muitas das fotos ficaram célebres e usei algumas em minha tese de doutorado. Entre as que estavam no mural da Oboré, havia uma em que um garoto iraquiano segurava uma placa de papelão com um militar atrás rindo e fazendo o sinal de positivo. Na placa, em inglês, estava escrito: o Tenente Boudreaux matou meu pai e “catou” minha irmã. Eu gelei imediatamente e só então reparei bem no rosto do “brincalhão”. Era ele!

    Coloque uma pessoa de alma pequena em posição de poder e veja o pior do ser humano. O que você acha que os brasileiros que assediaram a loira na Russia fariam com a menina se ela estivesse bêbada? Ou se eles tivessem fuzis e tivessem de “manter a ordem” numa comunidade ocupada? Ou pior, se estivessem sob uma corporação que passasse o pano nesse tipo de comportamento? No caso de Lance Cpl. Ted J. Boudreaux, o comitê de investigação montado (o famoso NCIS New Orleans, que tem até seriado de ficção na TV a cabo estrelado por um ator que já fez o papel de primeiro capitão da Enterprise) afirmou que não conseguiu o “documento original” e por isso não podia refutar a afirmação do soldado de que a imagem tinha sido manipulada e que o texto original era “totalmente benigno”. Depois de mais de um ano de apuração, em novembro de 2004, o processo foi enviado ao Major General John J. McCarthy que o arquivou por falta de provas.

    Veja aqui matéria em inglês sobre o arquivamento do caso.