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Categoria: História não-contada

  • Concurseiros decidem os destinos da Nação

    Concurseiros decidem os destinos da Nação

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia

    Durante cinco anos, trabalhei em uma das maiores universidades particulares do Brasil. Aquela onda operário, professor horista, salário dependendo da quantidade de turmas.

    Lecionei para tudo quanto foi curso: moda, administração, pedagogia, história, direito.

    O curso de direito é o grande filão de mercado desse tipo de empresa. Duas coisas sempre me impressionaram, desde a primeira vez em que atuei no curso de direito: as expectativas dos alunos e o perfil dos professores.

    A grande maioria dos alunos não buscava os estudos jurídicos movida pela ideia de vocação ou pela vontade de estudar as leis como um exercício de compreensão da realidade. Quase todos viam a universidade como um tipo de curso preparatório para concursos públicos.

    O concurso público era visto como um fim em si, e não como uma forma de ter acesso ao emprego público e colaborar com a sociedade. O objetivo era o emprego público, pouco importando qual fosse o cargo ou a natureza do trabalho.

    Não havia muito interesse em discutir, em ler nenhum assunto que não fosse considerado algo absolutamente necessário para o sucesso no concurso público. O curso de direito naquela universidade particular era pouco mais que isso: fábrica de concurseiros.

    O pior é que a mentalidade dos professores, dos meus colegas, não era muito diferente. Não era mesmo.

    Convivi com Delegados, Juízes, Advogados, Procuradores, Desembargadores. Uma gente bem vestida, os homens trajando terno e gravata, as mulheres com saia social, saltão.

    Alguns eram um tanto cafonas: relógios grandes e dourados, bolsa com estampa de vaquinha, de oncinha. Confesso que de vez em quando eu debochava mentalmente. Ora ou outra nem tão mentalmente assim. Acho que por isso a galera não gostava muito de mim.

    Enfim.

    Fato é que a convivência sempre foi tensa, agônica, conflituosa, principalmente depois de 2014, quando a crise institucional ficou mais aguda. A sala dos professores se tornou um verdadeiro círco de horrores.

    Colegas, professores, que não cultivavam hábitos intelectuais, que não tinham interesse em nada que não tivesse diretamente relacionado ao seu cotidiano de trabalho: não liam literatura, não visitavam exposições de museus, não consumiam cinema, não frequentavam teatros.

    Sempre aqueles códigos criminais pesadíssimos na mão, só os códigos. Nenhum Gabriel Garcia Marques, nada de Clarice ou Guimarães Rosa. De Machado de Assis só ouviram falar.

    Vivem nomalmente sem conhecer os filmes de Woddy Allen, Almodóvar, Scorsese, sem ter quase contato com os grandes empreendimentos da inteligêngia humana.

    Os profissionais mais importantes para a manutenção do contrato social não têm formação humanista, nenhuma formação humanista.

    A maior parte dos meus colegas, que tem a função de arbitrar o conflito social, de zelar pelo bem comum, trata a lei como um manual, como uma receita de bolo.

    E aí vocês podem imaginar, né? O círculo vicioso se completa: os alunos chegam com mentalidade de concurseiro e isso é alimentado pelos professores.

    Resultado: todo semestre a universidade não diploma operadores do direito, pessoas sensíveis às questões sociais, capazes de tratar a lei como aquilo que ela é: um complexo experimento sociológico. A universidade forma concurseiros.

    Concurseiros formando concurseiros. Todos preocupados em marcar o “X” no lugar certo e assim garantir um emprego estável e os privilégios que o Poder Judiciário entrega numa bandeja aos seus servidores.

    São essas pessoas que estão decidindo os destinos da nação. Somos a República dos Concurseiros.

  • “A Sós”: Só um grande jornalista poderia fazer um documentário como este

    “A Sós”: Só um grande jornalista poderia fazer um documentário como este

     

    Vinicius Lima é um jornalista recém-formado pela PUC-SP. Há anos ele trabalha no projeto SP invisível, um movimento que conta histórias  de moradores de rua e de pessoas que vivem ou trabalham nas ruas de São Paulo. Veja a página aqui.

    A experiência serviu para apurar o olhar do jovem repórter. Ali, onde as pessoas genericamente vêem “mendigos”, “vagabundos”, “vítimas do sistema”, “craqueiros”, “coitados”, dependendo de onde o observador esteja no espectro político, Vinicius encontra histórias de vida, alegrias, tristezas, amores, escolhas, os porquês de estarem onde estão e fazendo o que fazem.

    Vinicius vai muito além dos estereótipos porque sabe que eles servem apenas para reforçar as barreiras da invisibilidade e, por que não?, justificar nossa insensibilidade diante da dor e do sofrimento do “Outro” —ele não é um ser como nós, dotado de sentidos como os nossos.

    Já foi moda no jornalismo o repórter se fantasiar de morador de rua, de imigrante turco na riquíssima Alemanha, de miserável no Império Americano. Maquiagem, roupas esfarrapadas, sotaque fajuto, tudo para “vivenciar na própria pele” o que o Outro sentiria na condição de marginalizado e excluído.

    Caô total. Verdadeiro estelionato.

    Primeiro, porque esse método de investigação jornalística cassa a palavra de quem já tem a palavra, quando não a própria existência, negada. Quem fala é o repórter fantasiado.

    Depois, porque nunca, nem com todos os artifícios, reproduz-se a singularidade das histórias de vida de quem acabou indo morar nas ruas. O máximo que se consegue é reverberar os preconceitos e clichês de quem se arvora a intérprete do “marginalizado e excluído”.

    Bem mais difícil foi o percurso investigativo escolhido por Vinicius para falar do amor que acontece nas ruas, pela voz dos próprios amantes. Porque pressupôs um trabalho delicado de prospecção e seleção dos cases apresentados. E porque exigiu o estabelecimento de uma profunda relação de confiança entre entrevistador e entrevistado, algo sempre difícil de obter no território inóspito das calçadas.

    Emocionante, delicado, veraz. Tudo isso poderia ser dito deste documentário, produzido como trabalho de conclusão de curso, sob orientação do professor Marcos Cripa, do jornalismo da PUC-SP. Prefiro dizer que é um pungente resgate jornalístico. Torna visível o que foi invisibilizado por camadas e mais camadas de estereótipos. Dá voz a quem sempre foi calado. Preenche com alma e amor os corpos desumanizados pelo preconceito.

    Você não olhará mais para um morador de rua como olhava antes. É para isso que serve o Jornalismo, afinal! Assista agora:

  • Familiares de mortos e desaparecidos poderão retificar registro de óbito de seus entes amados

    Familiares de mortos e desaparecidos poderão retificar registro de óbito de seus entes amados

    Em dezembro de 2014, a Comissão Nacional da Verdade reconheceu 434 mortes durante a ditadura  entre os anos de 1946 e 1988. Entre eles, 210 estão desaparecidos. (A lista está abaixo)

    O número pode ser muito maior se considerado os indígenas e camponeses mortos em “operações” de militares na época, uma dívida histórica ainda não calculada.

    Apesar de toda dor dos familiares que perderam seus entes pelas mãos assassinas do Estado brasileiro, a tortura a que foram submetidos se perpetua seja pela impunidade dos agentes que praticaram a tortura e o desaparecimento de muitos corpos, seja pela dificuldade de lavrar  um simples atestado de óbito.

    Foram mais de 20 anos de espera até que Lei 9.140/95 permitisse que familiares de desaparecidos pudessem requerer os registros de óbito, o que facilitava a vida oficial/burocrática de esposas e filhos.

    Mas foi um alívio momentâneo na vida daqueles que buscam há anos por reparação e justiça. Os termos lavrados nos documentos não refletiam a causa das mortes, usavam termos não convencionais e não passavam de um papel carente de sentido para os familiares de mortos e desaparecidos políticos.

    Agora, mais de meio século depois do começo da história, o Ministério dos Direitos Humanos, através da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), soltou uma resolução que permite a retificação destes assentos de óbito. (Confira na integra logo abaixo).

    Segundo Amélia Teles, ex-presa política e uma referência para as famílias de mortos e desaparecidos na luta pelo reconhecimento dos crimes do Estado durante a ditadura, a resolução é um passo importante, “mas que não resolve o nosso problema que é a busca por verdade. É um avanço, mas uma pena que não venha acompanhado da abertura dos arquivos militares”.

    Em casos, por exemplo, como de Fernando Santa Cruz (estudante desaparecido em março de 1974) e David Capistrano, avô dessa que reporta, dirigente do Partido Comunista Brasileiro e deputado estadual de Pernambuco, em que a Comissão Nacional da Verdade não chegou a uma conclusão sobre as circunstancias dos assassinatos, para que haja a retificação, há necessidade de consenso de todos os familiares para que seja “escolhida” uma versão para a causa mortis que constará no documento.

    Rosalina Santa Cruz, irmã de Fernando, diz que não conversou ainda com seus familiares, e que existem três versões para a morte do estudante. Seu corpo poderia ter sido enterrado clandestinamente no Cemitério de Perus, por exemplo, ou ter sido incinerado em uma usina de açúcar depois de passar por tortura na Casa da Morte, em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.

    Mais uma vez a conquista cobrará um preço dos familiares e para seus algozes (no fim e a cabo, o próprio Estado) nem uma consequencia. Para que as retificações dos atestado de óbitos sejam feitas, o Estado terá que ser provocado pelos familiares. “O ideal seria que o Estado nos entregassem os documentos em que estivesse morreu no dia tal, na hora tal, depois de tortura ou um tiro”, lamenta Amelinha.

    Documentos serão entregues, baús de sofrimentos serão remexidos. E o encontro com a verdade, a reparação e a justiça para muitos ainda estará por vir.


    Ministério dos Direitos Humanos

    COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESPARECIDOS POLÍTICOS

    RESOLUÇÃO Nº 2, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2017

    Estabelece o procedimento para emissão de atestados para fins de retificação de assentos de óbito das pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas políticas, nos termos da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, e da Lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011.

     

    A COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS (CEMDP), no uso das atribuições que lhe confere o artigo 4º, da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, reunida em sua 75ª Reunião Ordinária,

    CONSIDERANDO que, nos termos do art. 7º, § 2º, da Lei nº

    9.140, de 4 de dezembro de 1995, os pedidos de assentos de óbito de pessoas mortas ou desaparecidas no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial de 1964 a 1985 podem ser instruídos com os deferimentos da CEMDP de requerimentos de seus familiares; resolve:

     

    Art. 1º Estabelecer procedimento para emissão de atestados para fins de retificação das anotações da causa e outras circunstâncias de morte nos assentos de óbito das pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas políticas, nos termos da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995 e da Lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011 – doravante denominadas “mortos e desaparecidos políticos”-, conforme disposto na presente Resolução.

     

    Art. 2º A CEMDP emitirá os atestados de óbito de mortos e

    desaparecidos políticos, de maneira individualizada, após consulta aos familiares respectivos – doravante denominados “familiar(es)”-, sobre seu interesse em proceder à correção dos assentos de óbito.

    Parágrafo único. A presente medida é adotada em cumprimento à Recomendação n. 07, da Comissão Nacional da Verdade CNV), instituída pela Lei nº 12.528, de 2011, e em consonância com o disposto na Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, a Lei de Registros Públicos (LRP).

     

    Art. 3º A CEMDP consultará o(s) familiar(es), sobre seu in-

    teresse em proceder à correção dos assentos de óbitos, mediante comunicados enviados individualmente, por via digital ou postal, e coletivamente, mediante ampla divulgação, por qualquer meio disponível, via internet e pela imprensa.

    Parágrafo único. Fica criado o endereço eletrônico cemdp.certidao@mdh.gov.br exclusivamente para receber os pedidos de providências para correção de assentos de óbito.

     

    Art. 4º O(s) familiar(es) que tiver(em) interesse na retificação

    deve(m) enviar o pedido respectivo ao endereço eletrônico acima citado, bem como cópia da certidão de óbito, cujo assento deva ser corrigido.

     

    Art. 5º Cada pedido de retificação será autuado como procedimento administrativo no sistema SEI do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) no âmbito do qual será emitida uma minuta de atestado, que, por sua vez, será submetida ao(s) familiar(es) interessado(s), em resposta pelo mesmo endereço eletrônico.

    • 1º Os atestados emitidos para fins de retificação de assentos de óbito devem indicar as circunstâncias da morte ou desaparecimento de mortos ou desaparecidos políticos, com base nos procedimentos administrativos da CEMDP e no Volume III do Relatório da CNV.

     

    • 2º Em caso de versões conflitantes entre as fontes acima citadas, prevalecerá a constante do Relatório da CNV, a menos que as circunstâncias apontadas pela CEMDP constituam fato novo apurado após o encerramento dos trabalhos da CNV, em dezembro de 2014.

     

    • 3º O atestado será assinado pela presidência da CEMDP e

    conterá, nos termos do art. 81, da Lei nº 6.015, de 1973 (LRP), com a maior especificidade possível, as circunstâncias da morte, tais como hora, data, local, e que a morte não foi natural, mas violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial de 1964 a 1985.

     

    • 4º Como nome dos atestantes, conforme exigido pelo mesmo artigo da Lei nº 6.015, de 1973 (LRP), deverá constar dos assentos respectivos: “Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos”, com a indicação das páginas do Relatório da CNV ou do procedimento administrativo da CEMDP, de onde as afirmações foram extraídas.

     

    Art. 6º Após a definição do texto final de cada atestado em

    conjunto com o(s) familiar(es) respectivo(s), este(s) deverá(ão) assinar a petição de que trata o art. 111, da Lei nº 6.015, de 1973 (LRP), e a CEMDP providenciará a retificação administrativa junto ao cartório e juízo de registros públicos onde a certidão original tiver sido emitida.

     

    Art. 7º A CEMDP envidará esforços para que o Conselho Na-

    cional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) enviem comunicados aos juízos e  promotorias com atuação junto a cartórios de registros públicos para que determinem que as correções referidas nessa Resolução, sejam feitas de maneira célere e sem

    obstáculos burocráticos, considerada a sua natureza de reparação moral.

     

    Art. 8º De posse da certidão devidamente corrigida, a CEMDP

    providenciará a sua entrega ao(s) familiar(es) respectivo(s), se possível, pessoalmente, em cerimônia previamente agendada.

     

    Art. 9º Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação.

     

    EUGÊNIA AUGUSTA GONZAGA


    LISTA DE MORTOS E DESAPARECIDOS DA DITADURA BRASILEIRA

    Abelardo Rausch de Alcântara

    Abílio Clemente Filho

    Adauto Freire da Cruz

    Aderval Alves Coqueiro

    Adriano Fonseca Filho

    Afonso Henrique Martins Saldanha

    Aides Dias de Carvalho

    Albertino José de Farias

    Alberto Aleixo

    Alceri Maria Gomes da Silva

    Aldo de Sá Brito Souza Neto

    Alex de Paula Xavier Pereira

    Alexander José Ibsen Voerões

    Alexandre Vannucchi Leme

    Alfeu de Alcântara Monteiro

    Almir Custódio de Lima

    Aluísio Palhano Pedreira Ferreira

    Alvino Ferreira Felipe

    Amaro Felix Pereira

    Amaro Luiz de Carvalho

    Ana Maria Nacinovic Corrêa

    Ana Rosa Kucinski Silva

    Anatália de Souza Melo Alves

    André Grabois

    Angelina Gonçalves

    Ângelo Arroyo

    Ângelo Cardoso da Silva

    Ângelo Pezzuti da Silva

    Antogildo Pascoal Viana

    Antônio Alfredo de Lima

    Antônio Bem Cardoso

    Antônio Benetazzo

    Antônio Carlos Bicalho Lana

    Antônio Carlos Monteiro Teixeira

    Antônio Carlos Nogueira Cabral

    Antônio Carlos Silveira Alves

    Antônio de Araújo Veloso

    Antônio de Pádua Costa

    Antônio dos Três Reis de Oliveira

    Antonio Ferreira Pinto

    Antonio Graciani

    Antônio Guilherme Ribeiro Ribas

    Antônio Henrique Pereira Neto

    Antônio Joaquim de Souza Machado

    Antônio José dos Reis

    Antonio Luciano Pregoni

    Antônio Marcos Pinto de Oliveira

    Antônio Raymundo de Lucena

    Antônio Sérgio de Mattos

    Antônio Teodoro de Castro

    Ari da Rocha Miranda

    Ari de Oliveira Mendes Cunha

    Ari Lopes de Macêdo

    Arildo Valadão

    Armando Teixeira Fructuoso

    Arnaldo Cardoso Rocha

    Arno Preis

    Ary Abreu Lima da Rosa

    Ary Cabrera Prates

    Augusto Soares da Cunha

    Aurea Eliza Pereira

    Aurora Maria Nascimento Furtado

    Avelmar Moreira de Barros

    Aylton Adalberto Mortati

    Batista (desaparecido político)

    Benedito Gonçalves

    Benedito Pereira Serra

    Bergson Gurjão Farias

    Bernardino Saraiva

    Boanerges de Souza Massa

    Caiupy Alves de Castro

    Carlos Alberto Soares de Freitas

    Carlos Eduardo Pires Fleury

    Carlos Lamarca

    Carlos Marighella

    Carlos Nicolau Danielli

    Carlos Roberto Zanirato

    Carlos Schirmer

    Carmem Jacomini

    Cassimiro Luiz de Freitas

    Catarina Helena Abi-Eçab

    Célio Augusto Guedes

    Celso Gilberto de Oliveira

    Chael Charles Schreier

    Cilon Cunha Brun

    Ciro Flávio Salazar de Oliveira

    Cloves Dias de Amorim

    Custódio Saraiva Neto

    Daniel José de Carvalho

    Daniel Ribeiro Callado

    Darcy José dos Santos Mariante

    David Capistrano da Costa

    David de Souza Meira

    Dênis Casemiro

    Dermeval da Silva Pereira

    Devanir José de Carvalho

    Dilermano Mello do Nascimento

    Dimas Antônio Casemiro

    Dinaelza Santana Coqueiro

    Dinalva Oliveira Teixeira

    Divino Ferreira de Souza

    Divo Fernandes d’Oliveira

    Djalma Carvalho Maranhão

    Dorival Ferreira

    Durvalino de Souza

    Edgar de Aquino Duarte

    Edmur Péricles Camargo

    Edson Luiz Lima Souto

    Edson Neves Quaresma

    Edu Barreto Leite

    Eduardo Antônio da Fonseca

    Eduardo Collen Leite

    Eduardo Collier Filho

    Eiraldo de Palha Freire

    Eliane Martins

    Elmo Corrêa

    Elson Costa

    Elvaristo Alves da Silva

    Emmanuel Bezerra dos Santos

    Enrique Ernesto Ruggia

    Epaminondas Gomes de Oliveira

    Eremias Delizoicov

    Eudaldo Gomes da Silva

    Evaldo Luiz Ferreira de Souza

    Ezequias Bezerra da Rocha

    Feliciano Eugênio Neto

    Félix Escobar Sobrinho

    Fernando Augusto da Fonseca

    Fernando Borges de Paula Ferreira

    Fernando da Silva Lembo

    Fernando Santa Cruz

    Flávio Carvalho Molina

    Francisco das Chagas Pereira

    Francisco Emanuel Penteado

    Francisco José de Oliveira

    Francisco Manoel Chaves

    Francisco Seiko Okama

    Francisco Tenório Júnior

    Frederico Eduardo Mayr

    Gastone Lúcia Carvalho Beltrão

    Gelson Reicher

    Geraldo Bernardo da Silva

    Geraldo da Rocha Gualberto

    Gerardo Magela Fernandes Torres da Costa

    Gerosina Silva Pereira

    Gerson Theodoro de Oliveira

    Getulio de Oliveira Cabral

    Gilberto Olímpio Maria

    Gildo Macedo Lacerda

    Gilson Miranda

    Grenaldo de Jesus da Silva

    Guido Leão

    Guilherme Gomes Lund

    Gustavo Buarque Schiller

    Hamilton Fernando da Cunha

    Hamilton Pereira Damasceno

    Helber José Gomes Goulart

    Hélcio Pereira Fortes

    Helenira Rezende de Souza Nazareth

    Heleny Teles Ferreira Guariba

    Hélio Luiz Navarro de Magalhães

    Henrique Cintra Ferreira Ornellas

    Higino João Pio

    Hiram de Lima Pereira

    Hiroaki Torigoe

    Honestino Monteiro Guimarães

    Horacio Domingo Campiglia

    Iara Iavelberg

    Idalísio Soares Aranha Filho

    Ieda Santos Delgado

    Iguatemi Zuchi Teixeira

    Inocêncio Pereira Alves

    Íris Amaral

    Ishiro Nagami

    Ísis Dias de Oliveira

    Ismael Silva de Jesus

    Israel Tavares Roque

    Issami Nakamura Okano

    Itair José Veloso

    Iuri Xavier Pereira

    Ivan Mota Dias

    Ivan Rocha Aguiar

    Jaime Petit da Silva

    James Allen da Luz

    Jana Moroni Barroso

    Jane Vanini

    Jarbas Pereira Marques

    Jayme Amorim Miranda

    Jean Henri Raya

    Jeová Assis Gomes

    João Alfredo Dias

    João Antônio Santos Abi-Eçab

    João Barcellos Martins

    João Batista Franco Drummond

    João Batista Rita

    João Bosco Penido Burnier

    João Carlos Cavalcanti Reis

    João Carlos Haas Sobrinho

    João de Carvalho Barros

    João Domingues da Silva

    João Gualberto Calatrone

    João Leonardo da Silva Rocha

    João Lucas Alves

    João Massena Melo

    João Mendes Araújo

    João Pedro Teixeira

    João Roberto Borges de Souza

    Joaquim Alencar de Seixas

    Joaquim Câmara Ferreira

    Joaquim Pires Cerveira

    Joaquinzão

    Joel José de Carvalho

    Joel Vasconcelos Santos

    Joelson Crispim

    Jonas José de Albuquerque Barros

    Jorge Alberto Basso

    Jorge Aprígio de Paula

    Jorge Leal Gonçalves Pereira

    Jorge Oscar Adur

    José Bartolomeu Rodrigues de Souza

    José Campos Barreto

    José Carlos da Costa

    José Carlos Novaes da Mata Machado

    José Dalmo Guimarães Lins

    José de Oliveira

    José de Souza

    José Ferreira de Almeida

    José Gomes Teixeira

    José Guimarães

    José Humberto Bronca

    José Idésio Brianezi

    José Inocêncio Barreto

    José Isabel do Nascimento

    José Jobim

    José Júlio de Araújo

    José Lavecchia

    José Lima Piauhy Dourado

    José Manoel da Silva

    José Maria Ferreira Araújo

    José Maurílio Patrício

    José Maximino de Andrade Netto

    José Mendes de Sá Roriz

    José Milton Barbosa

    José Montenegro de Lima

    José Nobre Parente

    José Porfírio de Souza

    José Raimundo da Costa

    José Roberto Arantes de Almeida

    José Roberto Spiegner

    José Roman

    José Sabino

    José Silton Pinheiro

    José Soares dos Santos

    José Toledo de Oliveira

    José Wilson Lessa Sabbag

    Juan Antonio Carrasco Forrastal

    Juares Guimarães de Brito

    Juarez Rodrigues Coelho

    Juvelino Andrés Carneiro da Fontoura Gularte

    Kleber Lemos da Silva

    Labibe Elias Abduch

    Lauriberto José Reyes

    Leopoldo Chiapetti

    Líbero Giancarlo Castiglia

    Lígia Maria Salgado Nóbrega

    Lincoln Bicalho Roque

    Lincoln Cordeiro Oest

    Lorenzo Ismael Viñas

    Lourdes Maria Wanderley Pontes

    Lourenço Camelo de Mesquita

    Lourival Moura Paulino

    Lúcia Maria de Souza

    Lucimar Brandão Guimarães

    Lucindo Costa

    Lúcio Petit da Silva

    Luís Alberto Andrade de Sá e Benevides

    Luisa Augusta Garlippe

    Luiz Affonso Miranda da Costa Rodrigues

    Luiz Almeida Araújo

    Luiz Antônio Santa Bárbara

    Luiz Carlos Augusto

    Luiz Carlos Almeida

    Luiz Eduardo da Rocha Merlino

    Luiz Eurico Tejera Lisbôa

    Luiz Fogaça Balboni

    Luiz Ghilardini

    Luiz Gonzaga dos Santos

    Luiz Hirata

    Luiz Ignácio Maranhão Filho

    Luiz José da Cunha

    Luiz Paulo da Cruz Nunes

    Luiz Renato do Lago Faria

    Luiz Renato Pires de Almeida

    Luiz René Silveira e Silva

    Luiz Vieira

    Luiza Garlippe

    Lyda Monteiro da Silva

    Manoel Aleixo da Silva

    Manoel Alves de Oliveira

    Manoel Custódio Martins

    Manoel Fiel Filho

    Manoel José Nunes Mendes de Abreu

    Manoel José Nurchis

    Manoel Lisboa de Moura

    Manoel Raimundo Soares

    Manoel Rodrigues Ferreira

    Márcio Beck Machado

    Marco Antônio Brás de Carvalho

    Marco Antônio da Silva Lima

    Marco Antônio Dias Baptista

    Marcos José de Lima

    Marcos Nonato da Fonseca

    Margarida Maria Alves

    Maria Ângela Ribeiro

    Maria Augusta Thomaz

    Maria Auxiliadora Lara Barcelos

    Maria Célia Corrêa

    Maria Lúcia Petit da Silva

    Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo

    Maria Regina Marcondes Pinto

    Mariano Joaquim da Silva

    Marilena Villas Boas

    Mário Alves de Souza Vieira

    Mário de Souza Prata

    Massafumi Yoshinaga

    Maurício Grabois

    Maurício Guilherme da Silveira

    Merival Araújo

    Miguel Pereira dos Santos

    Miguel Sabat Nuet

    Milton Soares de Castro

    Míriam Lopes Verbena

    Napoleão Felipe Biscaldi

    Neide Alves dos Santos

    Nelson José de Almeida

    Nelson Lima Piauhy Dourado

    Nelson de Souza Kohl

    Nestor Vera

    Newton Eduardo de Oliveira

    Nilda Carvalho Cunha

    Nilton Rosa da Silva (Bonito)

    Norberto Armando Habeger

    Norberto Nehring

     

    Odijas Carvalho de Souza

    Olavo Hanssen

    Onofre Ilha Dornelles

    Onofre Pinto

    Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior

    Orlando Momente

    Ornalino Cândido da Silva

    Orocílio Martins Gonçalves

    Osvaldo Orlando da Costa

    Otávio Soares Ferreira da Cunha

    Otoniel Campo Barreto

    Paschoal Souza Lima

    Pauline Reichstul

    Paulo César Botelho Massa

    Paulo Costa Ribeiro Bastos

    Paulo de Tarso Celestino

    Paulo Guerra Tavares

    Paulo Mendes Rodrigues

    Paulo Roberto Pereira Marques

    Paulo Stuart Wright

    Paulo Torres Gonçalves

    Pedro Alexandrino de Oliveira Filho

    Pedro Carretel

    Pedro Domiense de Oliveira

    Pedro Inácio de Araújo

    Pedro Jerônimo de Souza

    Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar

    Péricles Gusmão Régis

    Raimundo Eduardo da Silva

    Raimundo Ferreira Lima

    Raimundo Gonçalves Figueiredo

    Raimundo Nonato Paz

    Ramires Maranhão do Vale

    Ranúsia Alves Rodrigues

    Raul Amaro Nin Ferreira

    Reinaldo Silveira Pimenta

    Roberto Cietto

    Roberto Macarini

    Roberto Rascardo Rodrigues

    Rodolfo de Carvalho Troiano

    Ronaldo Mouth Queiroz

    Rosalindo Souza

    Rubens Beyrodt Paiva

    Rui Osvaldo Aguiar Pfützenreuter

    Ruy Carlos Vieira Berbert

    Ruy Frazão Soares

    Santo Dias da Silva

    Sebastião Gomes dos Santos

    Sebastião Tomé da Silva

    Sérgio Roberto Corrêa

    Sérgio Landulfo Furtado

    Severino Elias de Mello

    Severino Viana Colou

    Sidney Fix Marques dos Santos

    Silvano Soares dos Santos

    Solange Lourenço Gomes

    Soledad Barret Viedma

    Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones

    Stuart Edgart Angel Jones

    Suely Yumiko Kanayama

    Telma Regina Cordeiro Corrêa

    Therezinha Viana de Assis

    Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto

    Tito de Alencar Lima

    Tobias Pereira Júnior

    Túlio Roberto Cardoso Quintiliano

    Uirassu de Assis Batista

    Umberto Albuquerque Câmara Neto

    Valdir Sales Saboya

    Vandick Reidner Pereira Coqueiro

    Virgílio Gomes da Silva

    Vitor Carlos Ramos

    Vítor Luíz Papandreu

    Vitorino Alves Moitinho

    Vladimir Herzog

    Walkíria Afonso Costa

    Walter de Souza Ribeiro

    Walter Kenneth Nelson Fleury

    Walter Ribeiro Novaes

    Wânio José de Mattos

    Wilson Silva

    Wilson Souza Pinheiro

    Wilton Ferreira

    Yoshitane Fujimori

    Zoé Lucas de Brito Filho

    Zuleika Angel Jones

  • No Vale do Jequitinhonha, euforia e emoção para receber Lula

    No Vale do Jequitinhonha, euforia e emoção para receber Lula

    Gritos, celulares capturando cada movimento e muitas pessoas disputando um espaço na porta do ônibus. A situação, que se assemelha muito à de um grande astro da música chegando para um show, era a do ex-presidente Lula passando por diversas cidades da região do Vale do Jequitinhonha nesta quarta-feira, dia 25 de outubro, no terceiro dia de sua caravana pelo estado de Minas Gerais. A região foi uma das que recebeu mais benefícios durante o seu governo.

    Caravana do Lula por Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert

    Paradas não previstas

    Durante o percurso, que previa passagens pelas cidades de Itaobim, Itinga e Araçuaí, o ex-presidente acabou fazendo algumas pausas no meio do caminho, pois diversas pessoas o aguardavam ansiosamente. Uma desses lugares foi Catuji, cidade com o 4º pior IDH de Minas Gerais.

    Maria das Neves Pereira, de 62 anos, era uma das pessoas que aguardavam o petista e relatou como o Bolsa Família melhorou as condições dela e de sua família, composta por quatro filhos e dois netos. “O Lula foi o melhor presidente que já tivemos. Eu tenho um problema de saúde e não posso trabalhar. Com a ajuda do Bolsa Família, agora eu posso fazer compra, pagar uma conta de água e comprar alguns remédios que não consigo de graça”.

    Foto: Patrícia Adriely | Jornalistas Livres

    Outra parada improvisada foi em Padre Paraíso. Tanto que Manoel Nunes Pinheiro, de 44 anos, nem sabia que Lula iria passar por lá, mas assim que foi informado pelo filho sobre a mobilização das pessoas para a passagem do ex-presidente, fez questão de sair de Itaraí e viajar por cerca de 50km para vê-lo. “Toda vida eu fui do lado de Lula, não existe outra pessoa que para substituí-lo. Com o governo dele, eu consegui comprar duas motos e uma bicicleta. Antes dele, pobre não conseguia comprar uma bicicleta, só com muito trabalho”.

    José Ramos Vieira, de 72 anos, revelou que essa não foi a primeira vez que ele viu o Lula. “Conheço ele desde 1976, época da primeira greve em São Paulo. Eu também trabalhava por lá. O Lula foi o melhor presidente da república. O que ele fez, melhorou para mim e minha família, não temos nada a reclamar. Consegui comprar casa, carro e me aposentar. Com ele, foi tudo mais fácil. Pela próxima geração, eu apoio ele”.

    O último local não planejado que Lula passou foi Ponto dos Volantes. Lá, a jovem Karina de Oliveira Alves, de 28 anos, não disfarçava a excitação por ver o ex-presidente. “Ele permitiu a mudança e nos tirou da miséria. Com seu governo, pudemos ter televisão, carro, moto e viajar de avião”, afirmou.

    Grande público

    Entre a multidão admiradora que o esperava na cidade de Itaobim, estavam os jovens Rafael Batista, de 22 anos, João Vitor Alves, de 18 anos, Leron Tanan, 20 anos, e Vinícius Araújo, de 17 anos. Eles afirmaram que não foram diretamente beneficiados por programas implantados durante o governo Lula, mas que reconhecem a importância das ações realizadas. “O comércio da cidade gerava dinheiro e atualmente parou. Ainda estamos em cima do muro, então viemos aqui ouvir o que ele tem a dizer”, ressaltou Vinícius.

    Em Itinga, Lula foi acolhido por um aglomerado eufórico de moradores, com direito, inclusive a um “camarote”. Quem proporcionou isso foi a moradora Thaísa Cordeiro, que abriu as portas e varandas da sua casa para que diversos amigos pudessem ter um bom ângulo para ver e ouvir o ex-presidente. “As outras vezes também foram assim na minha casa. Faço isso porque somos simpatizantes de Lula e reconhecemos a facilidade que ele trouxe para nós moradores”.

    Itinga foi um dos primeiros municípios a receber a visita de Lula após a posse dele como presidente da República em 2003. O lugar ganhou destaque após a construção de uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, que facilitou a locomoção dos habitantes do local e a atuação do comércio. Apesar disso, alguns moradores gritaram “Fora Copanor”, demonstrando insatisfação a um problema recorrente na cidade: a falta de água. De acordo com os moradores Aelson Batista Aguilar e Glória de Fátima Gonçalves, todos os meses de outubro e novembro falta água. “Estamos sem água já tem uma semana”, afirmou Glória.

    Por fim, Lula realizou um grande ato em Araçuaí, cidade que também recebeu grandes investimentos durante o seu governo. No local, 17 mil pessoas foram beneficiadas pelo Bolsa Família e foi realizado a instalação de 1.159 cisternas de água para consumo e 308 para produção. Para a camareira Cleusa de Sousa Câmara, Lula foi o melhor presidente pois ajudou os pobres. “Antigamente, a gente não tinha condições de comprar uma lata de óleo, agora conseguimos ter as coisas”.

    No ato, a estudante Natália Nunes, de 18 anos, segurava uma bandeira do Movimento dos Atingidos pela Barragem. Moradora de Guaranilândia, município a 169km de Araçuaí, ela afirmou que apoia o Lula por querer um país melhor. “Com o passar de dois anos do rompimento da barragem, nada melhorou. Acredito que o Lula pode resolver isso e muito mais”. Nesta quinta-feira (26 de outubro), o presidente continua a caravana com uma visita ao Campus de Araçuaí do IFNMG e à cidade de Salinas.

    *Editado por Agatha Azevedo
    Caravana do Lula por Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert
  • DOS HERÓIS SEQUESTRADOS: Aos jovens que ainda se revoltam com as injustiças

    DOS HERÓIS SEQUESTRADOS: Aos jovens que ainda se revoltam com as injustiças

    “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”.

    Se os verdadeiros heróis da juventude latino-americana não fossem sequestrados pela propaganda imperialista, Ernesto Che Guevara seria hoje estudado em todas as escolas brasileiras. Em países como o Brasil, dominados pelo autoritarismo e pela exploração dos trabalhadores, a juventude é ainda privada da história desse extraordinário líder que não se contentou em sonhar com um mundo melhor: saiu pelo mundo para construí-lo. Ainda assim, em cada parte deste continente onde palpita um coração com sede de justiça, sua imagem resiste como emblema do espírito revolucionário da juventude.

    O jovem médico abriu mão do conforto material e de uma carreira garantida para lutar pela libertação dos países pobres que conheceu antes de se formar, numa viagem de motocicleta, percorrendo 10 mil quilômetros do Brasil ao Peru. Ao lado do amigo Alberto Granado, o garoto Che testemunhou as desigualdades que martirizavam os camponeses pobres explorados pelos ricos na América do Sul. Ao retornar à Argentina transformado por dentro, decidiu colocar a medicina a serviço dos que resistem, e aplicar sua energia e inteligência para vencer a escravidão que em plena modernidade assolava os países colonizados.

    Nascido em Rosário, na Argentina, em junho de 1928, no seio de uma família rica que acabou falindo, Che se internacionalizou como o maior libertário do século XX no combate às ditaduras militares que massacraram a América Latina. A história do militante revolucionário começou na pequena Ilha de Cuba, mantida pelo cruel ditador Fulgêncio Batista como um prostíbulo dos Estados Unidos. De 1957 a 1959, a convite de Fidel Castro, liderou na Sierra Maestra um movimento vitorioso na derrubada do general, ao lado de um grupo de jovens insurgentes igualmente valorosos.

    A curta e intensa passagem desse revolucionário pelo planeta representa tudo de mais raro e de mais belo que nomeia a juventude, traduzido nesta célebre frase: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”. Protagonista de um aguçado senso humanitário, Che Guevara escreveu com o próprio sangue o capítulo mais importante das lutas de resistência da América Latina, eternamente saqueada. Sua coragem, sentimento de justiça e de amor pelas gentes mais humildes continua inspirando e alimentando a sede de transformação que caracteriza o melhor da juventude. “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”, disse o comandante.

    Associação Cultural José Martí distribui para população jornal com seis artigos de jornalistas e escritores enfocando o conteúdo amoroso da luta de Che, seu trabalho voluntário, a filha Aleda Guevara, seu significado para a juventude, além de biografia e cartas deixadas pelo maior herói latino-americano do século XX

    Amante da poesia, estudioso de filosofia, Che nunca deixou de alimentar o espírito enquanto agia em nome da descolonização dos povos. “O conhecimento nos torna responsáveis”, disse em uma célebre declaração. Pesquisador curioso da história, da sociologia, da literatura, nunca deixou de ler nem de escrever, mesmo nos curtos intervalos de sua jornada extenuante pela serra caribenha ou pelas selvas bolivianas. Suas cartas trazem reflexões valiosas sobre a humanidade, teorias econômicas e políticas, além de lições estratégicas sobre a luta socialista. Nos últimos meses de vida, já doente, ferido e perseguido, deixou seus diários de guerrilha, que reúnem um conjunto precioso de relatos sobre o cotidiano de combate ao governo mercenário na Bolívia. Esse revolucionário, que morreu sem negociar sua alma de menino, cometeu a delicadeza de, durante os raros intervalos de guerra, anotar num caderno os poemas mais inspiradores para a luta de um povo.

    Mesmo depois de consolidada a revolução cubana, estendeu suas campanhas pela libertação aos países colonizados da África. E quando poderia ter uma vida estabilizada como presidente do Banco Central de Cuba, olhou mais uma vez para o horizonte e ouviu o chamado de outros povos. Numa carta comovente, pediu seu afastamento, alegando que sua missão no país estava encerrada, pois deveria prosseguir a luta pela internacionalização do socialismo. Acreditava que os trabalhadores, operários e campesinos estariam livres da exploração quando a revolução chegasse a todos os países. Partiu para a selva da Bolivia, onde sofreu uma emboscada do Exército da Bolívia, a mando do Serviço Secreto Central de Inteligência Americana (CIA). Executado já rendido, teve a fotografia do seu cadáver estampada por toda a parte como forma de intimidar outros revolucionários.

    Propaganda capitalista não conseguiu apagar no coração da juventude a sanha amorosa da luta pela liberdade, deixada por Che

    Antes de ser executado, no dia 9 de outubro de 1967, em La Higuera, nas selvas da Bolívia, Che encarou seu assassino: “Vá em frente, covarde, você vai matar apenas um homem”.  De fato, não foi preciso muitos anos para que o mártir se tornasse uma lenda e suas ideias se imortalizassem mundo afora. A fotografia do comandante, com o olhar dos que acreditam, estampa as camisetas não como um ícone de moda, mas como a esperança na coragem e no caráter dos que não se deixam corromper por dinheiro ou poder. Todos os que tiveram o privilégio de testemunhar sua existência, se admiram da força que sua figura emanava, uma mistura de ternura e firmeza libertária, melhor traduzida por ele mesmo: “Deixe-me dizer-lhe, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor”.

    A propaganda capitalista comete um crime contra a humanidade ao sabotar o acesso da juventude ao legado deixado por Che. Ao mesmo tempo em que sequestra os mártires contemporâneos, tenta preencher as lacunas da história com falsos heróis, verdadeiros sanguinários, traidores da pátria que saquearam nossas riquezas e dizimaram nossos povos desde a falácia do “descobrimento”. Mas o agir pensante de Che continuará mobilizando os jovens do continente que fazem merecermos a morte desse mártir pela tão sonhada soberania: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”.

    SEMANA CHE GUEVARA

    Uma intensa programação marca os 50 anos do desaparecimento de Che Guevara, promovida pela Associação Cultural José Martí e Instituto Arco Íris, em Florianópolis. As atividades inici

    aram no dia 4 de outubro, quando houve a Festa de lançamento da semana na Travessa Cultural, com exposição fotográfica, poesia, debates, cancioneiro da revolução com o grupo de música latino-americana Colibri e Cine Debate “Eu vi”. Prosseguem nesta semana com programas de televisão alternativa, exibição de filmes sobre Che e a revolução cubana e Banca Feirinha. No dia 9 de outubro, data em que Che foi executado na Bolívia, acontece um grande ato político-cultural no Terminal de Integração do Centro, quando exemplares do jornal “Che Vive! 50 anos”, serão distribuídos à população. O Jornalistas Livres passa, a partir de hoje, a publicar um texto do jornal por dia, em homenagem ao grande líder da resistência e da ternura que continua inspirando as atuais gerações.

     

  • REVIRAVOLTA NA HISTÓRIA: Inscrições rupestres de Florianópolis seriam ideogramas chineses

    REVIRAVOLTA NA HISTÓRIA: Inscrições rupestres de Florianópolis seriam ideogramas chineses

    Semelhança das inscrições rupestres com ideogramas chineses despertou a investigação

    Foi o interesse apaixonado pela história da Ilha de Santa Catarina que levou Fausto Guimarães, filho de pescador, a “atravessar a ponte” para a China e a ser reconhecido no Oriente e nos Estados Unidos como o maior pesquisador do mundo sobre a presença dos chineses nesta região antes da chegada de Cabral. Agente de vigilância do INSS, ele lança, na sexta-feira (15), às 19 horas, no Restaurante Árabe Falah, em Florianópolis, sua quarta publicação sobre a passagem pelo Brasil de dois dos cinco almirantes da dinastia chinesa Ming, entre os anos de 1421 e 1423. Criado no Morro do Céu, Fausto tornou-se não apenas um grande especialista nas incursões chinesas pelo Novo Mundo, como autor de uma descoberta arqueológica capaz de revolucionar tudo que se sabe sobre as relações entre os indígenas que aqui habitavam e esse povo do Oriente. Capaz também de mudar o entendimento sobre as inscrições rupestres e os artefatos de pesca locais que, na sua hipótese, são uma transferência de tecnologia chinesa na troca de conhecimento com os índios Avás.

    Para início de compreensão da importância de suas pesquisas, a partir delas a origem das inscrições rupestres dos sítios arqueológicos teria uma versão muito diferente da conhecida: “Já temos evidências para demonstrar que nos desenhos dos dois costões do Santinho ou da Ilha do Arvoredo, por exemplo, há presença de caracteres chineses”, afirma Fausto. O encontro feliz entre o manezinho da Ilha e o mundo do Oriente aconteceu há 15 anos quando caminhava pela praia do Santinho e é tão 

    Inscrições rupestres poderiam indicar a troca de símbolos indígenas e ideogramas chineses (Ilha do Campeche)

    fascinante quanto a história que ele passou a contar a partir daí, traduzidas do português para o mandarim e para o inglês. Junto com as publicações, ele tem realizado inúmeras palestras em congressos internacionais sobre as incursões marítimas das dinastias chinesas pelas Américas no período pré-colombiano, patrocinadas pelo governo e por instituições de pesquisa na China e nos Estados Unidos, onde suas teses já são referência.

    Não limitado a publicar suas descobertas em forma de romance no primeiro livro “A rampa do Santinho, um legado chinês na Ilha de Santa Catarina” (Editora Insular, 2010), edição bilíngue português-mandarim de 456 páginas, o servidor recorre agora às histórias em quadrinhos para divulgar essa narrativa épica. “A grande maioria dos florianopolitanos e brasileiros – e mesmo os entendidos na cultura local – desconhece completamente os impactos da presença chinesa na Ilha”, enfatiza Fausto, 52 anos, que com o cabelo ruivo e os olhos claros foge ao estereótipo brasileiro. “Desconhecem inclusive o fato histórico das navegações marítimas chinesas”. Em A grande viagem às Terras do Oeste (Brasil) – 1421, a revista em quadrinhos que ele lança na sexta-feira vem para romper um pouco o silêncio sobre esse contato prodigioso entre dois povos fundadores da cultura local, na sua visão. Compõem as ilustrações um mix de tecnologia virtual com alguns desenhos dele mesmo e de outros autores, mas a maior parte são adaptações fotográficas, a exemplo das fotos aéreas da região dos Ingleses e do Santinho, explica Fausto, que trabalha na Previdência Social há 33 anos.

    Tanto livro como revista são, conforme o autor, coerentes com paradigmas e estudos já consolidados sobre as experiências dos chineses com outros povos. Sem referências exatas de realidade para compor uma etnografia, optou por preencher as lacunas com as suas suposições, narrando em forma de romance a relação desses exploradores com os índios Avás, que habitavam a Ilha de Santa Catarina e arredores. “Mas tudo que escrevi explorando a imaginação parte das minhas pesquisas e do

    Agente de vigilância lança sua quarta publicação

    conhecimento estabelecido por outros autores”, esclarece Fausto, que fará distribuição gratuita das revistas no lançamento. Com a ajuda das comunidades Guarani, árabe e chinesa, organizou para o evento uma grande performance com música, dança e teatro em torno de episódios do seu épico que mostram a pluralidade cultural dessas relações entre povos.

     

    Primeiro livro do autor é a história romanceada das relações entre chineses e os índios Avás na Ilha de Santa Catarina

    Até 15 anos atrás, antes da publicação do romance de Fausto, os pesquisadores canônicos só falavam das expedições europeias ao Brasil e ao Novo Mundo como um todo. Ao longo de seis séculos, a misteriosa passagem dos chineses manteve-se desconhecida dos historiadores modernos como um tesouro secreto. Com esse episódio, o romance entre a índia Iracema e o marinheiro Xiao também ficou guardado feito uma pérola em concha fechada para ser reinventado pela pena do autor. Interessado pela cultura chinesa desde que estudou acupuntura no Ceata, em São Paulo (1995), e desde a graduação no curso de História da UFSC (1997), Fausto fez sua primeira viagem à China em 2005. Ficara entusiasmado pelas viagens marítimas pré-colombianas ao ouvir de uma guia turística chinesa em São Paulo sobre sua presença no Amazonas. Essa informação reforçou a hipótese da presença chinesa também em Meiembipe (nome indígena de Florianópolis) e aumentou a suspeita de que as inscrições rupestres tinham a marca oriental.

    As investigações bibliográficas e em campo acabaram tomando conta do seu tempo livre e deram origem ao segundo livro, que apresenta a trajetória dos seus estudos e fundamenta suas hipóteses. Em Do Shan Hai Jing às épicas viagens do almirante Zheng He; estariam os chineses visitando as Américas e o Brasil há mais de quatro mil anos?, ele explica os elementos que foi interligando para creditar a narrativa sobre os rastros deixados pelos chineses na Ilha. Entre eles estão os registros do Padre Alfredo Rhor, no primeiro congresso local sobre Arte Rupestre, em meados de 1960, revelando ter tirado e extraviado na década de 40 a pedra com a imagem de uma santa que se atribuía à padroeira dos navegantes. Diante desse objeto sacralizado pela comunidade local, as mulheres dos pescadores faziam suas preces para pedir proteção antes de os homens se lançarem ao mar, numa espécie de ritual pagão.

    Depois de escrever o romance, Fausto recorreu a história em quadrinhos para divulgar essa história ignorada que desmonta a vulgata ocidental sobre o descobrimento

    Décadas depois, conversando com o pai pescador e com as mulheres mais velhas do Santinho, que alegaram ter ouvido a explosão da pedra quando crianças, Fausto verificou que o artefato tinha uma localização e um tamanho muito diferentes dos mencionada pelo arqueólogo. “Segundo os relatos, o santuário devia ter o tamanho de uma porta, e não os 33 centímetros informados pelo padre”. A descrição da imagem feita pelo padre também difere da apresentada pelas mulheres, o que levou Fausto ao seu primeiro grande achado: tratava-se, na verdade, não de uma santa católica, mas de uma mulher grande e forte, com um chapéu quadrado e um manto nas costas, que corresponde à figura de uma chinesa chamada Mazu. Hábil nadadora, essa personagem viveu de fato no século X na colônia de pescadores Meizhou, no litoral de China. Entre seus feitos, consta ter salvado vários homens de afogamento com seus braços fortes. Depois de sumir no mar, Mazu foi mistificada como uma espécie de padroeira dos pescadores.

    Com equipe de pesquisadores na China

    As surpresas não terminam por aí. Nesse trabalho de campo, o autor confirmou no costão esquerdo da Praia do Santinho, bem na entrada pelo mar, a existência de uma pedra com um furo de dinamite, provavelmente a da imagem da Santa dos Navegantes oriental, implodida pelo padre. E o mais importante: descobriu ao lado dela uma grande rampa cortada na pedra, visivelmente produto de manufatura humana e não da ação da natureza, que serviria ao atracamento das embarcações. Tomou o cuidado de registrar essa descoberta na certeza de que em breve suas evidências seriam confirmadas, assim como outros indícios impactantes: num museu de Hong Kong, identificou muitos instrumentos de pesca, como puçá, coca, jererê, tarrafa que os índios usavam na Ilha de Santa Catarina. “Todos esses artefatos para pegar siri existem na China”, diz Fausto, sustentando ainda a tese de que a sofisticação das técnicas de pesca na Ilha, identificadas pela presença abrupta e inexplicável de esqueletos de grandes peixes nos sambaquis, seria resultante desse contato profícuo entre Avás e orientais. “Sem falar na semelhança etimológica e material da jangada nordestina com um pequeno junco chinês”, comenta o pesquisador, com uns olhos arregalados de espanto pelas possibilidades de interconexões multiculturais que a investigação de sua Ilha lhe trouxe. Da mesma forma, reflete, os chineses, que têm como padrão de comportamento o contágio e a apropriação cultural devem ter aprendido muito com os índios.

    NO CONTEXTO DA MISSÃO CHINESA PELOS MARES

    Estudante de mandarim há seis anos, logo o vigilante-historiador se faria um dos grandes pesquisadores das expedições chegadas à Ilha por ordens do imperador Zhu Di. O chefe da dinastia alistou cinco almirantes para, sob o comando de seu homem de confiança, o almirante Zheng He, cumprirem uma desafiadora missão: descobrir terras além da África e cartografar todos os oceanos do mundo. O imperador estava decidido a implantar uma importante mudança cultural no mapa político e geográfico do planeta. Desejava romper definitivamente com uma tradição de milênios, pela qual os chineses mantinham-se fechados ao olhos do mundo. Nessa expedição, Hong Bao seria o responsável pela “descoberta” de terras, hoje conhecidas como Brasil. Junto com ele, outros chineses, indianos e um africano de nome Kebec, empreenderiam uma impactante relação com os índios Avás, que significa gente em Guarani e substitui a denominação europeia de Carijós (índios escuros e claros).

    Na hipótese do historiador, algumas inscrições são feitas de símbolos indígenas e outras de caracteres chineses

    Conta o livro, sempre preservando o tom solene e misterioso de um grande épico que versa sobre o encontro de dois povos de diferenças abissais: “Hong Bao é o comandante da missão que se dirige para a terra do Oeste. Sob suas ordens homens e mulheres viverão em comunhão com ideais confucianos. O mundo dos nativos Avás nunca mais será o mesmo. Os chineses levarão seu conhecimento e em troca receberão o respeito dos povos desta terra”. Além de criar a história amorosa de Iracema e Xiao, o romance fala da vida simples do cacique e de seu povo, a trama de Seci para roubar Xiao de Iracema e as armadilhas feitas pelas índias amazonas para capturar seus prisioneiros. Pergunto se essa relação não foi romantizada, considerando que na história mundial os países expedicionários sempre foram truculentos e dominadores com outros povos em suas explorações marítimas. E ele me responde com uma aula sobre o pensamento e a história chinesa, segundo a qual os ditadores que barbarizaram a Ásia não eram de fato chineses, mas pertenciam a outras nações que invadiram a própria China, como os mongóis e manchus. “Ao contrário das explorações europeias que marcaram nossa colonização, a base desse relacionamento chinês com outros povos sempre foi a paz e o respeito”, garante, citando várias fontes bibliográficas e episódios históricos.

    Revista em quadrinhos ilustrada pelo próprio autor

    Em 2013, Fausto viajou à China a convite da Universidade de Macau e da Universidade de Shanghai para participar do seminário Viagens Marítimas Chinesas do Século XV. Nessa expedição de rota contrária aos antepassados de Hong Bao, apresentou seu trabalho sobre as evidências arqueológicas da possível passagem dos chineses pela Ilha de Santa Catarina antes da chegada dos portugueses, na Associação Macau para promoção e Intercâmbio entre Ásia-Pacífico e América Latina (Mapeau) na cidade de Macau. Em dezembro de 2016, já era o maior especialista no assunto e viajou a vários centros acadêmicos de pesquisas sobre explorações marítimas da China, em cidades como Beijing, Nanjing, Guangzhou, Hong Kong, entre outras, para divulgar seu terceiro livro, em inglês: From the Shan Hai Jing to the Epic Journeys of Admiral Zheng He in the XV Century; Where the Chinese visiting the Americas and Brazil over 4000 years ago? Por todos os institutos de pesquisa onde passou, só recebeu um gesto de imediato reconhecimento de ideogramas chineses quando mostrou as inscrições rupestres do Santinho e da Ilha do Arvoredo: “tui, tui, tui” (sim, sim, sim), respondiam-lhe com aquele gesto de cabeça afirmativo típico dos chineses. 

    Na Califórnia, onde o interesse pelo tema é fortíssimo, há também inscrições rupestres com evidências de ideogramas. Os estudos apontam, contudo, que elas resultam de visitas chinesas mais antigas ao continente americano, de cerca de dois mil anos atrás, o que poderia perfeitamente ter ocorrido também no Brasil. “Quando se fala em história, tudo são possibilidades”, reconhece Fausto, que não tem a pretensão de ser a última palavra a vencer essa distância de séculos ou de milênios, mas coloca em dúvida a vulgata do pioneirismo ocidental a partir das pegadas orientais que encontra pelas praias e no próprio corpo dos Guarani. “Não podemos mais é manter no encobrimento a presença de culturas anteriores à chegada dos navegadores europeus”. 

    Em outubro, o pesquisador anônimo em sua terra, mas famoso entre os sinólogos do Oriente e dos EUA, apresentará seu trabalho num simpósio de quatro dias sobre diáspora chinesa pelo mundo e pelo Brasil, no hotel Hilton, em São Francisco, na Califórnia. Essas viagens a convite de outros países são sempre patrocinadas, mas as pesquisas documentais ou de campo resultam de investimentos do próprio bolso. De tanto estudar as expedições não-ocidentais ao Brasil antes da invasão europeia, ele próprio se tornou um navegador a refazer obstinadamente, pelos livros ou pelas explorações físicas, as pontes que fazem as ligações estreitas entre dois povos muito mais próximos do que nossa vã herança ocidental é capaz de imaginar…