Por José Roberto Torero*Diário, ontem eu fiz um pronunciamento em cadeia (nem gosto de escrever essa palavra) nacional.
Ah, como eu odeio ler aquele tal de telepompi…, trelepomp…, telerpom…, ah, aquelas letrinhas. É só olhar pros meus olhos que qualquer um percebe que eu tô lendo. E como é difícil pronunciar “solidarizo-me”. Acho que nunca tinha usado essa palavra antes.
Bom, ontem eu falei muita coisa e não disse outro tanto.
Por exemplo, falei que somos o quinto país que mais vacinou, mas não disse que estamos em setentésimo-terceirolugar pela porcentagem da população.
Falei que já vacinamos sei lá quantos milhões de pessoas, mas não disse que 80% das vacinas foram do Calça Apertada.
Falei que fechei acordo com a Pfizer, mas não disse que dispensei os pfizeristastrês vezes no ano passado, o que atrasou um bocado a nossa vacinagem.
Falei que a Covax está chegando, mas não disse que pedi vacinas para apenas 10% da população, quando podia ter pedido para 50%.
Não falei de máscara, não falei de isolamento social e não falei no número de vítimas. Nem no de ontem, mais de três mil, nem no total, uns trezentos mil. Essas coisas é melhor nem lembrar, porque vai parecer que eu tenho alguma coisa a ver com elas.
Olha, Diário, eu fiz um discurso bem diferente, porque teve mais coisa que eu não falei do que coisa que eu falei.
Acho que inventei o “desdiscurso”.
#diariodobolso
José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
PS: Pra piorar, mesmo com o voto do KássioConká, o Nove Dedos escapou e vai disputar comigo em 2022. A cara de periquito da Cármen Lúcia estragou tudo!
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