Tarcísio fake de Freitas

Analisando com atenção a cronologia que antecedeu o fato fica fácil desmontar a tese de atentado
Tarcísio fake de Freitas. Imagem: Amanda Perobelli/Reuters
Tarcísio fake de Freitas. Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Era manhã do dia 17 de outubro, quando o candidato de Jair Bolsonaro a governador de São Paulo pelo Republicanos, o carioca, Tarcísio de Freitas, tentou emplacar a fakeada 2.0, uma espécie de nova versão da facada sofrida pelo então candidato, Bolsonaro, em 2018.

Por Nellie Vieira

Tarcísio que saiu do anonimato e viu sua popularidade crescer e tomar corpo no primeiro turno das eleições graças a máquina eleitoral Bolsonarista, viu seus planos ruírem quando foram apontadas inconsistências relevantes na sua versão.

Analisando com atenção a cronologia que antecedeu o fato fica fácil desmontar a tese de atentado.

Tarcísio visitava o Polo Universitário de Paraisópolis, uma agenda de última hora que não foi previamente anunciada em seus compromissos oficiais. Por volta das 11h20, a visita foi interrompida em função de uma troca de tiros.

Felipe Lima, 27 anos, foi atingido e morto pela polícia, ele tinha passagem por roubo à residência e assalto à mão armada. Segundo o relato da polícia, Felipe estava acompanhado por Rafael Araújo, que cumpria pena num presídio de Campinas e tinha fugido em 2017.

Em entrevista a diretora do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), delegada Elisabete Sato, disse que foram apreendidos com Felipe um coldre, um celular, um relógio e um pente de munição, mas que não foi encontrada nenhuma arma. Ela afirma ter certeza de que ele estava armado com base na versão de policiais que estavam à paisana e de imagens de câmeras de segurança que mostrariam um “volume” na roupa do rapaz. Na mesma entrevista, o delegado-geral da Polícia Civil, Osvaldo Nico Gonçalves, afirmou que a arma não encontrada pode ter sido levada por moradores da comunidade.

Os disparos registrados por uma câmera de monitoramento são muito rápidos e não condizem com o relato bolsonarista de que foi uma troca de mais de 20 tiros.

Essa câmera está em sentido perpendicular à rua onde Felipe foi assassinado e o registro pega apenas a movimentação de uma das esquinas.

Baseado nessas e em outras evidências o grupo Tortura Nunca Mais divulgou documento em que cobra transparência por parte da Polícia Civil sobre o que ocorreu no dia da visita do candidato ao local.

“A Polícia Civil já teria condições de ter esclarecido. Na verdade, parece que ocorreu uma execução, sem confronto nenhum, de um jovem que, junto com um outro, passava pelo local. Diante da execução [a polícia] teria criado um factoide de intimidação ou atentado ao candidato. Está parecendo ter sido uma grande farsa”, afirmou Ariel de Castro Alves, presidente do Tortura Nunca Mais.

Minutos após o ocorrido a hashtag: “Quem mandou matar Tarcísio?” inundou as redes sociais. Especialistas em redes afirmam que, mesmo que o fato tenha gerado interesse imediato, parece estranho um engajamento nesse nível e em tão pouco tempo, a não ser que já houvesse um esquema montado para simular esse engajamento.

Vale ressaltar aqui que a produtora Brasil Paralelo ligada a Jair Bolsonaro planejava lançar no próximo dia 27 de outubro a “série investigativa” intitulada: “Quem mandou matar Jair Bolsonaro?”

O lançamento foi interrompido pelo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Benedito Gonçalves, que determinou adiamento do lançamento do documentário até 31 de outubro, o dia seguinte à votação, para evitar que a suposta tentativa de assassinato do atual presidente“receba exponencial alcance” e influencie o pleito.

Jovem Pan a serviço do Bolsonarismo

O tiroteio e a saída da comitiva do centro de formação só foi registrado pela Jovem Pan. Aqui vale destacar que o jornalista e o cinegrafista que acompanharam a ação chegaram e saíram juntos com Tarcísio na mesma van.

São muitos os indícios de armação nesse fato, um deles publicado hoje na Folha de São Paulo mostra um áudio da equipe de Tarcísio mandando um dos cinegrafistas da Jovem Pan apagar o vídeo do falso atentado porque o enquadramento não era favorável ao roteiro de que eles foram os alvos dos tiros.

Diversos veículos de comunicação afirmaram a versão de que a agenda foi confirmada em cima da hora e que apenas um grupo reduzido da comunidade sabia da visita do candidato, o próprio Tarcísio afirma isso em entrevista.

A pergunta que fica é: Já que quase ninguém sabia da agenda dele, como seria possível alguém tramar um atentado?

Tiro no pé

Nas horas que seguiram aos disparos, a narrativa do atentado foi perdendo força. Após a Secretaria de Segurança de São Paulo vir a público desmentir Tarcísio ficou difícil para o candidato sustentar sua versão. Ele então voltou atrás e disse não se tratar de um atentado contra ele, mas sim, de uma operação policial sem ligação com a sua candidatura.

Tarcísio e sua campanha seguem tentando apagar os rastros. Um áudio em que Fabrício de Paiva, pede para um dos cinegrafistas apagar o vídeo foi vazado. Paiva é agente licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e assessor da campanha de Tarcísio.

No áudio é possível ouvir o seguinte diálogo: “Você filmou os policiais atirando?”. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM para cima dos caras”, respondeu o profissional. “Você tem que apagar”, ordenou Paiva deixando margem para imterpretações.

A política do medo e da violência parece ser uma regra seguida na campanha de Bolsonaro e de seus aliados.

Dias antes desse episódio, na sexta-feira (14), outro suposto atentado contra Michelle Bolsonaro aconteceu em Fortaleza (CE), enquanto realizava a caravana juntamente com Damares Alves.

Segundo as matérias reverberadas, um disparo foi efetuado por Thiago de Sousa Silva. Homem, sem passagem criminal, que trabalhava como vigilante e que não teve a imagem revelada atirou contra o muro da igreja onde Michelle e Damares discursaram.

Ele foi autuado por disparo de arma de fogo, dispensou o direito a um advogado e foi liberado depois de pagar fiança. O disparo aconteceu uma hora antes do início do evento.

Isso tudo nos leva a crer que o modus operandi segue o mesmo, forjar supostos atentados parece ser parte de uma estratégia que deu certo, mas que está com os dias e os votos contatos em 2022 . Resta saber o quão fundo é o poço de Tarcísio de Freitas, teria ele manipulado uma ação em seu favor ou planejado um suposto atentado? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos porque o tempo é o senhor da verdade, ela prevalecerá.

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