Diário do Bolso: batendo recorde atrás de recorde

Enfim, Diário, com um loquidaum nacional, a gente parava essa mortaiada maluca. Mas, como não posso assumir que errei, a crise vai ser bem mais longa do que podia ser. E vão morrer mais uns sei lá quantos mil.

Por José Roberto Torero*  Quatro mil e duzentas mortes, Diário! Tamo batendo recorde atrás de recorde.

E agora? O que que eu faço?

Eu sei que o certo era decretar um loquidaum de três semanas, incentivar uso de máscara e o escambau.

Mas não tenho saída. Vou continuar a dizer o que eu dizia e a fazer o que eu fazia. Senão, o pessoal vai falar: “Ah, você estava errado desde o começo! Então você é mesmo responsável pelas mortes!”

Tenho que insistir no erro pra não parecer que errei.

Eu sei que fiz bobagem. Tem que ser muito Osmar Terra pra não perceber a burrada. É só olhar os números. Mas, admitir, eu não posso.

Em vez disso, vou é fazer o seguinte:

1-) Continuar sendo um antiloquidaum radical;

2-) Falar sempre a favor da cloroquina (por isso que eu vou pra Chapecó, porque o prefeito deles diz que acredita em tratamento precoce, apesar de que o treco só melhorou lá com o loquidaum de duas semanas);

3-) Tenho que dizer que essas mortes todas não são de covid. Meus filhos e meus acepipes já estão dizendo na internet que o cara pode morrer de câncer, avecê ou decapitado, que os medicomunistas botam “covid” no atestado de óbito. Não é verdade, mas e daí?

4-) Tenho que dizer que alguma vacina é minha. Me animei com essa Sputinik aí. Até falei com o Putin. Esse negócio tem que ser meu. Não pode ser do Lula nem dos governadores do Nordeste, mesmo que eles tenham pensado nisso antes.

5-) Vou continuar falando que as igrejas têm que ficar abertas. Mesmo que tenha um monte de gente morrendo. No Mato Grosso, por exemplo, 17 pastores da Assembleia de Deus já morreram, imagina quantos fiéis! Mas fazer o quê? Pra igreja ganhar o dízimo ela tem que dizimar, pô.

6-) Vou continuar botando a culpa nos governadores (“Eu repassei o dinheiro, eles que não fizeram nada”).

7-) E ontem inventei um novo argumento: comecei a dizer que quem fica em casa engorda. A gente tem que tentar de tudo, talkei?

Enfim, Diário, com um loquidaum nacional, a gente parava essa mortaiada maluca. Mas, como não posso assumir que errei, a crise vai ser bem mais longa do que podia ser.

E vão morrer mais uns sei lá quantos mil e teremos novos recordes.

É a vida…

José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

#diariodobolso

Novo recorde do despresidente

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

Diário do Bolso: “se gritar ‘pega Centrão’, não fica um”

O general Augusto Heleno, que cantou “Se gritar ‘pega Centrão’, não fica um, meu irmão…”, agora diz que o Centrão nem existe. Acho que ele vai trocar a letra dessa música pra alguma coisa assim: “Se gritar ‘pega Centrão’, o governo inteiro levanta a mão…”

Diário do Bolso: entupido e não cheirando bem

Os canhotos riem, mas esse meu entupimento veio bem a calhar. Como estou com cagaço de enfrentar essa CPI da covid, aproveitei o meu estado descocomentoso pra me fazer de vítima. Aquela foto de mim cheio de tubo já foi isso. Porque o meu marquetim é esse: quando não tô matando, tô morrendo.

Diário do Bolso: a esquerdalha ri do meu soluço, hic

Teve um sujeito que, hic, disse que o Lira tinha que botar o, hic, pedido de impitimem em pauta, que aí o susto, hic, ia me curar. E outro respondeu que melhor ainda seriadizer que, hic, tinham recuperado as, hic, mensagens do celular do Dominghetti.