Por José Roberto Torero* Achei o meu centrão e a farra da picanha. Diário, andei com uma preguiça danada, mas deixa eu te atualizar um pouco, que você tá mais atrasado que almoço de domingo.
Em primeiro lugar, achei meu centro (não é assim que os bundistas falam?).E o meu centro é o Centrão! Vamos passar uma boiada de leis. Aliás, a palavra certa é “boiada” mesmo, porque um monte dessas leis é para a turma do boi.
Por exemplo, o Projeto de Lei 191/2020 quer liberar mineraçãoe pecuária em terras indígenas. Um pouco de mercúrio não faz mal a ninguém. Se alguém quer preservar índio, tira uma foto e pronto.
Outro projeto é específico para facilitar o licenciamento ambiental. Não é porque acontecem uns probleminhas tipo Brumadinho que eu vou tratar mal as mineradoras, tá certo?
Já o PL 2633 é para facilitar a grilagem.Até fiz um slogan para essa campanha: “Não fique grilado com a grilagem”. Bonito, né? E, agora, um momento de cultura: Diário, sabe por que a grilagem se chama grilagem? É que os fazendeiros espertos deixavam os documentos falsos numa caixa com grilos e os bichos faziam o documento ficar com cara de envelhecido. Aí eles mostravam os papéis pros capiaus e diziam: “Essa terra é minha, cai fora!”. A criatividade da elite merece o nosso aplauso ou não merece?
Mudando de assunto, a Lava Jato acabou de vez. Ela era que nem aqueles Big Macs: na foto, uma gostosura; ao vivo, tudo murcho e sem graça. Acho que o pessoal do Tinder também é assim.
E a esquerdalha anda reclamando porque as Forças Armadas compraram 140 toneladas de lombo de bacalhau, conhaque, uísque 12 anos, 80 mil cervejas e 700 toneladas de picanha maturada e superfaturada em plena pandemia. E realmente tá errado isso daí. Tinha que ser uma cerveja por quilo picanha. Uma para cada dez é muita mesquinharia, pô.
Falando em turma armada, mudei a lei: agora cada pessoa pode ter 6 armas em vez de 4. Quem é que não precisa de meia dúzia de revólveres? Vai que entra um ladrão na sua casa e cinco falham? Ou vai que você chama uns caras novos pra sua milícia e eles não têm arma? É uma lei fundamental, pô!
Já os atiradores registrados podem comprar até 60 armas por ano. Vamos se preparar aí, pessoal, que 2022 está chegando! E presciso manter o meu centrão e a farra da picanha.
*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
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